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Desenvolvendo a competência comunicativa

em gêneros da escrita acadêmica


Sebastião J. Votre
Vinícius C. Pereira
José C. Gonçalves

Desenvolvendo a competência comunicativa


em gêneros da escrita acadêmica

Niterói, RJ - 2010
UFF/PROAC/NEAMI
Copyright © 2009 by Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

V972 Votre, Sebastião J.; Pereira, Vinícius C.; Gonçalves, José C.


Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica/Sebastião
Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves/Niterói: EdUFF, 2009.

94 p.; il. 29,7 cm – (Apoio ao aluno calouro, livro-texto 1).


inclui bibliografias.
ISBN 978-85-228-0531-0
1. Manuais 2. Aprendizagem I. Título II. Série.
CDD 808.02

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Tania de Vasconcellos
Sumário

Introdução......................................................................... 7

Unidade 1
Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas........................ 9

Unidade 2
Coesão textual...................................................................21

Unidade 3
Coerência textual................................................................32

Unidade 4
Argumentação....................................................................41

Unidade 5
Fichamento, resumo e resenha................................................53

Unidade 6
Relatório e projeto..............................................................63

Unidade 7
Artigo científico e monografia de conclusão de curso......................75

Unidade 8
O domínio da norma-padrão...................................................81
Introdução

Este manual tem a finalidade de ajudá-lo a conhecer e utilizar de modo adequado o estilo aca-
dêmico. Você pode estudar cada unidade na ordem em que aqui se encontra ou ir diretamente para
a unidade que lhe interessa. Por exemplo, se estiver com alguma dificuldade de natureza gramatical,
vá para a última unidade e veja o que lá oferecemos.
O manual contém oito unidades, voltadas para o domínio da escrita acadêmica, com ênfase
nos gêneros textuais que a caracterizam. A primeira unidade apresenta os modos de organização
textual e sua manifestação em cada gênero. Descreve e comenta, brevemente, o conteúdo, a forma
e a função dos modos de organização textual. Apresenta também informações sobre os gêneros que
escolhemos.
Seguem-se três unidades, sobre coesão, coerência e argumentação, com textos ilustrativos,
atividades e reflexões, com vistas a ajudá-lo no desempenho intelectual. Estas unidades têm o ob-
jetivo de fazê-lo escrever de forma coerente, mantendo coesão entre as partes e, sobretudo, com
argumentos capazes de convencer seu leitor do que você está propondo.
Vêm então as unidades específicas que escolhemos, organizadas em termos de utilização ime-
diata e em nível de complexidade. Portanto, você trabalhará, de imediato, com os gêneros fichamen-
to, resenha e resumo; em seguida, lidará com as características do projeto de pesquisa e do relatório,
para, por fim, familiarizar-se com as propriedades da monografia e do artigo científico.
Optamos por incluir uma unidade de suporte geral para quem escreve, em que constam ques-
tões e problemas de escrita. É uma unidade inovadora, no sentido de que os problemas que aí se
analisam são pontos controversos, com que nos defrontamos no dia a dia da produção de textos no
meio universitário.
Em cada unidade, mostramos o que vamos fazer, o que propomos que você faça, para alcançar
os objetivos da unidade e em seguida apresentamos o núcleo da unidade, com introdução, desenvol-
vimento e conclusão. As unidades são permeadas de atividades de reflexão e escrita, propostas para
o domínio das habilidades acadêmicas. Oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade
e concluímos a unidade com referências bibliográficas e on-line.
Por se tratar de um manual para escrita de textos, tomamos alguns cuidados na seleção dos
textos com que trabalhamos. Esses textos representam bem o gênero que está sendo estudado, são
coesos e coerentes e apresentam argumentação confiável. São escritos de forma clara e são breves.
Cuidamos também do nosso próprio estilo, em que procuramos interagir com você de forma
cooperativa, com linguagem acessível e clara. Procuramos incluir atividades relevantes para você
executar, à medida que trabalha cada unidade. Essas atividades têm respostas previsíveis, de modo
que oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade.

Então? Mãos à obra?

Um abraço,
Os autores
Unidade 1 maior, de textos informativos. Tal diferença nos
objetivos do locutor (quem escreve ou fala) e do
interlocutor (quem ouve ou lê) implica também
Gêneros e tipos textuais – macro diferenças na estruturação do texto e na organi-
zação da informação. Veja que, por ser um mate-
e microestruturas
rial didático, este texto que você está lendo tem
características muito próprias, como uma lin-
Apresentando a unidade guagem clara e direta, ilustrações e exemplifica-
ções. Já o jornal, por ser produzido diariamente
e apresentar informações que são lidas e descar-

B
em-vindo! Você está iniciando o seu curso tadas muito rapidamente – pois no dia seguin-
de análise e produção de texto acadêmi- te já há novas notícias –, tende a ser um texto
co. Neste curso você vai aprender primei- muito mais breve. Além disso, a maior parte das
ro a reconhecer e depois a produzir os diversos reportagens de um jornal têm caráter narrativo,
gêneros textuais da escrita acadêmica. Você vai isto é, verbos que indicam ação, personagens,
aprender olhando, examinando, entendendo e narrador etc. Já este manual tem caráter expo-
depois redigindo os diversos textos que circu- sitivo, pois, em vez de encadear ações, agrupa
lam no mundo acadê- ideias abstratas de modo lógico.
mico. Como já dizia Como você pode perceber, existem inúme-
Confúcio (151 a.C.): ros gêneros textuais com os quais convivemos,
“O que eu ouço, eu es- dentro e fora da universidade. Neste manual,
queço. O que eu vejo, você aprenderá a ler e escrever os gêneros típi-
eu lembro. O que eu cos do meio acadêmico. Antes, porém, observe
faço, eu entendo.” a seguir os fatores que determinam as caracte-
rísticas de forma e conteúdo de cada um desses
Definindo os objetivos gêneros:
Tempo: Refere-se a diferenças cronológi-
Ao final desta unidade, você deverá ser cas, do ponto de vista cultural, social, político
capaz de: e econômico, bem como aos graus de conheci-
1. compreender a noção de tipo mento compartilhado entre o produtor e o re-
textual e de gênero textual; ceptor dos textos, no momento da produção e
2. reconhecer os tipos textuais ex- recepção. Diferentemente dos gêneros da intera-
positivo e argumentativo; ção oral face a face, nos textos de escrita aca-
3. identificar tipos e funções dos parágrafos; dêmica o produtor e o leitor geralmente estão
4. redigir com clareza os diferentes tipos de pará- situados em diferentes momentos e é, portanto,
grafos. necessário explicitar as informações básicas
para contextualizar a informação.
Conhecendo os Lugar: Designa o lugar físico da produção
gêneros textuais e recepção dos textos (escola, escritório, casa,
empresa, mídia), bem como a posição social do
De acordo com os Parâme- produtor e do receptor na interação (aluno, em-
tros Curriculares Nacionais – PCNs –, ensinar lín- pregado, redator, jornalista, professor, cliente,
gua significa ensinar diferentes gêneros textuais. amigo). Você, quando escrever um texto acadê-
O gênero é uma unidade de linguagem em uso, na mico, vai estar num lugar físico e ocupar um pa-
vida real, inserida numa moldura comunicativa pel social diferentes dos lugares físicos e sociais
de interlocutores e intenções. Assim, dependen- dos seus possíveis leitores e/ou destinatários.
do do tipo e do teor da informação que quere- Objetivo da interação: Qual o efeito que
mos comunicar, utilizamos gêneros diferentes, o seu texto deve e espera produzir no recep-
geralmente convencionados em sociedade. tor, isto é, para que serve o texto? Quando você
Perceba, por exemplo, que a finalidade escreve um texto, quais são as suas intenções?
deste manual é diferente da de um jornal, em- Será que a sua intenção comunicativa vai ser
bora ambos sejam agrupados em uma categoria igual à interpretação do seu possível leitor?
10 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

Canal: Que canal é utilizado para a intera- O presidente sobrevoou as cidades de Ita-
ção entre o produtor e o receptor do texto: pa- jaí, Luiz Alves e Navegantes. “Sou de uma região
pel, vídeo, e-mail, livro, revista, chat, videocon- em que as pessoas passam mais da metade do
ferência, telefone, telegrama, carta? Em outras ano pedindo para que chova. Em Santa Catarina,
palavras, qual o meio que você vai utilizar para a temos que pedir a Deus para parar de chover.”
transmissão da mensagem? Lula assinou, nesta quarta, uma medi-
Grau de formalidade da situação: A conju- da provisória liberando R$ 1,6 bilhão para aju-
gação dos quatro fatores acima vai determinar o dar na recuperação de estradas, casas e para
grau de formalidade da situação. Numa interação ações da Defesa Civil e das Forças Armadas.
face a face entre amigos, num bate-papo, o nível O dinheiro será usado para ajudar não só Santa Ca-
de formalidade é bem baixo. Uma interação face tarina, mas também outros estados que venham a
a face num julgamento no tribunal vai ser muito sofrer com as fortes chuvas previstas para o verão.
mais formal. Igualmente, um gênero de escrita Luciana Rossetto
acadêmica, como o ensaio, é muito mais formal
do que um bilhete ou um e-mail informal, trocado Conhecendo os
entre colegas de trabalho. tipos textuais

Os diferentes tipos textuais


Exercitando não são mutuamente exclusivos. De forma geral,
Antes de avançar para um novo assunto, um gênero textual é composto de vários tipos
que tal pôr em prática o que você acabou de ver textuais, dependendo das diferentes funções que
na unidade? Se você encontrar dificuldades para o autor quer atingir. No exemplo usado na Ativi-
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui dade 1, pode-se notar que o gênero notícia utiliza-
estudado. se de estruturas narrativas, para contar o que foi
feito pelo presidente Lula, e de estruturas descri-
Atividade 1 tivas, para descrever a situação das cidades nas
Leia atentamente o texto abaixo e respon- enchentes e algumas medidas implementadas
da às seguintes perguntas: para tentar resolver o problema. Como vários
1. Que informações sobre a realidade brasileira tipos de organização textual podem ocorrer em
esse texto recupera? um mesmo gênero, busca-se caracterizar o seu
2. A quem se destina o texto? Quais são as carac- modo de organização predominante. Assim, no
terísticas que evidenciam o destinatário? exemplo acima, o modo de organização textual
3. Que conhecimentos são necessários para que predominante é o narrativo, com verbos usados
o leitor compreenda as informações subentendi- geralmente no pretérito perfeito, como se vê no
das no texto? seguinte trecho da notícia:
4. A que gênero esse texto pertence? Quais são O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu
as características principais da composição des- uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira
se gênero? (26) no aeroporto de Navegantes, em Santa Cata-
rina, após sobrevoar a região afetada pela chuva
“É a pior calamidade ambiental que nos últimos dias. “É a pior calamidade ambiental
já enfrentamos”, diz Lula, em SC que já enfrentamos”, afirmou. Ele retornou a
Brasília por volta das 17h15.
O presidente Luiz No restante do texto, vários verbos na
Inácio Lula da Silva deu terceira pessoa do pretérito perfeito também
uma entrevista coletiva ocorrem, como: sobrevoou e assinou. Pode-se
na tarde desta quarta- afirmar então que o gênero notícia utiliza-se pre-
feira (26) no aeroporto dominantemente do modo de organização narra-
de Navegantes, em San- tivo para relatar os fatos ocorridos.
ta Catarina, após sobrevoar a região afetada pela Os tipos textuais são caracterizados pelas
chuva nos últimos dias. “É a pior calamidade sequências linguísticas predominantes (esco-
ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele re- lhas de palavras, estruturas gramaticais, tempos
tornou a Brasília por volta das 17h15. verbais, relações lógicas).
Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica 11

Portanto, os gêneros textuais podem se suem finalidades específicas, conforme vemos


constituir em diversos tipos textuais, que pos- abaixo:

TIPOS TEXTUAIS FINALIDADE


Descritivo Caracterizar a paisagem, o ambiente, as pessoas e os objetos.

Narrativo Contar fatos reais ou imaginários ou relatar acontecimentos que ocorreram


em determinado lugar e tempo, envolvendo os participantes em ação e movi-
mento no transcorrer do tempo.

Expositivo Apresentar informações sobre assuntos, idealmente de forma isenta e impes-


soal. Expor ideias, pensamentos, doutrinas, teses, argumentos e contra-argu-
mentos. Envolve refletir, explicar, avaliar, conceituar, analisar, informar.

Argumentativo Convencer, influenciar, persuadir as pessoas para realizar ações e alcançar


objetivos. Consiste no emprego de provas, justificativas, com o objetivo de
apoiar ou refutar teses. Envolve raciocínio para provar ou negar proposições.

Injuntivo Dizer como fazer ou realizar ações; descrever e prescrever regras, normas
para uso e regulação de comportamentos.

Dialogal Interagir, por meio de troca interpessoal de ideias, sentimentos e informações


sobre diferentes temas.

No meio acadêmico, podem ser encontra- fias, artigos de divulgação científica, resumos
dos todos os tipos textuais, concretizados em de artigos, de livros, de conferências, resenhas,
gêneros textuais diferentes. Um relatório, por comentários, projetos, manuais de ensino, bi-
exemplo, utiliza-se de características descriti- bliografias, fichas catalográficas, currículos vi-
vas, para avaliar algo. A metodologia encontra- tae, memoriais, pareceres técnicos, sumários,
da em um artigo, por sua vez, é predominan- bibliografias comentadas, índices remissivos,
temente narrativa, pois apresenta a sucessão glossários etc.
dos passos adotados por um pesquisador na
condução de seu estudo. Um resumo é um texto Modalidade oral: palestras, conferências,
expositivo, em que se apresentam, de forma im- debates, entrevistas, seminários, apresentações
pessoal, as informações presentes em um outro em congressos, arguições etc.
texto. Um ensaio, no entanto, por conter uma
tese defendida acerca de determinado assun-
to, possui características predominantemente
argumentativas. Este manual, como os demais Exercitando
materiais didáticos, além do caráter obviamen- Antes de avançar para um novo assunto,
te expositivo, tem também uma feição injunti- que tal pôr em prática o que você acabou de ver
va, na medida em que ensina como proceder na na unidade? Se você encontrar dificuldades para
escrita acadêmica. Por fim, os gêneros orais da realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
vida universitária, como a arguição, por exem- estudado.
plo, estão intimamente ligados ao tipo textual
chamado dialogal, em que a interação locutor- Atividade 2
interlocutor é primordial. Leia atentamente o texto abaixo, “Dimen-
Veja a seguir outros gêneros discursivos do são e horizonte de investimento em carteiras
domínio acadêmico, tanto na modalidade escrita imunizadas: uma análise sob a perspectiva das
quanto na modalidade oral da comunicação. entidades de previdência complementar”, retira-
do da READ – Revista Eletrônica de Administra-
Modalidade escrita: temos artigos cien- ção. A que gênero textual ele pertence? Qual é o
tíficos, relatórios científicos, notas de aula, di- modo de organização textual nele predominan-
ários de campo, teses, dissertações, monogra- te? Justifique suas respostas.
12 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

Dimensão e horizonte de investimento É preciso que compreendamos cada pará-


em carteiras imunizadas: uma análise grafo como um pequeno texto, o qual deve ter
sua estrutura reconhecida. Inicialmente, vamos
sob a perspectiva das entidades de
observar alguns exemplos de parágrafos bem
previdência complementar construídos e proceder a sua análise:

O termo imunização denota a construção de Lula repassa terras da União a Roraima


uma carteira de títulos de forma a torná-la imune a e diz que está pagando dívida
variações nas taxas de juros. No caso das entida-
des de previdência complementar, o objetivo da O presidente Luiz Inácio Lula da Silva as-
imunização é distribuir os recebimentos interme- sinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma
diários e finais dos ativos de acordo com o fluxo medida provisória repassando 6 milhões de hec-
de pagamentos dos benefícios. Em geral, quanto tares (60 mil quilômetros quadrados) de terras
maior a classe de alterações na estrutura a termo da União para Roraima. O repasse equivale a
das taxas de juros, mais restritivo se torna o mo- 25% da área total do estado e é 50% maior que a
delo. O artigo busca comparar o desempenho de Suíça (41,2 mil quilômetros quadrados).
modelos de gestão de risco de taxa de juros que, Segundo Lula, o governo está pagando
baseados em alternativas distintas de programa- uma “dívida” que tem com Roraima desde a
ção matemática, objetivam garantir o pagamento “celeuma da reserva indígena Raposa Serra do
do fluxo futuro de benefícios. Embora exista uma Sol”. O governador do estado, José de Anchieta
vasta literatura sobre o aspecto estatístico e so- Júnior, negou que esteja recebendo uma espé-
bre o significado econômico dos modelos de imu- cie de recompensa por ter perdido parte do seu
nização, o artigo inova ao prover uma análise de- território por causa da demarcação da reserva
talhada do desempenho comparado dos modelos, indígena.
sob três perspectivas complementares: o método [...]
escolhido, a dimensionalidade e, ainda, o horizon- (Jeferson Ribeiro Do G1, em Brasília)
te de investimento. A análise permite concluir que
os modelos de imunização tradicional, quando O trecho acima, retirado de uma notícia,
examinados sob a ótica conjunta da redução do é composto por dois parágrafos. Analisando-se
risco, das restrições impostas à formatação da cada um deles, vemos que são compostos por
carteira e dos custos de transação associados, mais de uma frase. Tal fato nos sugere não escre-
são mais eficientes, no médio e longo prazo, que ver parágrafos de uma única frase enorme, pois
os modelos multidimensionais de gestão do risco isso dificulta a compreensão do leitor. Para que
de taxa de juros, os quais se mostram superiores a leitura seja fácil e agradável, os sinais de pon-
apenas na gestão restrita ao curto prazo. tuação devem estar devidamente empregados e
Sérgio Jurandyr Machado - IBMEC-SP as frases devem ter um tamanho razoável.
Antonio Carlos Figueiredo Pinto - PUC-RJ Atente para a seleção das frases empre-
gadas em cada parágrafo. No primeiro deles há
Conhecendo a estrutura uma frase principal, que o resume e apresenta a
do parágrafo ideia central: “O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assinou, nesta quarta-feira (28), um decreto
Na primeira parte desta unida- e uma medida provisória repassando 6 milhões
de, você aprendeu a diferenciar tipos e gêneros tex- de hectares (60 mil quilômetros quadrados) de
tuais, e como essas categorias se combinam na hora terras da União para Roraima”. A essa frase ini-
de produzir um texto. Assim, nossa preocupação ini- cial, chamamos de frase-tópico.
cial era a macroestrutura textual, isto é, a compreen- A frase-tópico é, geralmente, a primeira
são da estruturação geral dos textos acadêmicos. frase do parágrafo. Sua função é expor de forma
A partir de agora, voltamos nossas aten- resumida a ideia geral, que será desenvolvida
ções para a microestrutura textual, ou seja, as nas outras frases. Observe agora o segundo pe-
partes menores que compõem um texto. Para ríodo do parágrafo: “O repasse equivale a 25%
efeitos didáticos, vamos trabalhar com uma uni- da área total do estado e é 50% maior que a Suí-
dade conhecida por todos os alunos: o parágrafo. ça (41,2 mil quilômetros quadrados)”. Essa frase
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desenvolve a frase-tópico na medida em que dá 1. Meus dois professores são totalmente


informações complementares acerca do repasse diferentes em aparência, comportamento e per-
mencionado na frase anterior. sonalidade.
Analisemos agora o segundo parágrafo, 2. O futebol está se tornando popular nos
cuja frase-tópico é: “Segundo Lula, o governo Estados Unidos graças à simplicidade do equipa-
está pagando uma ‘dívida’ que tem com Rorai- mento, das regras e das habilidades envolvidas.
ma desde a ‘celeuma da reserva indígena Rapo- 3. A paisagem, as praias, e o carnaval tor-
sa Serra do Sol’”. Tal frase apresenta como ideia nam o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa.
principal do parágrafo a opinião do presidente Já as frases-tópico seguintes fazem afirma-
diante da questão da reserva indígena. Porém, ções acerca de assuntos mais especializados, de
é bom complementar a frase-tópico, para que o modo que você deve buscar algumas informa-
texto se torne mais coeso e informativo. O au- ções sobre eles antes de tentar desenvolvê-las.
tor desenvolveu essa frase principal com uma 4. Astronomia é uma ciência fascinante.
relação de oposição, ao escrever: “O governador 5. A adaptação animal é imprescindível
do estado, José de Anchieta Júnior, negou que para a sobrevivência das espécies.
esteja recebendo uma espécie de recompensa 6. A intensa miscigenação teve importan-
por ter perdido parte do seu território por cau- tes consequências para a formação do povo
sa da demarcação da reserva indígena”. O autor brasileiro.
do texto poderia inclusive iniciar esse segundo Na seção anterior, vimos como um pará-
período por um conectivo que expressasse opo- grafo se constitui em linhas gerais: uma frase-
sição, como porém, contudo, todavia etc. tópico e frases de suporte, podendo ainda haver
Veja ainda que há muitas formas de desen- uma frase de conclusão. Da mesma forma, um
volver a ideia central fixada e exposta na frase- ensaio, uma redação, um artigo científico ou um
tópico: definições, enumerações, comparações, texto expositivo ou argumentativo também têm
contrastes, razões, análise, exemplos, fatos, essa estrutura de três partes: um parágrafo in-
estatísticas, citações, ilustrações, evidências e trodutório, parágrafos de suporte e um parágra-
contraevidências da ideia apresentada na frase- fo de conclusão.
tópico. As frases de suporte fornecem as dife-
rentes especificações que explicam, delimitam, O parágrafo de introdução
reforçam, contradizem ou expandem a ideia cen-
tral exposta na frase-tópico. A principal característica de um parágrafo
de introdução é a presença da tese, ideia central
do texto. Em um texto expositivo, a tese é uma
informação principal, ampla, dentro da qual há
Exercitando uma série de outras informações que serão apre-
Antes de avançar para um novo assunto, sentadas nos parágrafos subsequentes. Em um
que tal pôr em prática o que você acabou de ver texto argumentativo, a tese é o ponto de vista
na unidade? Se você encontrar dificuldades para que o autor defende, inserido em um tema mais
realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui amplo, o qual também deve ficar claro logo no
estudado. primeiro parágrafo.
É de suma importância que a tese seja
Atividade 3 apresentada com clareza, pois isso facilita a lei-
Algumas das frases-tópico seguintes di- tura do texto, bem como sua escrita, visto que
zem respeito a conhecimento compartilhado na impede que você fuja ao tema. Ao longo do texto,
cultura local e nacional, de modo que podem ser tente sempre que possível remeter o que escreve
desenvolvidas imediatamente após a leitura das nos demais parágrafos à tese, afinal tal estratégia
mesmas. Outras supõem conhecimento especia- garante unidade, coesão e coerência ao texto.
lizado e só podem ser aprofundadas após con- Há mais de uma maneira de redigir um pa-
sulta a fontes de informação. Comecemos pelo rágrafo introdutório, embora este deva sempre
primeiro grupo. Leia-as e escreva parágrafos que situar o tema geral do texto e a tese. A seguir, va-
com elas se iniciem, acrescentando frases de su- mos analisar diferentes parágrafos de introdução
porte/desenvolvimento. redigidos acerca do mesmo tema: o crescimento
14 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

da violência na contemporaneidade. Atente para inicial que situa a tese no tema geral ao
os diferentes recursos usados em cada parágra- qual pertence. Como no exemplo abai-
fo e perceba que uma mesma temática pode ser xo, a ambientação pode ser a definição
introduzida de diferentes maneiras. Com a práti- de um conceito-chave para a argumen-
ca, você logo selecionará as estratégias com que tação acerca do tema proposto.
se sente mais à vontade.
Segundo Houaiss (2008), violência é “cons-
1. Abordagem-padrão – Neste tipo de in- trangimento físico ou moral exercido sobre al-
trodução, apresenta-se primeiramente guém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade
a tese e logo a seguir enumeram-se os de outrem; coação”. Tal definição explicita uma
argumentos que serão desenvolvidos faceta da violência por vezes esquecida: a dimen-
ao longo do texto (cada um desses ar- são moral. Do mesmo modo como a agressão fí-
gumentos corresponderá a cada um dos sica pode causar danos irreparáveis, a ofensa e
parágrafos de desenvolvimento subse- a injúria deixam sequelas para sempre, devendo
quentes). Veja o exemplo abaixo: haver, portanto, preocupação social no combate
a esse problema.
É indiscutível que a violência cresce de
forma exponencial nos dias de hoje, como não 3. Questionamento(s) – A ambientação
cessam de informar os meios de comunicação. pode também ser composta por per-
Tal fato acarreta mudanças drásticas na arqui- guntas que convidem o leitor à reflexão
tetura urbana, como a construção de grades por acerca do tema. No entanto, tome o cui-
toda a parte, em uma tentativa de prender a si, dado de, após essas perguntas, afirmar
já que o assustador Outro não cabe por inteiro na sua tese. Não deixe também de respon-
cadeia. Mudam também as ofertas de emprego, der a todas as perguntas ao longo de
com a popularização do ofício de “segurança” e seu texto.
a quase extinção de profissões que exigem con-
fiança em pessoas desconhecidas, como o antigo Medidas punitivas são o suficiente para
vendedor de porta em porta, que hoje não ganha coibir o aumento da violência? A história já pro-
mais do que um grito repelente por trás do “olho- vou que não. Assim como o senso comum tem
mágico”. Esses são apenas alguns entre muitos cristalizada a máxima de que “prevenir é melhor
outros fenômenos que nos escapam na discussão do que remediar”, estudos provam que países
da violência, geralmente suscitada por tragédias que investiram em educação tiveram reduções
veiculadas na mídia. mais significativas de índices de violência do que
Nesse caso, a primeira frase do parágrafo aqueles que destinaram sua verba à construção
é também a tese do texto (ponto de vista princi- de presídios.
pal defendido na redação). Seguem-se a ela dois
exemplos que serão explorados em detalhe nos 4. Citação – A ambientação também
próximos dois parágrafos de desenvolvimento. pode apresentar uma citação de alguém
Por fim, veja que a frase de conclusão (última famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr
do parágrafo) serviu para retomar e resumir as entre aspas uma fala que não é propria-
ideias anteriormente apresentadas, às quais se mente sua. Tal recurso tem a vantagem
somou um dado novo: a predominância de tra- de se valer da autoridade do discurso
gédias no discurso midiático sobre violência. alheio, que pode ser posto em diálogo
Tenha sempre em mente que uma frase de con- com o seu.
clusão, mesmo que sirva para encapsular tudo o
que foi dito antes, deve conter alguma informa- “A não-violência absoluta é a ausência
ção nova, que justifique sua existência. Do con- absoluta de danos provocados a todo ser vivo. A
trário, o texto torna-se repetitivo. não-violência, na sua forma ativa, é uma boa dis-
posição para tudo o que vive. É o amor na sua
2. Definição – Nesse tipo de introdução, perfeição”. Essa célebre citação de Gandhi, ao
antes de se apresentar a tese, faz-se referir-se a uma “não-violência ativa”, mostra ser
uma ambientação, isto é, uma afirmação possível optar pela paz e praticá-la de forma ativa
Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica 15

e consciente, o que deve se dar em todas as situa- Ao falarmos sobre violência, alguns discur-
ções da vida. Tal princípio da não-violência é hoje sos apontam-na como sendo uma problemática
símbolo da possibilidade de um mundo pacífico, a contemporânea. Porém, a história do descobri-
despeito das evidentes dificuldades para que isso mento e da colonização do Brasil é marcada por
se efetive. uma violência que muitas vezes esquecemos: o
massacre dos indígenas. Ao estudarmos de forma
5. Sequência de frases nominais – Um profunda e atenta essa mortandade que está no
recurso interessante para iniciar um início da história escrita sobre o país, podemos
texto é fazer uma enumeração de frases não só compreender o passado da nossa forma-
nominais (sem verbo), separando-as ção, mas entender também a violência presente,
por ponto final. Por ser um recurso di- em suas semelhanças e diferenças com a pretéri-
ferente, isso chama a atenção do leitor. ta, e pensar em intervenções que combatam esse
Como sempre, a presença da tese logo problema nos dias de hoje.
após essa ambientação é fundamental.

Bala perdida. Sequestro-relâmpago. Falsa


blitz. Basta abrir o jornal ou ligar a televisão para Exercitando
se ouvir mais uma notícia de crime no país. A me- Antes de avançar para um novo assunto,
nos que medidas conscienciosas sejam tomadas que tal pôr em prática o que você acabou de ver
para o combate dessa realidade hostil, o quadro na unidade? Se você encontrar dificuldades para
tende a se tornar cada vez pior. realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
estudado.
6. Exposição do ponto de vista oposto
– Você pode também iniciar seu texto Atividade 4
enunciando um ponto de vista contrá- Do texto a seguir, retirou-se o primeiro
rio ao seu, na ambientação. Em segui- parágrafo. Com base nos demais parágrafos, re-
da, você deve usar um conectivo que dija pelo menos três versões para a introdução,
expresse oposição de ideias (PORÉM, utilizando diferentes técnicas estudadas nesta
NO ENTANTO, CONTUDO, TODAVIA unidade:
etc.) e apresentar sua própria tese,
provando ser ela mais acertada do que Crítico de cinema:
o posicionamento anteriormente men- profissão em extinção?
cionado.
[...]
Há quem diga que basta instituir a pena O “New York Times” dedica-se a tentar en-
de morte para que haja reduções bruscas nos tender a perda de importância dos jornais – e o
índices da violência. No entanto, esse é um po- crescimento da influência dos blogs – no proces-
sicionamento por demais simplista, que acredita so de divulgação dos filmes pelos grandes estú-
na solução de um problema de dimensões eco- dios. O sinal mais aparente deste fenômeno – im-
nômicas, sociais e políticas, que assola todo o portante pelo volume de recursos que Hollywood
país, por meio de uma simples resolução jurídi- movimenta em marketing – é que os jornais con-
ca. Na verdade, alteração alguma na lei é sufi- tribuem cada vez menos com aquelas publicida-
ciente sem que medidas preventivas, as quais des repletas de frases retiradas de críticas.
culminem na redução das desigualdades sociais, Uma das mais antigas ferramentas de marke-
sejam tomadas. ting de um filme, a citação tirada de uma crítica
de cinema (coisas como “eletrizante” “imperdí-
7. Alusão histórica – Antes de apresen- vel”, “muito engraçado”, “ri do início ao fim”) já
tar sua tese, você pode lançar mão de foi motivo de muita polêmica. Há alguns anos,
uma ambientação que a situe historica- descobriu-se que um estúdio, a Sony, havia publi-
mente, apresentando, brevemente, os cado um anúncio com uma frase inventada, dita
antecedentes históricos que confirmam por um crítico que não existia. Também é comum
seu ponto de vista. tirar palavras ou frases de contexto, mudando
16 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

o sentido do que o crítico quis dizer para realçar blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda
qualidades inexistentes de um filme. observa com desconfiança, procurando enten-
O que inquieta o “New York Times” agora é der – e separar o joio do trigo de toda essa movi-
o fato de que os grandes estúdios de Hollywood mentação. Em todo caso, é possível observar que
preferem recorrer a críticas publicadas em blogs alguns produtores já utilizam frases retiradas de
do que em jornais. Escreve o diário: sites e blogs para divulgação de seus filmes.
“Os seis grandes estúdios gostam de ir à Maurício Stycer
Internet em busca de frases para usar em publi-
cidade porque há uma variedade muito grande Parágrafos de desenvolvimento
de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa.
Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo Como quaisquer outros parágrafos, os de
sites como Ain’t It Cool News, não fazem segredo desenvolvimento apresentam frases-tópico, fra-
do seu olhar de ‘animador de torcida’ em relação ses de suporte e, às vezes, frases de conclusão.
a alguns gêneros de filmes”. O que os difere dos parágrafos de introdução
Em outras palavras, raciocina o “New York e conclusão é seu caráter menos abrangente e
Times”, os estúdios preferem recorrer a sites e mais específico: enquanto no início e no final
blogs porque eles tratam os filmes de forma mais do texto dá-se preferência por apresentar ideias
generosa e complacente que os jornais. O gran- gerais, o desenvolvimento de um texto deve ser
de diário americano está, evidentemente, fazen- marcado por parágrafos de caráter mais deta-
do uma generalização injusta, já que há também lhado, os quais apresentem, de forma pormeno-
muitos críticos em jornais que funcionam mais rizada, as informações que sustentam a tese do
como “animadores de torcida” do que, propria- texto. Desse modo, é importante que você evite
mente, como analistas sérios e isentos. parágrafos de desenvolvimento extremamente
Em todo caso, dois entrevistados do jor- curtos, os quais contenham apenas a apresen-
nal reforçam a tendência de recorrer a sites e tação de uma ideia. Como o próprio nome já
blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas indica, é preciso desenvolver essas ideias, apre-
de cinema. Um vice-presidente da Universal, Mi- sentando causas, consequências, contrastes etc.
chael Moss, diz ao jornal: “Alguns dos melhores Para isso, você aprenderá neste curso, na uni-
críticos de cinema e a maioria das boas críticas dade sobre Coesão, como estabelecer relações
são encontradas online”. desse tipo entre as frases e as orações.
Já Mike Vollman, presidente de marketing
da MGM e United Artists, afirma que vai prefe- O parágrafo de conclusão
rir se basear mais em blogs do que na revista
“Time” para promover o remake do filme “Fama”. O parágrafo final é a conclusão, uma parte
“A realidade, e lamento dizer isso para você, é muito importante do seu texto. Concluir um tex-
que os jovens que vão ao cinema são mais in- to envolve sintetizar, reformular e/ou comentar
fluenciáveis por um blog do que por um crítico o assunto abordado ao longo dele. Na síntese,
de jornal”. você escreve um resumo dos principais assun-
A reportagem, em resumo, confirma as tos ou argumentos discutidos no corpo do texto.
previsões mais pessimistas dos que enxergam Outra forma de concluir é reformulando a ideia
na revolução promovida pela nova mídia um si- principal do seu texto em outras palavras. No co-
nal de empobrecimento e decadência cultural. mentário, você externa seu(s) ponto(s) de vista
Ainda assim, o próprio “New York Times” reco- sobre o problema enfocado no texto. Como esse
nhece que há sites “sérios”, publicando textos comentário é a última coisa que o leitor vai ver, é
sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os essencial que você redija uma mensagem impor-
jornais ditos de prestígio. tante e impactante, que o leitor vá lembrar.
E o Brasil? – algum leitor perguntará. O Para que seu texto seja bem-sucedido,
problema, ainda que em grau menor, até porque não basta que você comece bem e explique com
a indústria de cinema nacional é minúscula, se clareza suas ideias. Caso a conclusão não seja
comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ain- satisfatória, a impressão final do leitor não será
da estamos, pelo que observo, numa etapa ante- boa, o que revela a importância de caprichar na
rior. Há um crescimento impressionante de sites e elaboração do último parágrafo.
Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica 17

Lembre-se de que, caso você tenha inicia- É inegável que a tecnologia trouxe vanta-
do seu texto com uma analogia, é interessante gens ao dia-a-dia. É lamentável, porém, que o ho-
que essa mesma analogia seja revisitada na con- mem a tenha manipulado de tal forma a perder
clusão. Do mesmo modo, se seu texto se inicia o controle sobre sua criação. Os heróis digitais
com uma pergunta, é interessante que a respos- confundem-se com os vilões, que deletam aos
ta a ela esteja clara na conclusão. Veja a seguir poucos o sentido de humanidade de nossa so-
um exemplo de texto dissertativo em que a con- ciedade.
clusão e a introdução completam-se mutuamen- (retirado de http://www.puc-rio.br/vesti-
te, reiterando a tese do autor: bular/repositorio/redacoes/redacao18.html)

Homem Virtual

A história do homem é marcada por gran- Exercitando


des invenções e acontecimentos que modificam Antes de avançar para um novo assunto,
as relações familiares, sociais e internacionais. que tal pôr em prática o que você acabou de ver
Transformações essas que não se prendem ex- na unidade? Se você encontrar dificuldades para
clusivamente ao passado dos homens descobri- realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
dores do fogo, criadores da roda, aventureiros estudado.
dos mares, pilares do Renascimento... Os revo-
lucionários do século XX inserem-se na História Atividade 5
com ferramentas virtuais e o poder da tecla enter. Do texto a seguir, retirou-se a conclusão.
A atual Revolução Tecnológica é uma Com base nos demais parágrafos, redija, pelo
transformação sem qualquer precedente na his- menos, duas versões para a conclusão, utilizan-
tória da humanidade. Enquanto, no passado, as do diferentes técnicas estudadas nesta unidade.
revoluções limitavam-se no espaço e no tempo,
ou mesmo nas diferenças culturais, o mundo Novos desafios para o planeta
globalizado de hoje lhes permite percorrer rapi- (adaptado)
damente quilômetros de distância sem que mes-
mo haja tempo para resistências ideológicas. É Por Marcelo Barros – Agência de Informa-
dessa facilidade que se extrai a explicação para ção Frei Tito para a América Latina – de São Paulo
as repentinas e profundas mudanças nas rela- Em torno ao dia 05 de junho que a ONU
ções humanas no século XX e especialmente na consagra como “dia internacional do meio am-
década de 90. biente”, o mundo inteiro promove uma série
O computador é a perfeita materializa- de discussões e eventos que durarão toda a
ção da Revolução do século XX. Através dele, semana. De fato, os problemas ambientais se
o homem conecta-se ao mundo, percorre paí- agravam. Hoje, não há quem não se assuste
ses, acessa diferentes informações ou diferen- com a frequência e a intensidade de inunda-
tes ângulos de uma mesma informação, agiliza ções e secas, assim como, em algumas regiões
trabalhos, melhora imagens, cria recursos... do mundo, terremotos e furacões ganham fúria
transformações desse nível foram muitas vezes nunca vista.
vivenciadas pelo homem. Nunca, porém, elas Como disse Leonardo Boff na assembleia
conseguiram atingi-lo paralelamente em sua es- geral da ONU: “se a crise econômica é preocu-
sência, visões, ideologia, prioridades. O mundo pante, a crise da não-sustentabilidade da Terra
tecnológico trouxe também novas fontes de la- se manifesta cada dia mais ameaçadora. Os cien-
zer, menos convivência pessoal, busca incessan- tistas que seguem o estado do Planeta, especial-
te de novos conhecimentos, necessidade de al- mente a Global Foot Print Network, haviam falado
cançá-los rapidamente. Criou um homem quase do Earth Overshoot Day, isto é, do dia em que se
digital com emoções contidas, experiências vir- ultrapassarão os limites da Terra. Infelizmente,
tuais, convivência cibernética, família matricial. os dados revelam que, exatamente no dia 23 de
A velha conversa no botequim deu lugar às salas setembro de 2008, a Terra ultrapassou em 30%
de bate-papo, a visita vespertina agora é um e- sua capacidade de reposição dos recursos ne-
mail, o amigo é o computador. cessários para as demandas humanas.
18 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

No momento atual, precisamos de mais


de uma Terra para atender à nossa subsistência.
Como garantir ainda a sustentabilidade da Ter-
ra, já que esta é a premissa para resolver as de-
mais crises: a social, a alimentar, a energética e a
climática? Agora, não temos uma “arca de Noé” Referências
que salve alguns e deixe perecer a todos os de-
ABREU, A. S. Curso de Redação. São Paulo: Ática,
mais. Como asseverou recentemente, com muita
3ª ed., 1991.
propriedade, o Secretário Geral desta casa, Ban
BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Lingua-
Ki-Moon: “não podemos deixar que o urgente
gem. São Paulo: Hucitec, 1987.
comprometa o essencial”. O urgente é resolver
o caos econômico, mas o essencial é garantir a ________. Estética da criação verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 1992.
vitalidade e a integridade da Terra.
É importante superar a crise financeira, BARROS, M. Novos desafios para o planeta. Dis-
mas o imprescindível e essencial é como vamos ponível em: <http://www.procamig.org.br/home.
php?sessao=0003>. Acesso em 15 jun. 2009.
salvar a Casa Comum e a humanidade que é par-
te dela. Esta foi a razão pela qual a ONU adotou GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna.
Rio de Janeiro: FGV, 1981.
a resolução sobre o Dia internacional da Mãe
Terra (International Mother Earth Day), a ser ce- FEITOSA, V.C. Redação de Textos Científicos. São
lebrado no dia 22 de abril de cada ano. Dado o Paulo: Papirus, s.d.
agravamento da situação ambiental da Terra, HALLIDAY, M.A. K; HASAN. Language, context
especialmente o aquecimento global, temos de and text: aspect of language in a social-semiotic
atuar juntos e rápido. Caso contrário, há o risco perspective. Deakin University Press. Oxford:
OUP 1989.
de que a Terra possa continuar, mas sem nós”
(discurso na ONU – abril de 2009). Homem virtual. Disponível em: <http://www.
puc-rio.br/vestibular/repositorio/redacoes/re-
Infelizmente, governos e instituições in-
dacao18.html>. Acesso em 15 jun. 2009.
ternacionais continuam insistindo no modelo
capitalista depredador. Somente o governo ame- MACHADO, S. J.; PINTO, A. C. F. Dimensão e
horizonte de investimento e carteiras imuni-
ricano destinou este ano mais de US$ 4 trilhões
zadas: uma análise sob a perspectiva das enti-
a salvar bancos e multinacionais irresponsáveis dades de previdência complementar. Revista
que perderam dinheiro no cassino financeiro da Eletrônica de Administração. Disponível em:
imprevisibilidade. Este dinheiro do povo, dado <http://read.adm.ufrgs.br/edicoes/resumo.
aos ricos, “é um valor 40 vezes maior do que os php?cod_artigo=618&cod_edicao=63&titulo_
p=a&acao=busca&pagina=l>. Acesso em 15 jun.
recursos destinados a combater as mudanças
2009.
climáticas no mundo e a pobreza” (Le Monde Di-
plomatique Brasil, maio de 2009, p. 3). O próprio MOURA, M. L. S.; FERREIRA, M. C. Projetos de
pesquisa. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005.
governo brasileiro advoga que, contra a crise
econômica que assola o planeta e também atin- ROSSETTO, L. ‘É a pior calamidade ambiental
ge o Brasil, a solução será consumir e comprar, que já enfrentamos’, diz Lula, em SC. O GLOBO,
26. nov. 2008. Disponível em: <http://g1.globo.
porque isso gera empregos e receitas. As conse- com/Noticias/Brasil/0,,MUL880093-5598,00-E+A
quências ecológicas desta escolha não se colo- +PIOR+CALAMIDADE+AMBIENTAL+QUE+JA+EN
cam. Menos ainda a questão ética fundamental. FRENTAMOS+DIZ+LULA+EM+SC.html>. Acesso
Quantos brasileiros podem viver esta febre do em 15 jun. 2009.
consumo? O PNUD do ano passado confirma: RIBEIRO, Jefferson. Lula repassa terras da União
20% das pessoas mais ricas absorvem 82% das a Roraima e diz que está pagando dívida. O GLO-
riquezas mundiais, enquanto 20% dos mais po- BO, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://g1.globo.
com/Noticias/Politica/0,,MUL975896-5601,00.
bres têm de se contentar apenas com 1,6% des-
html>. Acesso em 15 jun. 2009.
ta riqueza que deveria ser comum. Uma ínfima
STYCER, M. Crítico de cinema: profissão em extin-
minoria monopoliza o consumo e controla os
ção? Disponível em: <http://colunistas.ig.com.br/
processos econômicos que implicam a devasta- mauriciostycer/tag/critico-de-cinema/>. Acesso
ção da natureza e uma imensa injustiça social. em 15 jun. 2009.
[...]

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