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O que é a filosofia?

1. O que é a arte?
Paul Gauguin, De onde vimos? Quem somos? Para onde vamos?, 1898.
Rembrandt, A Ronda da Noite, 1642.
O problema da definição da arte

Por que motivo é relevante


definir arte?

Para saber que postura devemos assumir


perante certos objetos.

Se um objeto é arte, devemos interagir


com ele de uma forma especial.
Robert Rauschenberg, Monogram, 1955-1959.
© Robert Rauschenberg, VAGA 2022
Cabrita Reis, Uma Escultura para Santo Tirso, 2001-2018.
O problema da definição da arte

Uma definição explícita


de arte inclui

Condição necessária Condição suficiente

Caraterística(s) Caraterística(s) que


partilhada por todas as apenas as obras de
obras de arte. arte possuem.

© Chris Madden 2022


O problema da definição da arte

As teorias

Essencialistas Não essencialistas

Algo é arte porque possui Algo é arte em virtude de


certas caraterísticas certas caraterísticas
intrínsecas. extrínsecas.

Jimmi Durham, As frases, 1995.


2. Teorias essencialistas

2.1. Representacionismo

Soares dos Reis, O desterrado, 1872.


Foto por GualdimG. CC BY-SA 4.0
Teoria representacionista

A arte como imitação

Algo é uma obra de arte se for a


Tese
imitação de alguma realidade.

Johannes Vermeer, A Leiteira, 1657-1658.


Cena do filme Big eyes, de Tim Burton, 2014.

Soares dos Reis, O desterrado, 1872.


Foto por GualdimG. CC BY-SA 4.0
Teoria representacionista

A arte como imitação

A imitação não é condição


Tese
necessária nem suficiente da arte.

A maestrina Joana Carneiro a dirigir uma orquestra.


Frank Gehry, Museu Guggenheim, Bilbau, 1997.

Fotografia de Cristiano Ronaldo a 14 de junho


de 2021 numa entrevista televisionada.
Teoria representacionista

A arte como
representação

Algo é uma obra de arte se representar


Tese alguma realidade.

Amadeo de Souza-Cardoso, A chalupa, 1914-1915.


Salvador Dalí, A persistência da memória, 1931.

Paula Rego, O Tempo – Passado e Presente, 1990.


Teoria representacionista

A arte como
representação

A representação não é condição


Crítica
necessária nem suficiente da arte.

Júlio Resende, sem título, 1971.


Rem Kolhaas, Casa da Música, Porto, 2005.

Sinal de trânsito
(cedência de passagem)
2. Teorias essencialistas

2.2. Expressivismo

Soares dos Reis, O desterrado, 1872.


Foto por GualdimG. CC BY-SA 4.0
Teoria expressivista de Tolstoi

A arte como expressão

Algo é uma obra de arte se e só se


Tese expressa emoções de forma
autêntica e eficaz.

August Rodin, O beijo, 1888.


Teoria expressivista de Tolstoi

Algo é uma obra de arte se alguém o criou para


Intencionalidade
expressar intencionalmente uma emoção.

Algo é uma obra de arte se o criador sente ou


Autenticidade
sentiu a emoção que está a expressar.

Algo é uma obra de arte se o público é contagiado


Eficácia
por essa mesma emoção ao contemplá-la.
Presságio 
Edward Hopper, New York Movie, 1939.
© Edward Hopper, ARS 2022 O amor, quando se revela, Mas quem sente muito, cala;
Não se sabe revelar. Quem quer dizer quanto sente
Sabe bem olhar p'ra ela, Fica sem alma nem fala,
Mas não lhe sabe falar. Fica só, inteiramente!

Quem quer dizer o que sente Mas se isto puder contar-lhe


Não sabe o que há de dizer. O que não lhe ouso contar,
Fala: parece que mente... Já não terei que falar-lhe
Cala: parece esquecer... Porque lhe estou a falar...

Ah, mas se ela adivinhasse,


Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Fernando Pessoa, Poesia 1918-1930, Assírio & Alvim, Lisboa, 2005, p. 311.
Teoria expressivista de Tolstoi

A arte como expressão

A expressão de emoções não é


Crítica condição necessária nem
suficiente da arte.

Paul Klee, sem título, 1914.


Raul Lino, Painel de azulejos de padrão, 1915.

Relato de um paciente ao seu terapeuta.


2. Teorias essencialistas

2.3. Formalismo

Soares dos Reis, O desterrado, 1872.


Foto por GualdimG. CC BY-SA 4.0
Teoria formalista de Bell

A arte como forma

Algo é uma obra de arte se e só se


Tese foi criado intencionalmente para
possuir e exibir forma significante.

Paul Cézanne, O Monte de Santa Vitória, 1895.


Teoria formalista de Bell

Arranjo especial de linhas, cores, volumes, etc., que só


Forma
as obras de arte possuem e que espoleta a emoção
significante estética.

Experiência que o público sente quando entra em


Emoção estética
contacto com a obra de arte, isto é, quando aprecia arte.
Hilma af Klint, Cisne n.º17, 1915.

Zaha Hadid, Hotel Morpheus em Macau, 2018.


Teoria formalista de Bell
Críticas
Muitas obras de arte não foram criadas com a intenção primária de
Intenção possuir e exibir forma significante (por exemplo, as figuras religiosas).

O conceito de forma significante é definido em função do conceito de


Círculo vicioso emoção estética, e este em função do primeiro.

Objetos Existem obras de arte indistinguíveis de objetos comuns. Se as obras


indistinguíveis de arte possuem forma significante, também os objetos comuns a
deveriam possuir (e deveriam ser também considerados obras de arte).
Arte rupestre em Altamira, Espanha,
entre 33 000 e 15 000 a. C.

Andy Warhol, Caixas de Brillo, 1964.


3. Teorias não essencialistas

3.1. Teoria institucional

Marcel Duchamp, Fonte, 1917.


Foto por Micha L. Rieser
Teoria institucional de Dickie

Algo é arte se e só se é um
artefacto criado para ser
Tese apresentado a um público do
mundo da arte.

César Israel Paulo, Clairvoyance, 2016


Teoria institucional de Dickie

Uma obra de arte é um artefacto, algo produzido ou


Versão antiga manipulado pelo ser humano...

… e que adquiriu um certo estatuto no interior de um enquadramento institucional


particular chamado “o mundo da arte”.
Teoria institucional de Dickie
I) Um artista é uma pessoa que participa, com conhecimento de causa, na
produção de uma obra de arte.

II) Uma obra de arte é um artefacto de uma espécie criada para ser
apresentada a um público do mundo da arte.
Versão
III) Um público é um conjunto de pessoas que estão preparadas, em certo grau, recente
para compreender um objeto que lhes é apresentado.

IV) O mundo da arte é a totalidade dos sistemas do mundo da arte.

V) Um sistema do mundo da arte é um enquadramento para a apresentação,


por um artista, de uma obra de arte a um público do mundo da arte.
José Pedro Croft, sem título, 1995.
Fonte: https://www.sines.pt/pages/396?news_id=2108

Joseph Beuys, Infiltração homogénea para piano de


cauda, 1966.
© Joseph Beuys, BILD-KUNST 2022
Teoria institucional de Dickie

Críticas

Sem apresentar um critério que permita distinguir a boa da má arte,


Tudo pode ser arte Dickie é obrigado a admitir que tudo pode ser arte.

Se o mundo da arte reconhece um objeto como sendo artístico,


Vagueza deve-o fazer com base em algum fundamento. Esta teoria é
demasiado vaga pois não refere nenhum desses fundamentos.
Maurizio Cattelan, Comediante, 2019.

Certificado da escultura imaterial


Eu sou, de Salvatore Garau, 2020.
3. Teorias não essencialistas

3.1. Teoria histórica

Marcel Duchamp, Fonte, 1917.


Foto por Micha L. Rieser
Teoria histórica de Levinson

Algo é uma obra arte se e só se


alguém pretende seriamente que
Tese ele seja encarado como foram
corretamente encaradas outras
obras de arte no passado.

Louise Bourgeois, Maman, 1999.


[Fotografia de Filipe Braga/Serralves]
Teoria histórica de Levinson

O seu criador detém algum tipo de direito de


Um item é arte se… propriedade sobre ele…

… e se tem a intenção séria de que esse item seja encarado como outros itens foram
corretamente encarados no passado como obras de arte.
Walter De Maria, O Quilómetro Partido, 1979.
[Instalação]

Andreas Gursky, Shanghai, 2000.


[Fotografia]
© Andreas Gunsky, BILD-KUNST 2022
Teoria histórica de Levinson

Críticas

É demasiado A condição do direito de propriedade exclui obras que todos


exclusiva consideram arte (por exemplo, a street art).

Se uma falsificação de uma obra de arte é produzida com a


É demasiado intenção de ser encarada-como-arte tal como outros objetos
inclusiva artísticos o foram no passado, deveria possuir o estatuto de obra
de arte.
Van Meegeren, A Ceia em Emaús, 1936-1937.

Banksy, Season Greatings, 2018.


O que é a filosofia?

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