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Redação Jornalística –

Gênero Informativo
Material Teórico
Características do Texto Jornalístico

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Flavia Silveira Serralvo

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina F. Moreira
Características do Texto Jornalístico

• Reflexões Iniciais;
• Peculiaridades do Texto Jornalístico;
• Orientações Importantes.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer as principais características do texto jornalístico, com ênfase
nas estratégias utilizadas para produzir informações claras e precisas.
A partir de exemplos reais de notícias publicadas em veículos de
comunicação, vamos estudar algumas regras de redação, tais como:
extensão das frases, escolha de palavras, frases afirmativas e negativas,
voz ativa e voz passiva, além dos verbos declarativos “falar” e “dizer”.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Características do Texto Jornalístico

Reflexões Iniciais
Por que você escolheu estudar Jornalismo? Você já deve ter ouvido essa pergun-
ta antes, não é mesmo? E é bastante comum que os futuros jornalistas respondam
a essa questão dizendo que escolheram a carreira porque gostam de ler e escrever.
É esse o seu caso? Essas são, de fato, duas características bem importantes para
quem pretende atuar nessa área. Mas será que o texto jornalístico tem caracterís-
ticas específicas, que o diferenciam dos demais tipos de textos? É o que vamos ver
nesta Unidade.

Lage (2003, p.39) explica que “a comunicação jornalística é, por definição, re-
ferencial, isto é, fala de algo no mundo, exterior ao emissor, ao receptor e ao pro-
cesso de comunicação em si”. A consequência dessa característica é a utilização da
terceira pessoa na grande maioria dos textos. Assim, mesmo que o repórter tenha
testemunhado um fato, o uso da primeira pessoa é normalmente permitido apenas
em reportagens-testemunho e crônicas.

Você já deve ter ouvido falar nos termos ‘emissor’, ‘mensagem’ e ‘receptor’. Os
primeiros estudiosos da Comunicação preocuparam-se em sistematizar o processo
comunicacional. Para você ter uma ideia de como essa preocupação é antiga, as
primeiras reflexões a respeito da comunicação humana já ganhavam espaço entre
os filósofos gregos, entre eles, Aristóteles (HOHLFELDT, 2001, p.79).

Bom, não temos dúvidas de que o jornalismo é um tipo de comunicação (não é


por acaso que nosso curso faz parte das carreiras da Comunicação Social), mas será
que esse tal esquema da comunicação vale também para as produções jornalísticas?
Mesmo não havendo uma unanimidade (há quem seja contra a elaboração de
‘esquemas’ de qualquer natureza), podemos afirmar que, em jornalismo, a situação
mais comum é a de um emissor que se dirige a um grande número de receptores.
Lage (2003) destaca que esses receptores formam um número disperso e não
identificado, e é justamente aí que está um dos grandes desafios para o jornalista:
produzir mensagens claras e eficientes para uma quantidade tão grande de pessoas.
Squarisi e Salvador (2013, p. 22) descrevem essa realidade:
São pessoas de variados níveis de escolaridade. De variadas profissões.
De variadas faixas etárias. De variados interesses. O desafio do repórter é
se fazer entender por todos. Quem – apesar das diferenças – se aventurar
a ler uma reportagem, entrevista ou comentário deve ter a impressão de
que o texto foi escrito para ele.

Pesando bem, parece mesmo desafiador, não? E como é que se consegue isso?
É justamente aí que reside a função das aulas de Redação Jornalística. Mãos à obra!

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Peculiaridades do Texto Jornalístico
Durante todos os anos do ensino básico, você deve ter aprendido inúmeras re-
gras de escrita nas aulas de Língua Portuguesa e Redação, não é verdade? E você
pode ter certeza de que todas aquelas normas sobre o uso da vírgula, da crase, da
regência verbal e nominal, entre tantas outras, serão extremamente úteis e neces-
sárias para a produção de um bom texto jornalístico. Mas aqui, nessa disciplina,
nossa preocupação está em entender as artimanhas do texto jornalístico, especial-
mente para produção de informações jornalísticas do gênero informativo, que tem
características bastante específicas.

Se partirmos do princípio de que a mensagem jornalística tem a missão de atin-


gir um grande número de pessoas, então é fácil concluir que o texto precisa ser o
mais objetivo possível. Vamos imaginar que eu receba a tarefa de noticiar um aci-
dente e apresento as seguintes informações: “Um grave acidente deixou algumas
pessoas mortas e várias feridas na BR-116. A Polícia Civil já divulgou os nomes das
vítimas fatais, que foram encaminhadas ao IML”.

Você deve ter notado que esse texto é meio vazio, que não diz muita coisa. E por
que isso acontece? Porque ele peca num ponto essencial do jornalismo: a qualidade
das informações. Quando escrevo “algumas pessoas mortas e várias feridas”,
apresento termos vagos – e o bom texto jornalístico trabalha com quantidades
específicas. Quantas pessoas mortas e quantas feridas? Se no momento da
divulgação da informação ainda não houver números exatos, cabe informar ao
menos uma quantidade aproximada ou estimada.

A esse respeito, Lage (2006, p. 27) explica:


Não basta ser verdadeiro; é preciso parecer verdadeiro. Daí a aversão a
referências imprecisas. Não se escrever “alguns manifestantes” mas, sem-
pre que possível, “10, 12 ou 15 manifestantes”. Não se diz que uma vila
está “perto” de uma cidade; antes, procura-se informar qual a distância
em quilômetros ou tempo de viagem. A placa do carro, a hora exata do
desastre, o número de desabrigados pela enchente cumprem, no veículo
de massa, um efeito de realidade.

O desconhecimento recíproco de quem redige e de quem consome a notícia


reforça o empenho no detalhamento. O que será um “edifício alto” para
o leitor? O que ele acha que um “edifício alto” é para o redator? Quando
se escreve que o edifício tem tantos andares, elimina-se a perplexidade
contida nessas perguntas. Em outras palavras, os adjetivos cuja referência
varia de pessoa para pessoa são evitados. E, quando é preciso lidar com
grandezas para as quais não há referencial de consenso (por exemplo,
a capacidade de geração de uma usina hidrelétrica, considerando-se
que o veículo não é dirigido a técnicos), torna-se conveniente utilizar
comparações (por exemplo, “a usina é capaz de abastecer uma cidade de
50 mil habitantes”).

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UNIDADE Características do Texto Jornalístico

Outro ponto problemático no meu texto sobre o acidente: concluir que meu
receptor sabe qual é a BR-116. Por que não posso escrever dessa forma? Porque
meu texto é direcionado para um público grande e heterogêneo, portanto, preciso
escrever da forma mais clara possível para a maioria das pessoas – Rodovia
Presidente Dutra, em vez de BR-116. Além disso, sabemos que se trata de uma
das maiores rodovias do país, então, é recomendável que se diga em que trecho da
estrada aconteceu o acidente (de preferência, o nome da cidade, e não apenas em
que quilômetro).

Meu texto afirma ainda que “A Polícia Civil já divulgou os nomes das vítimas
fatais”. Temos aqui dois pontos importantes: se os nomes foram divulgados por
um órgão oficial, por que não cito no meu texto? Além disso, o uso do termo
“já” deve ser evitado, porque carrega consigo um juízo de valor (quem escreveu
demonstra acreditar que o processo aconteceu de maneira rápida). O mesmo vale
para “ainda”. Logo, o ideal é escrever apenas “A Polícia divulgou” (em vez de “já
divulgou”), ou, numa situação inversa, “A Polícia não divulgou” (em vez de “ainda
não divulgou”).w

E o uso da sigla IML? Será que preciso explicar o que significa? A resposta é sim!
Pode parecer óbvio para você o que significa IML, mas temos de lembrar sempre que
a informação jornalística precisa ser clara para o maior número possível de pessoas.

Vamos ver agora como essas informações foram divulgadas pelo jornal O Dia, em
19/11/2017. Este é o primeiro parágrafo do texto do jornalista Rafael Nascimento:
Rio - Um grave acidente envolvendo um ônibus deixou ao menos três
mortos e 33 feridos, na manhã deste domingo, na Rodovia Presidente
Dutra, em Paracambi, na Baixada Fluminense. De acordo com a Polícia
Rodoviária Federal (PRF), entre as vítimas fatais estão duas crianças e um
homem. A Polícia Civil confirmou as mortes de Eduardo de Miranda de
Lima, 1 ano, Diego Souza Santos, 10 anos, e Daniel Duarte Santos, 30
anos. O corpo dos três foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML)
de Nova Iguaçu. Ainda não há informações sobre a data e local de sepul-
tamento das vítimas.

Você notou como o texto original é bem mais completo de informações do que
aquela primeira versão vazia que eu apresentei? Aqui, o leitor fica sabendo que o
acidente foi com um ônibus, o que significa que muitas pessoas eram transportadas
ao mesmo tempo. Descobre também números precisos: 33 feridos e três mortos
(sendo duas crianças e um homem, cujos nomes e idades foram divulgados). Em
vez de BR-116, Rodovia Presidente Dutra, em Paracambi, na Baixada Fluminense
(veja ainda que a palavra “Rio”, antes do início do texto, também revela o local em
que o fato ocorreu). Além disso, a sigla IML veio precedida de sua explicação e da
cidade em que está localizado o Instituo Médico Legal (Nova Iguaçu). O jornalista
menciona que o local e a data do sepultamento das vítimas não foram divulgados
(você percebeu que ele utilizou o advérbio de tempo “ainda”?).

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Explor
Analise as duas frases abaixo:
a. “Não há informações sobre a data e local de sepultamento das vítimas”;
b. “Ainda não há informações sobre a data e local de sepultamento das vítimas”.
Que diferença faz para o texto a escolha da primeira ou da segunda frase? Em alguma delas,
você percebe um juízo de valor maior que na outra?

Se você quiser conferir o texto completo, vai observar que há ainda informações sobre a
Explor

causa, o horário do acidente e para qual destino o veículo se dirigia. Acesse o link:
https://goo.gl/osb2ub

Conhecidos autores sistematizaram algumas orientações importantes envolven-


do as especificidades do texto jornalístico. A seguir, você vai conhecer algumas
delas. Utilizamos como referências principais duas obras: Técnicas de codificação
em jornalismo (Erbolato, 1979) e A arte de escrever bem (SQUARISI; SALVA-
DOR, 2013).

Orientações Importantes
Segundo Erbolato (1979, p. 81), o segredo da boa notícia depende de como ela
chega ao leitor:
Os jornais se destinam à massa e, ao serem preparados, ignora-se a quem
chegarão os seus exemplares, que tanto poderão ser lidos pelo Presidente
da República, Ministros, Senadores, Governadores, Deputados, Prefeitos,
Vereadores, Embaixadores e cientistas, quanto por pessoas humildes, das
classes populares e apenas com curso primário. A linguagem, portanto,
deve ser correta e acessível a todos. O primeiro dever do jornalista é
conhecer as regras gramaticais, a fim de que seus textos não apresentem
erros graves.

O segredo da boa notícia depende da maneira compreensível como chega


ao receptor.

Como já havíamos comentado anteriormente, aqueles muitos anos de aulas


de Língua Portuguesa serão extremamente úteis agora! O que muda em relação
às tantas redações que produzimos na escola é a preocupação com o receptor,
ou seja, com a grande quantidade de pessoas diferentes que vão ler o texto e que
deverão pensar que aquela mensagem foi escrita para elas.

Você vai conhecer agora cinco orientações valiosas para a produção de um bom
texto jornalístico.

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UNIDADE Características do Texto Jornalístico

Extensão das Frases


Observe a frase a seguir:

A lista com 18 novos procedimentos que os planos de saúde serão obrigados a cobrir,
aprovada em novembro do ano passado, passa a valer a partir desta terça-feira (2),
incluindo exames, terapias e cirurgias, bem como a ampliação da cobertura para outros
sete procedimentos, tais como medicamentos orais contra o câncer e um remédio para
tratamento de esclerose múltipla, algo inédito no Rol de Procedimentos, segundo a ANS.

Apesar de ter sido escrita de maneira correta, com todas as pontuações neces-
sárias, a frase é longa demais e chega a se tornar confusa em uma primeira leitura.
De acordo com Squarisi e Salvador (2013, p.23), “o leitor só consegue dominar
determinado número de palavras antes que seus olhos peçam uma pausa.” As au-
toras sugerem que as sentenças tenham, no máximo, 150 toques.
Explor

Para aprender a fazer a contagem de toques ou caracteres no computador, acesse o link:


https://goo.gl/iU5vWK

Vamos ver quantos toques ou caracteres tem a frase acima? São 422 caracteres,
incluindo os espaços entre as palavras e o ponto final. Muita coisa, não? E agora,
o que podemos fazer para facilitar a vida do leitor? A resposta é simples: quebrar
a frase longa em frases menores. O ponto final está aí para ser usado! Vamos ver
como fica a mesma informação em sentenças mais curtas:

A lista com 18 novos procedimentos que os planos de saúde serão obrigados a cobrir,
aprovada em novembro do ano passado, passa a valer a partir desta terça-feira (2). São
exames, terapias e cirurgias (veja quais são no fim da reportagem).
Também será ampliada a cobertura para outros sete procedimentos, incluindo medica-
mentos orais contra o câncer e um remédio para tratamento de esclerose múltipla, algo
inédito no Rol de Procedimentos, segundo a ANS.

O texto acima foi publicado no site G1, no dia 02/01/2018, e corresponde ao primeiro e ao
Explor

segundo parágrafos da notícia “Planos de saúde passam a cobrir 18 novos procedimentos


a partir desta terça-feira”. Acesse o link para acessar o texto: https://goo.gl/uMQEtA.

Observe que, em vez de apenas um parágrafo, a mesma informação foi dividida


em dois. Uma frase extremamente longa passou a ser dividida em três. Agora, vamos
fazer a contagem dos toques ou caracteres de cada frase para ver o que mudou:

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• Frase 1:
» A lista com 18 novos procedimentos que os planos de saúde serão obrigados
a cobrir, aprovada em novembro do ano passado, passa a valer a partir desta
terça-feira (2);
» Total: 166 toques;
• Frase 2:
» São exames, terapias e cirurgias (veja quais são no fim da reportagem);
» Total: 71 toques;
• Frase 3:
» Também será ampliada a cobertura para outros sete procedimentos, incluin-
do medicamentos orais contra o câncer e um remédio para tratamento de
esclerose múltipla, algo inédito no Rol de Procedimentos, segundo a ANS;
» Total: 214 toques.

Você notou que, no texto original, não existe a explicação do significado da sigla ANS?
Explor

Será que todos os leitores do site G1 sabem que ANS significa Agência Nacional de Saúde
Suplementar? A partir de agora, com essas aulas, tenho certeza de que você passará a
fazer leituras muito mais atentas de conteúdos noticiosos e vai acabar observando alguns
“deslizes” nas normas do que é considerado um bom texto jornalístico, inclusive em grandes
veículos de comunicação.

Considerando o que propõem as autoras utilizadas como referência para esta


aula, observamos que apenas a frase 2 tem menos de 150 toques. A frase 1 está
um pouco mais longa do que o ideal, e a frase 3 está ainda maior. Será que é pos-
sível reescrever esses dois parágrafos do texto publicado no G1, atendendo à regra
de 150 toques por frase? Vamos tentar?

A lista com 18 novos procedimentos que os planos de saúde serão obrigados a cobrir
passa a valer a partir desta terça-feira (2). A relação foi aprovada em novembro do
ano passado. São exames, terapias e cirurgias (veja quais são no fim da reportagem).
Também será ampliada a cobertura para outros sete procedimentos. Entre eles,
estão medicamentos orais contra o câncer e um remédio para tratamento de
esclerose múltipla. A medida é inédita no Rol de Procedimentos, segundo a ANS.

Observe que agora passamos a ter seis frases divididas em dois parágrafos. Será
que conseguimos deixar todas elas com menos de 150 toques? Vamos ver:
• Frase 1:
» A lista com 18 novos procedimentos que os planos de saúde serão obrigados
a cobrir passa a valer a partir desta terça-feira (2);
» Total: 128 toques;

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UNIDADE Características do Texto Jornalístico

• Frase 2:
»» A relação foi aprovada em novembro do ano passado;
»» Total: 50 toques;
• Frase 3:
»» São exames, terapias e cirurgias (veja quais são no fim da reportagem);
»» Total: 71 toques;
• Frase 4:
»» Também será ampliada a cobertura para outros sete procedimentos;
»» Total: 64 toques;
• Frase 5:
»» Entre eles, estão medicamentos orais contra o câncer e um remédio para
tratamento de esclerose múltipla;
»» Total: 104 toques;
• Frase 6:
»» A medida é inédita no Rol de Procedimentos, segundo a ANS;
»» Total: 58 toques.

Squarisi e Salvador destacam que a frase curta tem duas vantagens. A primeira
delas é a diminuição do número de erros, porque não serão necessárias tantas con-
junções e vírgulas, por exemplo. A segunda vantagem é que, em sentenças curtas,
o texto tende a ser mais claro, o que nós já vimos que é primordial no jornalismo.

Qual das três versões apresentadas você, como receptor da informação, prefere ler? Você
Explor

concorda que frases mais curtas realmente tornam o texto mais claro e mais adequado para
um número grande de leitores com perfis diferenciados? Que tal pedir para um amigo ou
familiar ler as três versões apresentadas e descobrir se ele ou ela tem a mesma impressão
que você?

Escolha das Palavras


Há quem acredite que palavras têm poder. E parece que, para alguns, quanto
mais difíceis e rebuscadas as palavras, mais poderosas elas são. Pois o fato é que,
em textos jornalísticos, o ideal é que sejam usados termos simples e curtos, conhe-
cidos pela maioria das pessoas.

O texto abaixo foi retirado do discurso de posse de um Presidente da República:


Tão grave quanto a crise econômica e financeira se me afigura a crise
moral, administrativa e político-social em que mergulhamos. Vejo a ad-
ministração emperrada pela burocracia e manietada por uma legislação
obsoleta. Vejo as classes erguerem-se, uma a uma, contra a coletividade,

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coisas de vantagens particulares, esquecidas de que o patrimônio é de
todos. Vejo, por toda a parte, escândalos de toda a natureza. Vejo o favo-
ritismo, o filhotismo, o compadrio sugando a seiva da nação e obstando o
caminho aos mais capazes. Na vida pública, mal se divisa a distinção entre
o que é sagrado e o que é profano. Tudo se consente ao poderoso, nada
se tolera ao sem fortuna. (BRASIL, 2009, p. 13).

Você conseguiu entender tudo o que ele disse? O autor do discurso citado acima
é Jânio da Silva Quadros, que, apesar de ter governado o país em 1961, por ape-
nas sete meses, ficou famoso pelos discursos repletos de palavras refinadas.

Depois do que já estudamos até aqui, não é difícil concluir que cabe aos jornalistas
“traduzirem” discursos como esse, utilizando termos mais coloquiais e acessíveis
aos receptores.

O Manual de Redação e Estilo do jornal O Estado de S. Paulo destaca que


“o jornalista funciona como intermediário entre o fato ou fonte de informação e o
leitor” (MARTINS FILHO, 1997, p.16). Por essa razão, quem escreve o texto deve
sempre pensar se a informação será, de fato, compreendida pelo leitor. Assim, se
o entrevistado utilizar o termo “demanda, você pode usar procura, sem nenhum
prejuízo. Da mesma forma traduza patamar por nível, posicionamento por
posição, agilizar por dinamizar, conscientização por convencimento, se for o
caso, e assim por diante”.

Squarisi e Salvador (2013, p. 27) apontam que “Palavras longas e pomposas


funcionam como uma cortina de fumaça entre quem escreve e quem lê. Seja simples.
Entre dois vocábulos, prefira o mais curto. Entre dois curtos, o mais expressivo”.

A notícia a seguir é um exemplo de como pode ser complicado transmitir uma


informação de maneira clara para um público que não seja formado por especialistas:
A Agência Europeia de Medicina (EMA) aprovou a extensão do brentuxi-
mabe vedotina, comercializado como Adcetris® pela Takeda Oncologia,
para o tratamento de pacientes adultos com Linfoma Cutâneo de Células
T (LCCT), que passaram pelo menos por uma terapia sistêmica anterior.
A decisão teve como base a análise do estudo ALCANZA, que resultou
em taxas de 56% de resposta ao tratamento com brentuximabe vedotina
vs 13% com o comparador.

No Brasil, atualmente, o brentuximabe vedotina é aprovado como te-


rapia-alvo para o tratamento de linfoma de Hodgkin Refratário e Reci-
divado e linfoma Anaplásico de Grandes Células sistêmico Refratário e
Recidivado desde 2015. O medicamento tem como alvo apenas as células
cancerosas, diferente do que acontece com a quimioterapia, que não tem
a mesma seletividade e especificidade no seu mecanismo de ação. Esse
produto é composto por um anticorpo monoclonal ligado a uma substân-
cia destinada a destruir as células cancerosas.

A matéria, intitulada “Takeda recebe aprovação na Europa para o tratamen-


to de Linfomas Cutâneos com brentuximabe vedotina”, foi publicada no dia
21 de dezembro de 2017 no site do Jornal Dia Dia. Você considera que o texto

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UNIDADE Características do Texto Jornalístico

cumpriu sua função de informar o leitor? Procure observar como os textos da área
da saúde costumam ser de difícil compreensão. Nas situações em que for realmente
necessário o uso de termos técnicos, é fundamental explicá-los para o leitor, caso
contrário, a notícia não consegue cumprir sua função. Como aconselha Nilson
Lage (2006, p. 27), “O desconhecimento recíproco de quem redige e de quem
consome a notícia reforça o empenho no detalhamento”.
Explor

Takeda recebe aprovação na Europa para o tratamento de Linfomas Cutâneos com bren-
tuximabe vedotina: https://goo.gl/XbYVDC.

Afirmação ou Negação
Jornalismo trabalha com fatos, com acontecimentos, então “A regra é dizer o
que é, não o que não é” (SQUARISI; SALVADOR, 2013, p. 27). As autoras citam
alguns exemplos:

Quadro 1 – Substituição de frases negativas por afirmativas


Em vez de escrever: Escreva:
Não é honesto É desonesto
Não se lembra Esqueceu-se
Não deu atenção Ignorou
Não compareceu Faltou
Não pagou em dia Atrasou o pagamento
Não ganha um bom
Ganha mal
salário
Não chegará hoje Chegará no dia X
Fonte: SQUARISI; SALVADOR, 2013, p.27

Squarisi e Salvador enfatizam: “O não causa arrepios. Ninguém o ama, ninguém


o quer. Mostre-lhe o cartão vermelho” (2013, p. 28).

Que tal analisarmos alguns exemplos reais, de notícias publicadas por veículos
de comunicação? No dia 3 de janeiro de 2018, o jornal O Globo postou, em seu
site, uma matéria que também ganhou destaque na versão impressa do noticioso,
com o seguinte título: “Ampliação do BRS não sai do papel, e sistema já apresenta
vários problemas de conservação”. Logo abaixo do título, a linha-fina traz esta in-
formação: “Em 2017, Secretaria municipal de Transportes não implantou nenhum
quilômetro de corredores exclusivos”.

Você notou que tanto o título quanto a linha-fina apresentam frases negativas?
Vamos ver como ficariam essas informações em frases afirmativas:

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Quadro 2 – Matéria reescrita em frase afirmativa
Texto original Texto reescrito
Ampliação do BRS não sai do papel, e sistema já Ampliação do BRS fica no papel, e sistema apresenta vários
apresenta vários problemas de conservação. problemas de conservação.
Em 2017, Secretaria municipal de Transportes não Em 2017, a cidade continuou sem nenhum quilômetro de
implantou nenhum quilômetro de corredores exclusivos. corredores exclusivos.

Observe que, apesar de as frases terem mantido o mesmo sentido das originais,
elas parecem ter perdido “peso”. E por que isso ocorre? Porque o “não” carrega
consigo um conteúdo ideológico, o tal juízo de valor do qual falamos anteriormente.
No título original, a frase negativa “não sai do papel” ainda é acompanhada de “já
apresenta” (veja, no Quadro 2, que o termo “já” foi omitido na segunda versão).
No caso da linha-fina, foi preciso fazer uma alteração maior na frase para que ela
fosse transformada em afirmativa: “não implantou nenhum” tem dois elementos de
negação – “não” e “nenhum” –, sendo que o segundo poderia ter sido omitido sem
causar qualquer prejuízo à informação (“não implantou corredores exclusivos”).
No entanto, ao escrever “não implantou nenhum quilômetro”, há uma ênfase à
situação. Imagine que você fale, sobre um colega de trabalho: “ele não se esforçou”
ou “ele não fez nenhum esforço”. A segunda frase tem um teor crítico bem maior,
não é verdade?

Com esse exemplo, notamos que escrever frases negativas é algo que realmente
pode ser evitado, no entanto, a escolha das palavras em textos jornalísticos
raramente é feita de forma aleatória ou inocente. Na maioria das vezes, há uma
carga ideológica que pode passar despercebida por um leitor desatento (o que, pelo
menos a partir de agora, não vai mais acontecer com você!).

BRS (Bus Rapid System) significa Sistema Rápido de Ônibus. Trata-se de um corredor exclusivo
Explor

para ônibus que foi criado no Rio de Janeiro em 2011 para diminuir os congestionamentos e
aumentar a velocidade das viagens municipais. A sigla foi explicada pelo jornalista no primeiro
parágrafo do texto. Se quiser saber mais sobre o BRS, acesse o site: https://goo.gl/E8RiQY

Voz Ativa ou Voz Passiva


Observe as frases a seguir:
a) Depois de quase dois anos, as Coreias reabriram o canal de comunicação
na fronteira;
b) Depois de quase dois anos, o canal de comunicação foi reaberto na
fronteira pelas Coreias.

Apesar de escritas de maneiras diferentes, elas têm o mesmo sentido, trazem


exatamente a mesma informação. Mas, então, o que as diferencia? A primeira
delas foi escrita na voz ativa (“as Coreias reabriram”), e a segunda, na voz passiva
(“o canal de comunicação foi reaberto”).

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UNIDADE Características do Texto Jornalístico

Para Squarisi e Salvador, a voz ativa tem três vantagens: “Uma: é mais curta. Duas:
dispensa a praga do verbo ser. A última: soa mais direta, vigorosa e concisa que a
passiva. Dê-lhe preferência sempre que puder” (2013, p. 28).

A voz ativa tem, sim, suas vantagens, mas sabemos que toda regra tem exceção!
O que você deve levar em consideração no momento de escrever seu texto é
analisar o que você quer priorizar. Veja estes exemplos:
a) A polícia prendeu o ex-deputado Eduardo Cunha;
b) O ex-deputado Eduardo Cunha foi preso pela polícia.

Mais uma vez, a primeira frase está na voz ativa (“A polícia prendeu”), e a segunda
está na voz passiva (“Eduardo Cunha foi preso”). Nesse caso, você não acha mais
importante saber quem foi preso do que quem realizou a prisão? Principalmente
nos títulos, o destaque deve ser dado para o elemento mais importante e, por isso,
a voz passiva pode ser o melhor recurso.

Acesse o site de notícias de sua preferência e veja se as manchetes estão escritas na voz ativa
Explor

ou na voz passiva. Caso você encontre frases na voz passiva, veja se o recurso foi utilizado
para dar destaque a alguém ou a algum fato, e pense como a frase ficaria se fosse escrita na
voz ativa.

Falar ou Dizer
A escolha atenta das palavras que farão parte do seu texto jornalístico pode
garantir a clareza da informação que você pretende passar. Quanto mais precisos e
específicos os termos utilizados, melhor será o resultado final. Squarisi e Salvador
(2013) destacam a diferença entre os verbos “falar e dizer”.

“Falar” não é igual a “dizer”. Não é por acaso que existe a expressão “Falou, falou
e não disse nada”. Veja algumas frases em que o verbo “falar” é usado corretamente:
• Ele fala inglês fluentemente;
• O vereador falou com a população;
• Não quero falar sobre isso.

“Dizer”, por sua vez, é verbo declarativo, ou seja, tem sentido de declarar, afirmar:
• O presidente do sindicato disse que vai renunciar;
• Desconfio que ela não tenha dito toda a verdade;
• Não me diga que você já está cansado!

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Para saber qual dos dois verbos você deve utilizar no seu texto, as autoras dão
a seguinte dica:
Na dúvida, substitua o falar pelo dizer. Se der certo, o lugar é do verbo
dizer. Mande o falar pras cucuias: Ministro fala (diz) na TV que o dólar
vai baixar. O professor falou (disse) que vai aderir à greve. Quem falou
(disse) isso?

O falar tem arrepios quando acompanhado da conjunção que. Os dois são


inimigos desde que nasceram. Na presença do falar que, não duvide. Você
está diante de um usurpador. Ele fala, fala e nada diz. A gente tem de falar
e dizer. Devolva o posto ao dizer (SQUARISI; SALVADOR, 2013, p. 29).

E será que conseguimos encontrar ocorrências do verbo “falar” em textos de


notícias? Vamos ver! As sentenças a seguir foram retiradas da primeira página do
site UOL (www.uol.com.br) no dia 3 de janeiro de 2018:
• “Moraes diz que aceitaria Trabalho e critica ‘ingerência’ de Sarney”;
• “Prolongar a vida em UTIs é praga moderna, diz especialista”;
• “Jogador [Scarpa] não comunicou ausência, diz clube; meia reclama de atrasos”;
• “‘Passei por coisas quando era jovem e bonita’, diz Meryl Streep”;
• “Lula diz que irá ao RS para seu julgamento no TRF-4”;
• “Paris Hilton diz sim e vai se casar com galã de Hollywood”;
• “Família de Schumacher já gastou 110 mi em tratamento, diz jornal”.

Como você pôde ver, entre todas as publicações que ganharam destaque na
primeira página do UOL naquele dia, encontramos sete frases com o verbo “dizer”
e nenhuma com o verbo “falar”. Fica aqui, então, uma dica simples e muito preciosa
para a elaboração dos seus textos.

Importante! Importante!

Para que os seus textos não fiquem repletos de verbos “dizer”, lembre-se de utilizar outros
verbos declarativos. Veja alguns exemplos: acreditar, acusar, admitir, afirmar, anunciar,
apontar, comunicar, declarar, denunciar, negar, relatar, responder, solicitar, entre outros.
Para ter acesso a uma lista bastante completa, acesse o site: https://goo.gl/vXp4kU.

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UNIDADE Características do Texto Jornalístico

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Discursos selecionados do Presidente Jânio Quadros
https://goo.gl/uN3f4v

 Leitura
Manual de Redação - uso de verbos declarativos nos jornais
https://goo.gl/Wiiegz
Após ‘Dilmês’, conheça o dialeto ‘Temerês’ do vice-presidente Michel Temer
https://goo.gl/Zq1Upj
Outras Palavras”, de Caetano Veloso
https://goo.gl/vZr95d
Palavras difíceis
https://goo.gl/fhxkhv

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Referências
ATAIDE, J. M. de. Entrevista jornalística: verbos e locuções adverbiais. Di-
sponível em <http://correntesdepalavras.forumeiros.eu/t62-listagem-de-introdu-
tores-de-discurso>. Acesso em 3 de janeiro de 2018.

BRASIL. Presidente (1961). Discursos selecionados do Presidente Jânio Quad-


ros. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009.

CANDIDA, S. Ampliação do BRS não sai do papel, e sistema já apresenta


vários problemas de conservação. Disponível em <https://rjbr.org/r/rio-de-
janeiro/transportes/brs/o-brs/>. Acesso em 3 de janeiro de 2018.

ERBOLATO, M. L. Técnicas de codificação em jornalismo. Petrópolis:


Vozes, 1979.

G1. Planos de saúde passam a cobrir 18 novos procedimentos a partir desta


terça-feira. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/noticia/planos-de-
saude-passam-a-cobrir-18-novos-procedimentos-a-partir-desta-terca-feira.ghtml>.
Acesso em 2 de janeiro de 2018.

HOHLFELDT, A.; MARTINO, L. C.; FRANÇA, V. V. (Org.). Teorias da comuni-


cação: conceitos, escolas e tendências. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

LAGE, N. Estrutura da notícia. São Paulo, Ática, 2006.

________. Linguagem jornalística. São Paulo, Ática, 2003.

MARTINS FILHO, E. L. Manual de redação e estilo de O Estado de S. Paulo.


São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1997.

NASCIMENTO, R. Acidente grave com ônibus deixa ao menos três mortos em


Paracambi. Disponível em <http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-11-19/
acidente-grave-com-onibus-deixa-ao-menos-tres-mortos-em-paracambi.html>.
Acesso em 2 de janeiro de 2018.

SANTOS, R. Takeda recebe aprovação na Europa para o tratamento de Lin-


fomas Cutâneos com brentuximabe vedotina. Disponível em <http://jornaldia-
dia.com.br/2016/?p=372732>. Acesso em 2 de janeiro de 2018.

SQUARISI, D.; SALVADOR, A. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto, 2013.

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