Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Para responder às ambições o autor propôs uma O republicanismo defende a liberdade como não –
distribuição à priori de acordo com as mesmas, dominação, como alternativa a liberdade positiva
sendo que caberia à própria pessoa e a liberdade negativa.
responsabilizar-se pelo resultado das suas escolhas
Para o republicanismo, o Estado deve distribuir
após esse momento.
os recursos de maneira a maximizar a liberdade
como não-dominação.
A objeção principal ao republicanismo é a de não nova empresa. O que seria uma boa
constituir uma alternativa real ao liberalismo. regra para ultrapassar os conflitos
entre os três?
o Para Rawls, devemos pensar na
sociedade da mesma forma: que
regras formular para ultrapassar os
John Rawls, Uma Teoria da Justiça
conflitos entre os interesses
Contexto filosófico individuais? Mas qual é a regra de
distribuição mais justa para todos?
Utilitarismo e intuicionismo
o O utilitarismo, que nasce com Ideia da “estrutura de base da
Bentham no século das luzes, e sociedade”
desenvolve-se com Mill, domina os o É a forma pela qual as instituições
debates morais sociais mais importantes
o O intuicionismo é uma alternativa distribuem os direitos e obrigações
fraca ao utilitarismo fundamentais e determinam a
A tradição do contrato social divisão dos benefícios da
o Influência de Locke, Rousseau e cooperação em sociedade.
Kant o Numa sociedade feudal onde o
Conceito de estado de natureza +acordo original=contrato social João nasce campesino e a Carla
aristocrata, a vida da Carla corre
A filosofia moral de Kant melhor, apesar dos esforços do
o Imperativos hipotéticos vs. João.
imperativos categóricos
Objeção à eficiência – a eficiência não especifica Mas se os bens sociais e económicos forem
um padrão distributivo distribuídos de maneira igual (dado que os
empreendedores não têm mérito pelos seus
Objeção à igualdade formal – não tem em conta a talentos), então os talentosos não têm incentivos
lotaria genética e a lotaria social em cultivar esses talentos.
Rawls rejeita esta interpretação libertária pois não Se o sistema recompensa os talentosos, apesar de
tem em conta as desigualdades sociais e naturais gerar desigualdades irá melhorar a situação dos
de partida. menos favorecidos. Os limites a estas
desigualdades são impostos pelo princípio da
diferença – as desigualdades “são justas se, e
apenas se, funcionarem como parte de um sistema
que melhore as expectativas dos membros menos
beneficiados da sociedade”.
felicidade de acordo com os seus planos de vida.
Assim, há mais respeito pela liberdade.
A procura da estabilidade
Estabilidade e congruência entre o bem e o
justo
Tem como objetivo explicar de que maneira os
cidadãos, numa sociedade bem ordenada cuja
estrutura reflete os dois princípios da Teoria da
Justiça, tendem a apoiar a justiça social, tornando
a sociedade estável.
Trata-se do problema da congruência entre o
pluralismo do bem e o universalismo do justo: a
justiça torna-se reguladora do plano de vida de
cada pessoa – mais tarde, refuta esta ideia dado
que é fundada na autonomia individual (Kant) que
é incompatível com o pluralismo razoável das
conceções do bem.
Robert Nozick, Anarquia, Estado e Utopia A tese da propriedade de si
Introdução Não devemos ignorar que todos temos vidas
separadas – propriedade de si. Segundo este autor,
Robert Nozick defende o libertarismo: defesa do
a propriedade de si deve ser absoluta
mercado livre, dos direitos absolutos de
propriedade e do Estado mínimo.
A teoria de Nozick fundamenta-se no valor dos A teoria da justiça da titularidade
direitos absolutos de propriedade: direitos da
Nozick quer um Estado mínimo que proteja a
propriedade de si e da propriedade de coisas no
propriedade privada, a qual deve ser moralmente
mundo.
justificada graças à titularidade.
Ninguém tem o direito de intervir com a nossa
Exemplo: uma pessoa muito rica recebe por
pessoa nem com as nossas possessões sem o nosso
herança mais riqueza ainda. Não é uma
consentimento, a não ser que tenhamos perdido os
necessidade e não tem mérito por isso. Mas tem o
nossos direitos por ter violado os dos outros.
direito a essa riqueza, ou seja, tem titularidade?
O direito à liberdade é a consequência do direito à
Se a riqueza foi obtida com justiça na aquisição ou
propriedade de si.
com justiça na transferência ou com justiça na
retificação, então tem titularidade.
Uma tradição individualista
Influenciado por Locke, a tradição de Nozick é a O Estado mínimo
tradição individualista dos direitos naturais.
Ter direitos absolutos de propriedade sobre si e
A defesa do Estado mínimo de Nozick é composta sobre as coisas não garante que estes sejam
por três etapas: respeitados. Como proteger-nos das violações
possíveis? Chamando a polícia e levando a
Contra o anarquista, Nozick defende que o tribunal os violadores.
Estado mínimo é justificado Os anarquistas não querem Estado. Mas isto é
Contra o que defende um Estado extenso, idealista e leva ao risco de caos e guerra civil.
Nozick defende um Estado limitado Nozick quer um Estado “guarda-noturno”.
O Estado mínimo não é um problema, pois
serve de inspiração para as utopias Nozick é contra a redistribuição compulsiva das
riquezas, e contra o paternalismo. É contra a ajuda
compulsiva aos pobres (Estado social).
O libertarismo de Nozick
Entre anarquia e Estado Uma estrutura para a utopia?
Nozick diz que os indivíduos têm direitos e que há Nozick não é contra a filantropia. Devemos, no
coisas que nenhuma pessoa ou grupo lhes pode entanto, distinguir entre o moralmente correto e
fazer sem violar os seus direitos. aquilo que é justo inscrever na lei como
A anarquia não é uma consequência inevitável, ao obrigatório.
contrário do Estado mínimo. Nozick é, então, Nozick não é contra os seguros no mercado
contra o Estado social uma vez que viola os privado, dado que muito bens são distribuídos
direitos individuais. graças a este.
O Estado mínimo é uma estrutura neutra que dá o Influência de Kant sobre Nozick: segunda
máximo de liberdade para criar sociedades muito formulação do imperativo categórico “Age de
variadas. maneira a nunca tratar os outros apenas como
meios mas sempre ao mesmo tempo como fins.”
Os direitos libertários
Os direitos são restrições absolutas pois as pessoas
Direitos invioláveis
são fins e não meios: têm vontade racional, fazem
Para Nozick, os direitos individuais são absolutos. escolhas racionais, e merecem por isso ser
Se eu estou a morrer de fome, e tenho um direito
absoluto à vida, isso não me dá o direito à comida
de outra pessoa.
Direitos negativos (direito à não-interferência dos
outros): não contratuais.
Direitos positivos (implicam deveres dos outros
em relação a mim): devem ser apenas voluntários
Quando há conflito de direitos: os direitos
negativos são como restrições absolutas.
Resumindo:
O Estado ultra-mínimo e o Estado mínimo:
O John Wayne é um justiceiro que se pode Estado de natureza: cada um é juiz
enganar, ser parcial, na sua procura da Juntam-se em gangs
justiça privada Transferem os seus direitos a uma
o Deve a empresa dominante tomar o empresa, que é mais eficaz embora custe
risco de não fazer nada e permitir dinheiro
que o John Wayne utilize a força Uma empresa dominante que também
contra os seus clientes? protege os John Wayne deste mundo –
o Ou deve a empresa reclamar o Estado Mínimo
monopólio do uso da força e usar a
violência contra o John Wayne se
for necessário? Se sim, está Como convencer o anarquista?
justificado o Estado ultra-mínimo.
O John Wayne deve ser compensado por não ter
A empresa deve no entanto compensar o podido exercer o seu direito à punição,
John Wayne de o impedir de usar a força, protegendo-o também: é o “principio de
oferecendo-lhe os seus serviços de compensação”.
proteção Nozick consegue justificar o Estado mínimo ao
o Está assim justificado o Estado anarquista? Talvez, mas a que preço? Pois a
mínimo. compensação parece implicar uma redistribuição
o Oferecendo serviços mesmo aos compulsiva.
que não os querem, o Estado
mínimo é redistributivo: alguns
pagam para proteger todos
o A razão não é welfarista mas
A teoria da justiça de Nozick
apenas para proteger os direitos
negativos Direitos, justiça distributiva e Estado mínimo
Dilema de Nozick: aceitar o Estado ultra-mínimo
e ignorar a justiça distributiva ou aceitar a justiça
Obediência ao Estado
distributiva e desistir do Estado mínimo?
Nozick justifica a obediência ao Estado em duas
Uma terceira opção – definir a justiça distributiva
etapas:
de forma a torná-la compatível com o Estado
É racional consentir ao Estado pois é mínimo: esta é a função da sua teoria da justiça
melhor (mais eficaz na administração) do como titularidade.
que a anarquia e acontece pela “mão
Se a teoria da titularidade for verdadeira e se não
invisível”, a través da empresa de
puser em causa os direitos naturais à propriedade
segurança dominante.
de si, então o Estado mínimo é justificado.
Mesmo aqueles que não estão convencidos
com o argumento, como o John Wayne,
devem obedecer ao Estado, pois temos o
Teorias da Justiça
direito de nos proteger de “justiceiros”
embora devamos compensá-los, Justiça distributiva = Justiça económica
protegendo-os também. = Distribuição justa dos recursos
Exemplos de padrões de distribuição:
Função do mais útil para sociedade
Função da prioridade aos + desfavorecidos
Função dos recursos, capacidades,
trabalho, mérito, excelência…
Contra o “pote social” Três formas de justiça – teoria da titularidade
Transferência voluntária
Nozick defende que se D1 é justo e provocou uma
transferência voluntária para D2, então D2 é justo.
No entanto, não é fácil saber quando algo é Segundo Nozick, para fazer respeitar um padrão
realmente voluntário. Por exemplo, “o teu de justiça são necessárias intrusões permanentes e
dinheiro ou a tua vida” não é uma troca voluntária inaceitáveis na vida das pessoas.
livre, mas forçada.
A teoria da titularidade também choca com a Locke responde dizendo que misturar o trabalho
liberdade negativa e não apenas os padrões dá mais valor ao objeto (produtivismo) e deixa
chocam com esta. mais recursos para outros.
Nozick volta a refutar argumentando que o
produtivismo pode ser fruto do coletivo e não
Rejeição da conceção da titularidade apenas devido à propriedade privada.
Argumento de Nozick:
As transferências voluntárias destroem A cláusula lockeana e a cláusula nozickeana
padrões
O que se segue duma situação justa é justo Para Nozick, a cláusula lockeana da apropriação
legítima da propriedade “suficiente e tão bom”
deve ser interpretada como “ninguém deve ficar o Nozick não defende a liberdade
pior”. negativa de Hobbes.
A cláusula não é violada se ninguém ficar pior no
Princípio de retificação
uso da terra, mesmo se a terra for propriedade de
o Igualitário?
uma só pessoa.
Esta visão sofre com uma objeção dado que De qualquer forma, a filosofia política raramente
podemos compará-la com outras situações como a atinge verdades.
propriedade socialista.
Assim, Nozick só pode argumentar que a cláusula Nozick e Rawls
pretende apenas ser uma condição necessária, mas
não suficiente. Formulação dos dois princípios da Teoria da
Justiça:
A sociedade deve assegurar a máxima
Justiça na retificação liberdade para cada pessoa compatível
Para Nozick, muitas aquisições são injustas (como com uma liberdade igual para todos os
os impostos para financiar a saúde pública). outros – Princípio da liberdade igual.
Assim, o princípio da retificação corrige as As desigualdades económicas e sociais
aquisições injustas. devem:
o gerar o maior benefício para os
menos favorecidos (princípio da
Conclusão diferença)
o devem estar ligadas a postos e
Princípio de aquisição posições acessíveis a todos em
o Não se percebe bem em que condições de justa igualdade de
consiste. oportunidades (princípio da
o Nozick defende uma versão fraca oportunidade justa).
da cláusula lockeana: se ninguém
ficar pior. Mas em relação a que
situação? Nozick é contra o princípio da diferença. Para
Rawls a sociedade é um sistema de cooperação
Princípio da transferência para a vantagem mútua. A cooperação justa
o É justa se for voluntária. permite uma divisão justa do produto social.
Para Rawls os melhores na sociedade têm sorte Mesmo se é provável que um sistema libertário de
social e sorte genética, e essa sorte é moralmente direita provoque desigualdades fortes na
arbitrária. sociedade, na verdade Nozick nada tem contra a
igualdade, se esta for o resultado de transferências
O princípio da diferença corrige essa
voluntárias, e não duma “planificação
arbitrariedade moral: os talentos que são
centralizada”.
consequência do moralmente arbitrário são para
Rawls “common assets” (ativos comuns).
Dever de assistência
A plena propriedade de si tem a implicação
contraintuitiva de que não temos o dever de
prestar assistência aos outros. Distribuição dos recursos
Pode ser “imoral” não ajudar os outros, mas eles Como adquirir recursos?
não têm o direito de exigir tal ajuda da minha. A plena propriedade de si dá aos agentes direitos
Pode, então, ser um dever impessoal, mas não sobre si mesmos, o que deixa em aberto a questão
uma obrigação interpessoal. dos direitos sobre os recursos naturais e artefactos:
Quid da possibilidade de adquirir recursos
Escravidão voluntária por transferência consensual (por exemplo,
por venda ou doação)?
A Plena Propriedade de Si implica os plenos Quid da possibilidade de adquirir recursos
poderes para transferir os direitos da propriedade sem o consentimento dos outros (por
de si (como a escravidão). exemplo, por apropriação unilateral de
A escravidão voluntária sobre objeções dado que recursos sem proprietário)?
é impossível transferir o controlo da sua própria
pessoa para outra pessoa.
Uma das teorias libertárias de esquerda sustenta
A ideia central é que é impossível alienar a que inicialmente ninguém tem o direito de usar os
vontade de alguém (Rousseau). Isso é verdade, recursos naturais sem o consentimento coletivo
mas é irrelevante uma vez que a questão não tem a (por maioria ou unanimidade) dos membros da
ver com alienar a sua vontade, mas sim alienar a sociedade. Esta teoria sobre com uma objeção
autoridade legítima sobre a sua vontade. dado que toda a ação requer o uso de alguns
Os escravos têm obrigações morais para com os recursos naturais – então é uma teoria implausível.
seus proprietários – respeitar o contrato. Uma versão menos radical permite que os agentes
Um ponto mais profundo é o de que a Plena usem os recursos naturais, mas sem se
Propriedade de Si implica a liberdade de transferir apropriarem dos recursos naturais sem o
os direitos sobre si mesmo, mas não garante que consentimento coletivo dos membros da
os outros têm o poder moral para adquirir esses sociedade.
direitos. Esta versão sofre com a objeção de que dada a
importância de poder possuir alguns recursos
externos, é mais plausível defender que os agentes
têm o poder de se apropriar de alguns recursos,
sem o consentimento dos outros.
Suficientarismo
Para Locke, não há necessidade de ter o
O suficientarismo libertário (no meio entre a
consentimento dos outros se não nos apropriarmos
direita e a esquerda) interpreta a cláusula de Locke
de mais do que uma parte justa dos recursos.
como exigindo que os outros fiquem com uma
parte suficiente dos recursos naturais. Exatamente
volta a questão do que é suficiente.
Apropriação unilateral
O suficientarismo parece mais justo que o
Pode haver apropriação unilateral sem depender
libertarismo de Nozick por ser sensível à
do consentimento real dos outros, pois os recursos
qualidade de perspetivas de vida deixadas para os
naturais inicialmente não são protegidos por um
outros pelo uso ou pela apropriação dos recursos.
regime de propriedade. As pessoas que primeiro
reivindicam direitos sobre um recurso natura Objeção: O suficientarismo não reconhece que os
adquirem esses direitos desde que certas recursos naturais pertencem a todos.
condições sejam cumpridas.
Exemplo: alguém que deixa para os outros apenas
o necessário para vida minimamente decente. Tal
não parece plausível
Libertarismo de esquerda e valor igual
Versão unilateral radical do libertarismo de
direita Os recursos naturais inicialmente pertencem aa
todos e devemos deixar aos outros uma parte per
Não existem restrições em relação à justa parte
capita igualmente valiosa dos recursos naturais
sobre o uso ou sobre a apropriação dos recursos
naturais. Objeção:
As pessoas podem destruir todos os recursos Será este libertarismo suficientemente igualitário?
naturais que quiserem e têm o poder de se Uma vez que esta interpretação de esquerda da
apropriar dos recursos naturais se forem os cláusula lockeana não faz nada para compensar
primeiros a fazê-lo. desvantagens nas capacidades internas não
escolhidas dos indivíduos (a má sorte bruta).
Objeção:
Este libertarismo é então compatível com
Isto não é plausível dado que nenhum agente
perspetivas de vida radicalmente desiguais.
humano criou os recursos naturais. Não há razão
para que o primeiro que reivindique direitos sobre
um recurso natural deva colher todos os benefícios
Libertarismo de esquerda e igualdade de
que o recurso proporciona. Assim, os indivíduos
oportunidades
não podem monopolizar os recursos naturais como
bem entendem. Um libertarismo de esquerda mais radical deve
repousar sobre uma teoria robusta da igualdade de
oportunidades.
Libertarismo de direita menos radical
Locke diz que devemos deixar o suficiente para
A condição da justa parte na apropriação é a que outros possam ter uma oportunidade para o
condição de Locke, que exige que “o suficiente e bem-estar que seja pelo menos tão boa como a
tão bom deve ser deixado aos outros”. Nenhum oportunidade de bem-estar obtida no uso ou na
indivíduo deve ficar pior pela apropriação em apropriação de recursos naturais.
comparação com o estado de não apropriação.
Desta forma, aqueles cujas capacidades internas
Objeção: inicialmente lhes proporcionam oportunidades
efetivas menos favoráveis para o seu bem-estar,
Isto pode determinar o pagamento de
compensações muito baixas.
têm direito a partes maiores de recursos naturais – Este rendimento fornece aos indivíduos não
igualdade de recursos de Dworkin produtivos a mesma oportunidade para o bem-
estar que os indivíduos produtivos.
As pessoas não produtivas seriam assim capazes
Libertarismo de esquerda contra Nozick
de se sustentarem através de intercâmbios
O libertarismo de esquerda rejeita que a plena verdadeiramente voluntários com as pessoas
propriedade de si seja incompatível com uma produtivas, o que levaria ao fim da assistência
redistribuição igualitária dos recursos externos. forçada aos não produtivos.
Existem três tipos de críticas a este autor: Michael Walzer refere o sistema de castas indiano
como um exemplo de uma sociedade não liberal
Afirmações metodológicas sobre a que é legítima de acordo com os seus próprios
importância da tradição e do contexto padrões. No entanto, as conceções pré-modernas
social para o raciocínio moral e político de uma comunidade onde os membros apoiam o
Afirmações ontológicas sobre a natureza sistema de forma irrefletida é inadequada na
social do eu contemporaneidade que é confrontada com o
Afirmações normativas sobre o valor da pluralismo razoável das conceções da vida boa.
comunidade
O colapso do comunismo soviético levou ao
debate sobre a teoria e a prática dos direitos
humanos universais.
Universalidade vs. particularismo
Francis Fukuyama, apoiante do universalismo valores particulares, como a liberdade, que
liberal, argumentou que o triunfo da democracia fundamentam a comunidade liberal.
liberal sobre os seus rivais significaria o fim da
Nem os pensadores liberais nem Rawls defendem
história.
a ideia de que o eu é criado fora do contexto social
O momento de euforia que se seguiu ao colapso e de que podemos existir independentemente
soviético levou à reflexão as dificuldades deste. No entanto, segundo o liberalismo, os
(temporárias) de implementar práticas liberais fora indivíduos podem ser livres do seu contexto social
do ocidente: escolhendo de maneira livre a vida que desejarem.
Guerras étnicas permanentes Por sua vez, os comunitaristas argumentam que tal
Pobreza extrema visão não tem em conta as áreas das nossas vidas
Degradação ambiental que são governadas por rotinas e hábitos não
Corrupção generalizada escolhidos individualmente.
Do Leste Asiático emergiu o maior desafio para a Apesar de os liberais considerarem de que certas
democracia liberal. Atualmente, a emergência de práticas comunais guiam os nossos
movimentos nacionalistas e autoritários no comportamentos, não apoiam que o Estado deva
Ocidente constituem um novo desafio para esta promovê-las. A questão chave para os liberais é a
democracia. provisão dos direitos, poderes e oportunidades que
os indivíduos necessitam desenvolver para
Devido à posição da harmonia familiar e social na implementar as suas conceções de vida boa.
Ásia, é difícil aqui a intervenção para promover os
direitos humanos e a democracia. Assim, as perspetivas morais deveriam ser o
produto da escolha individual.
O debate sobre o eu
Há certos autores, como Kymlicka, que defendem
Para Michael Sandel, o liberalismo rawlsiano um multiculturalismo liberal, no qual a melhor
implica uma conceção excessivamente vida é aquela em que o indivíduo escolhe o que
individualista do eu. vale a pena fazer, independentemente do quadro
Rawls defende que temos um interesse supremo moral no qual está inserido.
em sermos livres de fazer os nossos planos de Os comunitaristas assumem que os indivíduos têm
vida. No entanto, podemos ser definidor por um interesse em liderar as vidas comunitárias
vínculos comunais que afetam esses planos. dignas, tendo em conta a implicação política que
Desta forma, a política não deve apenas garantir pode ser necessária para sustentar e promover
as condições para que os indivíduos escolham valores comuns cruciais. No entanto, alguns dos
livremente, mas também manter e promover vínculos comunais podem ser problemáticos.
vínculos comunais cruciais para o nosso bem-estar Então, o Estado deve proteger a nossa capacidade
e autorrespeito e que definem quem somos. de perseguir e rever os nossos planos de vida.
Objeção: impossibilidade de realização dado que O Estado, para agir de maneira justa, tem de
qualquer política pública terá consequências promover uma conceção perfecionista do bem nas
desiguais entre as conceções da vida boa. suas políticas. Este perfecionismo pode não ser
liberal.
De acordo com o perfecionismo liberal, o Estado,
2. Neutralidade das intenções tem de promover uma conceção do bem liberal
Para a neutralidade das intenções, nenhuma nas suas políticas como a promoção do respeito
política prosseguida pelo Estado deve ter intenção pela liberdade de cada um.
de promover um determinado estilo de vida. Nos regimes totalitários, a conceção do bem
Supondo que o Estado tem intenção neutra de promovida pelo Estado não é liberal (nazismo –
promover uma comunicação mais eficaz e, para promoção do arianismo em detrimento de outros).
isso, adota uma única língua oficial. Este objetivo De acordo com a neutralidade, é moralmente
pode ser considerado neutro, se não há intenção de errado usar o poder do Estado com o objetivo de
promover uma conceção de bem em detrimento de
outras. No entanto, esta política não será neutra
promover uma conceção controversa do bem Alguns defensores da neutralidade não se
humano. opõem à promoção de conceções do bem,
se esta promoção for limitada aos direitos
Por outro lado, o perfecionismo político pode ser
e liberdades que não pertencem à
coercivo ou então não coercivo (apenas
“estrutura de base ” da sociedade.
iniciativo). Ambos podem ser aplicados a questões
Devido, por exemplo, à votação, o Estado
essenciais ou não essenciais, ou seja, a direitos
pode promover uma conceção controversa
fundamentais ou direitos secundários.
do bem em assuntos políticos não
essenciais, fora da esfera da estrutura de
base da sociedade
Neutralidade e perfeição: dois ideais opostos ou
convergentes?
- Existe um acordo sobre uma conceção - A neutralidade é compatível com um
perfecionista do bem como base para a ação perfecionismo não coercivo
política legítima
Uma quarta forma de propor uma
Alguns defensores da neutralidade não se convergência entre a neutralidade e o
opõem à promoção de conceções perfecionismo consiste em promover
perfecionistas da vida boa pelo Estado, conceções do bem de uma forma não
desde que esta promoção não seja coerciva.
controversa É defendida por autores liberais
Devido ao pluralismo, é irrealista esperar perfecionistas
um acordo sobre o bem como base da ação Algumas decisões governamentais podem
política legítima não ser coercivas, mas são perfecionistas
Esta improbabilidade empírica torna trivial incentivando alguns tipos de
a convergência entre a neutralidade e o comportamento, como dar honras a
perfecionismo. pessoas exemplares, e desencorajando
outros comportamentos com campanhas de
incentivo a um estilo de vida saudável
- Neutralidade das intenções sem neutralidade das
Conclusão sobre a convergência entre
justificações
neutralidade e perfecionismo
Podemos distinguir duas variantes:
A única forma aceitável de perfecionismo
o Neutralidade das intenções
coercivo, compatível com a neutralidade, é um
(legislativa) perfecionismo coercivo limitado a questões
o Neutralidade das justificações políticas não essenciais, ou seja, fora da estrutura
De acordo com o princípio da neutralidade de base da sociedade de Rawls.
das intenções, o governo não deve
restringir a liberdade dos indivíduos com a Um perfecionismo coercivo que implicasse a
intenção de desencorajar estilos de vida violação dos direitos políticos básicos, não seria
considerados inúteis ou degradantes. perfecionismo liberal, mas antes um
De acordo com a neutralidade das perfecionismo antiliberal.
justificações, o governo deve agir de No entanto, é preferível que o perfecionismo seja
acordo com um sistema de princípios que não coercivo
pode ser justificado sem referência a
qualquer conceção controversa da vida
boa.