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1. Comente o parágrafo abaixo de Edward B. Taylor (sessão 2) à luz das formulações de Franz
Boas, Ruth Benedict, Margaret Mead, Edward Sapir e Gregory Bateson (sessões 8 e 9) sobre a
análise antropológica do conceito de cultura.
“Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é aquele todo
complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade. A
situação da cultura entre as várias sociedades da humanidade, na medida em que possa
ser investigada segundo princípios gerais, é um tema adequado para o estudo de leis do
pensamento e da ação humana. De um lado, a uniformidade que tão amplamente
permeia a civilização pode ser atribuída, em grande medida, à ação uniforme de causas
uniformes; de outro, seus vários graus podem ser vistos como estágios de
desenvolvimento ou evolução, cada um resultando da história prévia e pronto para
desempenhar seu próprio papel na modelagem da história do futuro”. (Taylor, 1871).
“Lembra-te que tempo é dinheiro; aquele que com seu trabalho pode
ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia, ou fica deitado
em seu quarto, não deve, mesmo que gaste apenas seis pence para se
divertir, contabilizar só essa despesa; na verdade gastou, ou melhor,
jogou fora, cinco xelins a mais.” (p.29)
Essa base religiosa, diluída na passagem do tempo, teria treinado os homens para
a perseverança e o trabalho duro tão caro ao desenvolvimento do capitalismo. Com sua
dissolução, atualizações desta ética, desta atitude diante do mundo, do “espírito do
capitalismo” foram provocadas, fazendo permanecer os mesmos valores embora
despidos de roupagens religiosas.
Weber, no entanto, parece fazer uma analise voltada para a gênese, no Ocidente,
do capitalismo industrial burguês, portanto, não está interessado nas modalidades de
experimentações subjetivas, como Simmel. Neste sentido, Weber percebe o “espírito
capitalista” como capaz de envolver trabalhadores, empresários e todo o resto da
sociedade, fazendo operar formas de conduzir a vida a partir uma determinada atitude
com relação ao trabalho e ao dinheiro, sem a haver a possibilidades de transformação a
partir das ações dos sujeitos.
Portanto, os mitos apenas podem se pensar entre si, de modo que um conjunto se
transforme no outro. É nessa transformação, que acontece a partir das diferenças entre
os mitos, que o ‘invariável’ aparece, e a racionalidade se revela. Na analise estrutural
dos mitos, então, é preciso que o antropólogo opere produzindo analogias entre
diferentes mitos para captar a estrutura subjacente. Em sua grande empreitada
comparatista, as Mitológicas, o autor faz, talvez, seu maior exercício de analise
estrutural, buscando o pensamento ameríndio que decola das palavras, ou melhor, dos
mitemas (unidades diferenciais do mito). Neste sentido, cabe ressaltar que Levi-Strauss
não busca encontrar uma lei universal do pensamento humano, mas sim, acessar certa
cosmologia a partir da estruturação do pensamento, ou seja, das operações intelectuais
que a tornam possível, neste caso, a cosmologia ameríndia.
Para o autor a saída, como já apontado, está em buscar nas traduções dos termos
também a explicitação da categoria de pensamento associada às práticas sociais. Por
exemplo, para fazer referência à palavra “jardim” torna-se imperativo descrever e
contextualizar todas as categorias possivelmente acionadas pelos nativos em sua
pronuncia, pois para os não-nativos tal palavra já está carregada de outras imagens. De
qualquer forma, mesmo com todo o esforço em traduzir contextos, talvez o dados
etnográficos apenas possam ser fabricados a partir de certos recortes, reenquadramentos,
(re)contextualizações, tendo em vista a impossibilidade do etnógrafo em captar todo o
universo de práticas sociais do nativo e de se deslocar completamente de suas próprias
categorias.
Leach, Gluckman e Mitchell são autores que reconhecem o caráter dinâmico dos
sistemas sociais, enfatizando o conflito como elemento fundamental para sua
constituição. Tais autores afastam a ideia de estrutura social - desenvolvida pelo
estrutural-funcionalismo britânico, entendida como um todo orgânico, onde suas partes
se interligariam para sustentar e garantir a sobrevivência ou continuidade do sistema.
Nesta perspectiva, as condutas sociais - regidas por princípios estruturais - conduziriam
o sistema a uma totalidade homogênea. É exatamente no que escapa a tal modelo
explicativo - no que perturba o sistema - que Leach, Gluckman e Mitchell desenvolvem
suas analises.
Já, para Leach, o ritual seria o espaço capaz de simular o equilíbrio idealizado
pelo padrão estrutural ideal, pois estaria sob o efeito das regras e normalizações que o
conformam. Nesse sentido, é interesse notar como algumas situações, também para
Leach, podem gerar certas formas de agir. E, em sua perspectiva, é apenas em algumas
situações pontuais que o equilíbrio pode se manifestar livremente, pois as outras esferas
da vida são sustentadas pela instabilidade e contraste entre ideal e real.
Referências
Tylor, Edward B. 1871. “The science of culture”. In: The origins of culture. London:
John Murray. Cap. 1, pp. 1-23
Simmel, Georg. (1949 [1910]). “The sociology of sociability.” The American Journal of
Sociology 55(3): 254-261.
Weber Max. 1904. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Cia. das
Letras, 2006
Mead, Margaret. 1928. Coming of age in Samoa: a study of adolescence and sex in
primitive societies. Harmondsworth: Penguin, 1969. [páginas a indicar].
Malinowski, Bronislaw. 1935. “An ethnographic theory of language and some practical
corollaries.” In Coral gardens and their magic: a study of the methods of tilling the soil
and of agricultural rites in the Trobriand Islands (vol. 2). London: George Allen &
Unwin
Ltd, pp. 3-74.
Gluckman, Max. 1987 [1940]. Analysis of a Social Situation in Modern Zululand, The
Rhodes Livingstone Papers, No. 28. ["Análise de uma situação social na Zululandia
moderna", in Bela Feldman-Bianco (org.) Antropologia das sociedades complexas]
Mitchell, Clyde 1956. Kalela Dance. Aspects of Social Relationships among Urban
Africans in Northern Rhodesia . The Rhodes-Livingstone Papers, No. 22. pp. 1-56.