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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/

Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.


Realização Curso de História – ISSN 2178-1281

INDIVÍDUO E SOCIEDADE EM ELOMAR FIGUEIRA MELLO


Helder Canal de Oliveira1

RESUMO: A racionalidade moderna foi erigida em torno de representações dualistas.


Podemos ver isso na discussão entre indivíduo e sociedade. Para boa parte da intelligentsia
contemporânea só na modernidade o indivíduo conseguiu se “autonomizar” da sociedade.
Para outros, apesar da ideologia moderna colocar o indivíduo em primeiro plano, ele ainda é
submetido à sociedade. Mas, uma coisa em comum nas duas idiossincrasias é a sua
impossibilidade de conciliação, ora pendendo mais para um lado, ora pendendo mais para o
outro. Proponho que essa aparente incompatibilidade não corresponde à realidade, pois na
práxis somos sujeitos e objeto ao mesmo tempo, havendo uma continuidade entre ambos.
Parto da música, pois nessa arte é observada toda uma estética histórico-musical anterior ao
indivíduo, mas também é observada a criatividade de cada músico, inclusive na reprodução de
uma música anterior a ele. Nesse sentido, todo músico ao reproduzir uma canção é, em certa
medida, compositor dela. Com isso, nenhuma música está dada de antemão, havendo a
necessidade de considerar as várias influências auditivo-culturais que um compositor sofreu
ao longo de sua aprendizagem musical. Desse modo, minha análise será centrada em Elomar
Figueira Mello, cuja produção vai de 1968 a 2008.
PALAVRAS-CHAVE: Música, Indivíduo, Sociedade, Tradição, Modernidade.

Introdução

A racionalidade moderna a partir do século XVII se desenvolveu através de


representações dualistas (QUIJANO: 2010). Desse modo, dicotomias clássicas foram erigidas
como sendo constitutivas das interpretações da realidade como homem-natureza, indivíduo-
sociedade, homem-mulher, música erudita-música popular e assim por diante. A
representação máxima dessa maneira de enxergar o mundo foi o estruturalismo desenvolvido
no século XX, cujo principal representante é Claude Lévi-Strauss (2008). O sistema teórico-
sociocultural desenvolvido por este antropólogo francês-belga ao partir dessas representações,
consegue identificar a existência de alteridades como constitutivas da realidade, ou seja, essa
análise tem o mérito de não excluir as alteridades de suas análises. Entretanto, o grande
problema dessa idiossincrasia é a impossibilidade de existir uma terceira alternativa para a
realidade, transformando, assim, aspectos que estão ligadas a própria vida inconciliáveis,

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Aluno de mestrado do programa de pós-graduação em História pela Universidade Federal de Goiás.
helder_canal@hotmail.com

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como nos exemplos dados anteriormente. Durante um bom tempo, as análises sociais
realizadas no Brasil partiram dessa maneira de interpretar o mundo, surgindo trabalhos como
de Jacques Lambert (1978), Chico de Oliveira (2003), Fernando Henrique Cardoso (1981),
Roberto DaMatta (1983), entre outros. Especificamente neste trabalho debaterei com este
último autor citado, pois no livro Carnavais, Malandros e Heróis (1983) ele faz uma
diferenciação entre pessoa e indivíduo na realidade brasileira, tema desta comunicação. Para
tanto, me utilizarei da obra artística de Elomar Figueira Mello para analisar essa
diferenciação.

Racionalidade moderna: dicotomias e estereótipos

Roberto DaMatta (1983) afirma que na realidade brasileira é visível a dicotomia entre
pessoa e indivíduo. A primeira faria parte de sociedades tradicionais, cujas relações pessoais e
hierarquizadas são patentes na sociabilidade do cotidiano. O segundo faria parte de sociedades
modernas, cujas relações se dariam através da impessoalidade e da igualdade que a lei traz
para a sociabilidade do cotidiano. No entanto, este autor reconhece que o Brasil é um tanto
quanto peculiar. Não seria extremamente pessoalista como na Índia, mas também não seria
tão impessoalista como nos Estados Unidos. No cotidiano brasileiro haveria um meio termo.

A sugestão foi a de que o Brasil fica situado a meio caminho: entre a hierarquia e a igualdade; entre a
individualização que governa o mundo igualitário dos mercados e dos capitais e o código das
moralidades pessoais, sempre repleto de nuanças, gradações e marcado não mais pela padronização e
pelas dicotomias secas do preto e do branco, de quem está dentro ou fora, do é ou do não é, mas
permitindo mais uma diferença e uma tonalidade. De fato, a sugestão é a de que, no Brasil, temos os
dois sistemas operando numa relação de reflexividade de um em relação ao outro, de modo que sempre
confundimos mudar com oscilar de um lado para o outro (DAMATTA: 1983, p. 191).

Proponho aqui, mudar um pouco o foco das relações dicotômicas entre indivíduo e
pessoa para focar na continuidade que há entre essas duas noções. Isto é, não corroboro da
mesma articulação que Roberto DaMatta e que tantos outros pensadores sociais do Brasil
fizeram e fazem, entre uma parte do país ser desenvolvida e moderna para outra parte ser
subdesenvolvida e atrasada, mesmo que uma seja dependente da outra como mostrou Chico
de Oliveira (2003). Ao fazer essa interpretação dicotômica da realidade boa parte dos teóricos
sociais acabaram por se utilizar da construção de tipo ideal de Max Weber (1986), mesmo

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sem consciência, porém transformaram-no em estereótipos mais ou menos arraigados nas


análises sociais.

O tipo ideal construído por Max Weber (Idem) é uma importante ferramenta
metodológica para podermos enxergar as nuances da realidade social. Contudo, vejo que esta
ferramenta acabou por se transformar em estereótipo quando pensada através das dicotomias
que a racionalidade moderna engendrou. Assim, quando algumas características são colocadas
como sendo constitutivas de determinada realidade, tudo o que estiver fora dessas
características é visto como sendo de outra realidade, mantendo as dicotomias inconciliáveis.
Quando há certo relacionamento dessas dicotomias, estas são vistas como sendo superpostas
umas em relação às outras. Esse é o caso brasileiro. Nesse sentido, como DaMatta (1983)
afirma, o Brasil seria uma sociedade semitradicional, pois haveria conciliação entre o
moderno e o tradicional, sendo um dependente do outro; ou como Chico de Oliveira (2003)
coloca: a parte rica do país depende da parte pobre para funcionar e vice-versa. Dessa feita,
haveria momentos em que o moderno prevalece sobre o tradicional, assim como o contrário
também seria verdadeiro. Além dessas duas possibilidades haveria momentos em que os dois
são utilizados ao mesmo tempo. Discordo dessas posições. Para mim há continuidade entre
moderno e tradicional, não havendo, pois, a necessidade de diferenciar um do outro, já que
cada realidade histórico-cultural é específica. Na música essa continuidade é muito visível.
Todavia, focarei aqui apenas a questão entre indivíduo e sociedade, ou no caso brasileiro entre
indivíduo e pessoa. Comecemos, então, por caracterizar cada uma dessas noções.

A pessoa é entendida aqui como um ser humano participante de um grupo social.


Nesse grupo social a pessoa é um personagem que varia nas mais diversas representações
sociais. É um ser psicológico. É uma entidade jurídica dotada de direitos. É uma forma de
diferenciar as várias pessoas que fazem parte de um grupo social (MAUSS: 2003). O
indivíduo pressupõe duas coisas simultâneas – “um objeto fora de nós e um valor”
(DUMONT: 1985, p. 37) –, além de ter as mesmas características da pessoa. A grande
diferença é que o indivíduo – ser moral – na modernidade é cultuado (DURKHEIM: 2010),
considerado indivisível, atomístico, independente e autônomo, não precisando de outros
indivíduos para viver, ou seja, é considerado um ser não-social (DUMONT: 1985). Isto é, a
pessoa não deixa de viver em sociedade enquanto o indivíduo pensa ser possível viver fora da
mesma. Uma implicação disso é a atitude blasé que Simmel (1976) identificou como um
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fenômeno das grandes cidades. Essa atitude é caracterizada pela indiferença que os indivíduos
sentem uns em relação aos outros. Isso se deve muito pelo aumento demográfico, pela
complexidade das organizações sociais, pelo surgimento de novos meios de locomoção, entre
outros. Nesse sentido, é que Louis Dumont (1985) afirma que o indivíduo moral na
modernidade é uma ideologia. Para entender melhor essa diferenciação transcrevo um resumo
que Roberto DaMatta (1983, p. 175) fez para mostrar as características básicas de pessoa e de
indivíduo:

a) Indivíduo: Livre, tem direito a um espaço próprio; Igual a todos os outros; Tem escolhas, que são
vistas como seus direitos fundamentais; Tem emoções particulares; A amizade é básica no
relacionamento = escolhas; O romance e a novela íntima, individualista (obra de autor), são
essenciais; Faz regras do mundo onde vive; Não há mediação entre ele e o todo.

b) Presa à totalidade social a qual se vincula de modo necessário; Complementar aos outros; Não tem
escolhas; A consciência é social (isto é, a totalidade tem precedência); A amizade é residual e
juridicamente definida; A mitologia, as formulações paradigmáticas do mundo são básicas como
formas de expressão; A segmentação é a norma.

Considerando esse quadro, todo humano para Roberto DaMatta está ou dentro do que
chamaria de pessoa ou dentro do que chamaria de indivíduo. Sendo que no Brasil os dois
convivem e se relacionam. No entanto, na música de Elomar Figueira Mello é possível
observar certa continuidade entre a pessoa e o indivíduo e não apenas um relacionamento ou
dicotomia. Vamos, com isso, analisar primeiramente a questão da pessoa nesse músico
baiano. Para tanto transcreverei a canção Bespa na íntegra.

Sinhores, dono da casa/O cantado pede licença/Pra puchá a viola rasa/Aqui na vossa presença/Pras
coisa qui vô cantano/Assunta imploro atenção/Îantes porém eu peço/A Nosso Sinhô a benção/Îantes
porém eu peço/A Nosso Sinhô a benção/Pois sem Ele a idéa é pensa pru cantá/E pru tocá é mensa a
mão/Pra todos qui istão me ovino/Istendo a invocação/ /Sinhô me seja valido/Inquanto eu tive
cantano/Pra qui no tempo currido/Cumprido tenha a missão/Foi lá nas banda do Brejo/Muito bem
longe daqui/Qui essas coisa se deu/Num tempo qui num vivi/Nas terra qui meu avô/Herdô de meu
bisavô e pai seu/Dindinha conto cuan’ meu avô morreu/ Dindinha conto cuan’ meu avô morreu/E hoje
eu canto para os filhos meus/E eles amanhã para os filhinhos seus.../Nessa terra há muitos anos/Viveu
um rico sinhô/Dono de um grande fecho/Zé Crau canto mais Alexô/Honras viva de sua mesa/Treis son
Sarafin/Treis son Balancesa/Treis son Sarafin/Treis son Balancesa/ /Suas posse era tanta/qui se a
memora num erra/Vi dizê qui ele tinha/Mais de cem minréis de terra, ai/Nos tempo desse
sinhô/Dindinha conto pra mim/Viveu Dassanta a Fulô/Filha de um tal cantado/Anjos Alvo

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Sinhorin/Anjos Alvo Sinhorin/Dele o qui pude apurá/Foi o relato d’um vaquerô/Neto de um


marruêro/Matadô de marruá/Qui era cumpanhêro seu/No Campodo Sete Istrêlo/No Campo do Sete
Istrêlo, ai/Malunga e violêro/Ranca-tôco de ribada/Séro distimido e ordêro/Num gostava de
xuada/Rematô o velho na fera/Manso passo a vida intera/Mais morreu sem temê nada, ai (MELLO:
1978).

Essa música começa com o eu lírico pedindo licença ao dono da casa para cantar. Mas
antes mesmo de cantar ele vai pedir a benção para o seu deus a fim de garantir uma boa
cantoria e, assim, honrá-lo. Esse sentimento é visto por Roberto DaMatta (1983) como
característica de sociedades tradicionais, no caso da pessoa. Após essa anunciação o eu lírico
continua falando que ele vai cantar a missão que lhe haviam designado. Começa falando que
o fato aconteceu em outros tempos, nas terras que seu avô tinha herdado de se bisavô e assim
por diante. Conta à história de Dassanta, filha de um cantador, cuja beleza era famosa na
região, fazendo com que ela fosse desejada por muitos homens2. Seguindo os passos de
Câmara Cascudo (1984), o eu lírico seria um cantador nordestino. Nesse sentido, a figura do
cantador para Elomar é emblemática. Por um lado o cantador é um personagem social-
artístico do nordeste agrário de épocas anteriores como dos séculos XVII a início do XX
(CASCUDO: 1984), que passava trazendo um pouco de felicidade para a vida sofrida do
sertão. Por outro, esse personagem também é quem traz as notícias de outras regiões, tendo,
assim, um papel extremamente importante na transmissão e criação de conhecimentos. É
observado também nessa música certa nostalgia aos tempos em que se comungava de uma
vida patriarcal, sob os cuidados de um grande fazendeiro de terra. O interessante nesse ponto
é como o fazendeiro é caracterizado: sóbrio e bondoso, sendo exaltado na canção. Além disso,
todo o conhecimento transmitido pelo violeiro é via oral, passado de geração a geração,
inclusive para as futuras.

Se pegarmos a caracterização nua e crua feita anteriormente entre pessoa e indivíduo,


a maioria dos ouvintes, creio eu, chegarão a conclusão de que o eu lírico se encaixaria melhor
na descrição de pessoa. Isso porque há certa valorização do passado pelo eu lírico, através do
respeito e da honra a seus antepassados e aos anfitriões da cantoria. De acordo com a
interpretação do Brasil feita por Roberto DaMatta (1983) haveria nessa canção uma

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Dassanta é personagem de várias musicas de Elomar. Nesse sentido, faço essa afirmação me baseando em
outras canções como DASSANTA vinda a público no mesmo disco das canções citadas nesse texto.

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efetivação das relações pessoais, em que cada pessoa é reconhecida pela outra, pois ela é
complementar as outras, não havendo igualdade entre as partes, mas sim um sistema
hierarquizado de relações pessoais. O grande fazendeiro seria a personalidade por excelência
e as outras pessoas seriam derivadas dele. Para este antropólogo teria certa aproximação do
subalterno com o dominante, pois o primeiro se utilizaria da posição de seu dominante para
manter a hierarquia funcionando. Com isso, haveira uma hierarquia de dominação às avessas.

A própria música pode ser considerada como uma manifestação das relações pessoais
desenvolvidas no Brasil. Toda ela é executada apenas com voz e violão. Ou seja, a canção é
construída dentro de uma instrumentação mais popular, de fácil acesso a qualquer membro de
uma comunidade ou sociedade. A melodia está muito próxima das clemências e louvações a
deus, com voz serena e dedilhados ao longo de toda canção. Desse modo, a música estaria
impregnada de manifestações religiosas características do sertão de Vitória da Conquista,
interior da Bahia, onde mora Elomar Figueira Mello3. Ora, mas a religião, de acordo com a
caracterização de pessoa e indivíduo, faria parte do primeiro, ainda mais por Max Weber
(2004) considerar que um dos atributos da modernidade é a secularização e racionalização do
mundo, ou seja, a religião perdeu seu lugar de destaque nas relações de sociabilidade.
Todavia, vamos agora considerar outra música do mesmo autor e do mesmo disco para
diferenciar o que Roberto DaMatta (1983) chama de relações individualizadas de
sociabilidade. Passarei, então, para a canção Curvas do Rio.

Vô corre trecho/Vô percurá u’a terra preu pudê trabaiá/Pra vê se dêxo/Essa minha pobre terra veia
discansá/Foi na Monarca a primêra dirrubada/Dêrna d’intão é sol é fogo é tái d’inxada/Me ispera,
assunta bem/Intéa boca das água qui vem/Num chora conforma mulé/Eu volto se assim Deus quisé/ /Tá
um aperto/Mais qui tempão de Deus no sertão catinguêro/Vô dá um fora/Só dano um pulo agora in Son
Palo Triang’ Minêro/É duro môço esse mosquêro na cunzîa/A corda pura e a cuia sem um grão de
faria/A bença Afiloteus/Te dêxo intregue nas guarda de Deus/Nocença ai sôdade viu/Pai volta pras
curva do rio/ /Ah mais cê veja/Num me resta mais creto pra um furnicimento/Só eu caino/Nas mão do
véi Brolino mêrmo a deiz pur cento/É duro môço ritirá pro trecho alei/C’ûa pele no osso e as alma nos
bolso do véi/Me ispera, assunta viu/Sô imbuzêro das bêra do rio/Conforma num chora mulé/Eu volto se
assim Deus quisé/Num dêxa o rancho vazio/Eu volto pras curva do rio (MELLO: 1978).

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Esse músico baiano afirma em Tramas do Sagrado (2007) que o grande objetivo de sua vida é escrever a obra
do sertão.

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No começo da música o eu lírico fala que vai procurar um lugar para poder trabalhar,
já que a sua terra está velha, no caso seca, não dando mais a quantidade de frutos necessários
para sustentar-lhe a família. A música diz que a primeira grande marcha migratória foi na
época do Império, quando se começa a modernização, principalmente do Rio de Janeiro e
também como consequência a decretação de algumas leis como a Lei de Terras de 1850, que
dificultou muito a aquisição de terras pela população mais carente, prevalecendo assim os
interesses dos grandes latifundiários. Quando o eu lírico anuncia para a esposa que vai
procurar outra região para trabalhar e sustentar a família, ela fica chorando, mas ele logo a
acalma dizendo que quando a chuva chegar, ele chegará junto se deus quiser. Resolve, então,
procurar emprego em São Paulo ou Triângulo Mineiro. A saudade aperta ainda mais pelo seu
filho pedir para ele voltar. Ao trabalhar o eu lírico se vê obrigado a vender sua força de
trabalho por qualquer salário. Este não é o suficiente para sustentar a família que ficou no
sertão e juntar dinheiro para poder voltar. Mesmo assim o personagem tem esperança de
voltar para sua região. A canção, dessa feita, conta a história de um retirante.

Ora, o retirante é uma figura que só é vista no Brasil a partir do momento em que o
país passa a sofrer um processo de modernização4, mesmo que incipiente. Esse personagem
passou a ser importante para o desenvolvimento do centro-sul do país a partir da abolição da
escravidão. Boa parte dos trabalhos mal remunerados passaram, assim, a ser executados por
esses migrantes. Até hoje o migrante-retirante é importante na economia das regiões mais
industrializadas do país como São Paulo e Rio de Janeiro. Em conversa travada com Elomar
no final de julho de 2011 em sua fazenda em Vitória da Conquista, o músico me disse que
São Paulo é extremamente importante em sua obra, pois boa parte dos migrantes-retirantes do
sertão vão para a capital paulista, fazendo com que esta seja a maior cidade do país de
nordestinos. Destarte, a migração de uma região para outra é típica no Brasil, principalmente a
partir do que as ciências sociais chamam de processo de modernização, ou seja, a
“introdução” do país na modernidade.

O desenvolvimento instrumental dessa música é todo executado em voz, violão e


flauta. O violão é tocado de maneira suave ao longo de toda a gravação, havendo alternância

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Considero o processo de modernização como transformações socioculturais rápidas e drásticas, principalmente
com a utilização de tecnologias.

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de dedilhados e batidas. A flauta entra no corpo da canção quando não há voz. Contudo, nos
trechos de maior comoção, como no momento em que o eu lírico anuncia para a esposa a sua
partida ou quando este fala de sua saudade pela terra natal ou no final da música quando
anuncia a sua esperança de voltar para a sua família e sua região, a flauta entra para dar
destaque na tristeza dos versos. No caso dessa canção há uma maior elaboração instrumental
com a utilização de outros instrumentos. A própria voz ganha destaque na canção, pois o tom
da mesma é mais elevado, fazendo com que o cantor se concentre mais para não desafinar, o
que caracterizaria maior domínio e maior estudo sobre música, fazendo com que haja certa
interdependência (DURKHEIM: 2010) entre os integrantes da execução da canção.

Disso, podem surgir críticas no seguinte sentido: mas essa música ou todo esse
processo não retira a dicotomia entre pessoa e indivíduo, ainda mais que o processo de
mudança da cultura é mais lento do que o processo de mudança da economia. Estou de acordo
em relação à velocidade de mudança da cultura e da economia, porém não podemos
considerar que o capitalismo segue um modelo, no caso inglês, francês ou estadunidense, pois
caso não encaixe nesses paradigmas, não seria capitalismo. Aqui é interessante colocar a
crítica dos decoloniais (DUSSEL: 2010; SANTOS: 2010; QUIJANO: 2005) sobre a visão
eurocêntrica do noroeste em relação à modernidade. Para os países centrais da Europa –
região do noroeste do continente como França, Grã-Bretanha, Holanda, Alemanha etc – a
modernidade começou em algum momento dos séculos XVII ou XVIII5. Todavia, a
modernidade, de acordo com a visão decolonial (Idem), tem origem com o descobrimento da
América, pois foi através das relações travadas entre Europa e o Novo Mundo que se
começou a forjar um sistema-mundo (WALLERSTEIN: 2001). Por esse ponto de vista,
haveria uma primeira modernidade cujos precursores são Portugal e Espanha. A segunda
modernidade surgiria algo em torno de dois séculos mais tarde, quando o centro do
capitalismo mundial migrou do sul do velho continente para o noroeste do mesmo. Com isso,
o desenvolvimento sociocultural dos países dessa primeira modernidade, incluindo suas
colônias, foi “apagado” pela segunda modernidade. Daí a ênfase dada por Roberto DaMatta
(1983) a tradição e aos resquícios da colonização caracterizando o Brasil como uma sociedade
semitradicional, havendo uma dialética entre indivíduo e pessoa.

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Ponto de vista corroborado por Roberto DaMatta (1983).

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Dialética ou continuidade entre indivíduo e pessoa?

Como mostrado anteriormente, o debate, ou melhor, a dialética entre indivíduo e


pessoa só é patente de discussão caso coloquemos os estereótipos como verdadeiros e
modelos ideais para se analisar uma realidade sociocultural. Passarei agora a criticar essa
posição a partir das canções tratadas anteriormente e da posição do próprio compositor.
Defenderei que não há uma dialética, mas sim que o desenvolvimento das noções de pessoa e
indivíduo no Brasil não são nem complementares e nem opostas, mas sim contínuas, pois são
constitutivas da maneira pelo qual o país se consolidou enquanto nação e pela maneira com a
qual se inseriu no mundo, além é claro, das várias culturas existentes no território brasileiro.
Desse modo, não há uma modernidade cujo modelo é o europeu, mas sim várias
modernidades (RICOUER: 2001) que se relacionam a todo o momento em circunstâncias
específicas e maleáveis.

A escola culturalista (BENEDICT: s/n; 2009, MEAD: 1988) estadunidense criou toda
sua teoria baseando-se no contexto sociocultural e histórico para o desenvolvimento da
personalidade de cada indivíduo6. Por essa idiossincrasia, ninguém nasce com uma
personalidade pré-definida, mas esta é criada a partir desse contexto. Se um indivíduo é mais
agressivo ou mais dócil, é necessário analisar o contexto sociocultural e histórico que ele foi
educado para entendê-lo. Isso é patente, por exemplo, com os kamikazes japoneses na
segunda guerra mundial, em que os pilotos cumpriam a missão designada pelo comandante,
mesmo depois de ter acabado suas bombas, sacrificando, assim, suas vidas. Partindo dessa
ideia o desenvolvimento da pessoa ou do indivíduo estaria ligado a esse contexto
sociocultural e históricohavendo, inclusive, outras maneiras de desenvolvimento que não
estejam dentro dos padrões estabelecidos pelas ideias de indivíduos e pessoas. Mas voltemos
para esse debate.

De acordo com vários pesquisadores sociais (DURKHEIM: 2010, MAUSS: 2003,


SIMMEL: 1976, ELIAS: 1994, DAMATTA: 1983) somente no ocidente moderno surgiu a
figura do indivíduo. Isto é, o indivíduo moral surge com o advento da modernidade. Nesse
contexto sociocultural há toda uma valorização do indivíduo. Dessa feita, tudo que acontece

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Não estou entendendo aqui o indivíduo no sentido moral, mas sim enquanto um ser biológico.

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com um indivíduo recai sobre suas costas, dando a impressão de não haver a possibilidade de
a sociedade influenciar sua vida. No Brasil a situação não é diferente. Desde que uma criança
nasce, ela é educada a buscar objetivos na vida. Esses objetivos são traçados de acordo com a
realidade que ela vive, não sendo pré-definidas. Nesse trajeto há influências de vários
contexto e situações, formando a personalidade do indivíduo. Um traço comum que existe na
modernidade brasileira é o que conhecemos como “vencer na vida”. Isso significa que um
indivíduo que conseguiu melhorar financeiramente é um vencedor da vida, caso contrário é
um perdedor. Como essa ideologia é muito forte, boa parte dos indivíduos farão tudo que
estiver ao seu alcance para alcançar tal objetivo, podendo se utilizar tanto das amizades,
caracterizadas por DaMatta (1983) como pertencentes ao sistema tradicional, como da
impessoalidade da lei, que é atribuída as relações individualizadas modernas. Isso pode ser
observado tanto no indivíduo Elomar7, quanto na segunda música transcrita.

Para melhor compreender esses aspectos,é interessante mostrar as fases da obra desse
artista. Com isso, podemos decompô-la em pelo menos quatro períodos. O primeiro vai de
1968 a 1978, quando este músico se aproxima mais das canções populares do sertão da Bahia.
O segundo período vai de 1978 até 1992, quando se aproxima da música erudita com
composições de óperas. O terceiro período vai de 1992 até 2005 com a composição de
antífonas. Por fim, há o quarto período que vai de 2005 até hoje com a dedicação a literatura 8.
As músicas tratadas aqui foram compostas no primeiro período, porém a canção Bespas foi
introduzida na ópera Auto da Catingueira de 1983. Partirei da primeira aparição das músicas
que é no disco Na Quadrada das Águas Perdidas de 1978 para fazer análise.

Como é sabido, a música popular surge a partir do momento de sua gravação e


comercialização como uma forma de angariar recursos financeiros. Todo músico, portanto,
que segue este caminho deixa de ser anônimo para ser conhecido e ovacionado. Com isso, há
o culto a personalidade, que é muito valorizado na modernidade capitalista. Elomar Figueira
Mello não foge a essa regra. O primeiro disco que gravou com finalidade comercial foi em

7
Estou falando do ser biológico.
8
Faço essa diferenciação apenas para mostrar que a maior produção desses gêneros artísticos se deram nesses
períodos, mas isso não significa que em cada desses períodos ele abandonou a composição/confecção dos outros
estilos.

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1972 – Das Barrancas do Rio Gavião – com a gravadora Phillips. Seu segundo disco, cujas
músicas tratadas aqui fazem parte de seu repertório, foi gravado em 1978 pela gravadora Rio
do Gavião de propriedade do próprio músico. Nas conversas que tive com ele em julho de
2010 e de 2011, o músico me afirmou que sua intenção em fundar uma gravadora, deveu-se
ao fato de que até hoje não recebeu os direitos autorais da Phillips, além de não poder usufruir
completamente de suas composições, como deixar outros artistas gravá-las sem o pagamento
desses direitos para a gravadora. Ora, o sistema econômico que prevaleceu na modernidade
foi o capitalismo. Este tem por objetivo adquirir a maior quantidade de lucro, daí que a
comercialização da música encaixa-se nesses requisitos. Bom, a intenção de gravação de um
disco segue essa lógica, caracterizando-se, com isso, a penetração da lógica capitalista em
Elomar Figueira Mello. Disso advém que este músico é considerado e se considera um
indivíduo, pois tem o culto a personalidade e busca o lucro como finalidade,mesmo que esse
lucro não seja exorbitante, mas apenas para viver satisfatoriamente bem, ou seja, não há a
intenção de ficar rico.

Todavia, este músico baiano é muitas vezes visto como sendo defensor do
tradicionalismo, ainda mais por criticar a bossa nova e a jovem guarda dos anos cinquenta e
sessenta do século XX. Em entrevista concedida em setembro de 1987 ao jornal da
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Uberlândia – ADUFU –, Elomar afirma
que quando começou a gravar na década de sessenta, ele surgiu imprensado entre dois rolos
compressores, que são os estilos citados anteriormente. Para este músico a bossa nova e a
jovem guarda era nada mais nada menos do que uma americanização do samba e uma
colonização cultural estadunidense do Brasil, a fim de moldar a cultura brasileira para ser
vendida nos Estados Unidos. Essa posição do artista baiano lhe rendeu inúmeras críticas como
as de Adalberto Paranhos (1990). Nas composições de Elomar Figueira Mello, assim como
nas citadas anteriormente, é patente a busca pela preservação da cultura sertaneja. Com isso,
este artista nega qualquer influência de “estrangeirismos”, em suas palavras9. Para tanto, ele
criou em 2007 uma ONG – Fundação Casa dos Carneiros – a fim de proteger sua obra, a
cultura sertaneja e lançar novos artistas sertanejos.

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Noção falada por Elomar em trabalho de campo realizado em julho de 2010.

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Recentemente há a crítica de Herom Vargas. Este pesquisador da música popular


brasileira ao analisar o músico e compositor Chico Science afirma que

Seu tom belicoso era típico da ânsia juvenil de se contrapor a um discurso dominante e elitista que se
apropria das tradições – no caso, as músicas – em benefício próprio, lapidando aquilo que o “bom
gosto” trata como matéria bruta ou exotismo popular. Vistas fora de sua aspereza congênita, as músicas
regionais seriam reproduzidas em nome da defesa da tradição, muitas vezes sem o devido crédito, por
uma elite que via tal tradição como algo rígido, definidor das supostas raízes culturais, e que se sentia
no dever de mantê-la absolutizada e intacta. São práticas que vão desde a gravação em discos autorais,
até a produção de eventos chamados de “folclóricos” como a agenda cultural oficial; passando também
pela prática de utilizar instrumentos, letras e estruturas musicais populares em favor de uma “arte
erudita” com feição nacional e pretensamente enraizada na cultura local (VARGAS: 2007, p. 36/37).

Essa crítica faz referência direta ao movimento armorial iniciado na década de 1970
em Pernambuco por Ariano Suassuna. Elomar é muito próximo desse movimento,
compartilhando vários aspectos artístico-musicais. Entre os pontos em comum está a questão
de pesquisar, compor, gravar e disseminar uma “pretensa” música erudita no sertão
nordestino. Como falei anteriormente este músico também é compositor de óperas. Suas
óperas são compostas dando ênfase à fala dialetal10 e aos instrumentos mais utilizados da
região, principalmente o violão e a flauta, mas também há utilização de orquestras. Se
voltarmos para a primeira música, o eu lírico dela estaria mais próxima da definição de pessoa
que Roberto DaMatta (1983) pronuncia. Mas, ao fazer parte de uma ópera, podemos
questionar: mas este estilo músico-teatral não é moderno e europeu? É sim. Disso, volto a
insistir que a diferenciação e a dialética entre indivíduo e pessoa no Brasil não funciona tão
bem quanto pronunciado por DaMatta. Há um contínuo. Na realidade brasileira há um
amálgama, uma miscelânea, não sendo possível diferenciar onde termina um e começa o
outro, não fazendo nem sentido colocar em destaque essa questão.

Além dessa crítica, Herom Vargas faz outra que está ligada ao problema do direito
autoral. Para este autor o músico que fica preocupado com isso é visto como um defensor da
tradição, pois a indústria fonográfica não estaria interessada em lançar músicos alternativos,

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Entendo dialeto como uma “variedade regional sem o status e o prestígio sócio-cultural da própria língua. (...)
Uma língua se dialetiza quando toma, segundo as regiões onde é falada, formas notadamente diferenciadas entre
si; a noção de dialetação pressupõe a unidade anterior, pelo menos relativa, da língua em questão” (BONAZZA:
2006. Nota 213. pp. 100).

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mas apenas aqueles que compartilham de sua ideologia, ou seja, o lucro. Desse modo, como
Elomar é um defensor desse “direito”, inclusive quando eu fui conversar com ele pela
primeira vez tive que assinar um documento em que me comprometia a não utilizar a sua obra
ou a sua voz indevidamente, podendo, caso contrário, ser processado juridicamente, é tachado
de tradicionalista. Penso eu que ao se precaver de todas as maneiras legais para proteger sua
obra, Elomar não pode ser enquadrado como tradicionalista, pois de acordo com a definição
de indivíduo, isso faria parte de seu mundo. Além disso, não podemos esquecer da
apropriação que o capitalismo faz de manifestações artístico-culturais para obter lucro, ou
seja, a lógica desse sistema social adentra no mundo tradicional.

Entretanto, há sim a manutenção de aspectos vistos como tradicionais em sua vida e


sua obra, ao mesmo tempo em que há aspectos modernos. Na convivência que tive com
Elomar, não observei em nenhum momento a separação clara e definida entre o moderno e o
tradicional, muito pelo contrário, a todo o momento este músico se mostrou bem leve ao
colocar esses aspectos ao mesmo tempo, pois os colocava de forma inconsciente. Assim, à
medida que eu ia conversando com este músico, não via, por parte dele, nenhum dilema, ou
contradição em sua fala, pois era o que ele realmente pensava/acreditava. Nesse ponto é
interessante voltarmos à hermenêutica. Esta corrente de pensamento questiona essas
representações dualistas, pois o que está em pauta é a possibilidade de comunicação entre
indivíduos (sem conotação ao indivíduo moral). Daí que na vida cotidiana, os indivíduos não
separam uma ação da outra, mas tudo serve para dar sentido à vida e a realidade. Moderno e
tradicional, por esse ponto de vista, estão ligados mais a questões didáticas do que ao
cotidiano da vida, pois neste último tudo está amarrado, ligado, mas também está frouxo,
cortado.

Conclusão

Na vida cotidiana não há separação entre moderno e tradicional, assim como não há
separação entre pessoa e indivíduo. Tudo está intimamente ligado e separado ao mesmo
tempo, pois é através da comunicação e da interpretação que se constrói o significado de
alguma coisa. Por isso, não tem como afirmar que a comunicação ou a interpretação já estão
dadas ou pré-definidas de antemão. Dessa maneira, as representações dualistas erigidas pela

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racionalidade moderna servem mais como um recurso didático do que para representar o
cotidiano.

Isso é patente na interpretação feita pela maioria dos pesquisadores sociais sobre o
Brasil. Roberto DaMatta, ao pensar sobre o dilema brasileiro, fez a diferenciação entre pessoa
e indivíduo. Para ele, a primeira noção está ligada a tradição, as sociedades hierarquizadas; a
segunda noção está ligada a modernidade, a impessoalidade da lei, a igualdade jurídica, as
sociedade modernas. Todavia, para este antropólogo o Brasil está no meio termo entre uma
sociedade tradicional e uma sociedade moderna, sendo, portanto, uma sociedade
semitradicional. Nesse sentido, há uma dialética entre indivíduo e pessoa no cotidiano
brasileiro.

Com a obra de Elomar Figueira Mello tentei mostrar que a realidade social não se
baseia através das dicotomias engendradas pela razão moderna. Mas que tudo está
intimamente ligado e separado ao mesmo tempo, não fazendo sentido o pensar sobre essas
dicotomias. Isso porque toda realidade e comportamento são construídos socialmente como os
culturalistas estadunidenses mostraram. Desse modo, não há modelos de desenvolvimento
sociocultural pré-definidos, transformando essas tentativas de modelos em estereótipos.

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Entrevista concedida por Elomar Figueira Mello ao Jornal da Associação dos


Docentes da Universidade Federal de Uberlândia em setembro de 1987, nº 16, p. 11.

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