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David Hume | Uma teoria explicativa do conhecimento

Empirismo

David Hume (1711-1776)

Foi um dos maiores e mais influentes


filósofos do século XVIII. Importante
representante do empirismo, Hume
defendeu:
✓ o primado da experiência no
conhecimento;
✓ expôs as debilidades da razão
humana;
✓ e considerou que todo o nosso
conhecimento é apenas provável e
verosímil.
Espírito pragmático e naturalista, hostil
à metafísica e à religião, é considerado
Allan Ramsay,
David Hume, 1766 um cético.
David Hume e o empirismo

Como empirista, Hume baseia o seu pensamento filosófico nas seguintes ideias
principais:

• Todo o conhecimento deriva da experiência - é a posteriori;

• A mente é uma “tábua rasa”;

• Não existem ideias inatas.


David Hume e o empirismo

Qual é a origem do conhecimento para Hume?

✓ Todo o conhecimento provém da experiência; os dados dessa experiência, sobre


a forma de perceções ou representações, são os primeiros elementos a
alcançarem a mente humana
✓ Assim, as perceções correspondem a qualquer conteúdo da experiência
(externa, como observar, sentir, ou interna, como recordar ou imaginar)

Existem dois tipos de perceções (que são os elementos do conhecimento):

Impressões Ideias
(sensações) (imagens/cópias)

Sensações externas Simples


Sentimentos internos Complexas

(analisar texto 12, p.165)


David Hume e o empirismo

As impressões e as ideias diferem quanto à qualidade e quanto ao grau de intensidade:

✓ Impressões (sensações externas/sentimentos internos) → correspondendo a


experiências, têm mais vivacidade, são mais fortes do que as ideias porque mais
claras;

✓ Ideias (simples e complexas) → são produto da memória ou da imaginação; da


memória quando recordamos uma impressão passada; da imaginação, quando
formamos na nossa mente a imagem de um objeto possível; são sempre cópias
derivadas das impressões sobre a forma de representação, têm menos vivacidade,
são mais fracas e constituem uma imagem enfraquecida das impressões no
pensamento.

Total secundarização/submissão da mente/razão à experiência


David Hume e o empirismo
• David Hume afirma não ser possível aos seres humanos terem uma ideia de algo que não
tenham primeiro experienciado enquanto impressão:
“o mais vivo pensamento é ainda inferior à mais baça sensação” (David Hume)

• As impressões são o material primitivo, a origem do conhecimento; a inexistência de


impressão, origina a inexistência da ideia: as ideias precisam de ter sentido, o que é
dado pela impressão (daí que as ideias de alma ou de Deus não tenham sentido)
• Distingue:

Ideias simples → as que não podem ser decompostas, pois derivam de


impressões simples;
Ideias complexas → combinações de ideias simples (sereia, cavalo alado, etc.)
David Hume e o empirismo
Como funciona o pensamento e como se constrói o conhecimento?

Através da associação de ideias; o raciocínio é o resultado da capacidade criativa, que permite,


por exemplo, antecipar factos.

Esta capacidade de associar ideias não funciona de modo arbitrário; Hume estabeleceu
leis/princípios associativos que dirigem essa combinação de ideias pela imaginação:

✓ Semelhança: se dois objetos se assemelham, então a ideia de um conduz ao outro;

✓ Contiguidade no espaço e/ou no tempo: a lembrança do comboio leva a pensar na estação


ou nos passageiros;

✓ Causalidade (causa e efeito): a água fria posta ao lume (causa), leva a pensar na fervura
(efeito).

O nosso conhecimento do mundo deriva destas leis associativas da imaginação e não de ideias a
priori.
(p. 168 do manual)
David Hume e o empirismo

David Hume distingue dois tipos de conhecimento:

• Conhecimento de ideias (relação de ideias)

• Conhecimento de factos (questões de facto)

Como se caracterizam?
(analisar texto 14, p. 169 do manual)
David Hume e o empirismo

Características do conhecimento de ideias (relação de ideias):

• É um conhecimento a priori e consiste em estabelecer relações entre as ideias que


constituem as proposições;
• Afirmar, por exemplo, que o todo é maior que as suas partes é produzir uma
proposição independente dos factos, da existência concreta do todo e das partes;
• Embora estas ideias não deixem de derivar das experiência, segundo D. Hume, a
relação entre elas é independente da mesma;
• Têm carácter evidente (matemática, geometria, lógica), expressam-se em
proposições/juízos analíticas - «podem descobrir-se pela simples operação do
pensamento» -, são logicamente necessárias – pois baseiam-se no princípio da não
contradição, logo constituem verdades lógicas (formais).
David Hume e o empirismo

Características do conhecimento de factos (questões de facto):

• São a posteriori, pois a sua verdade depende da verificação empírica (são indutivas);
• Constituem-se em proposições/juízos sintéticos, pois afirmam alguma coisa sobre o
que acontece na realidade;
• As questões de facto assentam sobre a relação de causa e efeito - princípio da
causalidade;
• As proposições relativas a factos não se fundamentam no princípio da contradição, já
que é sempre possível afirmar o contrário de um juízo de facto; o calor dilata os
corpos não é uma certeza, podemos afirmar o seu contrário, pois no futuro ninguém
pode garantir que o calor deixe de dilatar os corpos;
• As questões de facto resultam em verdades contingentes, pois a sua negação é
logicamente possível.
David Hume e o empirismo

O problema das relações de causalidade

Tese: A ideia de causalidade entre os acontecimentos não tem fundamento racional


Porquê?

→ A ideia de relação causa/efeito está na base das inferências (por indução) acerca de
factos/acontecimentos futuros – é entendida como sendo uma conexão necessária: um
determinado efeito produz-se necessariamente a partir de uma causa;

→ No entanto, não há qualquer impressão relativa à ideia de conexão necessária entre


os fenómenos; só pela experiência é que se pode conhecer a relação entre a causa e o
efeito, e a única coisa que percecionamos foi que entre dois fenómenos se verificou, no
passado, uma sucessão constante (um ocorreu sempre a seguir ao outro), o que não
permite concluir que entre eles haja uma conexão necessária;
David Hume e o empirismo

O problema das relações de causalidade - continuação

→ Por isso, na perspetiva de David Hume, o conhecimento humano acerca dos factos,
não é rigorosamente conhecimento; trata-se de uma crença, no sentido de suposição
ou de probabilidade;
→ Tal não significa que não se tenha a certeza que o fogo queimará, ou que a água
molhará;
→ Esta certeza, contudo, tem apenas um fundamento psicológico e não gnoseológico:
trata-se do hábito ou costume;
→ É o hábito de observar um facto suceder ao outro, que nos leva à crença de que
sempre assim sucederá;
→ Ainda que um grande guia na vida prática, o hábito não pode constituir um princípio
racional de conhecimento.
David Hume e o empirismo

O problema das relações de causalidade - conclusão

Como a inferência causal/conhecimento só pode ser aceite com base numa impressão:
→ as três substância cartesianas - eu, mundo e Deus – deixam de fazer parte do nosso
conhecimento:

→ a crença na identidade, unidade e permanência do eu, é apenas produto da


imaginação;

→ afirmar a existência de uma realidade/mundo que seja causa das nossas perceções,
distinta e exterior a elas, não faz sentido, pois não temos a impressão de tal realidade
(apenas uma crença intuitiva na existência do real);

→ por último, Deus não é objeto de nenhuma impressão pelo que tanto podemos
afirmar a sua existência como o seu contrário, a sua não-existência.
David Hume e o empirismo

Conclusão:
• a causalidade do real não é acessível ao conhecimento (e por conseguinte a sua
explicação), pois não pode ser diretamente observada ( e todo o conhecimento
humano decorre da experiência), menos ainda inferida pela razão; assim, não
podemos justificar a crença na realidade do mundo exterior;
• Dado que só conhecemos as perceções, a realidade acaba por se reduzir aos
fenómenos, ou seja, ao que aparece – fenomenismo;
• O empirismo de Hume resulta num ceticismo moderado, defendendo que a posição
cética, em certas questões, é insuperável, que o conhecimento humano é
efetivamente limitado, mas que a necessidade de insistir na crença intuitiva na
existência do real e na possibilidade do seu conhecimento, não deve ser abandonada,
em nome da sobrevivência humana – defesa do antidogmatismo e do espírito de
abertura do entendimento do homem.

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