Você está na página 1de 30

AS VANGUARDAS

EUROPEIAS
Profa. Maria Gabriella
O ADVENTO DAS VANGUARDAS
• A Europa, no início do século XX, passava por muitas mudanças: melhorias nas condições de
vida da população e avanços tecnológicos, com as recentes invenções (de fins do século XIX)
da lâmpada, do automóvel e do telefone.
• O espírito do homem moderno exala velocidade, ritmo de vida intenso, liberdade.
• Por outro lado, o início do século também teve duas grandes guerras: a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Além dos conflitos civis, em diferentes
países. O espírito do homem, assim, também, revelava a destruição, o horror, o abismo, a
tristeza, a fome, a loucura e a desintegração.
• É o século do desfacelamento das certezas, da perda de referências.
• À arte cabe o papel de representar a convulsão do sentido de existir caótico da vida.
GUERNICA, DE PABLO PICASSO
(1937)
O MUNDO EM CONVULSÃO: A
ARTE DO CAÓTICO DA VIDA
• Tudo nas primeiras décadas do século XX gritava por renovação, por ruptura, por liberdade.
• Apresenta-se um discurso contrário ao academicismo, à arte figurativa, ao excesso de
verossimilhança e de racionalidade.
• O senso artístico é violento nesse primeiro momento, evidenciando um desejo de renovação.
• As vanguardas passam a ter importância fundamental como elemento de transgressão e
reflexão sobre o mundo e de uma nova percepção da realidade.
• É a partir do experimentalismo nas manifestações artísticas que se oferece um campo propício
capaz de suprir as necessidades de representação desse novo homem e desse novo mundo.
AVANT-GARDE (VANGUARDA)
• O termo de cunho originalmente militar se refere às tropas que se posicionavam à frente para
atacar num campo de guerra, foi metaforizado para representar esses movimentos artísticos.
• A arte busca novas símbolos e novas formas de fazer arte, se colocando em armas a postos
para a guerra- contra o conservadorismo, contra o passadismo, contra o academicismo. O
espírito do tempo é a busca da inovação.
• É uma arte combativa, imersa num tom agressivo, violento, como forma de se afirmar como
possibilidade de novos caminhos para as manifestações artísticas, capazes de representar a
complexidade das relações firmadas no século XX em seus primeiros momentos.
MARINETTI, O FUTURISMO E O
CARÁTER DE DESTRUIÇÃO
• Fundador: Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944). Escreveu o Manifesto Futurista (1909)
• O Futurismo foi a pedra angular das manifestações artísticas do início do século XX,
influenciando outras estéticas.
• Características: Profundo senso de negação e de oposição; olhar para o futuro, expressando a
complexidade da vida cotidiana em explosão; ruptura com fórmulas acadêmicas e
tradicionais de arte; busca de uma arte livre (muitas vezes, anárquica); expressão da
intensidade da vida moderna dinâmica e cheia de energia.
• A arte futurista é intensa em sua expressividade tal qual a vida das cidades, com seus
barulhos, sua força industrial, o tempo corrido e fugidio.
MANIFESTO FUTURISTA (1909)
• “1. Nós pretendemos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e a intrepidez.
• 2. Coragem, audácia, e revolta serão elementos essenciais da nossa poesia. 3. Desde então a
literatura exaltou uma imobilidade pesarosa, êxtase e sono. Nós pretendemos exaltar a ação
agressiva, uma insónia febril, o progresso do corredor, o salto mortal, o soco e tapa.
• 4. Nós afirmamos que a magnificiência do mundo foi enriquecida por uma nova beleza: a
beleza da velocidade. Um carro de corrida cuja capota é adornada com grandes canos, como
serpentes de respirações explosivas de um carro bravejante que parece correr na metralha é
mais bonito do que a Vitória da Samotrácia.
• 5. Nós queremos cantar hinos ao homem e à roda, que arremessa a lança de seu espírito
sobre a Terra, ao longo de sua órbita. [...]”
O FUTURISMO NAS ARTES
• ODE TRIUNFAL • Em fúria fora e dentro de mim,
• Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) • Por todos os meus nervos dissecados fora,
•   • Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
• À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica • Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
• Tenho febre e escrevo. • De vos ouvir demasiadamente de perto,
• Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, • E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
• Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. • De expressão de todas as minhas sensações,
•   • Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
• Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
• Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
• [...] • Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
• Eia! eia! eia! •  
• Eia electricidade, nervos doentes da Matéria! • Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
• Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do • Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a
Inconsciente! trabalhar, eia!
• Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! •  
• Eia todo o passado dentro do presente! • Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
• Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! •  
• Eia! eia! eia! • Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
• Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! • Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
• Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! • Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
• Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, •  
engenho-me.
• Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
• Engatam-me em todos os comboios.
•  
• Içam-me em todos os cais.
•                         Londres, 1914 — Junho.
• Giro dentro das hélices de todos os navios.
• Eia! eia-hô! eia!
• “Para buscar seus objetivos revolucionários na arte, propunha-se
desvalorizar a tradição em prol da valorização de ícones da vida
industrial e tecnológica; utilizar onomatopeias e palavras que buscassem
a sonoridade como forma de representar os barulhos citadinos;
representar o conceito de velocidade por meio da fragmentação dos
enunciados; descontruir conceitos gráficos à ruptura com a linearidade e
com a ausência de simetria; perseguir a aproximação entre as várias
manifestações artísticas – pintura, literatura, cinema, dança, música.” (p.
12)
LINHAS DE MOVIMENTO DINÂMICO E SUCESSÃO,
1913 POR GIACOMO BALLA (1913)
CUBISMO: A ARTE EM PLANOS

Quadro Les Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso,


1907
ANÁLISE DA OBRA
• O quadro Les Demoiselles d’Avignon é considerado o marco do Cubismo como vanguarda no
início do século XX.
• Marcada por uma recepção de choque e escândalo.
• Características: corrupção da percepção estritamente figurativa da arte; renúncia à imitação
objetiva da realidade; ruptura com a concepção clássica de arte e de beleza; menosprezo pelas
proporções e pelas leis da perspectiva.
• Picasso opta pela distorção, pelo corte dos planos da realidade ao apresentar as figuras
femininas de forma “destruída” e em formas geométricas. Há uma quebra com o plano da
realidade ao utilizar-se formas assimétricas. Tudo na obra indica rompimento com conceitos
tradicionais de arte e de belo, daí o sentimento de horror vivenciado à época pelo público.
CUBISMO ANALÍTICO E A ARTE DA
DECOMPOSIÇÃO

• “Decomposição dos elementos


constitutivos da obra, preocupando-se
com a apresentação de todos os ângulos
e lados, e construindo planos sucessivos
e sobrepostos.”

• Alto nível de abstração;


• Predomínio de preto, cinza, tons de
marrom, tornando as obras
monocromáticas.

Quadro Woman with a Mandolin, de George


Braque, 1910
CUBISMO SINTÉTICO

• “[...] rompe-se com a estética


monocromática, adotando cores vivas e
vibrantes.”

• “[...] as formas são mais nítidas,


possibilitando maior reconhecimento
por parte do espectador.”

Retrato de Marie-Therese por Pablo Picasso, 1937


PICASSO E APOLLINAIRE: ENTRE
OS PINCÉIS E AS PALAVRAS
• Ceramista, pintor, escultor, poeta e dramaturgo, ficou mundialmente conhecido por suas
pinturas, principalmente, e por ser cofundador do Cubismo, ao lado de Georges Braque.
• Guillaume Apollinaire (1880-1918), importante escritor e crítico de arte francês, poeta e
autor de vários manifestos da arte vanguardista; além disso, é inventor do termo
Surrealismo. Sua poesia tem como princípios: a ruptura com as tradições literárias e os
valores do passado, ausência de pontuação, valorização de elementos gráficos, apreço pelo
verso livre etc.
"A pomba esfaqueada e o jato d'água“, Apollinaire,
Guillaume. Calligrammes. Poèmes de la paix et de la
guerre. 1913-1916.

• “[...] caráter gráfico e imagético da


poesia de forma explícita, visto que a
disposição espacial dos versos se
justifica pela intenção de criar impacto
visual.”
O MANIFESTO CUBISTA
• “As virtudes plásticas: a pureza, a unidade, a verdade tem abaixo de si a natureza domada.
Inutilmente se cobre o arco íris, as estações mudam, as multidões correm até a morte, a
ciência desfaz e recompõe o que existe, os mundos se distanciam para sempre de nossa
concepção, nossas fugazes imagens se repetem ou ressuscitam sua inconsciência e suas
cores, os odores, os rumores, que impressionam nossos sentidos nos surpreendem, para
desaparecer depois na natureza.
Este fenômeno de beleza não é eterno. Sabemos que nosso espírito não teve princípio e que
nunca cessará, porém, diante de tudo, formamos o conceito de criação e de fim do mundo.
Sem dúvida, muitos artistas-pintores seguem adorando as plantas, as pedras, a onda ou os
homens.
• [...]
• Deste lado da eternidade dançam as mortais formas do amor e o nome da natureza resume
sua péssima disciplina.
A chama é o símbolo da pintura e as três virtudes clássicas flamejam radiantes.
A chama tem esta unidade mágica pela qual, se divide, cada pequena chama é semelhante à
chama única.
• [...]
• Os artistas-pintores virtuosos desta época ocidental consideram sua pureza em oposição às
forças naturais.
Ela é o esquecimento depois da pintura de estúdio. E para que um artista puro morresse não
deveriam ter existido todos aqueles dos séculos passados.
A pintura se purifica no ocidente com aquela lógica ideal que os pintores antigos
transmitiram aos novos como lhes dessem a vida.
E isto é tudo.
Um homem vive no prazer, outro na dor, alguns acabam com a herança, outros se fazem
ricos, e outros, finalmente, não têm mais que a vida.
E isto é tudo.” (APOLLINAIRE, Guillaume. Manifesto cubista)
EXPRESSIONISMO: ENTRE O
CONCEITO DE BELO E DE FEIO
• O Manifesto Expressionista foi o veículo de propaganda das suas principais ideias.
• Arte que possui uma postura de descompromisso com uma representação figurativa da
realidade.
• Interpretação singular da realidade vivida, estruturada pelo artista.
• A arte é pessoal e intuitiva.
• Temáticas: expressão da miséria, da dor, do sofrimento, da solidão e da tragicidade da
condição humana (consequência indireta dos horrores da Primeira Guerra Mundial e do
sentimento de angústia relativo aos sofrimentos desse acontecimento).
• Uso de cores fortes e vibrantes. Distorção de figuras e objetos.
O GRITO DE EDWARD MUNCH, 1893
GRODEK,GEORGE TRAKL
• “Ao entardecer, as florestas outonais
Ecoam de armas mortíferas, e as planícies douradas
E os lagos azuis, por sobre os quais rola
Um sol sombrio; a noite abraça
Guerreiros moribundos, o lamento selvagem
das suas bocas destroçadas.”

• “[...] verifica-se a forte tendência a uma


poesia subjetiva em que a percepção
particular do poeta se faz infiltrar.”
SURREALISMO: A LIBERTAÇÃO DO
INCONSCIENTE
• Salvador Dalí (1904-1989) é um dos principais representantes da estética surrealista.
• Imagens bizarras e oníricas; Impacto do sonho e do inconsciente.
• Influenciados pelos ideais de Freud, os surrealistas colocaram no centro de suas
obras o apreço pelos aspectos obscuros e não tangíveis do inconsciente.
• Exercício de descontextualização da linguagem, em que as palavras são esvaziadas
de seu significado lato (original) para adquirir novas significações em outros
contextos em que são inseridas, criando, assim, uma livre associação de ideias.
A TRAIÇÃO DAS IMAGENS, RENÉ
MAGRITTE, 1929
O MANIFESTO SURREALISTA DE
ANDRÉ BRETON, 1924
• “Tamanha é a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, bem entendido, a vida real, que afinal
esta crença se perde. O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com seu destino, a
custo repara nos objetos de seu uso habitual, e que lhe vieram por sua displicência, ou quase sempre por
seu esforço, pois ele aceitou trabalhar, ou pelo menos, não lhe repugnou tomar sua decisão ( o que ele
chama decisão! ). [...]
• Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação.
• [...]
• Só com muita fé poderiam nos contestar o direito de empregar a palavra SURREALISMO no sentido
muito particular em que o entendemos, pois está claro que antes de nós esta palavra não obteve êxito.
Defino-a pois uma vez por todas.
• SURREALISMO, s.m. Automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja
por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento,
na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.”
DADAÍSMO: A ARTE DO NON SENSE
• Caráter antirracional, construindo um ambiente de desafio à lógica e com apego à
espontaneidade e gratuidade da arte.
• A expressão artística dadaísta é avessa às explicações e à necessidade de revelação do
mundo, do homem e de suas verdades, beirando, desse modo, a incompreensão de seus
textos e de suas obras.
A FONTE, DE MARCEL DUCHAMP,
1917

• “[...] com um postura antiartística e


provocativa, Duchamp apresentou sua
obra A Fonte, um urinol de cerâmica
branca invertido. [...] O objetivo é o
choque e o desconcerto da reação do
público.”
• Para fazer um poema dadaísta • Pegue um jornal.
• Tristan Tzara
Pegue uma tesoura.
Escolha no jornal um artigo com o
comprimento que pensa dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Depois, recorte cuidadosamente todas as
palavras que formam o artigo e meta-as num
saco.
Agite suavemente.
Seguidamente, tire os recortes um por um.
Copie conscienciosamente pela ordem em
que saem do saco.
O poema será parecido consigo.
ATIVIDADES
• Observe a imagem abaixo para responder as questões:

Golconda, de René Magritte, 1953


• 1. Considerando o elemento onírico muito presente nas obras surrealistas, indique quais
estão presentes no quadro surrealista de Magritte.

• 2. É possível afirmar que a tela simultaneamente nos dá uma noção de grupo e de


individualidade? Explique.

• 3. Que elementos seriam necessários para a construção de sentido da obra no texto I?

• 4. Em que medida loucura e liberdade se conjugam no ideário surrealista? Explique.

• Questões adaptadas da página 31 (Livro FTD – p. 31)

Você também pode gostar