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Teste de avaliação – 11.

o Ano
1. A partir da leitura dos três primeiros parágrafos, apresenta, de forma fundamentada, duas
Versão 2
características da sociedade portuguesa oitocentista.

Nome _____________________________________________ Ano ________ Turma _________ N.o _______ 2. O narrador descreve, nas linhas 15 a 27, comportamentos antagónicos de Simão que indiciam uma
certa inconstância.
Identifica e justifica esses comportamentos.
Grupo I
3. Explicita o conflito interior da personagem presente nas linhas 27 a 32.
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A PARTE B

Lê o seguinte excerto do capítulo IV de Amor de Perdição. Se necessário, consulta as notas. Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.
CENA XI
Teresa ergueu-se sem lágrimas, e entrou serenamente no seu quarto. Tadeu de Albuquerque foi
O PRIOR DE BENFICA, o ARCEBISPO, MANUEL DE SOUSA, MADALENA, etc. MARIA, que entra
encontrar seu sobrinho, e disse-lhe: precipitadamente pela igreja em estado de completa alienação; traz umas roupas brancas,
– Não te posso dar minha filha, porque já não tenho filha. A miserável, a quem dei este nome, desalinhadas e caídas, os cabelos soltos, o rosto macerado1 mas inflamado com as rosetas héticas2,
perdeu-se para nós e para ela. os olhos desvairados: para um momento, reconhece os pais, e vai direita a eles. – Espanto geral;
5 Baltasar, que, a juízo de seu tio, era um composto de excelências, tinha apenas uma quebra: a 5 a cerimónia interrompe-se.
absoluta carência de brios. Malograda a tentativa do seu amor de emboscada, tornou para a terra o Maria – Meu pai, meu pai, minha mãe, levantai-vos, vinde. (Toma-os pelas mãos; eles obedecem
primo de Teresa, dizendo ao velho que ele o livraria do assédio em que Simão Botelho lhe tinha o maquinalmente, vêm ao meio da cena: confusão geral.)
coração da filha. Não aprovou a reclusão no convento, discorrendo sobre as hipóteses infamantes Madalena – Maria! minha filha!
que a opinião pública inventaria. Aconselhou que a deixasse estar em casa, e esperasse que o filho Manuel – Filha, filha!… Oh, minha filha!… (Abraçam-se ambos nela.)
10 do corregedor viesse de Coimbra.
10 Maria (separando-se com eles da outra gente, e trazendo-os para a boca de cena) – Esperai: aqui
não morre ninguém sem mim. Que quereis fazer? Que cerimónias são estas? Que Deus é esse que
Ponderaram no ânimo do velho as razões de Baltasar. Teresa maravilhou-se da quietação está nesse altar, e quer roubar o pai e a mãe a sua filha? – (para os circunstantes). Vós quem sois,
inesperada de seu pai, e desconfiou da incoerência. Escreveu a Simão. Nada lhe escondeu do espectros fatais?… quereis-mos tirar dos meus braços?… […] Pai, dá cá um pano da tua mortalha… dá
sucedido; nem as ameaças de Baltasar por delicadeza suprimiu. Rematava comunicando-lhe as suas cá, eu quero morrer antes que ele venha: (encolhendo-se no hábito do pai) quero-me esconder aqui,
suspeitas de algum plano de violência. 15 antes que venha esse homem do outro mundo dizer-me na minha cara e na tua – aqui diante de toda
15 O académico, chegando ao período das ameaças, já não tinha clara luz nos olhos para decifrar o esta gente: «Essa filha é a filha do crime e do pecado!……» Não sou; dize, meu pai, não sou… dize a
restante da carta. Tremia sezões1, e as artérias frontais arfavam-lhe entumecidas2. Não era essa gente toda, dize que não sou… (Vai para Madalena.) Pobre mãe! tu não podes… coitada!… não
tens ânimo… – nunca mentiste?… Pois mente agora para salvar a honra de tua filha, para que lhe não
sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o sangue. Ir dali a
tirem o nome de seu pai.
Castro Daire, e apunhalar o primo de Teresa na sua própria casa, foi o primeiro conselho que lhe 20 Madalena – Misericórdia, meu Deus!
segredou a fúria do ódio. Neste propósito saiu, alugou cavalo, e recolheu a vestir-se de jornada. Já Maria – Não queres? Tu também não, pai? – Não querem. E eu hei de morrer assim… e ele vem aí…
20 preparado, a cada minuto de espera assomava-se em frenesis3. O cavalo demorou-se meia hora, e o
seu bom anjo, neste espaço, vestido com as galas com que ele vestia na imaginação Teresa, deu-lhe CENA XII
rebates de saudade daqueles tempos e ainda das horas daquele mesmo dia em que cismava na
MARIA, MADALENA, MANUEL, o ROMEIRO e TELMO, que aparecem no fundo da cena, saindo detrás
felicidade que o amor lhe prometia, se ele a procurasse no caminho do trabalho e da honra.
do altar-mor.
Contemplou os seus livros com tanto afeto, como se em cada um estivesse uma página da história do
25 seu coração. Nenhuma daquelas páginas tinha ele lido, sem que a imagem de Teresa lhe aparecesse Romeiro (para Telmo) – Vai, vai; vê se ainda é tempo: salva-os, salva-os, que ainda podes…
25 (Telmo dá alguns passos para diante.)
a fortalecê-lo para vencer os tédios da continuada aplicação, e os ímpetos dum natural inquieto e
Maria (apontando para o romeiro) – É aquela voz, é ele, é ele. – Já não é tempo… Minha mãe,
ansioso de emoções desusadas. «E há de tudo acabar assim?, pensava ele, com a face entre as mãos, meu pai, cobri-me bem estas faces, que morro de vergonha… (esconde o rosto no seio da mãe)
encostado à sua banca de estudo. Ainda há pouco eu era tão feliz!... – Feliz!», repetiu ele, erguendo- morro, morro… de vergonha… (Cai e fica morta no chão. Manuel de Sousa e Madalena prostram-se
se de golpe. «Quem pode ser feliz com a desonra duma ameaça impune!... Mas eu perco-a! Nunca ao pé do cadáver da filha.)
30 mais hei de vê-la... Fugirei como um assassino, e meu pai será o meu primeiro inimigo, e ela mesmo 30 Manuel (depois de algum espaço, levanta-se de joelhos) – Minha irmã, rezemos por alma…
há de horrorizar-se da minha vingança... A ameaça só ela a ouviu; e, se eu tivesse sido aviltado4 no encomendemos a nossa alma a este anjo, que Deus levou para si. – Padre Prior, podeis-me lançar
conceito de Teresa pelos insultos do miserável, talvez que ela os não repetisse…» aqui o escapulário?
O Prior (indo buscar os escapulários ao altar-mor e tornando) – Meus irmãos, Deus aflige neste
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2006, p. 60. mundo àqueles que ama. A coroa de glória não se dá senão no Céu.
35 (Toca o órgão; cai o pano.)
1
sezões: febre intermitente ou cíclica. 2entumecidas: inchadas. 3frenesis: estado de exaltação violenta que põe o indivíduo fora de si. Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (fixação do texto por Maria João Brilhante),
4
aviltado: humilhado; rebaixado; desonrado. 3ª edição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994, pp. 224-229.

1
macerado: abatido, mortificado. 2héticas: manchas avermelhadas no rosto, comuns no rosto de quem sofre de tuberculose.

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano 1 2 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano
4. Tendo em conta a primeira didascália da Cena XI, transcreve as informações sobre o estado de Grupo II
espírito de Maria e comenta-as.
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.
5. Explicita dois elementos da tragédia presentes nas cenas XI e XII.
Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.
espaço.
Neste excerto, estão presentes algumas características estilísticas e linguísticas recorrentes em Guia para 2020. Uns puxões de orelha de Camilo
Frei Luís de Sousa, como, por exemplo, em: «É aquela voz, é ele, é ele. – Já não é tempo… Minha Outros hão de preferir começar o ano com as banais e desoladoras frases de motivação, essas
mãe, meu pai, cobri-me bem estas faces, que morro de vergonha…» (linhas 26 e 27). Nesta citação que como passas se engolem e não afetam o paladar nem dão trabalho ao estômago. Nós não.
ocorrem ____a)____ para enfatizar ____b)____.
O mundo pode estar velho, agastado, a sentir-se exausto, mas se lhe prometem algo novo, e
fresco, algo por estrear, ainda se aperalta, põe uma expressão doce, mostra-se ingénuo, disposto a
5 perdoar tudo. Tornou-se pródigo no que toca a esquecer. Finge-se se preciso, risca-se, vira-se a
a) b)
página, tentando quebrar o tempo... Só depois nos damos conta do quanto a nossa cabeça parece
1. a anáfora, as frases exclamativas, as antíteses e 1. a alienação dos pais e a sua decisão estremecer com todo o esquecimento, como se não lembrar fosse o seu grande cuidado, criar uma
a hipérbole de encetar uma vida religiosa barragem, impedindo o passado de afogar essa réstia de encantamento que mantemos em relação
2. a audição, as frases suspensas, as interjeições e 2. a surpresa dos circunstantes e a sua ao futuro. Mas e se nos virássemos logo no arranque deste ano para um fantasma incandescente, um
o pleonasmo piedade 10 monstro de lembranças? Afinal, a memória foi já a maior herança, e não deixa de nos lembrar que a
vida não corre num sentido apenas, mas nos atinge como um turbilhão.
3. a repetição, as frases inacabadas, os vocativos e 3. a compaixão do prior e o seu ato de
a metáfora misericórdia Assim, tomando em mãos as 1000 frases de Camilo Castelo Branco, uma edição do ano que
findou, com seleção de Luís Naves, escolhemos algumas. Não as mais encorajantes, nem os
4. a construção anafórica, as frases entrecortadas, 4. o desespero da personagem e a
estribilhos1 que se usam para dar o grito de partida, mas algumas que nos sacudam da ressaca, frases
os coloquialismos e a metonímia iminência da sua morte
15 das que sabem como bons puxões de orelha. Um guia para 2020 ou outro ano qualquer. Umas
poucas achas para se criar, não um fogo de lareira, mas um farol. É um convite para a abrasadora
obra que se divide em dramas mais sentimentais ou burlescos2, pedras de afiar de um génio que nos
diverte e entretém, nos ganha a confiança e surpreende; embebeda-nos, dá-nos sovas, diz-nos o pior
PARTE C e o melhor da vida, trata a morte sem pavor nem cerimónias, e uma obra que, passado bem mais de
20 um século, mesmo nessas cristalizações que, se inicialmente nos parecem datadas, acabam por
7. Lê o excerto seguinte. converter-nos, afeiçoar-nos a um modo de narrar muitíssimo matreiro, cheio de recados, que nos
«O tempo romântico é o da afirmação de direitos fundamentais da pessoa humana, em conexão passa um braço sobre os ombros, e que se parece mais, afinal, com uma forma de companheirismo.
direta com ideais revolucionários que o Romantismo, de resto, em parte inspirou: a liberdade, Naquela prosa está não apenas «o verniz dos mestres», mas encontra-se a língua portuguesa
a igualdade e a fraternidade. Esses ideais vêm a ser, por diversas vias de aproximação, «genuína, opulentada de todos os vocábulos que uma retentiva3 paciente é capaz de ir colher aos
relacionáveis com a busca do absoluto, em diversos âmbitos (amoroso, social, estético); com a 25 vernaculismos4 do povo e das bibliotecas», mas está ainda, como vincou Fialho de Almeida, «o
instrumento vivo e acirrante5 dum espírito de artista, que por profundo e multíplice, houve mister6,
vivência de comportamentos de rebeldia que colocam o sujeito em situação de rutura,
como os órgãos das catedrais, de exprimir por tubos de cobre a potência orquestral da sua voz».
relativamente a construções de vária ordem (sociais, morais, religiosas, estéticas).»
Por tudo isso, por outras tantas coisas mais, e por aquilo de que Camilo chegou a desculpar-se ao
Carlos Reis, «Herói», in Dicionário do Romantismo Literário Português leitor do seu tempo – «o estilo esfalfado7 com que venho a depravar-lhe o paladar, afeito8 às
(coord. de Helena Carvalhão Buescu), Lisboa, Editorial Caminho, 1997, p. 230 (texto adaptado).
30 apimentadas iguarias do romance» –, vale a pena hoje recuperar esta presença animadora, mesmo
(ou até mais) quando nos diz coisas terríveis. Uma prosa para desenjoar, por ser dura, às vezes
Escreve uma breve exposição na qual explicites, a partir das atitudes concretas das personagens molesta, mas que teimou no seu romantismo, na sua sagaz tradição em que o erudito e o popular
na ação, um traço de caráter comum a Manuel de Sousa Coutinho e a Simão Botelho. trocam fogo e se refletem como o céu e o inferno. «Eu canto o que escrevo», gabava-se ele, «e, se a
toada me destoa no tímpano, desmancho a oração em partes, ajusto-a de novo, calafeto-as9 de
A tua exposição deve incluir:
35 artigos, e pronomes, e conjunções, o mais afrancesadamente que posso, e sai-me uma coisa um
• uma introdução ao tema; pouco ininteligível, mas harmoniosa como um clarinete de romeiro em S. Torcato de Guimarães». […]
• um desenvolvimento no qual explicites uma característica de personalidade comum às duas Diogo Vaz Pinto, Jornal i, 2/1/2020
personagens, fundamentando com um exemplo pertinente para cada uma delas; (disponível em: http://ionline.sapo.pt, consultado em janeiro de 2020).
1
estribilhos: palavras ou expressões que alguém repete com frequência. 2burlescas: que incitam o riso por serem ridículos. 3retentiva:
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
faculdade de reter na memória. 4vernaculismos: purezas da linguagem. 5acirrante: estimulante. 6mister: necessidade. 7esfalfado: cansado;
sem força. 8afeito: acostumado. 9calafeto-as: vedo-as (frestas ou fendas).

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano 3 4 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens 11.o ano
1. De acordo com Diogo Vaz Pinto, na entrada de um ano novo, Grupo III
(A) suprimimos todas as memórias, mudando a forma de agir.
(B) é-nos difícil deixar o passado e encantarmo-nos com o futuro. Tanto em Frei Luís de Sousa como em Amor de Perdição, as famílias acabam por se desestruturar.
(C) procuramos esquecer o passado, crentes num futuro melhor.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
(D) imediatamente nos apercebemos que as memórias persistem.
e cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre o conceito de família de antigamente e
2. As frases selecionadas da edição 1000 frases de Camilo Castelo Branco dos dias de hoje.

(A) provocam-nos uma sensação de bem-estar e de otimismo.


No teu texto:
(B) correspondem a lugares-comuns pelo seu cariz corrente. – explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois
(C) proporcionam-nos alento pelo conteúdo encorajador. argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
(D) produzem em nós um efeito de alerta, uma consciencialização.

3. Do ponto de vista do autor, o leitor afeiçoa-se à obra de Camilo Castelo Branco pela
(A) forma como dá a conhecer formas de agir muito diferentes da sua.
Observações:
(B) diversidade temática e de abordagens que a aproximam da atualidade.
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
(C) visão pessimista e derrotista que transpõe para a abordagem dos temas. mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma
única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2020/).
(D) constância no tratamento dos temas, mesmo nos mais incomodativos.
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –,
4. Relativamente à língua portuguesa, a prosa de Camilo Castelo Branco há que atender ao seguinte:
(A) acerca-se, pelo seu vernaculismo, da linguagem popular. – um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
(B) caracteriza-se pela escassez de vocabulário erudito. produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
(C) aproxima-se, no domínio vocabular, do romance cultivado na época.
(D) ostenta uma multiplicidade e pureza vocabular de origens diversas.

5. A expressão «desmancho a oração em partes» (linha 34) configura um ato ilocutório


FIM
(A) assertivo.
(B) diretivo.
(C) expressivo. COTAÇÕES
(D) compromissivo. Item
Grupo
6. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões: Cotação (em pontos)

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
a) «de encantamento» (linha 8). I
16 16 16 16 16 8 16 104
b) «em dramas mais sentimentais ou burlescos» (linhas 16 e 17).
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
7. Classifica os deíticos sublinhados em «Eu canto o que escrevo» (linha 33). 8 8 8 8 8 8 8 56

III Item único


40
TOTAL 200

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