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Niterói, RJ - 2010
UFF/PROAC/NEAMI
Copyright © 2009 by Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves
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Comissão Editorial
Presidente: Mauro Romero Leal Passos
Ana Maria Martensen Roland Kaleff
Gizlene Neder
Heraldo Silva da Costa Mattos
Humberto Fernandes Machado
Juarez Duayer
Livia Reis
Luiz Sérgio de Oliveira
Marco Antonio Sloboda Cortez
Editora filiada à Renato de Souza Bravo
Silvia Maria Baeta Cavalcanti
Tania de Vasconcellos
Sumário
Introdução......................................................................... 7
Unidade 1
Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas........................ 9
Unidade 2
Coesão textual...................................................................21
Unidade 3
Coerência textual................................................................32
Unidade 4
Argumentação....................................................................41
Unidade 5
Fichamento, resumo e resenha................................................53
Unidade 6
Relatório e projeto..............................................................63
Unidade 7
Artigo científico e monografia de conclusão de curso......................75
Unidade 8
O domínio da norma-padrão...................................................81
Introdução
Este manual tem a finalidade de ajudá-lo a conhecer e utilizar de modo adequado o estilo aca-
dêmico. Você pode estudar cada unidade na ordem em que aqui se encontra ou ir diretamente para
a unidade que lhe interessa. Por exemplo, se estiver com alguma dificuldade de natureza gramatical,
vá para a última unidade e veja o que lá oferecemos.
O manual contém oito unidades, voltadas para o domínio da escrita acadêmica, com ênfase
nos gêneros textuais que a caracterizam. A primeira unidade apresenta os modos de organização
textual e sua manifestação em cada gênero. Descreve e comenta, brevemente, o conteúdo, a forma
e a função dos modos de organização textual. Apresenta também informações sobre os gêneros que
escolhemos.
Seguem-se três unidades, sobre coesão, coerência e argumentação, com textos ilustrativos,
atividades e reflexões, com vistas a ajudá-lo no desempenho intelectual. Estas unidades têm o ob-
jetivo de fazê-lo escrever de forma coerente, mantendo coesão entre as partes e, sobretudo, com
argumentos capazes de convencer seu leitor do que você está propondo.
Vêm então as unidades específicas que escolhemos, organizadas em termos de utilização ime-
diata e em nível de complexidade. Portanto, você trabalhará, de imediato, com os gêneros fichamen-
to, resenha e resumo; em seguida, lidará com as características do projeto de pesquisa e do relatório,
para, por fim, familiarizar-se com as propriedades da monografia e do artigo científico.
Optamos por incluir uma unidade de suporte geral para quem escreve, em que constam ques-
tões e problemas de escrita. É uma unidade inovadora, no sentido de que os problemas que aí se
analisam são pontos controversos, com que nos defrontamos no dia a dia da produção de textos no
meio universitário.
Em cada unidade, mostramos o que vamos fazer, o que propomos que você faça, para alcançar
os objetivos da unidade e em seguida apresentamos o núcleo da unidade, com introdução, desenvol-
vimento e conclusão. As unidades são permeadas de atividades de reflexão e escrita, propostas para
o domínio das habilidades acadêmicas. Oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade
e concluímos a unidade com referências bibliográficas e on-line.
Por se tratar de um manual para escrita de textos, tomamos alguns cuidados na seleção dos
textos com que trabalhamos. Esses textos representam bem o gênero que está sendo estudado, são
coesos e coerentes e apresentam argumentação confiável. São escritos de forma clara e são breves.
Cuidamos também do nosso próprio estilo, em que procuramos interagir com você de forma
cooperativa, com linguagem acessível e clara. Procuramos incluir atividades relevantes para você
executar, à medida que trabalha cada unidade. Essas atividades têm respostas previsíveis, de modo
que oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade.
Um abraço,
Os autores
Unidade 1 maior, de textos informativos. Tal diferença nos
objetivos do locutor (quem escreve ou fala) e do
interlocutor (quem ouve ou lê) implica também
Gêneros e tipos textuais – macro diferenças na estruturação do texto e na organi-
zação da informação. Veja que, por ser um mate-
e microestruturas
rial didático, este texto que você está lendo tem
características muito próprias, como uma lin-
Apresentando a unidade guagem clara e direta, ilustrações e exemplifica-
ções. Já o jornal, por ser produzido diariamente
e apresentar informações que são lidas e descar-
B
em-vindo! Você está iniciando o seu curso tadas muito rapidamente – pois no dia seguin-
de análise e produção de texto acadêmi- te já há novas notícias –, tende a ser um texto
co. Neste curso você vai aprender primei- muito mais breve. Além disso, a maior parte das
ro a reconhecer e depois a produzir os diversos reportagens de um jornal têm caráter narrativo,
gêneros textuais da escrita acadêmica. Você vai isto é, verbos que indicam ação, personagens,
aprender olhando, examinando, entendendo e narrador etc. Já este manual tem caráter expo-
depois redigindo os diversos textos que circu- sitivo, pois, em vez de encadear ações, agrupa
lam no mundo acadê- ideias abstratas de modo lógico.
mico. Como já dizia Como você pode perceber, existem inúme-
Confúcio (151 a.C.): ros gêneros textuais com os quais convivemos,
“O que eu ouço, eu es- dentro e fora da universidade. Neste manual,
queço. O que eu vejo, você aprenderá a ler e escrever os gêneros típi-
eu lembro. O que eu cos do meio acadêmico. Antes, porém, observe
faço, eu entendo.” a seguir os fatores que determinam as caracte-
rísticas de forma e conteúdo de cada um desses
Definindo os objetivos gêneros:
Tempo: Refere-se a diferenças cronológi-
Ao final desta unidade, você deverá ser cas, do ponto de vista cultural, social, político
capaz de: e econômico, bem como aos graus de conheci-
1. compreender a noção de tipo mento compartilhado entre o produtor e o re-
textual e de gênero textual; ceptor dos textos, no momento da produção e
2. reconhecer os tipos textuais ex- recepção. Diferentemente dos gêneros da intera-
positivo e argumentativo; ção oral face a face, nos textos de escrita aca-
3. identificar tipos e funções dos parágrafos; dêmica o produtor e o leitor geralmente estão
4. redigir com clareza os diferentes tipos de pará- situados em diferentes momentos e é, portanto,
grafos. necessário explicitar as informações básicas
para contextualizar a informação.
Conhecendo os Lugar: Designa o lugar físico da produção
gêneros textuais e recepção dos textos (escola, escritório, casa,
empresa, mídia), bem como a posição social do
De acordo com os Parâme- produtor e do receptor na interação (aluno, em-
tros Curriculares Nacionais – PCNs –, ensinar lín- pregado, redator, jornalista, professor, cliente,
gua significa ensinar diferentes gêneros textuais. amigo). Você, quando escrever um texto acadê-
O gênero é uma unidade de linguagem em uso, na mico, vai estar num lugar físico e ocupar um pa-
vida real, inserida numa moldura comunicativa pel social diferentes dos lugares físicos e sociais
de interlocutores e intenções. Assim, dependen- dos seus possíveis leitores e/ou destinatários.
do do tipo e do teor da informação que quere- Objetivo da interação: Qual o efeito que
mos comunicar, utilizamos gêneros diferentes, o seu texto deve e espera produzir no recep-
geralmente convencionados em sociedade. tor, isto é, para que serve o texto? Quando você
Perceba, por exemplo, que a finalidade escreve um texto, quais são as suas intenções?
deste manual é diferente da de um jornal, em- Será que a sua intenção comunicativa vai ser
bora ambos sejam agrupados em uma categoria igual à interpretação do seu possível leitor?
10 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves
Canal: Que canal é utilizado para a intera- O presidente sobrevoou as cidades de Ita-
ção entre o produtor e o receptor do texto: pa- jaí, Luiz Alves e Navegantes. “Sou de uma região
pel, vídeo, e-mail, livro, revista, chat, videocon- em que as pessoas passam mais da metade do
ferência, telefone, telegrama, carta? Em outras ano pedindo para que chova. Em Santa Catarina,
palavras, qual o meio que você vai utilizar para a temos que pedir a Deus para parar de chover.”
transmissão da mensagem? Lula assinou, nesta quarta, uma medi-
Grau de formalidade da situação: A conju- da provisória liberando R$ 1,6 bilhão para aju-
gação dos quatro fatores acima vai determinar o dar na recuperação de estradas, casas e para
grau de formalidade da situação. Numa interação ações da Defesa Civil e das Forças Armadas.
face a face entre amigos, num bate-papo, o nível O dinheiro será usado para ajudar não só Santa Ca-
de formalidade é bem baixo. Uma interação face tarina, mas também outros estados que venham a
a face num julgamento no tribunal vai ser muito sofrer com as fortes chuvas previstas para o verão.
mais formal. Igualmente, um gênero de escrita Luciana Rossetto
acadêmica, como o ensaio, é muito mais formal
do que um bilhete ou um e-mail informal, trocado Conhecendo os
entre colegas de trabalho. tipos textuais
Injuntivo Dizer como fazer ou realizar ações; descrever e prescrever regras, normas
para uso e regulação de comportamentos.
No meio acadêmico, podem ser encontra- fias, artigos de divulgação científica, resumos
dos todos os tipos textuais, concretizados em de artigos, de livros, de conferências, resenhas,
gêneros textuais diferentes. Um relatório, por comentários, projetos, manuais de ensino, bi-
exemplo, utiliza-se de características descriti- bliografias, fichas catalográficas, currículos vi-
vas, para avaliar algo. A metodologia encontra- tae, memoriais, pareceres técnicos, sumários,
da em um artigo, por sua vez, é predominan- bibliografias comentadas, índices remissivos,
temente narrativa, pois apresenta a sucessão glossários etc.
dos passos adotados por um pesquisador na
condução de seu estudo. Um resumo é um texto Modalidade oral: palestras, conferências,
expositivo, em que se apresentam, de forma im- debates, entrevistas, seminários, apresentações
pessoal, as informações presentes em um outro em congressos, arguições etc.
texto. Um ensaio, no entanto, por conter uma
tese defendida acerca de determinado assun-
to, possui características predominantemente
argumentativas. Este manual, como os demais Exercitando
materiais didáticos, além do caráter obviamen- Antes de avançar para um novo assunto,
te expositivo, tem também uma feição injunti- que tal pôr em prática o que você acabou de ver
va, na medida em que ensina como proceder na na unidade? Se você encontrar dificuldades para
escrita acadêmica. Por fim, os gêneros orais da realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui
vida universitária, como a arguição, por exem- estudado.
plo, estão intimamente ligados ao tipo textual
chamado dialogal, em que a interação locutor- Atividade 2
interlocutor é primordial. Leia atentamente o texto abaixo, “Dimen-
Veja a seguir outros gêneros discursivos do são e horizonte de investimento em carteiras
domínio acadêmico, tanto na modalidade escrita imunizadas: uma análise sob a perspectiva das
quanto na modalidade oral da comunicação. entidades de previdência complementar”, retira-
do da READ – Revista Eletrônica de Administra-
Modalidade escrita: temos artigos cien- ção. A que gênero textual ele pertence? Qual é o
tíficos, relatórios científicos, notas de aula, di- modo de organização textual nele predominan-
ários de campo, teses, dissertações, monogra- te? Justifique suas respostas.
12 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves
da violência na contemporaneidade. Atente para inicial que situa a tese no tema geral ao
os diferentes recursos usados em cada parágra- qual pertence. Como no exemplo abai-
fo e perceba que uma mesma temática pode ser xo, a ambientação pode ser a definição
introduzida de diferentes maneiras. Com a práti- de um conceito-chave para a argumen-
ca, você logo selecionará as estratégias com que tação acerca do tema proposto.
se sente mais à vontade.
Segundo Houaiss (2008), violência é “cons-
1. Abordagem-padrão – Neste tipo de in- trangimento físico ou moral exercido sobre al-
trodução, apresenta-se primeiramente guém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade
a tese e logo a seguir enumeram-se os de outrem; coação”. Tal definição explicita uma
argumentos que serão desenvolvidos faceta da violência por vezes esquecida: a dimen-
ao longo do texto (cada um desses ar- são moral. Do mesmo modo como a agressão fí-
gumentos corresponderá a cada um dos sica pode causar danos irreparáveis, a ofensa e
parágrafos de desenvolvimento subse- a injúria deixam sequelas para sempre, devendo
quentes). Veja o exemplo abaixo: haver, portanto, preocupação social no combate
a esse problema.
É indiscutível que a violência cresce de
forma exponencial nos dias de hoje, como não 3. Questionamento(s) – A ambientação
cessam de informar os meios de comunicação. pode também ser composta por per-
Tal fato acarreta mudanças drásticas na arqui- guntas que convidem o leitor à reflexão
tetura urbana, como a construção de grades por acerca do tema. No entanto, tome o cui-
toda a parte, em uma tentativa de prender a si, dado de, após essas perguntas, afirmar
já que o assustador Outro não cabe por inteiro na sua tese. Não deixe também de respon-
cadeia. Mudam também as ofertas de emprego, der a todas as perguntas ao longo de
com a popularização do ofício de “segurança” e seu texto.
a quase extinção de profissões que exigem con-
fiança em pessoas desconhecidas, como o antigo Medidas punitivas são o suficiente para
vendedor de porta em porta, que hoje não ganha coibir o aumento da violência? A história já pro-
mais do que um grito repelente por trás do “olho- vou que não. Assim como o senso comum tem
mágico”. Esses são apenas alguns entre muitos cristalizada a máxima de que “prevenir é melhor
outros fenômenos que nos escapam na discussão do que remediar”, estudos provam que países
da violência, geralmente suscitada por tragédias que investiram em educação tiveram reduções
veiculadas na mídia. mais significativas de índices de violência do que
Nesse caso, a primeira frase do parágrafo aqueles que destinaram sua verba à construção
é também a tese do texto (ponto de vista princi- de presídios.
pal defendido na redação). Seguem-se a ela dois
exemplos que serão explorados em detalhe nos 4. Citação – A ambientação também
próximos dois parágrafos de desenvolvimento. pode apresentar uma citação de alguém
Por fim, veja que a frase de conclusão (última famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr
do parágrafo) serviu para retomar e resumir as entre aspas uma fala que não é propria-
ideias anteriormente apresentadas, às quais se mente sua. Tal recurso tem a vantagem
somou um dado novo: a predominância de tra- de se valer da autoridade do discurso
gédias no discurso midiático sobre violência. alheio, que pode ser posto em diálogo
Tenha sempre em mente que uma frase de con- com o seu.
clusão, mesmo que sirva para encapsular tudo o
que foi dito antes, deve conter alguma informa- “A não-violência absoluta é a ausência
ção nova, que justifique sua existência. Do con- absoluta de danos provocados a todo ser vivo. A
trário, o texto torna-se repetitivo. não-violência, na sua forma ativa, é uma boa dis-
posição para tudo o que vive. É o amor na sua
2. Definição – Nesse tipo de introdução, perfeição”. Essa célebre citação de Gandhi, ao
antes de se apresentar a tese, faz-se referir-se a uma “não-violência ativa”, mostra ser
uma ambientação, isto é, uma afirmação possível optar pela paz e praticá-la de forma ativa
Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica 15
e consciente, o que deve se dar em todas as situa- Ao falarmos sobre violência, alguns discur-
ções da vida. Tal princípio da não-violência é hoje sos apontam-na como sendo uma problemática
símbolo da possibilidade de um mundo pacífico, a contemporânea. Porém, a história do descobri-
despeito das evidentes dificuldades para que isso mento e da colonização do Brasil é marcada por
se efetive. uma violência que muitas vezes esquecemos: o
massacre dos indígenas. Ao estudarmos de forma
5. Sequência de frases nominais – Um profunda e atenta essa mortandade que está no
recurso interessante para iniciar um início da história escrita sobre o país, podemos
texto é fazer uma enumeração de frases não só compreender o passado da nossa forma-
nominais (sem verbo), separando-as ção, mas entender também a violência presente,
por ponto final. Por ser um recurso di- em suas semelhanças e diferenças com a pretéri-
ferente, isso chama a atenção do leitor. ta, e pensar em intervenções que combatam esse
Como sempre, a presença da tese logo problema nos dias de hoje.
após essa ambientação é fundamental.
o sentido do que o crítico quis dizer para realçar blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda
qualidades inexistentes de um filme. observa com desconfiança, procurando enten-
O que inquieta o “New York Times” agora é der – e separar o joio do trigo de toda essa movi-
o fato de que os grandes estúdios de Hollywood mentação. Em todo caso, é possível observar que
preferem recorrer a críticas publicadas em blogs alguns produtores já utilizam frases retiradas de
do que em jornais. Escreve o diário: sites e blogs para divulgação de seus filmes.
“Os seis grandes estúdios gostam de ir à Maurício Stycer
Internet em busca de frases para usar em publi-
cidade porque há uma variedade muito grande Parágrafos de desenvolvimento
de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa.
Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo Como quaisquer outros parágrafos, os de
sites como Ain’t It Cool News, não fazem segredo desenvolvimento apresentam frases-tópico, fra-
do seu olhar de ‘animador de torcida’ em relação ses de suporte e, às vezes, frases de conclusão.
a alguns gêneros de filmes”. O que os difere dos parágrafos de introdução
Em outras palavras, raciocina o “New York e conclusão é seu caráter menos abrangente e
Times”, os estúdios preferem recorrer a sites e mais específico: enquanto no início e no final
blogs porque eles tratam os filmes de forma mais do texto dá-se preferência por apresentar ideias
generosa e complacente que os jornais. O gran- gerais, o desenvolvimento de um texto deve ser
de diário americano está, evidentemente, fazen- marcado por parágrafos de caráter mais deta-
do uma generalização injusta, já que há também lhado, os quais apresentem, de forma pormeno-
muitos críticos em jornais que funcionam mais rizada, as informações que sustentam a tese do
como “animadores de torcida” do que, propria- texto. Desse modo, é importante que você evite
mente, como analistas sérios e isentos. parágrafos de desenvolvimento extremamente
Em todo caso, dois entrevistados do jor- curtos, os quais contenham apenas a apresen-
nal reforçam a tendência de recorrer a sites e tação de uma ideia. Como o próprio nome já
blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas indica, é preciso desenvolver essas ideias, apre-
de cinema. Um vice-presidente da Universal, Mi- sentando causas, consequências, contrastes etc.
chael Moss, diz ao jornal: “Alguns dos melhores Para isso, você aprenderá neste curso, na uni-
críticos de cinema e a maioria das boas críticas dade sobre Coesão, como estabelecer relações
são encontradas online”. desse tipo entre as frases e as orações.
Já Mike Vollman, presidente de marketing
da MGM e United Artists, afirma que vai prefe- O parágrafo de conclusão
rir se basear mais em blogs do que na revista
“Time” para promover o remake do filme “Fama”. O parágrafo final é a conclusão, uma parte
“A realidade, e lamento dizer isso para você, é muito importante do seu texto. Concluir um tex-
que os jovens que vão ao cinema são mais in- to envolve sintetizar, reformular e/ou comentar
fluenciáveis por um blog do que por um crítico o assunto abordado ao longo dele. Na síntese,
de jornal”. você escreve um resumo dos principais assun-
A reportagem, em resumo, confirma as tos ou argumentos discutidos no corpo do texto.
previsões mais pessimistas dos que enxergam Outra forma de concluir é reformulando a ideia
na revolução promovida pela nova mídia um si- principal do seu texto em outras palavras. No co-
nal de empobrecimento e decadência cultural. mentário, você externa seu(s) ponto(s) de vista
Ainda assim, o próprio “New York Times” reco- sobre o problema enfocado no texto. Como esse
nhece que há sites “sérios”, publicando textos comentário é a última coisa que o leitor vai ver, é
sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os essencial que você redija uma mensagem impor-
jornais ditos de prestígio. tante e impactante, que o leitor vá lembrar.
E o Brasil? – algum leitor perguntará. O Para que seu texto seja bem-sucedido,
problema, ainda que em grau menor, até porque não basta que você comece bem e explique com
a indústria de cinema nacional é minúscula, se clareza suas ideias. Caso a conclusão não seja
comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ain- satisfatória, a impressão final do leitor não será
da estamos, pelo que observo, numa etapa ante- boa, o que revela a importância de caprichar na
rior. Há um crescimento impressionante de sites e elaboração do último parágrafo.
Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica 17
Lembre-se de que, caso você tenha inicia- É inegável que a tecnologia trouxe vanta-
do seu texto com uma analogia, é interessante gens ao dia-a-dia. É lamentável, porém, que o ho-
que essa mesma analogia seja revisitada na con- mem a tenha manipulado de tal forma a perder
clusão. Do mesmo modo, se seu texto se inicia o controle sobre sua criação. Os heróis digitais
com uma pergunta, é interessante que a respos- confundem-se com os vilões, que deletam aos
ta a ela esteja clara na conclusão. Veja a seguir poucos o sentido de humanidade de nossa so-
um exemplo de texto dissertativo em que a con- ciedade.
clusão e a introdução completam-se mutuamen- (retirado de http://www.puc-rio.br/vesti-
te, reiterando a tese do autor: bular/repositorio/redacoes/redacao18.html)
Homem Virtual