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DISCIPLINA: EPISTEMOLOGIA DA EDUCAÇÃO I – TURMA C

UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos


Prof. Dr. Alan Vitor Pimenta de Almeida Paes Costa
Profª Drª Sandra Aparecida Riscal
Discente: Ana Cláudia Maurino Fortunato

Síntese: DA MATTA, Roberto. RELATIVIZANDO: Uma introdução à antropologia


Social. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. Primeira parte, p.17 a 46.

A questão crucial das diferenças e semelhanças entre as ciências naturais e as


ciências sociais sempre foi fonte de grande preocupação de teóricos e filósofos, de acordo
com DA MATTA (2010, p. 17).
Quanto a situar a Antropologia no corpo de outras ciências, DA MATTA (2010,
p.17-19) diz que elas tocam em dois problemas fundamentais e relacionados: a ciências
naturais estudam fatos simples, eventos facilmente isoláveis, recorrentes e sincrônicos,
portanto, sua matéria prima é todo conjunto de fatos que se repetem sistematicamente e
podem ser vistos em laboratórios. Em contraste a isso, as ciências sociais estudam
fenômenos complexos. A matéria-prima então, são eventos com determinações
complicadas pois analisa todas as causas, motivações e condições para se ocorrer
determinado evento. Não há uma causa única ou motivação exclusiva. O foco do cientista
social são fatos que não mais estão ocorrendo entre nós ou que não podem ser
reproduzidos em situações controladas.
Segundo DA MATTA (2010, p.20) Tudo indica que entre as Ciências Sociais e as
Ciências Naturais temos uma relação invertida.
DA MATTA (2010, p.20) afirma que o cientista natural, na maioria dos casos,
resolve um problema simplesmente para criar tecnologias indesejáveis e, a longo prazo,
mortíferas e daninhas ao próprio ser humano, ou ainda, fazem descobertas que ameaçam
a vida e a dignidade do homem, diferente do cientista social, onde as condições de
percepção, classificação e interpretação são complexas, mas, os resultados não tem
consequência na mesma proporção.
Para DA MATTA (2010, p.20) o resultado prático do trabalho do cientista social
é visto fora do domínio científico e tecnológico, na região das artes, onde as ideias de
certas pesquisas podem ser aplicadas, produzindo modificações no comportamento
social, mas afirma, é mais fácil trocar de carro do que de valor simbólico ou político.
DA MATTA (2010, p.21) aponta que o problema básico continua: os fatos sociais
são irreproduzíveis em condições controladas e, por isso, quase sempre fazem parte do
passado.
E afirma “Nossas reconstruções, assim, diferentemente daquelas realizadas pelos
cientistas naturais, são sempre parciais, dependendo de documentos, observações,
sensibilidade e perspectivas” (DA MATTA, 2010, p.21).
DA MATTA (2010, p.22) coloca uma questão muito importante sobre a produção
e observação do fenômeno, a questão de “como observar” e destaca que “nas ciências do
homem o processo de acumulação que tipifica o processo científico é algo ainda mais
lento que nos demais ramos do conhecimento e conclui que acontecem perto de nós, pois
pretendemos estudar eventos humanos, fatos que nos pertencem integralmente”, ou seja,
algo que possamos imaginar o interior.
DA MATTA (2010, p. 24) cita suas percepções sobre os nomes dados aos
indígenas Apinayé e os Timbira, como se diferem do nosso modo de dar nomes. Nestas
tribos, cita Da Matta, os nomes eram mecanismos de estabelecer relações sociais. Os
nomes eram exclusivos e faziam referência ao futuro de cada um dentro da aldeia. os
nomes passam de homem pra homem e de mulher para mulher, geralmente do tio materno
para o sobrinho e dão direitos e papéis sociais. Isso se difere em outras tribos como os
Sanumá, do Norte da Amazônia, onde os nomes são segredo.
Para DA MATTA (2010, p. 25) estas diferenças nos levam a um modo
característico de proceder uma comparação na Antropologia Social e perceber que o
nosso modo de “dar nomes” é intermediário entre os Timbira (nomes coletivos) e os
Sanumá (nomes segredo). DA MATTA (2010, p. 26) sugere que essa possibilidade de
percepção e interpretação de problemas comuns é o néctar dos estudos em Antropologia
Social. Quando teorizamos, criamos uma interpretação, entramos numa relação de
reflexividade com o nosso sistema e com o sistema do outro, e podemos também, ir além,
e discutir com o outro sobre esta interpretação sobre ele. Esta interpretação é
revolucionária e só ocorreu no início do século e “é o que tem servido para situar a
Antropologia Social no centro epistemológico de todo movimento relativizador” o que
para Da Matta foi “o mais fundamental dos últimos tempos”, pois fez surgir um plano de
debate inovador formado por uma dialética entre o fato interno e o externo, que faz nascer
um plano comparativo fundado na reflexividade, na circularidade e na crítica sociológica,
onde nasce a diferença crítica entre um saber voltado aos objetos do mundo, como a
natureza, e um saber voltado aos homens e sociedade(Antropologia Social).
DA MATTA(2010, p. 26) analisa que a Antropologia Social possui pelo menos
três esferas, a dizer:
1) Antropologia Biológica – estuda o homem enquanto ser biológico dotado de carga
genética e com determinado percurso evolutivo. Especulação da evolução
biológica para explicar diferenciações entre as populações.
2) Arqueologia – estuda os resíduos deixados por uma sociedade.
3) Antropologia Social, Cultural ou Etnologia – trata de um estudo reflexivo onde o
ser usa a linguagem e tem consciência da mesma. É o processo de tomar
consciência das coisas e de si. É descobrir a dimensão da cultura e da sociedade
utilizando-se de um “plano instrumental” – com resposta direta, sem a tomada do
conhecimento reflexivo - e de um “plano cultural ou social” – onde o mundo
humano forma-se de forma dialética com a natureza.
A questão central para DA MATTA (2010, p.35) é “como a sociedade nasceu de
uma dialética complexa e, por isso mesmo, reflexiva, onde o desafio da natureza
engendrava uma resposta que, por sua vez, permitia tomar consciência da consciência, da
natureza e da própria resposta dada.”
DA MATTA (2010, p. 35) volta a destacar que o estudo da Antropologia
Biológica situa a questão de uma consciência física no estudo do Homem e numa escala
de milhões de anos, o que impossibilita uma demarcação bem marcada de eventos
“Estamos, portanto, situados num reino congelado – ou como colocou Lévi-
Strauss(1970) no reinado de uma ‘história fria’, onde os acontecimentos só aparecem em
espaços de tempo extraordinariamente longos.” (DA MATTA, 2010, p.36)
Para DA MATTA (2010, p.37) o estudo da Antropologia Social (Etnologia) abre
as portas de realidades diversas. Ao passo que a Arqueologia remete a questão da escala
de milhares de anos (temporalidades infinitas) mas a Etnologia é o que nos permite
diferenciar civilizações, sistemas produtivos e regimes políticos.
DA MATTA(2010, p.40) coloca o dogma segundo o qual a matéria é anterior à
consciência.
“Sabemos que nesta posição o natural é visto como anterior ao biológico que, por
sua vez, é anterior ao social que, por sua vez, é anterior ao individual. Temos uma
verdadeira cadeira hierarquizada..." (DA MATTA, 2010, p.40)
A questão para DA MATTA (2010, p.40) é mostrar essa classificação de oposição
criada entre o natural, o social e o cultural, ele diz: “Na nossa ideologia e sistema de
valores, o homem está em oposição à natureza numa atitude que não é nada
contemplativa, mas ativa. Ele visa o seu domínio e controle, o seu comando.”
Com esse olhar, DA MATTA faz uma peça de teatro a qual ele denomina “Origem
do Homem” que revela uma visão utilitarista da cultura e da sociedade e aponta seus
enganos, onde destaca como um dos maiores erros desta visão o pensamento que apenas
nesta sociedade e neste sistema novas formas de relacionamentos podem ser descobertas
ou inventadas e que os nativos são primitivos e não podem experimentar com suas formas
sociais, eles apenas ‘respondem’ aos problemas ‘colocados’ pela natureza.
DA MATTA (2010, p. 46) aponta que as Ciências Sociais “..expõem a perspectiva
de acordo com a qual o mundo social é um fenômeno coletivo, globalizante, múltiplo e
dependente para sua compreensão correta...” e que “o social, nesta perspectiva, é muito
mais um caminho amplo, com muitas direções e zonas de encontro e espaços de choque
e conflito” e cita Marx e sua visão totalitária e marcante de mundo que diz
“Os homens fazem sua própria história, mas não fazem como querem; não a
fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam,
diretamente legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações
mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.” (DA MATTA, Roberto.
RELATIVIZANDO: Uma introdução à antropologia, 2010, p.46 cita cf. MARX,
1974, p. 334)
DA MATTA (2010, p. 46-47) diz que todos que se interessam por uma visão
realmente sociológica e generosa da vida social deveriam ler este estudo onde Marx traz
uma visão da totalidade social como drama e afirma que isso faz com que ele próprio
reafirme sua visão de “um plano de formar-se a si próprio, tendo suas próprias regras e,
por tudo isso, possuindo um dinamismo especial que faz o observador interpretar e
compreender nos termos de suas múltiplas determinações.”

Referências Bibliográficas: DA MATTA, Roberto. RELATIVIZANDO: Uma introdução à antropologia


Social. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. Primeira parte, p.17 a 46.

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