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Unidade 3 | Teste de avaliação

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Educação Literária

PARTE A

Leia o texto.

João da Cruz entrou com uma carta que recebera da pobre do costume.
Enquanto Simão leu a carta escrita do convento, Mariana fitou os seus grandes olhos
azuis no rosto do académico, e, a cada contração do rosto dele, angustiava-se-lhe a
ela o coração. Não teve mão da sua ânsia, e perguntou:
5 – É notícia má?
– Tu és muito atrevida, rapariga! – disse João da Cruz.
– Não é, não – atalhou o estudante. – Não é má a notícia, Mariana. Senhor João,
deixe-me ter na sua filha uma amiga, que os desgraçados é que sabem avaliar os
amigos.
1 – Isso é verdade; mas eu não me atrevia a perguntar o que a carta diz.
0 – Nem eu perguntei, meu pai; foi porque me pareceu que o senhor Simão estava
aflito quando lia.
– E não se enganou – tornou o doente, voltando-se para o ferrador. – O pai
arrastou Teresa ao convento.
– Sempre é patife duma vez! – disse o ferrador, fazendo com os braços
1 instintivamente um movimento de quem aperta entre as mãos um pescoço.
5 Neste lance, um observador perspicaz veria luzir nos olhos de Mariana um clarão
de inocente alegria.
Simão sentou-se, e escreveu sobre uma cadeira, que Mariana espontaneamente
lhe chegou, dizendo:
– Enquanto escreve, vou olhar pelo caldinho, que está a ferver.
2 “É necessário arrancar-te daí – dizia a carta de Simão. – Esse convento há de ter
0 uma evasiva. Procura-a, e diz-me a noite e a hora em que devo esperar-te. Se não
puderes fugir, essas portas hão de abrir-se diante da minha cólera. Se daí te
mandarem para outro convento mais longe, avisa-me, que eu irei, sozinho ou
acompanhado, roubar-te ao caminho. É indispensável que te refaças de ânimo para
te não assustarem os arrojos da minha paixão. És minha! Não sei de que me serve a
2 vida, se a não sacrificar a salvar-te. Creio em ti, Teresa, creio. Ser-me-ás fiel na vida
5 e na morte. Não sofras com paciência; luta com heroísmo. A submissão é uma
ignomínia, quando o poder paternal é uma afronta. Escreve-me a toda a hora que
possas. Eu estou quase bom. Diz-me uma palavra, chama-me e eu sentirei que a
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perda do sangue não diminui as forças do coração.”


Simão pediu a sua carteira, tirou dinheiro em prata, deu-o ao ferrador, e
3 recomendou-lhe que o entregasse à pobre com a carta.
0 Depois ficou relendo a de Teresa, e recordando-se da resposta que dera.
Luís Amaro de Oliveira, Amor de Perdição (memórias de uma família), de Camilo Castelo Branco
(Edição didática), Porto, Porto Editora, 2019, pp. 95-96

1. Explicite a relação entre as três personagens presentes no excerto.

2. Selecione a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.

Na carta que Simão escreve a Teresa, a personagem revela uma atitude muito emotiva. Assim,
através da              , presente no segmento “a perda do sangue não diminui as forças do coração”
(linhas 30 e 31), o narrador salienta as ideias de              , características que definem Simão
como herói romântico.

(A) sinestesia … impulsividade e de agressividade


(B) metáfora … ternura e de honra
(C) sinestesia … ternura e de honra
(D) metáfora … impulsividade e de agressividade

3. Mostre a posição do narrador face às atitudes de Mariana.

PARTE B

Leia o texto.

Telmo (só) - Virou-se-me a alma toda com isto: não sou já o mesmo homem. Tinha
um pressentimento do que havia de acontecer… parecia-me que não podia deixar de
suceder… e cuidei que o desejava enquanto não veio. Veio, e fiquei mais aterrado, mais
confuso que ninguém! Meu honrado amo, o filho do meu nobre senhor, está vivo… o filho
5 que eu criei nestes braços… Vou saber novas certas dele, no fim de vinte anos de o
julgarem todos perdido; e eu, eu que sempre esperei, que sempre suspirei pela sua
vinda… – era um milagre que eu esperava sem o crer! – eu agora tremo… É que o amor
destoutra filha, desta última filha, é maior, e venceu… venceu… apagou o outro…
Perdoai-me, Deus, se é pecado. Mas que pecado há de haver com aquele anjo? Se ela
10 me vivirá, se escapará desta crise terrível? Meu Deus, meu Deus (ajoelha), levai o velho
que já não presta para nada, levai-o, por quem sois! (Aparece o Romeiro à porta da
esquerda, e vem lentamente aproximando-se de Telmo, que não dá por ele). Contentai-
vos com este pobre sacrifício da minha vida, Senhor, e não me tomeis dos braços o
inocentinho que eu criei para vós, Senhor, para vós… mas ainda não, não mo leveis
15 ainda. Já padeceu muito, já traspassaram bastantes dores aquela alma; esperai-lhe com a
da morte algum tempo!
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Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Porto, Porto Editora, 2015, p. 116

4. Selecione a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.

A pontuação expressiva presente no excerto revela que Telmo experimenta sentimentos


              face à notícia de que D. João está vivo. De facto, o monólogo de Telmo é atravessado
por emoções de                 .

(A) contraditórios … angústia e de remorso


(B) equivalentes … perplexidade e de felicidade
(C) contraditórios … perplexidade e de felicidade
(D) equivalentes … angústia e de remorso

5. Explicite o estado de espírito em que se encontra Telmo, tendo em conta os seus conhecimentos sobre
a obra.

PARTE C

6. A leitura da “Introdução” de Amor de Perdição responde à curiosidade que os leitores sempre têm sobre
o motivo que leva um autor a escrever uma determinada obra.

Baseando-se na sua experiência de leitura de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco,


escreva uma breve exposição sobre a história narrada pelo escritor, que, embora romanceada, teve
uma existência real.

A sua exposição deve incluir:


– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual explicite um aspeto que comprova a sugestão biográfica presente na
obra e o efeito que provoca no leitor;
– uma conclusão adequada ao tema.
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GRUPO II

Leitura e Gramática

Leia o texto.

As palavras acompanham-nos, protegem-nos, explicam-nos e afetam-nos. O seu


poder pode ser usado para subjugar ou capacitar, marginalizar ou integrar, entristecer ou
alegrar. Mudar o significado de uma palavra é transformar o sentido do mundo que ela
declarou. Não espanta que nos últimos anos se tenha falado tanto de conflitos a propósito
5 de linguagem.
E não surpreende porque muitas vezes traduzem modelos de dominação que são
reproduzidos como sendo “naturais” ou “normais”, e que têm vindo a ser postos em causa,
quando se fala de patriarcado, colonialismo ou classismo. Inevitavelmente existe quem se
sinta posto em causa e diga do alto do seu privilégio que é tudo exagero, ou que é
1 inventar problemas onde eles não existem, entendendo as críticas à emanação dessa
0 violência naturalizada como se fosse censura. O amor romântico, encarado como
acontecimento e não como percurso, como uma ocorrência de enamoramento suprema
em que se idealiza o outro, moldando formas de olhar, de sentir, de pensar e dizer, é um
dos terrenos onde isso se verifica.
Há dias dei por mim a pensar nisso quando andando pela rua ouvi uma voz feminina
1 dizer, em tom algo angustiado, “sem ti não sou nada”, para aquele que supus ser o
5 namorado. Haverá provavelmente muita gente que verá nessa proclamação um
romantismo exacerbado, e fora de época, que já nem nos filmes se usa, mas talvez, até
por isso, algo emocionante. É uma forma de ver as coisas. Há outras. Até porque essa
declaração é o tipo de lugar-comum que acaba por validar um exercício de dominação
através da gramática do amor romântico, inserida tanto na cultura como na
2 permeabilidade, nunca inocente, da linguagem de uso quotidiano. […]
0 […] Às vezes ouvimos dizer que quando o amor é verdadeiro suporta-se tudo, mas
aguentar tudo pouco tem a ver com a omnipotência do amor, mas com baixa autoestima
ou alta dependência. Outras vezes proclama-se que o amor verdadeiro é eterno, mas
tantas vezes que o deslumbramento é fugaz, ou em sentido oposto, se transformou em
algo sempre obsoleto. Também se proclama que não se pode ser feliz sem par, o que até
2 certo ponto se percebe, mas outorgar satisfação ao simples facto de se ter um,
5 independentemente da forma que determinada relação assume, parece pouco lógico. E
quando se ouve que ciúme é prova de amor ou que amar é renunciar, apetece declarar
que essas enunciações não aclaram a presença de amor, mas a ausência de uma
comunicação plena ou de um dinamismo de bem-estar. […]
[…] A maneira como vivemos os afetos e a forma de cuidarmos uns dos outros
3 influenciarão as narrativas que viermos a escrever sobre o amor. Mesmo quando
0 pensamos que estamos a operar num quadro interpessoal, inevitavelmente existe a
mediação do ecossistema social onde estamos. Só teríamos a ganhar em cuidar das
palavras que formam a gramática do amor, desvinculando-o de qualquer alusão que
implique submissão ou posse. Já está a acontecer há anos. Acelerou nos últimos tempos.
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Mas há ainda um caminho a percorrer.


3 Vitor Belanciano, “A gramática do amor”, in Público,
5 24 de janeiro de 2021 (texto com supressões)

1. De acordo com o primeiro parágrafo, as palavras


(A) comprometem a realidade.
(B) explicam as injustiças.
(C) asseguram os conflitos.
(D) aligeiram as discórdias.

2. A referência ao “amor romântico” (linha 11) tem como objetivo pôr em destaque
(A) um sentimento ultrapassado.
(B) um exemplo de inocência sentimental.
(C) um modelo de domínio, entre outros.
(D) uma crítica ao amor verdadeiro.

3. Atendendo ao conteúdo do terceiro e quarto parágrafos, depreende-se que o sentimento do amor


(A) surge de palavras carinhosas e intensas.
(B) desencadeia situações de submissão.
(C) assegura uma vivência plena de bem-estar.
(D) anula a existência de solidão e isolamento.

4. No último parágrafo, o autor acentua


(A) a insignificância das palavras no discurso amoroso.
(B) a beleza existente nas narrativas escritas sobre o amor.
(C) a lentidão que caracteriza a gramática do amor.
(D) a necessidade de se refletir sobre o discurso romântico.

5. As palavras sublinhadas no segmento “Há dias dei por mim a pensar nisso” (linha 15) são deíticos
(A) pessoais, nos dois casos.
(B) temporais, nos dois casos.
(C) pessoal e temporal, no primeiro caso, e pessoal, no segundo caso.
(D) pessoal, no primeiro caso, e temporal e pessoal, no segundo caso.

6. A oração “que formam a gramática do amor” (linhas 36 e 37) é


(A) subordinada adjetiva relativa restritiva, com função de modificador restritivo do nome.
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(B) subordinada adjetiva relativa explicativa, com função de modificador apositivo do nome.
(C) subordinada substantiva completiva, com função de complemento direto.
(D) subordinada substantiva relativa, com função de complemento do nome.

7. Identifique o tipo de modalidade e o respetivo valor presente na frase “Já está a acontecer há anos”
(linha 38).

GRUPO III

Escrita

O amor é um sentimento intenso associado à paixão e à vida a dois.


Mas será que o amor pode ser experienciado diariamente enquanto sentimento fundamental para o
bem-estar da humanidade?

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e
cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a presença do amor como ligação entre
todos os seres humanos e enquanto fator de desenvolvimento pessoal.

No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos,
cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

FIM

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