Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Especulações...
Fases poéticas de Álvaro de Campos
● 1.ª fase – Decadentista
▪ características:
❶ atitude de tédio (de viver) e desilusão perante o desenrolar de uma vida
monótona e sem objetivos;
❷ o cansaço, a frustração e o enfado levam o sujeito poético a desejar a evasão para
um não-lugar e a ver no ópio um refúgio;
❸ cansaço da civilização;
❹ busca da evasão;
❺ procura de novas sensações: o sujeito poético procura novas sensações;
❻ atitude desafiadora das normas instituídas: o sujeito poético exibe uma atitude
desafiadora das normas instituídas e uma recusa em compactuar com os cânones
sociais (ex.: quadro Mona Lisa com bigodes, de Marcel Duchamp).
● 2.ª fase – Futurista e Sensacionista
▪ poemas - “Ode Triunfal”, 1914
- “Ode Marítima”, 1915
- “Saudação a Walt Whitman”, 1915 (poeta americano que fazia o elogio da vida
moderna)
▪ características:
❶ apologia do progresso, da civilização tecnológica, da modernidade, da força e da
velocidade, numa linguagem impetuosa e exuberante;
❷ exaltação do presente: “Porque o presente é todo o passado e todo o futuro”;
❸ celebração do triunfo da máquina, na qual são projetados os sonhos e os desejos
do poeta;
❹ experiência e expressão excessiva das sensações;
❺ sadismo e masoquismo;
❻ euforia emocional.
● 3.ª fase – Intimista ou abúlica
▪ poemas - “Esta velha angústia”
- “Lisbon Revisited 1923”
- “Tabacaria”
- “Datilografia”
- “Aniversário”
▪ características:
❶ a deceção, o desalento, e a angústia existencial da vida moderna;
❷ o vazio, a falta de afeto e a ausência de ligação aos outros;
❸ o abatimento, que o leva a sofrer fechado em si, consciente de que não sairá
deste estado;
❹ a recordação nostálgica da infância, tempo dos afetos, que não voltará a aceitar.
· Futurismo (2.ª fase):
-» Apologia / elogio da civilização mecânica e industrial e da técnica;
-» Ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional;
-» Atitude escandalosa e chocante: transgressão da moral estabelecida.
Sensacionismo:
-» Vivência em excesso de sensações («Sentir tudo de todas as maneiras» -
afastamento
de Caeiro;
-» Atitudes sadistas e masoquistas;
-» Cantor apaixonado do mundo moderno, contemporâneo.
· Romantismo:
-» Hipertrofia do «eu»;
-» Excesso;
-» Desejo de evasão e dispersão.
· Ser dividido entre o sonho e a realidade
Álvaro de Campos - Linguagem e estilo
· Aspectos fónicos:
-» Verso livre, em geral muito longo;
-» Irregularidade formal (estrófica, métrica e rítmica);
-» Assonâncias, onomatopeias, aliterações;
-» Rima interior;
-» Ritmo amplo, com alternâncias.
• Campos sente uma ânsia eufórica de abarcar a totalidade e a complexidade das
sensações: “todos”, “todas”. O excesso de sensações representa a vontade do
«eu» de experimentar intensamente e de todas as maneiras a multiplicidade de
situações da vida moderna – sentir tudo de todas as maneiras -, por isso,
extasiado, deseja “exprimir-[se] todo como um motor se exprime! / Ser completo
como uma máquina! / Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-
modelo!” (vv. 26-28).
• O desejo de excesso de sensações leva-o mesmo a assumir uma
atitude sadomasoquista (vv. 134-135) só para aceder a “tudo com que hoje se
constrói, com que hoje se é diferente de ontem!” (v. 101). De facto, o
sensacionismo de Campos é de cariz masoquista e sensualista e apela a um gozo
orgíaco e extremo: “Eu podia morrer triturado por um motor” (v. 134); “Atirem-
me para dentro das fornalhas” (v. 136), etc.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
Análise da «Ode Triunfal» (1.ª parte)
▪ 1.ª estrofe:
• Localização:
• Estado de espírito do sujeito poético:
• Ação do sujeito poético:
- engenheiro;
- escritor (“Escrevo”):
• Valorização de um novo conceito de arte/estética, de uma nova forma de
beleza “totalmente desconhecida dos antigos” (vv. 3-4, 15, 37-40):
• O sensacionismo de Álvaro de Campos inspira-se no de Alberto Caeiro, visível no
modo como um e outro apreendem o real: através das sensações. No entanto,
enquanto que Caeiro o faz de uma forma calma e tranquila e baseado na
Natureza, Campos procura as sensações nos maquinismos e deixa-se levar pelos
excessos característicos do futurismo bem evidentes na linguagem utilizada:
- interjeições: “Ah” (v. 26);
• Sensacionismo – presença dos cinco sentidos:
- audição:
. “ruídos modernos”;
- visão:
- paladar/gosto:
- tato:
. “calores” (v. 31);
- olfato:
• Campos sente uma ânsia eufórica de abarcar a totalidade e a complexidade das
sensações: “todos”, “todas”. O excesso de sensações representa a vontade do
«eu» de experimentar intensamente e de todas as maneiras a multiplicidade de
situações da vida moderna – sentir tudo de todas as maneiras -, por isso,
extasiado, deseja “exprimir-[se] todo como um motor se exprime! / Ser completo
como uma máquina! / Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-
modelo!” (vv. 26-28).
• O desejo de excesso de sensações leva-o mesmo a assumir uma
atitude sadomasoquista (vv. 134-135) só para aceder a “tudo com que hoje se
constrói, com que hoje se é diferente de ontem!” (v. 101). De facto, o
sensacionismo de Campos é de cariz masoquista e sensualista e apela a um gozo
orgíaco e extremo: “Eu podia morrer triturado por um motor” (v. 134); “Atirem-
me para dentro das fornalhas” (v. 136), etc
▪ Realidades cantadas
• As realidades cantadas são diversas, desde as referentes aos avanços da
técnica (grandes lâmpadas elétricas das fábricas, rodas, engrenagens,
maquinismos, ruídos modernos, máquinas, motores, correias de transmissão,
êmbolos, volantes, comboios, navios, guindastes, fábricas, etc.) e até às que
prefiguram o lado negativo da civilização industrial (corrupções políticas,
escândalos financeiros e diplomáticos, agressões políticas, regicídios, notícias
desmentidas, desastres de comboios, naufrágios, revoluções, alterações de
constituições, guerras, invasões, injustiças, violência, etc.).
• Um pouco à semelhança de Cesário Verde, Campos inova ao conferir poeticidade
a temáticas não usuais: máquinas, motores, fábricas, energia, matéria, força,
etc., através de uma linguagem carregada de nomes concretos e abstratos,
fonemas substantivados (r-r-r-r-r-r-r…), topónimos (Panamá, Kiel…),
antropónimos (Platão, Virgílio…), estrangeirismos (souteneur, foule…), tipos de
letra variados (vv. 5, 72, 238), maiúsculas desusadas (Prodígio, Sol…),
adjetivação expressiva, figuras de estilo (polissíndetos, metáforas, anáforas,
apóstrofes, enumerações, personificações, sinestesias, perífrases, trocadilhos,
reiterações, gradações, comparações, aliterações…), neologismos (passante),
formas verbais variadas, advérbios expressivos (estridentemente,
exageradamente…), gerúndios (rangendo, sorrindo), interjeições (ah, hilla,
eia…), rimas internas (vv. 24, 25, 70) e onomatopeias (ciciar, up-lá ôh…).
▪ Linguagem erótica
• Álvaro de Campos canta o mundo do progresso industrial e mecânico através de
uma linguagem evocadora de um certo erotismo: “Amo-
vos carnivoramente, / Pervertidamente…” (vv. 105-106); “Completamente
vos possuo como a uma mulher bela…”.
• Por outro lado, essa linguagem possui um sentido profundamente masoquista:
“Eu podia morrer triturado por um motor…” (v. 134), que se orienta mais para a
criação de sensações novas e violentas (sensacionismo) do que para a exaltação
das máquinas.
- visuais:
• Comparando com o real de Caeiro, em Campos a Natureza é substituída
pela visão do mundo moderno e “supercivilizado” (“Em febre e olhando os
motores como a uma Natureza tropical”, “Desta flora estupenda, negra,
artificial e insaciável”), com o qual o sujeito poético estabelece uma
ligação estranha, eufórica e exaltada, caracterizado também por
um erotismo frenético e doentio (“Fazendo-me um excesso de carícias ao
corpo numa só carícia à alma.”; “Poder ao menos penetrar-me
fisicamente de tudo isto, / Rasgar-me todo, abrir-me completamente,
tornar-me passento / A todos os perfumes de óleos e calores e carvões”).
• A visão excessiva e intensa do real provoca no sujeito poético um estado
de quase alucinação marcadamente erótico que começa a desenhar-se na
segunda estrofe (“Em fúria fora e dentro de mim” – v. 7), intensifica-se
na terceira e atinge o clímax na última, conferindo, assim, ao texto a sua
faceta provocatória e escandalosamente futurista.
▪ A temática da infância
Entre os versos 181 e 189, numa estrofe parentética, Álvaro de Campos
retoma um tema comum ao ortónimo e aos heterónimos - a infância -, que
surge mais uma vez como a idade perfeita, um espaço de liberdade, de não-
pensamento, de felicidade, no que se opõe ao presente. Nos versos citados, a
infância surge representada por diversos elementos: a nora, o quintal, a casa,
os pinheiros, o burro - animal significativo que representa a ausência de
pensamento / racionalidade.
▪ Denúncia do lado negativo da civilização industrial
• O «eu» exalta tudo o que simboliza a modernidade e a era industrial, o
que inclui os seus aspetos negativos: “Que importa tudo isto, mas que
importa tudo isto, / Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo, / Ao ruído
cruel e delicioso da civilização de hoje?” (vv. 207-210).
. a desumanidade;
. a corrupção;
. a mentira;
. a guerra;
• É um sensacionista que pretende sentir tudo de todas as maneiras e
identificar-se com tudo (pessoas, máquinas, tempos), num misto de
volúpia e vertigem, numa histeria de sensações que passa pela
identificação com tudo: “Ah!, poder exprimir-me todo como um motor se
exprime! / Ser completo como uma máquina!”; “Poder ao menos
penetrar-me fisicamente de tudo isto…”.
• No entanto, o «eu» da “Ode Triunfal” também critica os aspetos negativos
da civilização moderna industrial, mesmo identificando-se com ela.
• Além disso, revela a sua descrença, o seu desencanto e o seu pessimismo
e evoca, com nostalgia e saudade, a infância
Análise da "Ode Triunfal" (3.ª parte)
● Forma
O poema é composto por estrofes de extensão variada (vv. 4, 10, 11, 17,
etc.) e por versos em que não existe uma regularidade métrica (vv. 23, 6, 16, 24,
etc.). Esta irregularidade sugere a exaltação (aparentemente) descontroladora do
«eu» lírico e a ideia de que uma nova realidade pede um novo tipo de poesia que
seja menos presa à regularidade.
● Rutura com a lírica tradicional
1. Formal:
2.▪Conteúdo:
- uso de palavras completamente prosaicas (comuns ou vulgares);
● Influências
• Futurismo:
. Em Portugal, o Futurismo é uma das facetas do Modernismo.
Derivou do Futurismo de Marinetti, cujo primeiro manifesto saiu
no jornal Figaro em 22 de novembro de 1909.
▪ A antítese:
▪ Metáforas e imagens:
▪ O ritmo do poema é torrencial, feroz, vivo, onde surgem em catadupa as
diferentes realidades captadas pro um «eu» em plena histeria de sensações.
▪ Onomatopeias (“r-r-r-r-r-r-r eterno”).
▪ Apóstrofes (“Ó rodas, ó engrenagens”).
▪ Aliterações: “Rugindo, rangendo […] ferreando”.
▪ Empréstimos: «jockey».
▪ Grafismos inovadores (“Hup-lá, hup-lá, hup-lá-ô, hup-lá”; “Z-z-z-z-z-z-z-z-z-
z-z-z!”).
▪ Diferentes registos de língua, nomeadamente o recurso ao calão: «putas».