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Ill

Por que trabalhar com grupos para a


promoção de saúde e cidadania

Em primeiro lugar é necessário lembrar que um dos gran-


des erros de programas de educação para a saúde tem sido a
priorização da transmissão de informações sem dar maior
importância aos processos de decodificação e ressignificação
dessas mensagens pela população que as recebe.
Vejamos, por exemplo, o caso da aids entre jovens. A es-
tratégia da informação igualitária falha em sua intenção de pro-
vocar mudanças e, portanto, na prevenção de contaminações.
Vários estudos brasileiros mostram que na atualidade não há
quem não tenha ouvido falar em aids e nas suas consequên-
cias. Em nossos trabalhos, realizados nos últimos anos no
município de Ribeirão Preto, SP, notamos que nem sempre há
ausência de informações. Quando se pergunta ao adolescen-
te sobre os métodos contraceptivos ou as principais vias de
contaminação pelo HIV, por exemplo, percebe-se que grande
parte deles é capaz de responder corretamente. No entanto,
quando em entrevistas, aprofundamos as perguntas no senti-
do de fazê-los explicar como devem ser aplicados tais méto-
dos ou em direção à identificação de práticas sexuais de maior
ou menor risco para contaminação pelo HIV, observa-se que
essas respostas são apenas "decoradas". Ou seja, com fre-
quência observa-se o adolescente repetir ou "recitar" uma lis-
ta de métodos contraceptivos e imediatamente adiante, na
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entrevista, confundir-se em relação a: como planejar a são despercebidas por elas. Busca-se assim o envolvimento
"tabelinha" (método natural de identificação de dias férteis); das emoções e sentimentos junto às cognições.
acreditar que a tabelinha planejada pela amiga serve para as Em segundo lugar, os trabalhos grupais implementados de
demais componentes do grupo; acreditar que a "pílula" deve maneiras criativas e adequadas proporcionam uma atmosfe-
ser tomada somente nos dias que acontecerão as relações ra de aceitação e ânimo para discussão e reflexão sobre no-
sexuais; acreditar que ter relações sexuais "em pé" diminui a vas atitudes perante as questões apresentadas.
probabilidade de gravidez e outras tantas respostas do tipo. Muitas de nossas experiências socializadoras ocorrem en-
Com relação às informações sobre as principais vias de tre nossos grupos de pares ou de iguais. Além disso, a influên-
contaminação pelo HIV, é comum observar que as respostas cia dos amigos, conhecidos, enfim dos componentes dos
não são incorretas. Porém nas "falas" posteriores percebe-se grupos de pares, é inegável em todos os aspectos da vida de
que essas respostas não estão ancoradas em modificações um indivíduo, particularmente na juventude.
de práticas sexuais mais seguras. É mais comum, por exem- Por essa razão, os trabalhos realizados com o grupo de
plo, observar-se preocupação com o alicatinho de unha na pares aumentam as possibilidades de que novas atitudes e
manicure do que questionar a questão de parceiros sexuais práticas sejam adotadas e modeladas por seus membros.
conhecidos. O HIV e a aids estão sempre em desconhecidos.
O mesmo ocorre com informações relativas aos efeitos das
drogas. Alguns estudantes são capazes de categorizá-las em 1. A que tipo de trabalho grupai estamos nos
termos de suas classificações mais gerais. Porém, de modo referindo
geral, não apresentam reflexões sobre efeitos das drogas que
julgam "mais leves", por exemplo, o "lança-perfume caseiro", Quando se fala em trabalhos grupais é necessário definir
que pode ter efeitos mais drásticos na experimentação do que que tipos de métodos estarão sendo empregados e que tipos
drogas tidas como ilegais. Enfim, as informações por pales- de objetivos estão sendo buscados. O mais importante é con-
tras ou textos didáticos incitam, muitas vezes, a uma visão siderar que não é pelo fato de colocarmos um determinado
maniqueísta sobre a questão das drogas e, até mesmo, a pre- número de pessoas juntas que estaremos trabalhando com
conceitos em relação aos drogaditos. metodologias grupais.
Tem ficado, cada vez mais claro, que a informação, mes- Dito de outro modo, não se deve confundir metodologias de
mo clara, objetiva e adequada aos diferentes segmentos da trabalhos grupais, com as atividades informativas realizadas
população, não é em si suficiente para a sensibilização pes- em direção a um grupo de pessoas.
soal. Como afirma Spink (1993), a informação transmitida será Existem diferentes modalidades de trabalhos grupais , que 1

sempre mediada. Ela passa, necessariamente, pelo crivo das devem ser escolhidas de acordo com os objetivos almejados.
representações sociais, dos sentidos e dos significados já Porém, é importante salientar que para os trabalhos grupais
existentes, independentemente de sua qualidade.
Nesse sentido, os trabalhos realizados em grupo podem
constituir-se em meios facilitadores para a ocorrência de re-
flexão e tomada de consciência de aspectos importantes en- 1 Para se ter uma ideia da grande variedade de formas de trabalhos grupais confira-
volvidos no dia-a-dia, na vida das pessoas e que normalmente ZIMERMAN (1997).

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atingirem seus objetivos, é necessário que os coordenadores h) o educador escolhe o conteúdo pragmático; os educandos
tenham formações específicas para esse fim. jamais são ouvidos nesta escolha, acomodam-se a ele;
Tanto na área de saúde como de educação, é comum obser- i ) o educador identifica a autoridade do saber com sua autori-
varmos a implantação de trabalhos grupais que, embora cha- i dade funcional, que se opõe antagonicamente à liberdade
mados muitas vezes de "oficinas", nada mais são do que o dos educandos; estes devem adaptar-se às determi-
emprego meramente mecânico de alguns exercícios ou técni- nações daquele;
cas de dinâmicas de grupo, sem o manejo adequado, possibi- j ) o educador, finalmente, é sujeito do processo; os edu-
litado pela formação teórica, ética e metodológica. candos, meio objetos. (FREIRE, 1985, p. 67).
Sem uma formação adequada observamos o emprego
mecânico de técnicas normalmente seguidas de falas Nos trabalhos de Promoção e Prevenção em Saúde, a
prescritivas, prontas anteriormente. Dessa forma, as estraté- inadequação desse modelo de "educação bancária" parece
gias de trabalhos grupais não passam de formas disfarçadas cada vez mais evidente.
de "educação bancária", tal como definida por Freire (1985). A evidência de que a informação não traz em si a incor-
Esse tipo de educação, que o educador Paulo Freire (1985) poração de reflexão, de sensibilização e motivação para
chama de "educação bancária", pressupõe que os educandos mudanças é cada dia mais clara, basta ver o que se investe
sejam apenas recipientes a serem preenchidos pelo educa- em campanhas informativas e os quadros de incidências
dor. Ou seja, o educador vai depositando no educando o que dos problemas identificados, que não se modificam consis-
ele considera educação, que não passa de conteúdo infor- tentemente.
mativo. Existem diferentes paradigmas de educação e prevenção
Dentro dessa perspectiva da educação bancária, o educa- em saúde. Estes vão desde os baseados na educação clássi-
dor ao transferir valores e conhecimentos estaria assumindo ca, informativa e prescritiva, até os mais diversos tipos de
os seguintes pressupostos: . metodologias, participativas com diferentes objetivos finais.
Como afirmam Schall e Struchiner (1995, p. 97-98):
a) o educador é o que educa; os educandos, os que são
educados; constata-se na prática que as ações de educação em saúde,
b) o educador é o que sabe; os educandos, os que não sa- conscientemente ou inconscientemente tendem a privile-
bem; giar um ou outro modelo. Portanto, é de grande importância
c) o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; . que tanto os profissionais de saúde como a população com-
d) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que preendam essas abordagens com base nos seus princí-
escutam docilmente; pios fundamentais para assumirem uma postura critica e
e) o educador é o que disciplina; os educandos, os discipli- construtiva em relação às formas de organização e partici-
nados; pação nos programas de promoção de saúde e prevenção
f) o educador é o que opta e prescreve a sua opção; os contra a Aids.
educandos, os que seguem a prescrição;
g) o educador é o que atua; os educandos, os que têm a Segundo as mesmas autoras, tanto as abordagens que só
ilusão de que atuam, na atuação do educador; prescrevem mudanças comportamentais (as mais clássicas)
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como as que só se preocupam com o fortalecimento do "eu" Esse tipo de abordagem pressupõe também que para tra-
(mais humanista), ambas situadas numa perspectiva funda- balharmos questões delicadas, cheias de aspectos malresol-
mentalmente subjetiva e individualista, são limitadas. E afir- vidos, tais como as ligadas à sexualidade, uso de substâncias
mam: "no caso da aids, especialmente, o foco na subjetividade psicoativas entre outras semelhantes, é necessário usarmos
deslocada do contexto social - com o afetivo - pode acarretar métodos e técnicas que possam instigar o aparecimento dos
a falta de solidariedade." (SCHALL; STRUCHINER, 1995, p. 98). aspectos que estão na base dessas questões. Em outras pa-
As autoras defendem uma abordagem que "privilegie o diá- lavras, é necessário trazer à tona aquilo que realmente está
logo e o conhecimento mútuo de valores, experiências e afe- por trás ou que motiva as questões pouco adequadas à auto-
tos [...]", que podem indicar" [...] um caminho mais sólido para apreciação de vulnerabilidade de riscos à saúde. Isso, porém
as mudanças necessárias, que coloque o homem situado e não quer dizer que se deva promover ou permitir auto-exposi-
contextualizado no centro do processo de transformação, in- ções emocionais dos participantes. Em nenhuma hipótese o
cluindo aí os aspectos afetivos e as informações e fatos ne- tipo de trabalho proposto deve ser confundido com sessões
cessários à tomada de decisões." (SCHALL; STRUCHINER, grupais de psicoterapia.
1995, p. 98). Trabalhar em grupos com metodologias participativas não
Concordando com os pressupostos de trabalho das auto- significa que se deva criar climas pesados ou de apavoramento
ras mencionadas e com base na experiência de nosso grupo para que ocorram sensibilizações. Pelo contrário, deve-se evitar
na área de promoção de saúde, temos adotado uma série de o apavoramento ou desenvolvimento de mensagens que ge-
metodologias participativas de trabalho. rem pânico, pois a tendência mais comum nesses casos é a
ativação de mecanismos de defesa do ego de fuga. Além dis-
2. Metodologias participativas para trabalhos so as aprendizagens associadas ao prazer podem ser muito
mais significativas. Nesse sentido a atmosfera lúdica pode ser
grupais: estratégias muito facilitadora à aceitação dos trabalhos grupais.
Por metodologias participativas de trabalho, entendemos o As metodologias participativas de trabalho, particularmen-
emprego de métodos e técnicas que possibilitem e facilitem te, as que se utilizam de recursos lúdicos, partem do pressu-
aos integrantes de um grupo: vivenciar seus sentimentos, per- posto de que é possível aprender vivenciando situações e
cepções sobre determinados fatos ou informações; refletir dando respostas a elas.
sobre eles; ressignificar seus conhecimentos e valores e per- Para Antunes (1993, p. 19) desde que:
ceber as possibilidades de mudanças.
As metodologias participativas utilizadas tanto para cursos Existam fatos científicos ou experiências a conhecer, ava-
de capacitação de coordenadores de grupos, como nas ofici- liar ou investigar, pode-se colocar em prática algumas téc-
nas de trabalho propostas para jovens, pressupõem que atitu- nicas específicas para conhecimento, outras, ainda para
des e comportamentos em relação a quaisquer temas ou fatos avaliação. Isto porque, o conhecimento é obtido através de
da vida estão sempre associados aos conjuntos de valores, fatos e experiências; o conhecimento não deve contradizer
crenças, concepções, cognições e emoções que cada pes- os fatos comparados; e um conhecimento se justifica quan-
soa desenvolve em função de sua educação, ambiente fami- do parte de uma experiência e é evidenciado por outro co-
liar, cultural, nível sociocultural e económico. nhecimento [...]

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As principais técnicas utilizadas na programação de interven- 2.1 - Role-play


ção são basicamente as derivadas do psicodrama pedagógico. Os role-play são exercícios de dramatização ou representa-
Isso ocorre porque o essencial nessa abordagem é a prática de ção especialmente indicados como estratégia sensibilizadora,
ação e sua principal base, o trabalho da espontaneidade. uma vez que: facilita a capacidade de colocar-se no lugar de
As estratégias metodológicas propostas para trabalhos outras pessoas ou de si mesmo em situações diferentes ou
grupais que empregamos são basicamente as seguintes: inusitadas.
2.1 - Role-play, com construção de scripts ou desempenho Nessa estratégia estimula-se os participantes a saírem de
livre. suas posições atuais e simularem a vivência de outros papéis
2.2 - Estudos de caso: debates sobre dilemas morais e análise sociais. Para isso, os participantes têm que fazer esforços
de conflitos. para: compreenderem os pontos de vista de outros, suas po-
2.3 - Pantomimas, mímicas e jogos de adivinhação. sições, discursos e atitudes e perceberem aspectos ligados
2.4 - Exposições dialogadas e discussão de materiais infor- aos estereótipos sociais, preconceitos, desenvolvimento de
mativos. antipatias, simpatias e empatias.
2.5 - Representações espaciais de conceitos. O desenvolvimento da capacidade de desempenhar novos
2.6 - Representações gráficas ou iconográficas de conceito: papéis por meio do role-play já foi amplamente reconhecido em
produção de cartazes, vídeos, fotos e objetos. trabalhos que lidam com o desenvolvimento moral (KOLBERG,
2.7 - Jogos de acertos e erros. 1992; PUIG, 1998) e também na literatura que trata da aprendiza-
2.8 - Jogos ou associações de ideias. gem de habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999).
2.9 - Debate de ideias Para Kaufman (1992), são numerosos os trabalhos que
2.10- Aquecimentos ou exercícios para preparação do grupo mostram o papel do role-play como facilitador dos processos
para outras propostas. de aprendizagem. Além disso, para ele a técnica é um impor-
2 . 1 1 - Sessões avaliatórias. tante instrumento para a compreensão de tensões e ansieda-
des nos desempenhos de papéis e funções.
Todas essas estratégias são sempre empregadas de ma- O role-play permite, ainda, emergências de percepções,
neira contextualizada dependendo sempre das características de preconceitos ou outros sentimentos de perplexidade diante
grupais e os objetivos pretendidos. de determinadas situações ou assuntos que quase sempre
As sessões assim planejadas são denominadas de ofici- não são alvo de reflexões cotidianas das pessoas.
nas de trabalho, termo equivalente ao espanhol tallere ao in- Para Barroso e Bruschini (1990), a utilização do role-play
glês workshop, pois são reuniões nas quais se propõem em programas de orientação sexual facilita, por meio da
múltiplas atividades ou tarefas a serem realizadas em grupo. dramatização de diferentes papéis e das situações criadas, o
Mas sabe-se que os modos de planejamento e execução das aparecimento de um rico material para debates.
estratégias descritas, denominadas de oficinas, também são
As autoras definem a técnica e propõem a seguinte utiliza-
chamadas por alguns autores, entre os quais Morganett (1995),
ção de seus recursos:
como grupos para aconselhamento em saúde.
A seguir são apresentadas as descrições das Estratégias Role-playing é uma situação de "laboratório" em que as pes-
Metodológicas mencionadas: soas assumem uma nova identidade. É importante tentar

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seguir, agir e falar como a pessoa cujo papel se está de- nagem e passar a representar outro com quem está contrace-
sempenhando. Inicialmente é preciso imaginar a pessoa e nando e vice-versa. Quando a cena envolve vários persona-
suas características, não devendo planejar de antemão o gens, o protagonista e os outros podem passar pelos vários
que se vai dizer ou fazer. Quanto mais reagir espontanea- papéis, buscando-se, dessa forma, facilitar a apreensão da con-
mente melhor será o desempenho [...] (BARROSO; figuração cénica sob vários ângulos. Para o autor, esse é o es-
BRUSCHINI, 1990, p. 44). tágio mais avançado do processo de aprendizado de um papel,
assim como do processo de construção da identidade.
Para Puig (1998) o role-play facilita a reestruturação do modo O solilóquio, para Romana (1992, p. 53), consiste em soli-
de conhecer outros papéis sociais. Para que isso ocorra, esti- citar aos personagens envolvidos numa mesma cena que,
mula-se a reflexão sobre os modos de pensar e agir dos outros, enquanto estejam atuando, falem como se estivessem pen-
bem como seus motivos. O exercício de sair de seus próprios sando alto ou façam "exclamações que permitam perceber
pontos de vista no momento e lançar-se a compreender, e não melhor seus pensamentos, sensações e sentimentos, mes-
necessariamente aceitar, os pontos de vista alheios pode ser mo que sejam contrários ao desempenho que estiver fazendo
muito interessante na produção de insights ou tomada de cons- nesse momento. Essa fala, no entanto, não será dirigida a
ciência de vários aspectos da vida do participante em seu meio. nenhum personagem especial, é feita como se a pessoa esti-
Puig (1998, p. 71) afirma ainda que com o role-play. vesse sozinha. Portanto, não quer resposta."
Na interpolação de resistências, o coordenador ou os parti-
[...] é possível também desenvolver a capacidade de adotar cipantes alteram a cena de fora dela, sem um planejamento
perspectivas sociais diversas mediante exercícios vicários anterior. Para Romafta (1992) isso equivale a uma brusca
de representações de papéis. A saber, mediante exercícios desestruturação da relação estereotipada. Deve-se para isso,
que permitam simular uma enorme variedade de relações introduzir um fato novo que exigiria uma reestruturação dos
sociais conflitivas. A participação em exercícios de role- personagens e da cena.
playing ou dramatização permite participar vicariamente em Romaria (1992) chama a atenção para que essas técnicas
relações sociais próprias dos mais variados âmbitos e com pedagógicas do psicodrama não tenham seus objetivos con-
isto vivenciar experiências simuladas que favoreçam a ado- fundidos com os objetivos do psicodrama terapêutico.
ção das mais diversas perspectivas sociais. Uma variação bastante interessante do role-play é o "jornal
vivo" que consiste em dar novos tratamentos às notícias vei-
Portanto, o role-play além de importante estratégia culadas pela mídia para percepção de conteúdos subjacentes
metodológica pode contribuir para o desenvolvimento pessoal importantes na compreensão da realidade.
dos participantes. A dramatização permite várias explorações. Ainda, segun-
As técnicas psicodramáticas utilizadas nas dramatizações do a mesma autora, a dramatização pode partir de uma trama
e role-play propostas em nossos programas são basicamen- básica e sequenciada e, paulatinamente, pode-se conferir à
te as seguintes: inversão de papéis, solilóquio e interpolação mesma uma consistência maior. Isso pode levar a redes mais
de resistências. significativas de compreensão.
Aguiar (1988) descreve a inversão de papéis como o fato A dramatização permite, ainda, a solicitação de diversas
de o protagonista deixar de desempenhar o seu próprio perso- formas de dar sequências às tramas e, com isso, ir possibili-

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tando a passagem de aproximações mais intuitivas e emocio- Como afirmam Barroso e Bruschini (1990, p. 44):
nais até outras mais racionais, conceituais, podendo chegara
aproximações mais funcionais. Dessa forma, para Romana Às vezes há uma hesitação inicial em se representar um
(1992), estariam existindo paralelamente às operações de papel do qual não se tenha muito conhecimento ou experiên-
análise, síntese e generalização. cia. Mas a irrealidade é exatamente a razão do role-playing -
O método deve ser colocado em prática de maneira "flexí- a oportunidade de assumir uma nova identidade, sem a se-
vel" como um tecido, sutil o suficiente para não coibir as ini- ; gurança.da familiaridade. É importante, também, manter-se
ciativas e firme o suficiente para acompanhar os movimentos em cpntato com os próprios sentimentos à medida em que
e as tentativas de compreensão, sem se quebrar (ROMAISIA, se desempenha um papel. Após a distribuição dos papéis
1992). aos voluntários, o orientador poderá montar com eles a cria-
O role-play e a simulação podem constituir-se em estraté- ção de cenas, cada uma envolvendo de dois a cinco partici-
gias lúdicas que conduzam a "catarse" ou alívios de tensões. pantes, no máximo. Ou instruirá cada ator em seu papel
Como afirma Gil (1997), não há nenhum inconveniente em específico ou trabalhará de forma aberta, imaginando com
aprender brincando. Ressalta o autor, porém, que as simula- eles apenas o tema central, assegurando a montagem do
ções não podem e não devem servir como meros entreteni- primeiro quadro e intervindo nas entradas e saídas de cena
mentos, o que corresponderia a um mau uso da estratégia. dos personagens. É bom distribuir crachás com os novos
Gil (1997, p. 87) chama a atenção para o fato de que "al- nomes, para melhor fixação dos papéis. Os participantes
gumas modalidades de simulação conduzem a certa catarse" , que não atuarem diretamente ficarão como observadores,
e é preciso saber conduzir o grupo para que não ocorram em silêncio, sem interferirem no contexto da representação.
situações similares às de psicoterapias de grupo. Mesmo re-
ferindo-se ao educador, o autor demonstra uma preocupa- De modo geral, a estratégia de role-play pode ser utilizada
ção muito legítima em relação também aos coordenadores com vários objetivos: resolução de conflitos; simulação de
de grupos: negociações; treino de habilidades sociais entre outros.
No último capítulo deste livro são apresentadas várias ofici-
Convém, pois, ao professor que, ao se decidir pelo uso de nas que empregamos em nossos trabalhos. Há a apresenta-
algum tipo de simulação, esteja seguro de que essa estra- ção de um esquema que se pode seguir para planejar um
tégia será adequada aos objetivos qué pretende alcançar. role-play e várias oficinas centradas nessa estratégia entre as
Os principais objetivos para os quais se recomenda algum quais estão: Resolução de conflitos e negociação de sexo
tipo de simulação são: seguro; HIV na escola; A história de Marcelo; Comunicação e
a) estimular a reflexão acerca de determinado problema; assertividade; entre outras.
b) promover um clima de descontração entre os alunos;
c) favorecer o autoconhecimento; 2.2 - E s t u d o de c a s o s : debates s o b r e dilemas morais
d) desenvolver empatia;
e análises de conflitos
e) analisar situações de conflito;
f) desenvolver atitudes específicas; Compreender melhor situações conflitantes é um outro tipo de
g) desenvolver habilidades específicas. (GIL, 1997, p. 88). estratégia com objetivos semelhantes aos descritos no role-play.

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Desde que existam pautas interessantes aos participan- problemáticos perante os quais é necessário fazer escolhas e
tes, a análise dessa estratégia mostra-se muito eficiente. analisar suas consequências.
A respeito do Estudo de Caso, Gil (1997, p. 90) apresenta As situações apresentadas jamais devem oferecer uma
as seguintes considerações: solução única. Ou seja, o estudo de caso será tanto melhor
quanto mais provocar reflexão, análises e argumentação em
O estudo de caso consiste em apresentar fatos ou resu- direção às possíveis soluções. É necessário, para buscar so-
mos narrativos de situações ocorridas em empresas, órgãos luções, experimentar diferentes graus de conflitos cognitivos
públicos ou em outras instituições com vistas à sua análise e emocionais.
pelos alunos. A situação é apresentada sem qualquer inter- Em nossos trabalhos, em algumas situações apresenta-
pretação, podendo incluir declarações das personagens en- mos ós estudos de caso na forma de um programa de televi-
volvidas, organogramas, demonstrativos financeiros, cópias são bem popular e bastante conhecido dos jovens o "Você
ou trechos de relatórios ou, simplesmente, descrições ver- decide". Muitas vezes, chamamos a sessão de "Você decide"
bais. Os alunos, individualmente ou em grupo, passam a e vamos apresentando a situação pouco a pouco para o grupo
trabalhar, podendo consultar as fontes que desejarem. As e solicitando a análise de possíveis decisões.
soluções, apreciações ou críticas dos alunos são finalmen- É necessário salientar que o interesse e a participação do
te apresentadas à classe e discutidas, para que sejam apon- grupo dependem da escolha do tema do estudo de caso. Ou
tadas as mais válidas. seja, o tema tem que ser de interesse do grupo, causar polé-
O estudo de caso é muito empregado em certos cursos, mica, não oferecer saídas óbvias e envolver, de fato, conflitos
notadamente de Administração, para a análise de pro- de valores.
blemas e tomada de decisões. Recomenda-se sua utiliza- Para Puig (1998) um conflito cuja solução seja difícil, obriga
ção para proporcionar ao aluno vivência dos fatos que a optar reflexivamente entre alternativas e valores. Segundo o
possam ser encontrados no exercício da profissão e para autor, podem-se apresentar dilemas por meio de vídeos, gibis,
habituá-lo a analisar situações sob seus aspectos positi- fotomontagens, textos escritos ou a simples apresentação oral.
vos e negativos antes de tomar uma decisão. Puig (1998) chama a atenção para a estrutura que devem
ter esses dilemas morais. No momento de elaborá-los, deve-
Utilizamos o estudo de casos sempre com dilemas mo- se considerar os seguintes pontos:
rais por meio de histórias, próximas às vidas dos participan- a) Definir com clareza o âmbito do problema
tes, que não apresentam seus finais. O objetivo é estimular as Além do âmbito do problema ser suficientemente conheci-
várias possibilidades de decisões e tomadas de posição que do pelos participantes não se deve, segundo Puig (1998),
podem ser adotadas pelos personagens. incluir excesso de informações sobre os fatos que se apre-
As discussões com textos lidos ou representados, no con- sentam, caso contrário podem-se misturar desnecessa-
texto em que se propõe os trabalhos aqui sugeridos, devem riamente outros problemas, à discussão, pouco relevantes
sempre assumir o caráter de discussão de dilemas morais. para o conflito a ser focalizado.
Os estudos de casos de dilemas morais são sempre bre- b) Definir um protagonista
ves narrações que apresentam conflito de valores. Em geral, Os dilemas deverão ter sempre um protagonista, seja uma
empregam-se pequenas historietas que apresentam aspectos pessoa ou um grupo. O protagonista, para Puig (1998), é

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aquele que deve decidir o que se deveria fazer e justificar 1. apresentação do dilema;
sua escolha. Portanto, os participantes terão que fazer o 2. discussão do dilema em pequenos grupos;
esforço de colocar-se no lugar do protagonista. 3. discussão grupai mediada pelo coordenador.
c) Propor escolhas
Frequentemente apresentamos duas alternativas que es- É sempre interessante lembrar, como afirma Puig (1998, p.
tabelecem um conflito de valores defensáveis. Puig (1998) 66), que o:
chama nossa atenção para o fato de que quando estamos
elaborando um conflito, para não apresentarmos alternati- Conflito cognitivo moral aparece quando se rompe a confiança
vas sendo uma claramente aceitável e outra reprovável, nos próprios juízos morais diante de um conflito de valores. Ou
deve-se sempre apresentar alternativas dignas de defesa seja, quando não há razões de peso suficiente para conciliar
pelo protagonista. Dessa forma, estimulam-se reflexões para si mesmo um dilema e é impossível reconciliar pontos
cuidadosas. de vista ou razões que se movem em direções opostas. O
d) Definição do problema ou dilema sujeito vê-se entre duas linhas de raciocínio contrárias, indo
Devem fazer parte do âmbito de realidade dos participan- de uma a outra sem razões suficientes, parando em uma de-
tes e devem ser questões de vital importância e de prefe- las, mas sem poder rebater a outra ou simplesmente abando-
rência, segundo Puig (1998), devem projetar conflitos de nando a discussão ou aderindo a soluções pré-fabricadas.
interesses pessoais e sociais. Em qualquer caso, fica sem razões que o convençam a resol-
Temas interessantes são os que tratam, por exemplo, de: ver o conflito ou o problema que lhe é apresentado.
"normas sociais, as liberdades civis, o sexo, os problemas
relacionados com a vida, as questões referentes à proprie- Ou seja, nessas circunstâncias a pessoa precisa pensar
dade e aos contratos entre outros." (PUIG, 1998, p. 56). em novas razões e critérios para julgar o problema. Para o
e) Perguntar: o que deveria fazer o personagem? mesmo autor esse exercício constitui-se num importante apren-
Quando se lançam perguntas sobre o que deveria fazer o pro- dizado de formas de raciocínios morais.
tagonista é necessário deixar bem claro que não se quer dis- Nessas discussões é muito importante que o coordenador
cutir sobre o que normalmente se faz. O ponto crucial desta esteja apto para chamar a atenção dos participantes a respeito
etapa é aprofundar o "porquê" das tomadas de decisões. da necessidade de aceitarmos:
f) Formular outras perguntas e dilemas alternativos • o pluralismo de opiniões;
É sempre interessante elaborar perguntas que convidem • o pluralismo cultural que está por trás de nossos valores;
os participantes a se colocarem no lugar do protagonista e • os diferentes ângulos e aspectos sempre presentes nas pers-
a pensarem em buscar alternativas e suas possíveis con- pectivas de análises;
sequências. Além disso, pode-se ter dilemas alternativos • o respeito que se tem que ter por diferentes tomadas de de-
de modo a provocar novas discussões ou mesmo analisar cisões, entre outros aspectos ligados ao respeito às atitudes
o conflito original sob outras perspectivas. dos demais,

As etapas para a discussão nos Estudos de Casos de dile- Um exemplo desse tipo de estratégia metodológica pode
mas são frequentemente os seguintes: ser visto nos estudos de caso: "História de Camila", no Anexo.

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2.3 - Pantomimas, mímicas e j o g o s de adivinhação • destacando as ideias mais importantes;


• solicitando aos alunos um resumo sobre os conteúdos de
Estas são estratégias metodológicas lúdicas nas quais se
algumas ideias;
propõe a apresentação de determinados conceitos, sentimen-
• respondendo a dúvidas pendentes;
tos ou situações sem a possibilidade do uso da fala.
• estabelecendo relações entre os conteúdos expostos e
Os objetivos principais dos exercícios desse tipo são: a per-
as ideias futuras que compreendem a estrutura básica da-
cepção e conscientização da linguagem corporal e facial que
quilo que está sendo exposto.
acompanham ou substituem as nossas falas; a percepção de
que nossas expressões faciais e corporais são muito impor-
As exposições são estratégias muito interessantes quando
tantes na nossa comunicação verbal; que tendo a consciên-
utilizadas como breves introduções aos temas que serão abor-
cia de nossas formas de comunicação é possível aprimorá-las
dados. Pode-se lançar mão da exposição para, por exemplo,
ou modificá-las. Exemplos dessas estratégias são encontra-
introduzir o conceito de assertividade, estresse, entre outros
dos no último capítulo com a técnica "Saquinho surpresa".
temas, para em seguida propor uma outra estratégia interativa.
Um exemplo dessa estratégia é "O que é estresse", que se
2.4 - Exposições dialogadas encontra no último capítulo.
A aula expositiva é a mais tradicional estratégia de ensino.
Muitas vezes, a estratégia é criticada negativamente porque 2.5 - Representações e s p a c i a i s de conceitos
não segue algumas etapas essenciais. Como afirma Antunes
(1999), uma aula expositiva pode ser muito eficiente se sua Esta é uma estratégia simples e interessante quando se
estruturação respeitar a construção do conhecimento a partir quer representar algo inicialmente, como uma cadeia de trans-
dos conteúdos que já são de domínio do participante. Para o missão do HIV ou de DST. Veja a oficina "Cadeia de transmis-
autor as etapas a serem seguidas são: são" ou os "Autógrafos" no anexo.
a) Obter a atenção dos participantes para o assunto que será
apresentado. 2 . 6 - Representação gráfica ou imaginária de conceitos
b) Ligar o tema a conteúdos já plenamente conhecidos (so- Também esta é uma estratégia simples: trata-se de solicitar
bretudo no universo pessoal do aluno). aos participantes a confecção de cartazes, folhetos, vídeo, fo-
c) Organizar a estrutura cognitiva ou plana dos assuntos a tos, enfim a produção de materiais inspirados pelas temáticas.
serem expostos. Estabelecer a interação com os alunos e Essas estratégias devem ser empregadas complementando
envolvê-los nessa discussão. outras. Por exemplo, fazer cartazes, como campanha preven-
d) Estabelecer a diferenciação progressiva, isto é, a apresen- tiva, expressão de conceitos, entre outros.
tação preliminar das ideias - âncora.
e) Explicitar semelhanças e diferenças entre essas ideias.
f ) Desenvolver as idéias-âncora, explorando diferentes habili- 2.7 - J o g o s de acertos e erros
dades, como: conhecer, compreender, analisar, comparar Estratégias empregadas em forma de jogos estimulam um
e sintetizar. clima lúdico e agradável no qual se possibilita o processo de
g) Concluir a exposição: ensino-aprendizagem de maneira informal.
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Rosalina Carvalho da Silva Metodologias participativas para trabalhos de promoção de saúde e cidadania

Evidentemente essas estratégias só devem ser emprega- 2.9 - Debates de ideias


das para transmissão de dados objetivos e cientificamente O debate de ideias é uma importante estratégia de sensi-
comprovados tais como: nome de vírus, nome de DST, for-
bilização e conscientização de ideias, crenças e valores. A
mas comprovadas de transmissão de doenças, dados relati-
estratégia só surte os efeitos esperados quando conduzida
vos a nomeação de métodos contraceptivos, etc.
por um coordenador seguro, firme, bem-preparado em termos
Nessas estratégias utilizamos materiais, tais como: bara-
de habilidades interpessoais para a condução de trabalhos
Ihinhos de DST, a oficinaJVerdades mentiras", o joguinho de
e
grupais. Além disso, é necessário que o tema colocado em
Eliziário e Rabelo (1990), Ludi-Sex, entre outros.
debate seja, de fato, polémico e de interesse para os partici-
pantes.
2.8 - J o g o s de associações de ideias Os debates devem durar o tempo que durar o interesse dos
São estratégias nas quais se buscam as primeiras asso- participantes. É importante desenvolver essa sensibilidade.
ciações que as pessoas fazem a respeito de determinados O círculo de Debates, como propõe Antunes (1999, p. 53),
temas. São muito úteis para fazer levantamento das ideias e deve seguir as seguintes etapas:
concepções.
As estratégias de "tempestade de ideias" em pequenos gru- 1. Abrir o círculo expondo o tema, seus objetivos e, sempre
pos ou as oficinas, tal como a proposta com o título de "batata que possível, lançando uma ou mais questões polémicas.
quente", são muito interessantes para, em clima lúdico, fazer . ; 2 Anunciar as regras gerais dos debates, enfatizando a im-
h

um levantamento dos modos de pensar e interesses dos par- portância da participação de todos e do comedimento em
ticipantes. sé colocar posições; deverá haver, principalmente, respeito
Outras técnicas que envolvam completar frases também pelas Opiniões divergentes e a capacidade de separar sen-
são interessantes para fazer emergir concepções, crenças, timentos por certas ideias das pessoas que as apresen-
interesses entre os participantes. Essa estratégia pode ser tam. Enfatizar que concordar ou não com um ponto de
encontrada no último capítulo da oficina "Batata quente", que
vista não implica em concordar ou não com a "pessoa"
traz uma série de sugestões de frases a serem completadas
que o apresenta.
no jogo, em diferentes temáticas: Prevenção e vida sexual ati-
va; Sexualidade; Drogas; Colaboração; Auto-aceitação; Res- 3. Manter elevado o clima de diálogo, somente interrompen-
peito; Sentido da vida; Responsabilidade; Relações de género; do a palavra dos expositores quando julgar que está ha-
Percepção das necessidades; Percepção de sentimentos; vendo excesso. Evitar "sentidos horários ou outros" nas
Felicidade; Violência (entre jovens); Compromisso social; Vida exposições.'Anotar quem pede a palavra e passar a mes-
do crime e Projeto de vida; Visão da sociedade (pobreza e ma ná ordem de sua solicitação.
violência); Análise da vida e Autoconhecimento; Lazer; Cul- "'" 4. Assumir sempre que necessário posições contrárias às
tura; Escola; Percepções sobre a família; Crenças espiri- ideias expostas para estimular o debate. Aguçar a curiosi-
tuais, entre outros temas. Estas são apenas algumas dade dos participantes, levantando questões polémicas.
sugestões de levantamento de aspectos ligados aos temas Manter postura de irrestrita imparcialidade, independente
para discussões. das ideias do expositor.

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Rosalina Carvalho da Silva Metodologias participativas para trabalhos de promoção de saúde e cidadania

5. Controlar o tempo, de forma a permitir ampla participação, se as estratégias que estão sendo empregadas estão real-
e encerrar o círculo com espaço de tempo suficiente para mente sendo estimulantes entre tantas outras peculiaridades
apresentar conclusões, sintetizando as ideias expostas. dos trabalhos que estão sendo implementados. No último ca-
Sempre que possível é importante anotá-las e, ao abrir pítulo é apresentada uma série de estratégias avaliatórias: grupo
círculos seguintes, ter essas conclusões claramente ex- focal, o barquinho, etc.
postas. Mostrar aos participantes que os debates sempre Todas essas estratégias podem, dependendo dos seus
elevam o espírito de compreensão do outro e a autodes- objetivos, ser implementadas sozinhas ou de formas comple-
coberta. mentares. O importante é ter clareza dos objetivos a serem
conseguidos com as atividades e saber se estas se aplicam
A outra estratégia "Tribunal do júri" consiste em dividir o gru- de fato ao grupo que estará sendo trabalhado.
po em dois, sendo que os membros de cada um deles, inde- É necessário também levar em conta que, algumas vezes,
pendentemente de suas opiniões pessoais favoráveis ou as oficinas ou dinâmicas grupais propostas não surtem o efei-
desfavoráveis, devem em um primeiro momento encontrar to esperado. Nesse caso, é necessário ter agilidade e flexibili-
argumentos para defender ou atacar uma determinada ideia. dade para propor algo rapidamente a seguir que se perceba
Sendo que, depois de um determinado tempo, os papéis dos que será interessante para o grupo. Pode-se sondar o grupo
dois grupos devem ser invertidos. A estratégia "Tribunal do júri" para verificar o interesse.
é apresentada no Anexo. Quando analisamos as oficinas propostas, no último capí-
tulo, percebemos que algumas delas são muito específicas
2.10 - Aquecimentos ou exercícios para preparação para determinados objetivos e outras adotam um formato que
costumamos chamar de "multiuso". Ou seja, algumas estra-
do grupo para outras propostas
tégias propostas neste trabalho prestam-se a diferentes con-
Várias dessas estratégias são também descritas no último textos. Por exemplo: Tribunal do júri, Role-play, Círculo de
capítulo e seus objetivos, de modo geral, são os de descontrair debates, Congelando o pensamento, etc.
e preparar o grupo para as tarefas que serão propostas. Ou- É importante salientar que a implementação das estratégias
tras têm objetivos específicos, tais como o de apresentação aqui propostas é desenvolvida por nosso grupo e permeada por
dos participantes. De modo geral, é sempre aconselhável co- estratégias de Clarificação de Valores Humanos, que conscien-
meçar as sessões grupais com essas estratégias para que- temente ou não perpassam os pensamentos, os sentimentos,
brar o clima anterior à reunião e permitir aos participantes uma as crenças, as atitudes e os comportamentos das pessoas. E
atenção direcionada ao que será proposto a seguir. que, em nossas experiências, é o que se constitui no ponto cen-
tral do êxito dos programas que lidam com os temas com os
2.11 - Sessões avaliatórias quais trabalhamos pelos motivos que serão expostos a seguir.

As estratégias avaliatórias são, em geral, utilizadas como


fechamentos das sessões ou dos conjuntos de encontros para:
captar novos interesses do grupo; avaliar o que o grupo apren-
deu ou passou a pensar sobre um determinado tema; avaliar

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