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ISSN 1980-8623

Psico http://dx.doi.org/10.15448/1980-8623.2017.4.25589

Porto Alegre, 2017; 48(4), 306-316 A rtigo o riginAl

Comunicação pró-ambiental: estratégias informacionais,


comportamentais e de framing em cartazes
Ligia Abreu Gomes Cruz
Fabio Iglesias
Universidade de Brasília, DF, Brasil

Resumo
Usar cartazes para promover comportamentos pró-ambientais é um recurso popular e de baixo custo, mas geralmente baseado em
senso comum. O objetivo desta pesquisa foi desenvolver um sistema de categorização para características persuasivas em cartazes
pró-ambientais, baseado em um método misto qualitativo/quantitativo. A partir de uma amostra pública e critérios de saturação,
foram selecionadas 75 peças publicitárias, identificando-se principalmente: estratégias persuasivas; tipo de ênfase sobre os impactos
dos problemas ambientais; e tipo de comportamento. A maior parte dos cartazes enfatizavam consequências para a natureza,
operacionalizavam comportamentos, apresentavam informações ou utilizavam framing positivo. Testes de associação mostraram
que framings positivos foram associados à indicação de comportamento e ênfase na natureza. O oposto ocorreu com os framings
negativos. Esses resultados são discutidos quanto às limitações na eficácia de cartazes pró-ambientais, assim como as vantagens
de utilizar sistemas de categorização, como o aqui desenvolvido, para orientar pesquisa e intervenção na área.
Palavras-chave: Comunicação pró-ambiental; Estratégias persuasivas; Framing.

Pro-environmental communication: informational, behavioral


and framing strategies in posters
Abstract
Posters designed to promote pro-environmental behavior are a popular, low-cost resource, though often based on common sense. The
objective of this research was to develop a categorization system to identify persuasive characteristics in pro-environmental posters,
with a mixed methods approach. Based on a public sample and data saturation, 75 pieces of Brazilian advertising were selected, by
mainly identifying: persuasive strategies; type of emphasis regarding the impacts of environmental problems; type of recommended
behavior. Results revealed that the majority of posters emphasized consequences towards nature, operationalized behaviors, showed
information or used positive framing. Qui-square tests showed that positive framing was associated with indication of behavior and
emphasis on nature. The opposite occurred with negative framing. Efficacy limitations in pro-environmental posters are discussed,
along with the advantages of using categorization systems (such as the one developed) to guide research and intervention, are
advocated.
Keywords: Pro-environmental communication; Persuasive strategies; Framing.

Comunicación pro-ambiental: estrategías informacionales, comportamentales


y de framing en carteles
Resumen
Utilizar carteles para promover comportamientos pro-ambientales es un recurso popular, de bajo costo, pero generalmente basado
en el sentido común. El objetivo de esta investigación fue desarrollar un sistema de clasificación para identificar las características
de persuasión en carteles pro-ambientales, con un método mixto cualitativo/cuantitativo. A partir de una grande muestra publica
y criterios de saturación, se seleccionaron 75 anuncios publicitarios brasileños, identificando principalmente: las estrategias
de persuasión; el tipo de énfasis sobre los efectos de problemas ambientales; y el tipo de comportamiento recomendado. Los
resultados revelaron que la mayoría de los carteles enfatizó consecuencias hacia la naturaleza, con indicación operacionalizada de
comportamientos, mostró información o encuadre positivo utilizado. Testes del qui-cuadrado mostraron que encuadres positivos
se asociaron con indicación de la conducta y el énfasis en la naturaleza. Lo contrario ocurrió con encuadres negativos. Se discuten
las limitaciones de eficacia en carteles pro-ambientales, así como las ventajas de la utilización de sistemas de categorización (como
lo que se desarrolló) para guiar la investigación y la intervención.
Palabras clave: Comunicación pro-ambiental; Estrategías persuasivas; Framing.

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Introdução de consumo e de meios de transporte (Klöckner,


2015). A promoção da sustentabilidade conta muito
Expressões do tipo “seja consciente!” parecem com esforços de instituições especializadas (p.ex.,
imperativos bastante popularizados em iniciativas WWF, Greenpeace, S.O.S. Mata-atlântica) ou mesmo
formais ou informais para mudança de comportamento. organizações que adotam o marketing verde, que
Tanto profissionais quanto cidadãos comuns frequen- investem em campanhas e meios de comunicação.
temente acreditam que a ausência de comportamentos Igualmente, no meio acadêmico, um corpo considerável
essenciais para a promoção da saúde pública, da de pesquisas em psicologia ambiental têm se dedicado
segurança ou da sustentabilidade, por exemplo, à modificação de conhecimento, percepção, normas e
se explica pela “falta de consciência” (Ölander & atitudes por meio do uso de mensagens (Steg, Van Den
Thøgersen, 2014). Assim, campanhas e propagandas Berg, & De Groot, 2012).
são orientadas pela noção de que qualquer mensagem
de sensibilização, ao ser comunicada ao público, surtirá A Psicologia Social da
o efeito desejável. No entanto, promover mudanças por Comunicação Pró-Ambiental
meio de mensagens persuasivas é ainda um dos grandes
desafios da psicologia social aplicada e de áreas afins, A investigação científica da comunicação pró-
tendo sua eficácia ameaçada por vários fatores. ambiental parte da caracterização das mensagens,
Já na década de 1960, Chapanis (1965) indicava o que permite a avaliação dos fatores de sucesso ou
a necessidade de melhorar a inteligibilidade e com- fracasso em sua eficácia. Aspectos básicos que definem
preensão de mensagens imperativas e declarativas. um cartaz, como o local em que é afixado, o tipo de
O autor argumentou que variados tipos de cartazes comportamento veiculado e o tom da mensagem, por
simplesmente não conseguem informar a tarefa a ser exemplo, já derivaram as recomendações de apresentar
feita. Informação insuficiente, instruções difíceis de comportamentos específicos, em local próximo à sua
compreender, uso de linguagem distante do senso ocorrência e em formato polido, de forma a não ameaçar
comum e outras características tornam impossível a liberdade pessoal (Ölander & Thøgersen, 2014). O
prever o tipo de ação que uma pessoa adota após ler tom recriminador, por sua vez, se mostra fundamental
um cartaz. Quando se pretende promover mudança de na diferenciação entre cartazes proscritos e prescritos,
comportamento em uma grande quantidade de pessoas, que utilizam framings (enquadramentos) negativos e
garantir a eficácia da comunicação pode ser ainda mais positivos (Winter, Cialdini, Bator, Rhoads, & Sagarin,
complexo e os desafios na área permanecem em grande 1998). Nos chamados framings de valência, uma
parte não superados (Boomsma, Pahl, & Andrade, informação é apresentada sob um enfoque negativo
2016; Klöckner, 2015). ou positivo. Essa técnica é largamente utilizada em
Nolan, Schultz e Knowles (2009) apontam que as diversos domínios da psicologia, que envolvem o
iniciativas publicitárias muitas vezes se baseiam em estudo dos processos de julgamento e decisão. Em seu
teorias intuitivas sobre o comportamento humano, formato clássico, as consequências de uma escolha são
pela falta de expertise, de recursos ou de tempo descritas de forma mais positiva ou negativa, de acordo
em sua elaboração. No entanto, quando utilizadas com os diferentes níveis de risco associados às opções
como estratégias para mudança de comportamento, (Levin, Schneider, & Gaeth, 1998). Por exemplo, o alto
as mensagens precisam de mais do que ser consi- risco de não economizar água pode ser associado a um
deradas criativas ou agradáveis pelo público. Em framing negativo, enquanto o comportamento pró-
complementação ao caráter intuitivo e artístico da ambiental correspondente pode ser apresentado sob
área, uma peça de comunicação precisa se fundamentar um framing positivo.
em uma teoria empiricamente evidenciada e seguir De forma geral, é possível verificar que o
princípios de influência social (Bator & Cialdini, framing positivo na comunicação pró-ambiental
2000). Assim, com base no desenvolvimento de um visa à manipulação da percepção sobre o impacto da
sistema de categorização, o presente estudo teve ação individual na qualidade do ambiente (Sapiains,
como objetivo identificar características persuasivas Beeton, & Walker, 2016). Individual responses to
presentes em cartazes pró-ambientais no contexto climate change: Framing effects on pro-environmental
brasileiro, disponibilizadas publicamente. behaviors. Journal of Applied Social Psychology,
A elaboração de comunicação persuasiva eficaz 46(8), 483-493.. Essa perspectiva tem sido investigada
é assunto estratégico em comportamentos como a principalmente por meio dos conceitos de controle
reciclagem e a economia de água e energia, assim comportamental percebido e lócus de controle, que
como na escolha por opções sustentáveis de moradia, propõem a inclusão de incentivos e constrições à ação

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do indivíduo, bem como a percepção individual de para promover comportamentos. Os apelos de medo,
controle, em modelos explicativos do comportamen- por sua vez, veiculam mensagens que anunciam con-
to pró-ambiental (Kollmus & Agyeman, 2002). sequências negativas relacionadas a não obediência de
Tradicionalmente, essa inclusão tem sido promovida recomendações, o que igualmente motiva a adoção do
pela teoria do comportamento planejado (Fishbein comportamento sugerido.
& Azjen, 2010). A variável controle comportamental
percebido (avaliação individual sobre a possibilidade As limitações do modelo de
de realizar um comportamento) influencia a ação tanto deficit da informação
direta, quanto indiretamente. Ela tem demonstrado
melhores correlações com o comportamento pró- Para além do tom da mensagem, existem várias
ambiental e detém lugar de destaque em meta-análises perspectivas sobre o conteúdo da mensagem a ser
da área (Bamberg & Moser, 2007). veiculado. O modelo explicativo mais antigo e popular
A percepção de controle sobre o comportamento para fundamentar campanhas pró-ambientais des-
pode ser em parte derivada da observação de caracte- creve uma causalidade linear (Kollmus & Agyeman,
rísticas da situação. Mas, de acordo com Cleveland, 2002): conhecimento sobre o meio ambiente leva
Kalamas e Laroche (2005), é preciso considerar também a atitudes ambientais, as quais causam mudança de
a porção disposicional dessa percepção, determinada comportamento. Assim, privilegia-se a informação
principalmente pelo lócus de controle de um indivíduo. como conteúdo das mensagens. Esse modelo, cha-
O lócus de controle é tradicionalmente entendido mado de modelo de déficit de informação, parte do
como um fator de personalidade. Para os autores, no pressuposto de que as pessoas não mudam porque elas
entanto, trata-se de um construto entre a transitorie- não sabem sobre o problema ou sobre como podem
dade situacional e o caráter disposicional, de forma agir (Ölander & Thøgersen, 2014, Steg, Van Den
que pode ser específico para cada domínio. No caso do Berg, & De Groot, 2012). A opção por disponibilizar
domínio ambiental, eles defendem até a existência de conhecimento como forma de encorajar comportamentos
um lócus de controle ambiental (environmental lócus é uma estratégia tradicional entre os elaboradores de
of control, ELOC), que representa o quanto uma pessoa peças de comunicação (Kollmus & Agyeman, 2002;
acredita que pode afetar resultados pró-ambientais Steg, Van Den Berg & De Groot, 2012) e é facilmente
por meio de suas ações. Um ELOC interno levaria o observável, pela presença de frases como “é preciso
indivíduo a se considerar responsável pela situação educar as pessoas”.
ambiental e, para cada tipo de comportamento pró- Seja por meio de pesquisas ou pela observação
ambiental, existiria um ELOC específico, composto cotidiana, no entanto, é possível reconhecer a ine-
por múltiplas facetas: altruísmo-biosférico, ceticismo ficácia da mera apresentação de conhecimento como
corporativo, motivação econômica e esforços indivi- forma de promover mudança de comportamento. A
duais de reciclagem. disponibilidade de informação sobre os problemas
O framing negativo, por sua vez, pode ser rela- ambientais está cada vez maior, no entanto essa
cionado a um conjunto de estratégias, interpretáveis realidade não resultou em mudanças comportamentais
por modelos explicativos semelhantes, sob o nome de efetivas (Dolan et al., 2012). De acordo com Kaiser
apelos de medo e de culpa (Tannenbaum et al., 2015). e Fuhrer (2003), isso ocorre porque o otimismo do
Assim como na definição do framing negativo, re- senso comum com relação ao efeito da educação não
correm à manipulação de respostas emocionais é justificado, pois ainda que conhecimento componha
negativas. Mensagens em que uma pessoa experimenta um dos múltiplos fatores que influenciam o compor-
remorso por não cumprir algo que deveria ter feito tamento pró-ambiental, diversas pesquisas apontam
são chamadas de apelos de culpa. Seu objetivo é suas limitações. Os autores reportam a relação indi-
gerar empatia com outros ou com uma situação, o reta e, no máximo, moderada entre conhecimento
que, por consequência, ativará normas e regras sobre ambiental e comportamento pró-ambiental. O conhe-
comportamentos que deveriam ocorrer. Caso os cimento é apenas de uma influência distal, mediada
comportamentos esperados não estejam ocorrendo, por variáveis mais proximais. Como opção para
surge a culpa. De acordo com Bamberg e Moser viabilizar o uso do conhecimento, Kaiser e Fuhrer
(2007), a culpa é um sentimento doloroso que aparece indicam o aumento de sua eficácia por meio da
quando um indivíduo causa ou antecipa causar um convergência de diferentes tipos de conhecimento.
evento aversivo. Sua importância prática está no fato Informações sobre como o meio ambiente funciona
de que ela ocasiona a sensação de obrigação moral de e sobre os problemas ambientais compõem o
compensar o dano causado, o que pode ser utilizado conhecimento do tipo declarativo. Já o conhecimento

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procedural se refere às opções comportamentais Método


e como atingir um objetivo pró-ambiental (p.ex.,
como economizar água). Além disso, uma pessoa Amostra
precisa de conhecimento sobre a eficácia relativa de Visando a coletar um número maior de cartazes,
diferentes opções de ação, pois cada comportamento utilizou-se uma ferramenta de busca pela internet.
tem consequências diferentes, inclusive em termos O uso de cartazes impressos limitaria e geraria
de impacto para o meio ambiente. Acredita-se que o vieses na amostragem, pelas dificuldades de acesso
conhecimento social influencia no comportamento das organizações que os produzem, bem como a
pró-ambiental, por meio do conhecimento sobre possibilidade de peças de campanhas anteriores já
as intenções e motivos das outras pessoas, além da terem sido descartadas. O Google Imagens, portanto,
percepção de normas sociais. possibilitou consulta pública e gratuita, por meio das
Finalmente, em psicologia social um grande palavras-chave: “propaganda meio ambiente” (maior
destaque é dado ao uso de mensagens baseadas em número de resultados), “cartaz meio ambiente”,
normas sociais. A teoria da conduta normativa, uma “impresso meio ambiente”, “OnG meio ambiente” e
das perspectivas mais tradicionais na área, ressaltou “marketing meio ambiente”. O procedimento de coleta
a característica da saliência no estudo do efeito das foi realizado durante o ano de 2014, com três ondas de
normas sobre o comportamento (Cialdini, 2011). A levantamento. Em cada onda, a coleta era encerrada
conformidade a normas somente ocorre quando elas quando a busca deixava de apresentar cartazes dentro
estão em foco, o que levou à utilização de mensagens dos critérios de inclusão. Ao longo da segunda e terceira
normativas com o objetivo de salientar a informação onda, a coleta foi sendo finalizada à medida que a
normativa. A característica da saliência permite a repetição do material parecia se sobrepor à aparição
diferenciação das mensagens normativas em tipos, de novas unidades de análise. Assim, esses critérios de
com destaque para a norma injuntiva (sinalizando o saturação permitiram obter um total de 75 cartazes pró-
comportamento moralmente aprovado) e a norma ambientais. A amostragem teve por critério de inclusão
descritiva (apontando o comportamento predominante a seleção de cartazes que contivessem tentativas
na situação), amplamente utilizadas em intervenções de persuadir o leitor a adotar comportamentos pró-
pró-ambientais (Cialdini, 2003). ambientais, elaborados por empresa privada, por OnG
ou por órgão do governo. Cartazes que não foram
Estratégias persuasivas elaborados com objetivo de impressão em série ou
feitos por crianças em escolas, por exemplo, não foram
Para examinar a capacidade de mensagens pró- considerados. Como último critério, apenas um cartaz
ambientais em promover comportamentos corres- era escolhido quando uma série de cartazes de uma
pondentes é preciso compreender que o uso de mesma campanha surgia durante a coleta. O primeiro
cartazes, avisos e a veiculação de argumentos em cartaz apresentado como resultado na ferramenta de
rádio e televisão se configuram como episódios imagens era escolhido e, caso estivesse ilegível, o
persuasivos. O sucesso dessa tentativa, no entanto, próximo era selecionado.
depende especialmente de suas limitações. Enquan-
to a utilização de mensagens pró-ambientais em Análise de dados
pesquisa recorre ao controle de possíveis erros, as A comunicação pró-ambiental foi aqui operacio-
iniciativas de gestores, publicitários e outros atores nalizada como uma tentativa de persuasão, investigada
envolvidos na persuasão pró-ambiental parecem se quanto às suas características a partir de uma análise
basear no senso comum, raramente avaliando seus qualitativa. Após leitura inicial do material, foram
efeitos de forma sistemática. Caso uma abordagem elaboradas perguntas baseadas na literatura de psi-
dicotomizada da ciência seja a prática comum na cologia ambiental e social (Klöckner, 2015), com o
elaboração peças de comunicação pró-ambiental, é objetivo de orientar a criação de categorias: a) Qual
possível que, ainda que muitas vezes popularizadas por foi a estratégia persuasiva utilizada?; b) O cartaz
sua repetição ou impacto entre o público, mensagens enfatiza o impacto dos problemas ambientais na
estejam causando efeitos indesejados pela falta de própria natureza, ou no homem?; c) Existe indicação
embasamento teórico. Limitações desconhecidas do comportamento que o leitor deve adotar?; d) Que
podem restringir a eficácia de mensagens pró- tipo de comportamento é indicado?; e) Qual a moti-
ambientais, ou ainda, as próprias mensagens podem vação para a criação do cartaz. Cada categoria tinha
fortalecer ou causar os processos que se opõem à a função de representar uma característica, para compor
mudança de comportamento. a descrição da persuasão contida nos cartazes.

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Com o auxílio das perguntas, as categorias cartaz apresentava características que permitiriam
foram inicialmente derivadas a partir do conteúdo sua classificação em duas ou mais opções. Para
da amostra. Utilizando-se o procedimento de classi- assegurar a classificação em apenas uma categoria, a
ficação postergada (Kreppner, 2010), a amostra foi preponderância de uma das características foi definida
repetidamente observada, suas características foram como critério de desempate. Apenas na pergunta
comparadas umas com as outras, até que a identificação sobre o impacto causado pelos problemas ambientais
de padrões permitiu elaborar categorias de acordo foi incluída a categoria “ambos”, pela recorrente
com a especificidade do próprio material. Buscou-se, dificuldade de consentimento entre juízes sobre a
assim, a adequação à ênfase indutiva do método de dominância de um dos tipos propostos. Assim, para a
análise qualitativo (Bauer & Gaskell, 2002; Berg, comparação da frequência “ênfase no homem” versus
1995). As categorias foram esgotadas à medida que “ênfase na natureza”, foram utilizados apenas os casos
deixaram de surgir ocorrências que justificassem novas em que não houve dupla categorização. Cada cartaz
classificações, ao mesmo tempo em que as categorias foi categorizado ao mesmo tempo, quanto ao framing
existentes pareciam compreender a totalidade do e à presença de conhecimento. Todos os cartazes
conteúdo. Em seguida, foram reorganizadas de forma foram analisados sob todas as categorias. Para a
dedutiva, conforme modelos teóricos da psicologia frequência final, organizada com objetivo exploratório
social da comunicação pró-ambiental, considerando- e descritivo, foram utilizadas estatísticas descritivas e
se que a qualidade da análise depende da relevância testes de associação. Em conjunto, os procedimentos
das categorias para o objetivo da pesquisa (Kreppner, combinaram estratégias analíticas qualitativas e
2010). quantitativas, configurando-se um método misto de
Esse processo foi balizado pelo critério de con- pesquisa (Guest, 2013).
cordância entre juízes com relação a dois conjuntos
de perguntas, sobre o conteúdo implícito e sobre o Resultados
conteúdo explícito, que foram feitas para todos os
cartazes. As perguntas sobre a estratégia persuasiva e Para análise dos dados foi elaborado um sistema
ênfase dos cartazes objetivavam verificar o conteúdo para a categorização de cartazes pró-ambientais
implícito: conteúdo latente (intenção por trás do dado fundamentado na psicologia social. O sistema é
fisicamente observável, o significado transmitido) composto de perguntas e possíveis classificações em
conforme Berg (1995); estrutura em profundidade, resposta às perguntas, que permitem a classificação
conteúdo detrás da superfície (Kreppner, 2010). Três do conteúdo da mensagem persuasiva em tipos. As
pesquisadores, das áreas de psicologia ambiental, categorias, expostas conforme as perguntas que as
social e do consumidor, levantaram possíveis cate- orientaram, suas descrições e regras de inclusão, são
gorias por cartaz e, na ausência de unanimidade, descritas na Tabela 1.
discutiram os casos até atingir consenso, como nos A amostra dos 75 cartazes foi também categorizada
procedimentos descritos por Creswell (2010). Às quanto à motivação para sua elaboração: homenagem a
perguntas sobre motivação do cartaz, indicação e tipo uma data, campanha de conscientização e propaganda
do comportamento, foi atribuído o conteúdo explícito: da empresa. Como forma de caracterização da amostra,
manifesto (Kreppner, 2010); elementos concretos e foi observada uma proporção semelhante de motivações
contáveis, aparentes na superfície (Berg, 1995). Por do tipo homenagem a uma data (N = 32) e campanha
ser passível de verificação pela leitura dos cartazes, de conscientização (N = 33). Juntas, essas motivações
o conteúdo explícito foi investigado por uma única compuseram 87,8% dos cartazes.
pesquisadora (Kreppner, 2010). Por meio do sistema foi possível verificar empi-
Para a classificação do material de acordo com ricamente as seguintes características da tentativa de
tipos resultantes de categoria, cada cartaz foi consi- persuasão presente nos cartazes: tipo de estratégia
derado em sua totalidade: forma, conteúdo textual e persuasiva, tipo de ênfase, presença ou ausência de
imagens. Igualmente ao processo de elaboração de indicação de comportamento e tipo de comportamento
categorias, a classificação do material foi realizada indicado. Na análise da ênfase sobre o impacto dos
por meio de concordância entre juízes (para conteúdo problemas ambientais, 27 cartazes foram excluídos,
implícito) e por única pesquisadora (para conteúdo por não apresentar conteúdo sobre impactos ambientais
explícito). Grande parte das categorias foi definida ou por enfatizar igualmente as consequências para a
como mutuamente excludente, conforme a orientação vida humana e para o meio ambiente. A frequência de
de que uma categoria deve ser a representação de cartazes de acordo com o tipo de categoria está descrita
um evento único e não ambíguo. No entanto, cada na Tabela 2.

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TABELA 1
Perguntas, categorias e descrição das categorias
Pergunta Categorias Descrição
1. Qual foi a estratégia persuasiva 1.1 Informacional Fornecer informações sobre os problemas e soluções ambientais.
utilizada?
1.2 Framing
1.2.1 Negativo Apresentar consequências aversivas associadas aos problemas
ambientais.
1.2.1.1 Amedrontamento Expor consequências aversivas dos problemas ambientais, com o
intuito de causar medo no leitor.
1.2.1.2 Culpabilização Causar sentimento de culpa no leitor, associado a uma indicação de
que o mesmo não está fazendo sua parte para reverter os problemas
ambientais.
1.2.2 Positivo Argumentar que o leitor pode e deve contribuir para a qualidade
ambiental.
1.2.2 Responsabilização Destacar o papel do leitor na solução dos problemas ambientais,
associado ao argumento de que isso é uma responsabilidade
individual.
1.2.2.2 Comparação Social Encorajar o leitor a seguir o exemplo de modelos que agem
pró-ambientalmente
2. O cartaz enfatiza o impacto dos 2.1 Nenhuma ênfase
problemas ambientais na própria
natureza, ou no homem? 2.2 Ênfase na natureza Enfatizar as consequências negativas dos problemas ambientais
para o meio ambiente (e.g.: O mar está secando; a espécie X está
em extinção)
2.3 Ênfase no homem Enfatizar as consequências negativas dos problemas ambientais para
a vida humana, a vida do leitor, ou de pessoas próximas ao mesmo
(e.g.: Milhões de pessoas estão morrendo de sede; Se a água do
planeta fosse dividida entre os habitantes, sua porção seria de apenas
5 litros; Que futuro você vai deixar para o seu filho?”).
2.4 As duas ênfases
3. Existe indicação do comportamento
que o leitor deve adotar?
4. Que tipo de comportamento é 4.1 Abstrato Sugerir uma classe ampla de comportamentos (e.g.: Preserve;
indicado? Cuide; Recicle).
4.2 Operacional Sugerir ações específicas e concretas (e.g.: Traga sua sacola
retornável; Feche a torneira; Filie-se a uma OnG).

TABELA 2
Frequência das características previstas pelo sistema de categorização

Características N % do total de cartazes*


Estratégia persuasiva Informacional 23 30,7
Framing negativo – amedrontamento 19 25,3
Framing negativo – culpabilização 9 12,0
Framing negativo (total) 28 37,3
Framing positivo – responsabilização 35 46,7
Framing positivo - comparação social 12 16,0
Framing positivo (total) 47 62,7
Ênfase sobre o impacto dos problemas ambientais Ênfase no impacto na natureza 40 53,3
Ênfase no impacto no homem 31 41,3
Indicação de comportamento 59 78,7
Tipo de comportamento Abstrato 31 41,3
Operacional 27 36,0
*A quantidade de cartazes com uma característica foi comparada com o número total de cartazes,já que um mesmo cartaz poderia conter mais de uma característica,
o que torna impossível comparações entre tipos.

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Testes do qui-quadrado para essas variáveis ter veiculado conhecimento, assim como as discussões
mostraram associações entre tipos de framing e sobre a duvidosa eficácia desse tipo de estratégia,
indicação de comportamento, bem como entre tipos é possível argumentar que a informação sobre os
de framing e tipos de ênfase. Foi possível observar problemas ambientais deve ser uma recomendação,
que estratégias persuasivas, quando utilizam por combater a negação. Alguns estudos têm postulado
framing negativo, foram associadas à ausência de a existência de uma espécie de mecanismo de defesa
indicação de comportamento a ser adotado pelo em que as evidências de degradação ambiental são
público alvo. Em contrapartida, o framing positivo simplesmente negadas, pela influência de emoções
mostrou-se associado à indicação de comportamento, como o medo (Gifford, 2011). Esse fenômeno parece
χ²(1, N = 75) = 8.58, p = 0,003, V de Cramér = 0,34. ser uma das principais barreiras psicológicas ao
Além disso, uma associação foi verificada entre o comportamento pró-ambiental na cultura brasileira
uso de framing positivo e a ênfase no impacto dos (Iglesias, Caldas, & Rabelo, 2014).
problemas ambientais para a própria natureza. Já o O uso de framings, por sua vez, precisa ser
framing negativo foi associado ao enfoque do impacto avaliado de acordo com a valência manipulada.
que os problemas ambientais podem ter no ser humano, A maior parte dos cartazes empregou o framing
χ²(1, N = 75) = 4,81, p = 0,028, V de Cramér = 0,32. positivo, o que, de uma forma geral, encoraja a ação
do leitor, enfatizando que a mudança dos problemas
Discussão ambientais está em suas próprias mãos. Esse tipo de
apelo se relaciona com a manipulação da percepção de
Uma das principais características que viabilizaram controle comportamental, seja por meio de conceitos
a descrição científica dos cartazes foi a estratégia como controle comportamental percebido (De Leeuw,
persuasiva. A amostra indicou a existência de dois tipos Valois, Ajzen, & Schmidt, 2015) ou ELOC (Cleveland,
dominantes de estratégia: informacional e framing. A Kalamas, & Laroche, 2005). Por um lado, uma
estratégia de framing pôde ser dividida em framing porção desse fenômeno pode estar fundamentada na
negativo e positivo, subdivididos, respectivamente, em observação de situações concretas. Uma estratégia
amedrontamento e culpabilização, responsabilização persuasiva do tipo framing positivo poderia, então,
e comparação social. Framings do tipo positivo, apresentar informação que combate o viés cognitivo
especialmente por meio de responsabilização, foram e implementar mudanças estruturais concomitantes
os mais recorrentes. Igualmente, o fornecimento à mensagem, alterando os dados oferecidos pela
de conhecimento ambiental como estratégia foi situação. Por outro lado, discute-se na literatura que a
identificado na maioria dos cartazes. Além disso, a percepção do impacto de um comportamento também
indicação de comportamento e ênfase no impacto dos pode estar sujeita à influência das crenças gerais que
problemas ambientais na própria natureza compuseram um indivíduo tem sobre controle, sustentada em parte
as características predominantes nos cartazes. por traços de personalidade. Neste ponto, a eficácia
De acordo com a literatura, fica claro que o dos cartazes que utilizam framing positivo poderia ser
conhecimento ambiental não é suficiente para limitada, ou mesmo inviável.
promover o comportamento pró-ambiental, nem sequer A percepção de que o comportamento individual
um pré-requisito, já que pode ocorrer mesmo em sua não tem impacto, em comparação ao nível macro do
ausência (Kollmus & Agyeman, 2002). Entretanto, sua problema ambiental, funciona como uma barreira que
utilização como estratégia, após aprimoramento de seu impede a adoção de comportamentos pró-ambientais,
conteúdo, ainda pode ser defendida. Kaiser e Fuhrer mesmo quando há condições de realizá-lo. Essa
(2003) apontam que é preciso considerar o poder de limitação cognitiva na interpretação da realidade
predição de cada tipo de conhecimento. Conhecimento pode levar à ideia fatalista de que nada pode ser feito
declarativo (saber sobre os problemas ambientais), (Gifford, 2011). Por meio do conceito de ELOC,
por exemplo, não é considerado prerrogativa do no entanto, é possível caracterizar as dimensões da
comportamento pró-ambiental, mas é justamente o percepção de controle sobre um comportamento
tipo de conhecimento que caracteriza a estratégia pró-ambiental específico. Assim, pode-se ter como
identificada no presente estudo. A convergência de recomendação para elaboração de um framing positivo
diferentes tipos de conhecimento (i.e.: declarativo, mais eficaz a manipulação das variáveis que sustentam
procedural, de eficácia e social) é defendida pelos um ELOC interno, em sua porção contexto-dependente,
autores como alternativa e pode ser tomada como não apenas como medida de personalidade. O uso de
recomendação para a elaboração de cartazes. Além responsabilização como estratégia parece promissor,
disso, apesar da maioria dos cartazes analisados não inclusive, contando com a associação demonstrada nos

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resultados entre esse tipo de estratégia e a indicação de ênfase, em oposição ao framing negativo, mais
de comportamento, em acordo com a recomendação associado à vida humana. O argumento parece lógico,
de apresentação de conhecimento procedural para visto que consequências aversivas são mais diretamente
promover o comportamento pró-ambiental (Kaiser relacionadas ao bem-estar do próprio indivíduo,
& Fuhrer, 2003). Por sua vez, o uso de mensagens ao passo que algumas perspectivas em psicologia
normativas é reconhecidamente eficaz na promoção ambiental argumentam que pessoas que atribuem um
de comportamento pró-ambiental (Cialdini, 2011). valor intrínseco ao meio ambiente são mais propícias a
No entanto, a combinação entre essas normas se responsabilizar e agir pró-ambientalmente (Corral,
também revelou a ocorrência do efeito bumerangue 2010). Considerando-se essa perspectiva, é possível
(consequência oposta ao objetivo) (Burchell, Rettie, & argumentar ser contraproducente persuadir as pessoas
Patel, 2013), nos casos em que a norma injuntiva perde a adotar uma visão de mundo em que o impacto dos
sua ação pela saliência de uma norma descritiva que a problemas ambientais sobre o homem é ressaltado. Isso
contraria. Assim, a estratégia de comparação social na reforçaria o baixo valor atribuído ao meio ambiente,
elaboração de cartazes deve considerar a relação de além de promover a separação entre homem e natureza,
dependência entre normas social e seu contexto. quando o objetivo final deveria ser promover uma
A despeito de qualquer limitação, é preciso integração de ambos. Assim, a dominância da ênfase na
ressaltar que a predominância do framing positivo nos natureza, identificada na amostra, seria uma estratégia
cartazes é um dado favorável ao sucesso das tentativas persuasiva adequada.
persuasivas pró-ambientais e deve ser promovida. A Desde os primeiros estudos para mapear as
opção oposta, o uso do framing negativo, ainda que dimensões da atitude ambiental, existe uma recorrência
reconhecidamente eficaz, inclui muitas ressalvas. No de dois fatores nos resultados de pesquisas. Em um
caso da manipulação de culpa ou medo, existe uma estudo dos mais citados na área, Thompson e Barton
clara limitação: uma alternativa precisa ser apresentada (1994) identificaram duas motivações ambientais:
em seguida ao evento aversivo e essa prática precisa antropocêntrica e ecocêntrica. A primeira seria movida
orientar a elaboração dos cartazes que utilizam framing pelo impacto que a destruição ambiental pode ter na vida
negativo. Conforme a recomendação de Witte (1998), dos seres humanos e a segunda pelo valor intrínseco
a mensagem deve conter informação que comprove a a plantas e animais. Sob essa perspectiva, não seria
eficácia de uma alternativa, bem como argumentos de inadequada a persuasão que manipulasse a dimensão
que o indivíduo é capaz de adotar o comportamento antropocêntrica do fenômeno, pois tanto essa quanto
sugerido. Se uma mensagem falhar em ressaltar tanto a dimensão ecocêntrica predizem comportamento
os meios, quanto a capacidade do indivíduo, a tentativa pró-ambiental. A eficácia da estratégia, no entanto, pode
produz justamente o contrário de seu objetivo. A teoria depender se este é o fator de maior importância para
do gerenciamento do terror (Greenberg & Arndt, 2012) o contexto em questão, ou seja, se existe congruência
é uma das teorias psicológicas que pode explicar esse entre a ênfase apresentada (no homem ou na natureza)
fenômeno. De acordo com seu modelo, a possibilidade e a dimensão dominante no público-alvo (antropo ou
iminente de morte, constante na vida humana, gera um ecocêntrica). Assim, uma recomendação básica ao uso
potencial de ansiedade, ou terror, a ser constantemente da estratégia de ênfase em algum impacto ambiental
gerenciado. O contato consciente e direto com o seria a verificação dessa dominância entre os indivíduos
terror é aliviado por meio da negação e da crença de que terão acesso aos cartazes, ou minimamente, a
que a ameaça se localiza em um futuro distante. Essa verificação do caráter dominante na cultura brasileira.
defesa pode ser exacerbada, pela baixa percepção Ênfase no impacto dos problemas ambientais na
de eficácia em combater a ameaça. Contudo, apesar própria natureza, uso de framing positivo e estratégia
da obrigatoriedade em apresentar alternativas para o informacional foram as principais características
alívio da culpa, ou para evitar o medo, os framings encontradas na amostra de cartazes brasileiros. Sua
negativos foram associados à ausência de indicação do análise permitiu o apontamento de possíveis limitações
comportamento a ser adotado pelo leitor. na eficácia persuasiva, principalmente quando a
Por fim, foi igualmente possível caracterizar a informação sobre o comportamento a ser adotado pelo
persuasão dos cartazes por meio das ênfases sobre o leitor é falha. A caracterização da realidade brasileira,
impacto dos problemas ambientais. Na maioria dos no entanto, só foi possível devido ao procedimento
cartazes em que havia uma única ênfase, ocorreu a para a realização dessa análise. Considera-se que
opção por enfatizar as consequências dos problemas o procedimento de análise dos cartazes e o sistema
ambientais para a própria natureza. Nota-se, sobretudo, de categorização dele derivado podem contribuir
que o framing positivo foi associado a esse tipo para o desenvolvimento da comunicação pró-

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ambiental, configurando-se como um exemplo, a ser possível que alguma característica que poderia derivar
aprimorado, de como investigar cientificamente peças novas categorias de classificação estejam por trás
de comunicação e como compreender as possíveis desse fenômeno, o que conduz a nova análise a ser
características a serem implementadas nas mesmas. realizada por juízes. Finalmente, para que o objetivo de
Em especial, o uso do método misto, a combinação de investigação científica da comunicação pró-ambiental
estratégias indutiva e dedutiva, bem como a avaliação no Brasil seja atingido como um todo, é necessária a
compartilhada entre juízes são encorajados. descrição de peças de comunicação que utilizam outros
No entanto, algumas limitações metodológicas meios, como o rádio ou a televisão. Obviamente a
precisam ser consideradas. Em primeiro lugar, é investigação da eficácia propriamente dita dos tipos
preciso ressaltar os problemas intrínsecos do método de cartazes ainda depende de estudos observacionais e
de amostragem pela busca na Internet, que não oferece experimentais que enfoquem no comportamento como
garantia que a mesma amostra será selecionada em variável de interesse.
um estudo posterior, mesmo que sejam apresentadas A caracterização de uma amostra brasileira de
informações como as datas nas quais a coleta foi cartazes pró-ambientais foi motivada pelas mesmas
realizada (Gosling & Mason, 2015). Para solucionar preocupações expostas por Nolan, Schultz e Knowles
esse problema, procurou-se conduzir a coleta até o (2009): as mensagens persuasivas serão mais
ponto de repetição das peças de comunicação e foi eficazes quando baseadas no entendimento de por
ponderado o fato de que o acesso ao tipo de material que o comportamento não está ocorrendo e quando
ambicionado não seria possível por outros meios. forem derivadas empiricamente. Acredita-se que
No entanto, é possível que uma segunda coleta e o as possibilidades da inspiração artística e intuitiva,
uso de palavras-chave diferentes gerem resultados já comumente aplicadas na elaboração de peças de
distintos. Ainda, utilizou-se a opção de classificar um comunicação, possam ser expandidas pela contribuição
cartaz conforme sua característica predominante, para científica. O apontamento das limitações encontradas
permitir análises estatísticas de associação. No entanto, nas características, de acordo com a literatura, fornece
é preciso reconhecer que a decisão de dominância elementos para que responsáveis por gestão ambiental,
entre características concorrentes é subjetiva e sujeita políticas públicas, campanhas publicitárias, educadores,
à vieses. Ainda que a concordância entre juízes dentre outros, possam refletir sobre a elaboração de
possa ser utilizada para minimizar eventuais vieses, mensagens pró-ambientais.
a possibilidade de classificação de um cartaz de Em conjunto, os resultados oferecem uma análise
acordo com todas as suas características, mesmo as científica de uma realidade comumente discutida apenas
mutuamente excludentes, deve ser uma alternativa a em teoria, ou com base em observações intuitivas e
ser desenvolvida. muitas vezes enviesadas da realidade. Essa análise
Novas formas de cruzar os dados podem ser pode contribuir no avanço teórico-metodológico da
exploradas, por exemplo, buscando a caracterização área, além de promover a investigação de pressupostos
específica dos cartazes que tem por motivação no contexto brasileiro. Ao mesmo tempo, permite a
promover uma empresa. Ainda, poderia ser utilizado discussão sobre características comuns na comunicação
um critério não explorado na presente pesquisa, como pró-ambiental brasileira, que podem trazer limitações
a caracterização de cartazes de OnGs pró-ambientais inerentes, já reconhecidas em literatura, e restringir
em comparação a cartazes de empresas privadas. A a eficácia das mensagens persuasivas. De maneira
dificuldade na definição de apenas duas opções de destacada, a elaboração de um sistema para a
categorização para a característica de ênfase sobre os categorização de cartazes pró-ambientais brasileiros
impactos dos problemas ambientais (i.e.: nenhum, na representa um avanço que pode ser aprimorado e
natureza, no homem, ambos) deve ser investigada. É orientar pesquisa e intervenção na área.

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Autores:
Ligia Abreu Gomes Cruz – Mestre, Universidade de Brasília
Fabio Iglesias – Doutor, Universidade de Brasília

Endereço para correspondência:


Ligia Abreu Gomes Cruz
Laboratório de Psicologia Social ICC Sul A1-116
Universidade de Brasília
70900-100 – Asa Norte, Brasília, DF, Brasil
<ligiaabreugc@gmail.com>

Recebido em: 20.10.2016


Aceito em: 04.10.2017

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