Você está na página 1de 5

NOME: Lara Mendes da Silva

DISCIPLINA: Fundamentos teóricos e epistemológicos da Geografia – PPGEO

RESENHA DO TEXTO 1

TEXTO: MOREIRA, Ruy. Epistemologia. In: Pensar e Ser em Geografia. 2ed. São
Paulo: Contexto, 2013.

Essa resenha refere-se ao livro Pensar e Ser em Geografia do autor Ruy Moreira,
publicado em 2013 pela editora Contexto. O livro traz três capítulos sobre a história da
ciência geográfica, epistemologia e ontologia, no entanto, para essa resenha será
trabalhado apenas o capítulo sobre a Epistemologia da Geografia que é dividido em
quatro partes. Dessa forma, essa resenha contém uma apresentação resumida do
conteúdo do capítulo seguida de um levantamento crítico sobre o que foi apresentado
pelo autor.
A primeira parte do capítulo Epistemologia é titulado como “A Geografia serve
para desvendar máscaras sociais”, foi originalmente publicado em 1979 na revista
Território livre e elaborado a partir de intervenção em mesa-redonda sobre tendências da
ciência geográfica no XIII Congresso Interuniversitário de Geografia da Upege. O autor
inicia trazendo a necessidade de propor uma Geografia que seja uma teoria social, para
isso ele sustenta essa argumentação a partir do autor Yves Lacoste (1977) por meio da
ideia de que a função da Geografia foi de mascarar a utilidade prática da análise do
espaço, para a condução da guerra, organização do Estado e a prática do poder.
Com isso, ele traz os termos da questão para o debate epistemológico da
Geografia, sendo eles espaço geográfico, formação socioespacial e econômico-social, e
arranjo espacial. Sobre o espaço geográfico, o autor traz que ele é a parte fundamental
do processo de produção social e da estrutura de controle da sociedade, onde ele tem sua
própria estrutura e leis de movimento da formação econômico-social o que institui a
formação socioespacial (SANTOS, 1978). No arranjo espacial exprime a própria
estrutura da totalidade espacial, na base dessa estrutura está a natureza do processo de
reprodução social e é por meio do conhecimento das leis que regem esse processo que
se deve apoiar a análise do espaço.
Em seguida, o autor esclarece o objeto e objetivo da Geografia, sendo,
respectivamente, o espaço e o conhecimento da natureza e das leis do movimento da
formação econômico-social por intermédio do espaço. Por meio disso, ele indaga o
leitor pela falta de reconhecimento e composição de rigor teórico e epistemológico do
espaço e pela falta de uso desse conceito como instrumento de conhecimento e
transformação da sociedade, visto que o espaço foi descoberto pelo capital como
instrumento de acumulação e poder. Dessa forma, ele afirma que o espaço é um ente
social, onde a natureza é incorporada ao espaço do homem quando é absorvida pelo
processo da história humana, essa relação se dá pelo trabalho social.
Essa relação faz com que o homem transforme o meio natural, que resulta numa
transformação de si próprio. É por meio dessa transformação, do trabalho social, que o
homem deixa de ser animal para ser um ser social. Dessa forma, a formação social
ocorre por meio de um duplo conjunto de interação simultânea e articulada, sendo o
conjunto de interações homem-meio e homem-homem. A primeira relação se dá por
meio da extração da natureza para a sua transformação e a segunda se dá por meio das
relações resultantes do trabalho. São essas relações que estão na base estrutural das
formações espaciais que se sucederam no tempo e a Geografia é a ciência de análise
delas.
O arranjo espacial é dinâmico devido a dialética espaço-tempo que exprimem os
processos e estágios de desenvolvimento das formações espaciais, sendo ele a própria
formação econômica-social, contendo suas estruturas e leis. Esse processo de
desenvolvimento das sociedades gera um armazenamento de coisas produzidas pelos
homens, como instrumento de trabalho e conhecimento. No modo de produção
capitalista, os objetos espaciais são meios de produção e reprodução do capital e para
que se tenha uma produção contínua deles, é preciso garantir simultaneamente bens de
consumo que garantem continuidade, por isso o espaço é cumulativo.
Pelo entendimento da acumulação do espaço, o autor traz que a ordem espacial
tem permanência que se dá a reprodução ampliada da sociedade na história em caráter
de existência permanente, da mesma forma que ocorre do sentido da sociedade para o
espaço. Nesse sentido, como a reprodução é produção em caráter ampliado e
permanente, em um continuum (especificado pelo autor), a formação espacial ganha um
caráter de garantia da permanência da formação econômico-social, onde ambas
possuem uma relação dialética, de correspondência e de um processo de produção-
reprodução.
Esse processo se reproduz e tem essa reprodução garantida devido ao consumo
do montante de bens e a produção de bens que é feita em razão do consumo. Isso ocorre
de maneira de dependência, por meio das leis historicamente determinadas na sociedade
a partir das suas próprias naturezas de modo de produção, se tem o montante de bens ele
é consumido e se produz bens para que sejam consumidos. As relações econômicas
existentes se reproduzem assim como a própria estrutura de classes, ou seja, a estrutura
social de classe vai comandar a formação econômica-social a partir da posição em que
os homens estão inseridos em relação aos meios de produção, abrangendo uma estrutura
complexa e submetida ao tempo histórico. Dessa forma, a superestrutura surge para que
não corra o risco de ruptura na continuidade da reprodução.
Apresentando que a estrutura de uma formação econômico-social possui uma
complexidade, o autor traz que ela possui três instâncias, sendo elas: a) Instância
econômica; b) Instância jurídico-política; c) Instância cultural-ideológica. Essas
instâncias formam uma totalidade social única e ao mesmo tempo diferenciada, onde
essas instâncias trazem a ideia de unidade, que não pode ser confundida como
combinação das partes ou um todo articulado em partes.
Encerrando essa parte, Moreira sugere a formação espacial como teoria e método
por ser uma perspectiva capaz de abrir caminhos para os geógrafos em suas tarefas de
analisar as formas de organização das sociedades nos diferentes tempos da história. O
que ele propõe de método é a partir da valorização descritivo-analítica da noção do
arranjo espacial e de teoria do espaço se fundamente em três categorias de totalidade:
formação econômico-social, o modo de produção e a formação espacial.
A segunda parte titulada como “As categorias espaciais da construção geográfica
das sociedades” foi publicado originalmente na revista GEOgraphia em 2001. O autor
inicia com o princípio de que as práticas geográficas são categorias do empírico e
mediações que fazem do entendimento do espaço a compreensão da sociedade, e a
teoria do espaço uma teoria da sociedade, como também da sociedade para o espaço.
Ele propõe como objetivo do texto teorizar esse modo de entendimento e construir um
roteiro a partir dele de teoria e método capaz de estruturar um exercício de práxis na
geografia. Para isso, fundamenta-se na combinação do método histórico com o método
lógico, denominado como método lógico-histórico, genético-estrutural e progressivo-
regressivo.
Moreira propõe que a organização espacial se inicia com a prática da
seletividade caracterizando-o como diverso, onde o instrumento dessa ação seletiva é a
técnica. Da mesma maneira que o espaço é diverso, ele é uno, ou seja, para cada
diversidade de grupo humano espalhado se estabelece a unidade que os une numa
comunidade. Assim como, o espaço é marcado estruturalmente por tensões causadas
pela diversidade e unidade, isso se da devido a relação contraditória que se estabelece
entre a localização e a distribuição no interior do movimento da seletividade.
Essas relações contraditórias conduzem a hegemonia e a coabitação das relações
espaciais, como forma de encaminhamento delas. A centralidade leva à disputa da
hegemonia e a alteridade leva a resolução dos problemas por si próprios na coabitação.
Independente disso, os sujeitos/categorias de fenômenos espaciais se organizaram a
partir do seu recorte de espaço, e a origem do território se da pela transformação das
localizações (do recorte de espaço) em extensão pela distribuição da seletividade. Por
meio do respectivo símbolo escalar que o conflito entre hegemonia e coabitação nas
sociedades de classe têm seu veículo de fluência.
O espaço passa a ser de determinado a determinante por meio da equação
escalar, sendo regulador da reprodução da sociedade a partir da própria reprodução da
estrutura espacial já existente. A mobilidade é uma categoria chave dessa prática
reguladora, tendo como principal efeito a urbanização no espaço da modernidade. Por
conta disso, o a urbanização comprime e aproxima os espaços, as dimensões físicas se
diminuem tornando as relações mais densas. Fato esses que eliminam as barreiras das
fronteiras, tornando o espaço fluido e liso, que então se hibridiza.
Entendendo isso, o autor traz que o espaço socialmente se adensa devido ao
aumento de volume em escala planetária das relações sociais. Deixa de existir fronteiras
geográficas que separavam o natural e o social, o urbano e o rural, o nacional e o
internacional, aumentando a densidade no sentido de diversidade qualitativa devido à
espessura de relações do tecido espacial. Por conta disso, o espaço necessita se
reestruturar para comportar a escala mais ampla de complexidade que o invade.
A quarta parte do capítulo titulada de “Conceitos, categorias e princípios lógicos
para o método e o ensino da Geografia” é um texto de reelaboração do “Conceitos,
categorias e princípios lógicos para a reformulação da Geografia que se ensina”,
publicado originalmente no I Encontro Nacional de Geografia promovido pela AGB, em
1987. Nesse capítulo o autor inicia trazendo que a Geografia e a educação formal
concorrem para a mesma finalidade de compreender e construir o mundo a partir das
ideias que formam dele, trabalhando com ideias.
Desse modo, ele traz sobre as ideias de mundo, onde a geografia trabalha com
coisas reais a partir das ideias, mas que é necessário não confundir ambas. A confusão
de ideia com real pode gerar a anulação do que é real, limitando a verdade, ou então
dispensar a ideia a título do que não é o próprio real, caindo no empiricismo. Nos dois
casos desfaz a possibilidade da reflexão crítica do conhecimento. Nesse sentido, ele traz
que é necessário o exercício da práxis, em um processo contínuo de aperfeiçoamento
onde a prática corrige a teoria e a teoria corrige a prática, tem-se, desse modo, teoria e
prática corrigindo-se e determinando-se reciprocamente.
O autor nessa parte apresenta categorias para trabalhar em Geografia, onde tudo
começa pela paisagem, mas explicitada na categoria do espaço e intermediada pelo
território. Ele apresenta ainda que localização, distribuição, distância, conexão,
delimitações e escala são subcategorias do espaço. Em síntese, os princípios são a base
lógica da construção da representação geográfica de mundo, sendo a paisagem o ponto
de partida metodológico, onde ocorre a percepção do sensível, o território vem a partir
da identificação dos recortes de domínios mapeados no arranjo da localização e o
espaço é o resultado, representando o inteligível.
A quarta e última parte do capítulo titula-se “Diálogo com os humanos e os
físicos: por um mundo experimentado por inteiro”, apresentado no Simpósio Teoria e
Método em Geografia Física, no 5° Congresso Brasileiro de Geógrafos em 1994. Nessa
parte o autor vem com a crítica da preocupação dos geógrafos com a unidade da ciência
geográfica do que com o diálogo que essa unidade propõe. Ele aponta a semelhança da
geografia física com a humana, sendo o conceito da superfície terrestre, sendo ela uma
unidade holista.
Devido aos limites de uma resenha, torna-se incapaz de trazer a complexidade
das ideias de Ruy Moreira assim como de forma mais completa seu pensamento nesse
capítulo. O autor apresenta claramente uma atenção filosófica nos temas que perpassam
a Geografia e se encerram nela. Por meio desse texto é possível ver que se tem uma
dificuldade de entre o pensar e o ser, uma dificuldade na Geografia em ser uma ciência
com forma, tendo apenas conteúdo como ele apresenta. O autor é fiel ao marxismo,
posicionando criticamente e o que o ajuda a sustentar sua crítica epistemológica. É um
grande texto para que se possa pensar a Geografia e as suas dificuldades, para que se
possa avançar em suas discussões e paradigmas.

Você também pode gostar