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FREI LUíS DE SOUSA DE ALMEIDA GARRET inatingível.

A mulher ou é um ser angelical bom (mulher-anjo, que


leva à salvação), ou é um ser angelical mau (mulher-demónio, que
Romantismo leva à perdição).
7. O “mal du siède” ou o “spleen” – É o pessimismo, o cansaço doentio
Origens do movimento romântico em Portugal e melancólico, a solidão, uma espécie de desespero de viver,
resultante da posição idealista que mantém perante a vida. Por isso,
Em Portugal, o Romantismo está diretamente ligado às lutas
o romântico é sempre um ser incompreendido que cultiva o
liberais, porque os escritores românticos mais representativos deste
sofrimento e a solidão.
movimento estético – Garrett e Herculano – foram combatentes liberais.
8. O gosto pela natureza noturna – Para os românticos, a natureza é a
Qualquer destes escritores foi exilado político na altura das lutas liberais,
projeção do seu estado de alma, em geral tumultuoso e depressivo.
tendo vivido em França e Inglaterra. Ao regressarem, trouxeram consigo
Assim, esta é representada de forma invernosa, sombria, agreste,
os ideais deste novo movimento estético-literário que introduziram em
solitária e melancólica (“locus horrendus”), contrariamente ao “locus
Portugal.
amoenus” dos clássicos, que é uma natureza luminosa, harmoniosa
Assim, é o poema Camões de Garrett, publicado em Paris em 1825,
e primaveril. Esta natureza noturna traduz a atração que o
que assinala o início do Romantismo em Portugal. Porém, como esta
romântico tem pela própria morte.
obra não teve sequência imediata, será mais correto datá-lo a partir de
9. O amor a tudo o que é popular e nacional – Para o romântico, é no
1836, data da publicação de A Voz do Profeta de Alexandre Herculano.
povo que reside a alma nacional. Daí o gosto pela Idade Média,
pelas lendas, pelas tradições, pelo folclore, por tudo o que é
Características do Romantismo
nacional.
10. A linguagem é declamativa e teatral, porém o vocabulário é
1. O individualismo – O “eu” é o valor máximo para os românticos. Por
muitas vezes mais corrente e familiar.
isso, o romântico afirma o culto da personalidade (egocentrismo), da
expressão espontânea de sentimentos, do confessionalismo e a
subjetividade.
Frei Luís de Sousa
2. O idealismo – O romântico aspira ao infinito e a um ideal que nunca
é atingido. Por isso, valoriza o devaneio e o sonho. Características do teatro clássico
3. A inadaptação social – Por isso, mantêm uma atitude de constante
desprezo e rebeldia face à realidade e às normas estabelecidas, As principais características da tragédia antiga são as
considerando-se inadaptado e vítima do destino. seguintes:
4. Privilegia a liberdade como um valor máximo – Contrariamente ao
classicismo que cultiva a razão, o romântico cultiva o sentimento e a 1. Na tragédia antiga, o Homem é um mero joguete do Destino. Este é
liberdade, daí a expressão “Viva a liberdade!”. uma força superior que age de forma inexorável sobre o
5. A atração pela melancolia, pela solidão e pela morte como solução protagonista, sem que ele tenha qualquer culpa.
para todos os males. 2. Dividia-se em prólogo, três atos e epílogo.
6. A sacralização do amor – O amor é um sentimento vivido de forma 3. Tem poucas personagens (três). Estas são nobres de sentimentos
absoluta, exagerada e contraditória, precisamente por ser um ideal ou de condição social.
4. A ação dispõe-se sempre em gradação crescente, terminando num devia dar-se juntamente com a peripécia.
A Katastophé Desenlace fatal onde se consuma a
clímax. A catástrofe destruição das personagens. A catástrofe
deve vir indiciada desde o início, dado que ela
5. Contém sempre vários elementos essenciais – o desafio, o é a conclusão lógica da luta entre a Hybris e a
sofrimento, o combate, o Destino, a peripécia, o reconhecimento, a Anankê, luta que é crescente (clímax) e
atinge o ponto culminante (acmê) na
catástrofe e a catarse. agnórise.
6. Existia um coro que tinha como função comentar e anunciar o A Katársis É o efeito completo da representação trágica
A catarse que visa purificar os espectadores de paixões
desenrolar dos acontecimentos. semelhantes às dos protagonistas, pelo terror
7. A tragédia clássica obedece à lei das três unidades – unidade de e pela piedade.

espaço (não há em geral mudança de cenário e os acontecimentos


Características do drama romântico
passam-se todos no mesmo lugar), unidade de tempo (todos os
acontecimentos têm de se desenrolar nos espaço de 24 horas, 1. Foi criado por Victor Hugo, o grande mestre do Romantismo
mostrando que a ação do Destino é imperativa e fulminante) e francês.
unidade de ação (a tragédia antiga exige que o espectador se 2. O Romantismo valoriza a ação do Homem, por isso o herói já não é
centre apenas no problema central, sem desvio para ações joguete do destino, mas das próprias paixões humanas.
secundárias). 3. O drama romântico pretende fazer uma maior aproximação da
8. A linguagem da tragédia é em verso realidade. Assim Victor Hugo propõe uma aproximação entre o
Elementos essenciais da tragédia sublime e o grotesco, conforme a vida real. Tem também
preferência por temas nacionais.
A Hybris Consiste num desafio que o protagonista
O desafio realiza, após um momento de crise. Tal
4. A linguagem deverá corresponder à realidade e por isso é em prosa.
desafio pode ser contra a lei dos deuses, a lei 5. A personagem imaginária constituída pelo coro desaparece.
da cidade, as leis e os direitos da família, ou,
finalmente, contra as leis da natureza.
O Pathos A sua decisão, o seu desafio, a sua revolta, Génese de Frei Luís de Sousa
O sofrimento têm como consequência o seu sofrimento,
que ele aceita e que lhe é imposto pelo
Destino e executado pelas Parcas. Tal 1. Manuel de Sousa Coutinho, nascido em 1556, era fidalgo de
sofrimento será progressivo.
linhagem e levou uma vida acidentada por terras de África e de
O Agón É o combate ou a luta que nasce do desafio e
O combate se desenrola na oposição de homens contra Ásia. Consta que lançara fogo ao seu palácio de Almada, em 1599,
deuses, de homens contra homens ou de
homens contra ideias. Pode ser físico,
por divergências políticas ou pessoais com os governadores do
psicológico, individual ou coletivo. O conflito Reino em nome dos Filipes. Casara com D. Madalena de Vilhena,
é a alma da tragédia.
A Anankê É o Destino, sombria potestade a que nem anteriormente mulher de D. João de Portugal, que morreu em
O Destino aos deuses é permitido desobedecer. É, pois, Alcácer Quibir, em 4 de agosto de 1578. O seu biógrafo Frei António
cruel, implacável e inexorável.
A Peripéteia É a súbita mutação dos sucessos, no da Encarnação regista a tradição segundo a qual a entrada de
A peripécia contrário. A peripécia é, pois, um ambos os cônjuges na ordem dominicana, em 1612, se deveria ao
acontecimento quase sempre imprevisto que
altera completamente o rumo da ação, regresso inesperado de D. João de Portugal.
invertendo a marcha dos acontecimentos e
precipitando o desenlace.
2. Na Memória do Conservatório Real, Garrett afirma conhecer bem a
A Anagnórisis É o aparecimento de um lado novo, quase tradição literária sobre Frei Luís de Sousa. Ora as principais fontes
O reconhecimento sempre a identificação de uma personagem
culta. Para Aristóteles, o reconhecimento que tinha lido eram a “Memória do Sr. Bispo de Viseu, D. Francisco
Alexandre Lobo”, e a “romanesca mas sincera narrativa do padre certas partes, sendo o texto integral representado apenas em 1850 no
Frei António da Encarnação”. Afirma Garrett na referida Memória Teatro Nacional D. Maria II, num momento em que já não havia censura.
que “discorrendo um verão pela deliciosa beira-mar da província do A memória ao Conservatório é um texto teorizador que
Minho, fui dar com um teatro ambulante de atores castelhanos acompanhará para sempre a própria peça, da qual é anúncio, justificação
fazendo suas récitas numa tenda de lona no areal da Póvoa do e interpretação. Dado o seu grande valor, apresentamos aqui as grandes
Varzim. (…) Fomos à noite ao teatro: davam a comédia famosa não linhas do seu conteúdo.
sei de quem, mas o assunto era este mesmo de Frei Luís de
Sousa.” Esta representação teve lugar na Póvoa em 1818. 1. A história de Frei Luís de Sousa, legada pela tradição, contém
3. Garrett consultou ainda muitas coleções de “comédias famosas” toda a simplicidade de uma fábula trágica antiga, com a
mas não encontrou mais nada a respeito de Frei Luís de Sousa. vantagem de ser perpassada pela delicada sensibilidade da
Ouviu na sala do Conservatório, a leitura do relatório sobre o drama esperança cristã. Ali não há desespero pagão.
O Cativo de Fez. Nessa altura, Garrett sentiu a diferença entre a “Casta e severa como as de Ésquilo, apaixonada como as de
fábula engenhosa e complicada desse drama e a história tão Eurípedes, enérgica e natural como as de Sófocles, tem, de
simples de Frei Luís de Sousa. Tal facto inspirou-lhe a vontade de mais do que essas outras, aquela unção e delicada
fazer o seu drama. sensibilidade que o esírito do Cristianismo derrama por toda
4. Tem-se escrito que este drama é a projeção poética da sua própria ela, molhando de lágrimas contritas o que seriam
vida. Não se devendo confundir a obra e autor, não deixa de ser desesperadas ânsias num pagão, acendendo, até nas últimas
curioso mostrar as coincidências entre ambos. trevas da morte, a vela da esperança que não se apaga com a
vida.”
Garrett Frei Luís de Sousa
Casamento com Luísa Cândida Midosi, sem Casamento de Madalena com D. João de 2. Paralelo entre as personagens de Frei Luís de Sousa e
descendência Portugal algumas personagens mitológicas: Prometeu, Édipo e Jocasta,
Separado de Luísa Midosi, passa a viver com Casamento de D. Madalena com Manuel de
Adelaide Pastor Deville – o seu grande amor Sousa Coutinho – o seu grande amor para evidenciar a superioridade daquelas.
Da sua ligação com Adelaide, nasce a única Do casamento com Manuel de Sousa 3. Frei Luís de Sousa é uma verdadeira tragédia:
filha: Maria Adelaide, por quem sente grande Coutinho, nasce a única filha: Maria de
desvelo Noronha (segundo a história, chamava-se “Não lhe dei todavia esse nome porque não quis romper de
Ana de Noronha)
O problema da legitimidade de Maria D. Madalena vive atormentada pelo mesmo
viseira com os estafermos respeitados dos séculos que,
Adelaide atormenta Garrett problema formados de peças que nem ofendem nem defendem no atual
Adelaide Pastor morre tuberculosa Maria de Noronha é tuberculosa
guerrear, inanimados, ocos, e postos ao canto da sala para
Memória ao conservatório real onde ninguém vai de propósito – ainda têm contudo a nossa
veneração, ainda nos inclinamos diante deles quando ali
A representação da peça foi precedida da sua leitura feita pelo passamos por acaso.
próprio autor em 6 de maio de 1843 no Conservatório Real de Lisboa Demais, posto que eu não creia no verso como língua
perante um auditório muito exigente. dramática possível para assuntos tão modernos, também não
A 1ª representação foi feita num teatro particular na Quinta do sou tão desabusado, contudo, que me atreva a dar uma
Pinheiro em 4 de julho de 1843, por oito atores. Por impossibilidade de composição em prosa o título solene que as musas gregas
um ator, o próprio Garrett fez o papel de Telmo. A censura terá cortado deixaram consagrado à mais sublime e difícil de todas as
composições poéticas. (…)
Contento-me para a minha obra com o título modesto de Estrutura externa e interna
drama: só peço que não a julguem pelas leis que regem, ou
Atos Estrutura externa Estrutura interna
devem reger, essa composição de forma e índole nova; porque
Ato I Cenas I-IV Informações sobre o passado
a minha, se na forma desmerece da categoria, pela índole há das personagens
de ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico.” Cenas V-VIII Decisão de incendiar o
palácio
4. A simplicidade e a não-violência, tentativas dum teatro novo, Cenas IX-XII Ação: incêndio do palácio
são capazes de provocar nas plateias, gastas pelos dramas Ato II Cenas I-III Informações sobre o que se
ultrarromânticos, a piedade e o terror. passou depois do incêdio
Cenas Iv-VIII Preparação da ação: ida de
5. “O drama é a expressão literária mais verdadeira do estado da Manuel de Sousa Coutinho a
sociedade”. Garrett afirma que as suas teorias de arte se Lisboa
reduzem a “pintar do vivo, desenhar do nu, e a não buscar Cenas IX-XV Ação: chegada do romeiro
Ato III Cena I Informações sobre a solução
poesia nenhuma nem de invenção nem de estilo fora da adotada
verdade e do natural.” Cenas II-IX Preparação do desenlace
Cenas X-XII Desenlace
6. Não segue a cronologia
“Escuso dizer-vos, Senhores, que me não julguei obrigado a
Conclusão: Garrett construiu o seu drama, realizando o que tinha
ser escravo da cronologia nem a rejeitar por impróprio da cena
anunciado na Memória ao Conservatório Real. São notáveis a
tudo quanto a severa crítica moderna indigitou como arriscado simplicidade de construção e a harmonia dos três atos.
de se apurar para a história. Eu sacrifico às musas de Homero,
não às de Heródoto: e quem sabe, por fim, em qual dos dois Elementos essenciais da ação dramática
altares arde o fogo de melhor verdade!»
7. A missão do escritor é “falar ao coração e ao ânimo do povo Ação
pelo romance e pelo drama”.
“Este é um século democrático; tudo o que se fizer há de ser Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o
pelo povo e com o povo... ou não se faz. (...) desaparecimento de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir. Com ele
Os sonetos e os madrigais eram para as assembleias parte D. João de Portugal, personagem vital que desaparece também
perfumadas dessas damas que pagavam versos a sorrisos: – desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos
era talvez a melhor e mais segura letra que se vencia na estes acontecimentos decorrem sob domínio Filipino.
carteira do poeta. Os leitores e espectadores de hoje querem Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena
pasto mais forte, menos condimentado e mais substancial: é manda-o procurar durante sete anos mas em vão. Casa então com D.
povo, quer verdade. Dai-lhe a verdade do passado no romance Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de quem tem uma filha de 14 anos. D.
e no drama histórico - no drama e na novela de atualidade Madalena vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de tranquilidade, no
oferecei-lhe o espelho em que se mire a si e ao seu tempo, a receio de que o seu primeiro marido esteja vivo e acabe por voltar. Tal
sociedade que lhe está por cima, abaixo, ao seu nível, – e o facto acarretaria para Madalena uma situação de bigamia e a
povo há de aplaudir porque entende: é preciso entender para ilegitimidade de Maria, sua filha. Esta é tuberculosa e vive, em silêncio, o
apreciar e gostar.” drama da sua mãe que será o seu. Efetivamente D. João de Portugal
acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação.
A natureza trágica da ação D. Maria de Revolta contra a Não tem conflito Sofre fisicamente Morre
Noronha profissão religiosa Entra em (tuberculose) fisicamente
dos pais conflito: Sofre Vai para o céu
Elementos Hybris Agón Pathos Katastrophé
Revolta contra D. -com sua mãe (I, psicologicamente
Trágicos (o desafio) (o conflito) (o sofrimento) (a catástrofe)
João de Portugal 3 e 4) (não obtém
Revolta contra -com seu pai (I, resposta a
Personagens
Deus 3 e 5) muitos agoiros e
D. Madalena de Contra as leis e os Interior, de Sofrimento por Causada pelo
Convida os pais a -com Telmo tem vergonha da
Vilhena direitos da família: consciência causa do regresso de D.
mentir (II,1) ilegitimidade)
-adultério no Contínuo adultério João: morte
-com D. João de
coração Crescente Sofrimento pela psicológica
Portugal (I,4; II,
-consumação pelo Gerador de incerteza da (separação do
1 e 2; III, 11 e
casamento com D. conflitos: sorte do 1º marido e
12)
Manuel -com D. Manuel marido profissão
Telmo Pais Afeiçoa-se a Maria Conflito de Sofre pela dúvida Não poderá
-profanação de um (I,7 e 8) Sofrimento religiosa)
Deseja que D. João consciência constante que o resistir a tantos
sacramento -com D. João violento pela Salvação pela
de Portugal tivesse (III,4) assalta acerca da desgostos
-bigamia (I,1, 2, 3, 7 e 8) volta ao palácio purificação
morrido (II, 4 e 5) Conflito com morte de D. João
-com Maria (I,3) do 1º marido
outras de Portugal
-com Telmo (I,2) Sofrimento cruel
personagens: Sofre hesitando
após
-com D. entre a
conhecimento da
Madalena (I,2) fidelidade a D.
existência do 1º
-com D. Manuel João e a D.
marido:
(I, 2) Manuel
-pela perda do
-com Maria (I,2) Sofre a situação
marido
-com D. João de de Maria
-pela perda de
Portugal (III, 4 e
Maria
5)
Manuel de Revolta contra as Não tem conflito Sofre a angústia Morte
Sousa Coutinho autoridades de de consciência pela situação da psicológica:
Lisboa (I,8,11 e 12; Não entra em sua mulher (III,8) -separação da Personagens
II,1) conflito com as Sofre a angústia esposa
Desafia o destino outras pela situação -separação do
ao incendiar o personagens presente e futura mundo
D. Madalena de Vilhena
palácio (I,11 e 12) A sua hybris da filha (III,1) -profissão
Recusa o perdão desencadeia e religiosa
• Nobre: família e sangue dos Vilhenas (I,8)
(II,1) agudiza os Glória futura de
Inconscientemente conflitos das escritor: • Sentimental: deixa-se arrastar pelos sentimentos muito mais do que
participante da outras -Frei Luís de pela razão
hybris de sua personagens Sousa: glória de
esposa santo • Pecadora
D. João de Abandona a Não tem conflito Sofre o Morte • Torturada pelo remorso do passado: não chega a viver o presente
Portugal família Alimenta os esquecimento a psicológica:
por impossibilidade de abandonar o passado
Não pode dar conflitos dos que foi votado -separação da
notícias da sua outros Sofre pelo mulher • Redimida pela purificação no convento: saída romântica para
existência Agudiza todos casamento da -a situação solução de conflitos
Aparece quando os conflitos com sua mulher irremediável do
todos os julgavam o seu regresso Sofre por não anonimato • Modelo da mulher romântica: para os românticos, a mulher ou é
morto poder travar a anjo ou é diabo
marcha do
Destino (III,2)
• Personagem modelada: profundidade psicológica evidente; • Até à vinda do romeiro, representa o herói clássico racional,
capacidade de gerir conflitos (I,7) equilibrado e sereno. A razão domina os sentimentos pela ação da
• Marcada pelo destino: amor fatal vontade
• Apesar de ser uma heroína romântica, D. Madalena não luta por • Tem como ideal de vida o culto pela honra, pelo dever, pela nobreza
nenhuma ordem de valores superiores, nem por nenhum idealismo de ações (daí o seu nacionalismo e o incêndio do palácio)
generoso, pois nela não se evidencia de forma particular a luta por • Porém, no início do ato III, após o aparecimento do romeiro, Manuel
qualquer ideal de Sousa perde a serenidade e o equilíbrio clássico que sempre
• O que nela transparece acima de tudo é a sua natureza feminina, o teve e adquire características românticas. A razão deixa de lhe
seu amor de mulher a que prioritariamente se entrega, pois há nela disciplinar os seus sentimentos, e estes manifestam-se com
um conceito ou um desejo de felicidade que assenta numa vida descontrolada violência. Exemplos:
objetiva, concreta à dimensão humana o Revela sentimentos contraditórios (deseja simultaneamente a
• De qualquer modo, D. Madalena é uma personagem que se impõe à morte e a vida da filha)
compreensão, à estima e à simpatia do leitor, talvez pela o Utiliza um vocabulário trágico e repetitivo, próprio do código
espontaneidade com que vive a sua vida sentimental e moral. romântico (“desgraça”, “vergonha”, “escárnio”, “desonra”,
Embora procure no segundo casamento uma proteção para a sua “sepultura”, “infâmia”, etc.)
instabilidade, mantém sempre uma integridade moral em relação à o Opta por atitudes extremas (a ida para o convento) como
sua própria condição e até uma dignidade de classe que solução para uma situação socialmente condenável
naturalmente a impõe o Ao optar por esta atitude, encarna o mito do escritor romântico,
• Marcas psicológicas: angústia, remorso, inquietação, insegurança, como um ser de exceção, que se refugia na solidão para se
amor, medo e horror à solidão e é uma personagem dedicar à escrita
tendencialmente modelada porque apresenta bastante densidade • Embora esteja ausente, de uma forma expressa, de todo o mito
psicológica sebastianista que atravessa o drama, Manuel de Sousa insere-se
nele pela defesa dos valores nacionalistas
Manuel de Sousa Coutinho
D. João de Portugal:
• Nobre: cavaleiro de Malta (só os nobres é que ingressavam nessa
ordem religiosa) (I,2 e 4) • Nobre: família dos Vimiosos (I,2)
• Racional: deixa-se conduzir pela razão no que contrasta com a sua • Cavaleiro: combate com o seu rei em Alcácer Quibir (II,2)
mulher • Ama a pátria e o seu Rei
• Bom marido e pai terno (I,4; II,7) • Representante da época de oiro portuguesa
• Corajoso, audaz e decidido (I,7, 8, 9, 10, 11, 12; III, 8) • Imagem da Pátria cativa
• Marcado pelo destino (I, 11; II, 3 e 8) • Ligado à lenda de D. Sebastião (I,2)
• Encarna o mito romântico do escritor: refúgio no convento, que lhe • D. João é uma personagem dupla. Por um lado, é uma personagem
proporciona o isolamento necessário à escrita abstrata porque só por si não participa no conflito. Por outro, é uma
personagem concreta, porque mesmo ausente ele é a força
desencadeadora de toda a energia dramática da peça, é simultaneamente criança e adulto, não se impondo com nenhum
permanecendo permanentemente em cena através das outras destes estatutos.
personagens (através das evocações de Madalena, das convicções • Maria apresenta algumas marcas de personalidade romântica:
de Telmo, do Sebastianismo de Maria, das crenças, dos agouros e o É intuitiva e sentimental
dos sinais) o É idealista e fantasiosa, acreditando em crenças, sonhos,
• Porém, uma vez que a sua figura se concretiza em cena (a partir do profecias, agoiros, etc.
fim do II ato, é como se toda a sua força simbólica se esgotasse o Tem capacidade de desafiar as convenções pois ama a
pois que a personagem carece de força e de convicção para poder aventura e a glória
existir. De tal modo é assim que no final da peça ninguém se o Tem o culto do nacionalismo, do patriotismo e do
compadece dele como marido ultrajado, mas das outras Sebastianismo
personagens trágicas. o Apresenta uma fragilidade física em contraste com uma intensa
• D. João é assim uma personagem simbólica que movimenta todas força interior (é destemida)
as outras personagens. Simboliza a fatalidade, a força do Destino o Morre como vítima inocente
que atua inexoravelmente sobre as outras personagens, levando a
ação a um desfecho trágico. Telmo Pais

D. Maria de Noronha • Não nobre: escudeiro


• Ligado sempre à nobreza
• Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas (I,2) • Confidente de D. Madalena
• Precocemente desenvolvida, fisica e psicologicamente (I,2, 3 e 6) • Elo de ligação das famílias
• Doente: tuberculose, a doença dos românticos • Chama viva do passado: alimenta os terrores de D. Madalena
• Culto de Camões: evoca constantemente o passado (II,1) • Desempenha três funções do coro das tragédias clássicas: diálogo,
• Culto de D. Sebastião: martiriza a mãe involuntariamente (II,1) comentário e profecia
• Poderosa intuição e dotada do dom da profecia (I,4; II,3; III,12) • Ligado à lenda romântica sobre Camões
• Marcada pelo Destino: a fatalidade atinge-a e destrói-a (III,12) • Telmo tem como que uma dupla personalidade (uma personalidade
• Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo bom convencional e outra autêntica). A personalidade convencional é a
• A ameaça que percorre o texto é-lhe essencialmente dirigida, razão imagem com que Telmo se construiu para os outros, através dos
pela qual se torna vítima inocente e consequentemente heroína. tempos (a do escudeiro fiel). A personalidade autêntica é a sua
Quer atuando, quer através das falas das outras personagens, parte secreta, aquela que ele próprio não conhecia, e que veio à
Maria está sempre em cena, tornando-se assim o núcleo de superfície num momento trágico da revelação em que Telmo teve
construção de toda a peça. que decidir entre a fidelidade a D. João de Portugal ou a fidelidade a
• Maria não nos aparece nunca como uma personagem real pois a Maria.
sua figura é altamente idealizada. Como consequência dessa • Telmo vive assim um drama inconciliável entre o passado a que
idealização, Maria não tem uma dimensão psicológica real, porque quer ser fiel e o presente marcado pelo seu amor a Maria. É este
drama da unidade/fragmentação do “eu”, ou seja, este espetáculo
da própria mudança feito em cena que é uma novidade e uma nota Tempo
de modernidade no teatro de Garrett.
• Claro que esta autorrevelação é provocada por uma acontecimento Tempo da ação Tempo simbólico
Ato I • Visão de Manuel de Sousa Coutinho pela
externo que é o Destino, sem a atuação do qual esta revelação não primeira vez, à sexta-feira
se teria dado. 28/07/1599
• Alcácer-Quibir
Sexta-feira 04/08/1578
Frei Jorge Sexta-feira
Fim da tarde
• Casamento com Manuel de Sousa
• É confidente e conselheiro e à semelhança do coro clássico, faz Noite Coutinho: 7 anos depois da batalha
comentários aos factos Ato II Sexta-feira

• Pressente o desenlace trágico, contribuindo assim para que os 04/08/1599


acontecimentos sejam suavizados por uma perspetiva cristã • Regresso de D. João de Portugal no 21º
Sexta-feira aniversário da batalha
04/08/1599
Espaço Tarde Sexta-feira
Ato III
Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: moderno, luxuoso, aberto
para o exterior: Lisboa
04/08/1599

Sexta-feira
Palácio de D. João de Portugal: salão antigo,
melancólico Alta noite

Integração da obra na lei das três unidades


Ação • Os acontecimentos encadeiam-se extrinseca e intrinsecamente
Sala dos retratos
• Nada está deslocado nem pode ser suprimido
• O conflito aumenta progressivamente provocando um sofrimento cada vez
mais atroz
• A catástrofe é o desenlace esperado
• A verosimilhança é perfeita
• A unidade da ação é superiormente conseguida
Tempo 1599 Julho Agosto
Parte baixa do palácio de D. 6ª feira, Sábado, Domingo, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª,
João de Portugal 28 29 30 31 1 2 3 4

Ato I Ato II

Fim da tarde Tarde

Capela Noite Ato


III
Marcas românticas na obra
Alta
noite
uma semana • A crença no Sebastianismo
• Não respeita a duração de 24 horas
• O patriotismo e o nacionalismo – tais sentimentos estão bem
• A condensação do tempo é evidente e torna-se um facto trágico patentes no comportamento de Manuel de Sousa Coutinho e no
• O afunilamento do tempo é evidente: 21 anos, 14 anos, 7 anos, tarde noite, idealismo de Maria
amanhecer
• Uma semana justifica-se pela necessidade de distanciamento do
• As crenças – Agoiros, superstições, as visões e os sonhos, bem
acontecimento do ato I e da passagem a primeiro plano dos referentes ao evidentes em Madalena, Telmo e Maria
regresso de D. João de Portugal
• A religiosidade – A permanente referência ao cristianismo e ao culto
• O simbolismo do tempo: a sexta-feira fatal: II,10 – o regresso de D. João de
Portugal faz-se no 21º aniversário da batalha de Alcácer-Quibir (sexta-feira); • O individualismo
morte de D. Sebastião (sexta-feira); visão de D. Manuel pela 1ª vez (sexta- • O tema da morte
feira)

Espaço Espaço físico: Almada Caráter inovador de Frei Luís de Sousa


Ato I: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: luxo, grandes janelas sobre o Tejo –
felicidade aparente 1. A reestruturação e modernização do teatro nacional a nível do
Ato II: Palácio de D. João de Portugal: melancólico, pesado, escuro – peso da conteúdo e da forma. A peça é atual mas é enraizada nos valores
fatalidade, a desgraça
Ato III: Parte baixa do palácio de D. João: casarão sem ornato algum – abandono dos nacionais.
bens deste mundo. A cruz: elemento conotador de morte e de esperança. 2. A linguagem é simples, coloquial, emotiva, adaptada a todas as
circunstâncias.
Marcas clássicas na obra 3. O gosto pela realidade quotidiana:
a. Descrição de espaços concretos (casa, ambientes,
• A nível formal divide-se em três atos conforme a tragédia clássica decorações)
• Apresenta um reduzido número de personagens e estas são nobres b. Descrição de relações familiares (marido-mulher, pai-filha, tio-
de condição social e de sentimentos sobrinha, etc.)
• A ação desenvolve-se de forma trágica, apresentando todos os c. Descrição de ações do quotidiano (ler, escrever, passear,
passos da tragédia antiga (o desafio, o sofrimento, o combate, o dormir, etc.)
conflito, o destino, a peripécia, o reconhecimento, o clímax e a d. Preocupações que revelam a vida privada das personagens
catástrofe) (doença, visitas, etc.)
• O coro da tragédia clássica não existe mas está representado, de
forma esporádica, nas personagens Telmo e Frei Jorge

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