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PRIMEIRO TRABALHO
Capitulo I:
0. A sociedade estamental
Para Ferrari (1983 p.11), Sociedade é uma associação entre indivíduos que compartilham valores
culturais e étnicos e que estão sob um mesmo regime politico e económico, em um mesmo
território e sob as mesmas regras de convivência.
De acordo com Herculano (2006 p. 33), Estratificação social é a divisão dos elementos da
comunidade ou sociedades de acordo com a sua actividade e o seu nível de riqueza.
Para Weber (1974, p.220), Tal como as castas, os estamentos também não são definidos somente
ao nível da apropriação econômica do poder. Categorias socioculturais como tradição, linhagem,
vassalagem, honra e prestígio estão presentes na orientação das relações e das classificações de
seus membros. Sendo assim, considerar os elementos citados é fundamental para a conceituação
típico-ideal do estamento.
Segundo Ferrari (1983 p.396), o estamento é um sistema fechado de estratificação social que
predominou sobre tudo na sociedade feudal ate o sec. XVI na Europa mas que tem sobrevivido
em muitas áreas da sociedade actual da América latina, África e Ásia. O termo estamento tem
vários significativos, pode ser empregados para significar várias acepções, como status, grau,
posição do mundo, estado, publico, propriedade, profissão e classe social.
Para Herculano (2006 p.75), A sociedade estamental é um termo usado para caracterizar uma
sociedade dividida por estamentos, ou seja, um sistema baseado em privilégios que não se
modificam ao longo da vida. Assim, a palavra “estamento” vem de “estado” ou “status”. Esse
conceito descreve geralmente a Idade Média e a organização feudal na Europa.
Quanto a origem O sistema estamentário vigorou na sua forma mais completa no feudalismo
entre os séculos IX e XIV. A história do aparecimento do sistema estamenário está relacionada a
um processo cronologicamente amplo e lento que se desencadeou na Europa após a
desintegração civilização urbana que acompanhou e seguiu a decadência do império romano.
( Ibid., p. 79)
Segundo Weber (2019 p.104), A sociedade estamental é caracterizada por ser uma sociedade
em que o nascimento é determinando para a atribuição do status social. O status social é relativo
ao estamento, ou segmento da sociedade, em que a pessoa nasce, portanto, a mobilidade social é
bastante baixa neste modelo de sociedade. É uma sociedade característica da Idade Média, porém
não restrita a mesma. Modelos estamentais podem ser observados em outros locais em diferentes
tempos, porém com suas próprias particularidades e com intensidades e mobilidades diferentes
do caso da Europa medieval, ou seja, a sociedade estamental era uma Sociedade organizada em
rígidos estamentos (grupos) sociais onde não há mobilidade social( mudança de classe social),
isto é, quem nasce servo morre servo, quem nasce nobre morre nobre. Existia o teocentrismo
(Crença de que todos os acontecimentos estão diretamente ligados a Deus, de modo que Deus é
colocado no centro de tudo).
A sociedade estamental se efetiva pelos grupos de status, os quais são determinados por uma
estimativa específica da honra e se estratificam pela usurpação dessa honraria, ditando regras
quanto ao estilo/tom de vida aos pertencentes de um mesmo círculo. (Idem)
O Feudalismo seria um exemplo direto desse modelo de organização social (WEBER, 1974). A
estratificação dos estamentos relaciona-se com o monopólio de bens ou oportunidades materiais
e ideais, ou seja, a propriedade torna-se uma regularidade que influencia as qualificações
estamentais, garantindo restrições ao relacionamento social. “Essas restrições podem limitar os
casamentos normais ao círculo de status e podem levar a um completo fechamento endógamo”
(WEBER, 1974, p.220).
Rei
Embora com papel enfraquecido no feudalismo, em diferentes localidades o rei possuía uma
força política e simbólica importante na sociedade. Em alguns casos, como na Europa Central,
alguns reis se tornaram senhores feudais.
Clero
Uma vez que uma das marcas do feudalismo era a presença do teocentrismo, ou seja, o Deus
cristão no centro de todas as coisas, o clero desempenhava um papel importante, sendo também
proprietário de terras. O clero era composto pelos homens da igreja, grupo fundamental não
apenas para a manutenção do poder ideológico do ponto de vista religioso, mas porque
desempenhavam um papel estratégico e fundamental para o apoio e manutenção do status quo do
poder real. A função deste estamento era a de rezar, ou seja, zelar pela vida espiritual das
pessoas.
Nobreza
Era o grupo que constituía os senhores feudais, concentrando o poder militar da época. Assim, os
nobres davam apoio ao rei e exerciam seu poder político sobre os servos, tinham por função o
combate, a defesa do reino em batalhas.
Servos
Para Huberman (2014, p.14), a sociedade estamental é organizada a partir das tradições e dos
valores sociais que fazem com que determinados grupos sejam privilegiados e outros não. Nesse
modelo, não há mobilidade social, um servo dificilmente se tornaria, por exemplo, um nobre.
0.4. Dignidade
O sentimento de dignidade que caracteriza os estamentos positivamente privilegiados relaciona-
se, naturalmente, com seu “ser” que não transcende a si mesmo, isto é, relaciona-se com sua
“beleza e excelência”. Seu reino é “deste mundo”. Vivem para o presente e explorando seu
grande passado. O senso de dignidade das camadas negativamente privilegiados naturalmente se
refere a um futuro que está além do presente, seja desta vida ou de outra. (WEBER, 1974,
p.126).
Em outras palavras, deve ser nutrido pela crença numa “missão” providencial e por uma crença
numa honra específica perante Deus (WEBER, 1974, p.222). A noção de estima pelo trabalho
acarreta desqualificação de alguns grupos entre as sociedades estratificadas via estamentos.
Sendo assim, efeitos econômicos interferem na organização de tais sociedades, pois “a
desqualificação frequente das pessoas que se empregam para ganhar um salário é resultado direto
do princípio de estratificação estamental” (WEBER, 1974, p.224).
Segundo Weber (1974), a estratificação por estamentos tende a ser favorecida quando as bases
da aquisição e distribuição de bens são mantidas de modo estável. Contudo, quando as
transformações econômicas, advindas de processos tecnológicos, modificam a dinâmica de tais
bases, a situação de classe (como apresentado a seguir) passa a ser evidenciada em relação aos
grupos de status. “E toda diminuição no ritmo de mudanças nas estratificações econômicas leva,
no devido tempo, ao aparecimento de organizações estamentais e contribui para a ressurreição do
importante papel das honras sociais”
a) Endogamia estamentária: esta não é tão rígida como as castas, mas é de certo modo
hermética, no sentido de regular a manutenção do estamento impedindo o acesso de
algum elemento de estamento mais baixo;
d) Propriedade territorial: condição de um homem era condicionada pela sua relação com
a terra. Possuir terra era sinónimo do poder e da liberdade e ser destituído dela é ser
reduzido a escravidão.
f) Conceito espacial de Honra: cada estamento exige que os seus membros vivam de
acordo com um código especial de honra que não devem violar se desejarem manter a sua
posição.
Na Idade Média, a sociedade feudal era hierárquica, dividida basicamente em quatro estamentos
ou estados: Rei, Nobreza, Clero e Servos, sendo que os dois primeiros possuíam privilégios em
relação ao último grupo subordinado. (Idem)
Sendo assim, no feudalismo o Rei era o maior poder concentrado nas mãos de uma só figura e a
nobreza representava os detentores das terras e riquezas, na época, denominados de "senhores
feudais"; o clero, formado por homens da Igreja, representava o poder da religião; e, por fim, o
último estamento, os servos ou plebeus trabalhavam nas terras dos senhores feudais, tendo em
troca segurança e alimentos, tal como acontecia nos estamentos. (Ibid., p.56)
1.3. A relação entre a riqueza da igreja católica e a sociedade estamental
Segundo Ferrari (1983), A Igreja Católica teve papel preponderante na formação do feudalismo;
além de grande proprietária de terras, estruturou a visão de mundo do homem medieval. Na
realidade, foi a instituição que sobreviveu às inúmeras mudanças ocorridas na Europa no século
V e, ao promover a evangelização dos bárbaros, concretizou a simbiose entre o mundo romano e
o bárbaro.
Tal fato a tornou herdeira da cultura clássica, pois no universo medieval a Igreja Católica
monopolizava o conhecimento. Sem dúvida alguma sua estrutura fortemente hierarquizada
colaborou para que ultrapassasse todas as crises, concentrando o saber e o poder. Internamente
havia uma divisão entre o alto clero, membros da nobreza que exerciam cargos de direção, e o
baixo clero, composto por pessoas originárias dos seguimentos mais pobres da população. O
comando de toda essa estrutura lentamente concentrou-se nas mãos do bispo de Roma, que se
tornou papa no século V. (Idem)
Essa estrutura social fixa foi transformada no final da Idade Média e no início da Idade Moderna,
com a crise do sistema feudal, o fortalecimento do comércio e das cidades medievais bem como
dos avanços científicos (renascimento científico) e do humanismo renascentista. Idem
Em outras palavras, a visão teocêntrica (Deus como centro do Universo) foi substituída por uma
visão antropocêntrica (Homem no centro do Universo), pondo fim a Sociedade Estamental,
dando início a Sociedade de Classes. Idem
SEGUNDO
diferentes tipos de formações Sociais
Capitulo: Contextualização
1.1.Estratificação social
Segundo Cardoso (2018) a estratificação social é a classificação diferencial dos
indivíduos que compõem um sistema social dado e a sua qualificação de superiores ou inferiores
uns em relação aos outros, segundo valores importantes para a sociedade.
Para Ferrari (1983), a estratificação representa a distribuição desigual de direitos e
obrigações numa sociedade. Ora, a sociedade tem a necessidade de dinamizar a estrutura social e
para tal distribui de forma diferenciada o prestígio pelas diversas posições da sociedade e pelas
pessoas que ocupam essas posições. Religião, a raça, a militância partidária, etc.
Na perspectiva do mesmo autor acima citado as castas são comunidades fechadas, de língua ou
local (embora não delimitadas territorialmente), que compartilham características sociais
hereditárias, quase sempre relacionadas à divisão do trabalho.
Segundo OST (s/d, p. 2), a Índia se caracteriza pela diversidade étnica, cultural e
religiosa, decorrente de inúmeras invasões. A cada nova invasão se estabelecia uma nova casta
ou religião, criando complexas hierarquias, divisões de trabalho e papéis sociais. O autor defende
ainda que não se sabe com certeza a origem exacta do sistema de castas na Índia. Acredita-se que
seu surgimento deu-se no período Védico2, entre os anos 1500 a.C. e 600 a.C. quando foram
escritos os textos religiosos Vedas. A codificação deste sistema teria se dado por volta do século
IV d.C., com a criação de um código de conduta denominado Manusriti. 3Inicialmente existiam
somente quatro castas organizadas em uma ordem hierárquica tal como se abordará ao longo do
trabalho. Portanto tal como se pode notar dos aspectos acima descritos a origem do sistema não é
muito precisa, mas antigos textos hindus indicam que a sociedade era dividida em varnas (cor da
pele, em sânscrito). A palavra casta surge apenas no século XV.
TERCEIRO
3
Estratificação social
Conceitos básicos
De Almeida (s/d), considera estratificação social como ordenação diferencial das pessoas
que constituem um determinado sistema social, no qual se estabelece uma ordem de
superioridade e inferioridade recíprocas, sobre assuntos que são socialmente importantes. Na
mesma senda Giddens (2005) escreveu de maneira bastante simples que “a estratificação social
pode ser definida como as desigualdades estruturadas entre diferentes agrupamentos de pessoas”.
Resumindo, podemos dizer que estratificação social é um recurso heurístico que auxilia no
estudo das diferenças e das desigualdades entre pessoas e grupos em uma dada sociedade ou em
uma parte dela, permitindo identificar a posição que cada um ocupa na estrutura social, de
acordo com um critério estabelecido teoricamente.
Mobilidade social
Cohen (1980), reitera que mobilidade social é um campo de estudo da sociologia bastante
usado para a compressão de formas pelas quais os diferentes grupos humanos diferenciam os
integrados de uma cultura ao possibilitar mudanças de posições sociais, acarreta
consequentemente alterações sociais e novos papéis sócias. A mobilidade tem importância
função de pensar as vias e possibilidades de troca, ascensão ou rebaixamento que um
determinado indivíduo possui no meio em que estabelece suas relações.
Mocelin & Gehlen, (2009) definem mobilidade social como o movimento de indivíduos e
grupos de um estrato social a outro, de uma posição de classes ou status a outro, ou mesmo como
uma mudança de ocupação ou profissão. Em qualquer desses casos, a mobilidade social
implicará o deslocamento entre posições socioeconômicas diferentes.
Quanto aos tipos de mobilidade Socila Mocelin & Gehlen (2009), avançam que existem
diferentes tipos de mobilidade social, denominados: mobilidade vertical e mobilidade
horizontal.
Implica mudança de ocupação sem que haja mudança de classe social, é como mudar de
emprego e continuar na mesma faixa de renda. Também abrange a mudança de posição dentro de
um grupo que confere autoridade e prestígio no campo simbólico, mas não muda a condição
económica, em suma, não existem mudanças na sua classe social. Idem
Ex1:
Ex1: Quando um trabalhador da construção civil que ganha dois salários mínimos muda de
ocupação e passa a trabalhar como segurança em um posto de gasolina ganhando a mesma
quantia, temos uma mobilidade horizontal. Quando um agricultor vende sua propriedade de
terra e vai para a cidade trabalhar como comerciante, temos uma mobilidade horizontal
combinada com a vertical; esta será ascendente ou descendente, conforme os resultados dos
rendimentos monetários, do status e do poder que isto lhe proporcionar.
Martins (2004) reitera que a mobilidade social vertical pode ser classificada em: ascendente e
descendente.
A mobilidade ascendente
Quando um indivíduo ou o grupo cresce na hierarquia é ascende uma classe superior a
que estava antes, por outra corresponde ao deslocamento de indivíduos e grupos das camadas
mais baixas para os estratos elevados como, por exemplo, uma pessoa passa em um concurso
público e ascende na pirâmide social, tendo uma condição financeira melhor do a que estava
antes; Ocorre quando uma pessoa desloca-se para uma posição superior na pirâmide
socioeconómica. Idem
A mobilidade descendente
Quando um indivíduo ou o grupo decresce na hierarquia e passa a integrar uma classe
social inferior à que estava antes. Por exemplo, uma família de três pessoas na qual ambos os
pais possuem trabalho, caso um dos pais perca o emprego e a família passe a viver com o salário
de somente um deles, isso pode fazer com que eles decresçam na pirâmide social. Ocorre quando
alguém perde posições e desloca-se para uma posição social inferior. Por outra ocorre quando as
pessoas e grupos não podem manter-se nas suas posições elevadas, ou nas classes em que
nasceram, sendo obrigados a descer na escala social. Se as pessoas permanecerem firmemente
fixadas na posição de classe de seus pais, então está-se perante uma sociedade de classe fechada.
Idem
Ex1:
Quando um agricultor que não tem terra e trabalha em regime de parceria na área de
terceiro consegue capitalizar-se e adquire uma área de terra sua, passando a ser o proprietário
desse meio de produção, observamos uma mobilidade vertical ascendente. Por outro lado,
quando um agricultor, por diferentes motivos, se descapitaliza a ponto de ter de vender sua
propriedade e tem que trabalhar como assalariado, deparamo-nos com uma situação de
mobilidade vertical descendente.
Ex2:
Na óptica de Bobbio (1997), ainda que a mobilidade social ascendente seja muito maior
no sistema de classes quando o comparamos com outros tipos de estratificação – de castas ou de
escravidão, por exemplo – é preciso identificar os factores que possibilitam tal movimento. No
início do processo de industrialização, quando os direitos trabalhistas ainda não existiam ou eram
precários, o sentimento que movia os operários era o medo da miséria e da fome que poderiam
irromper caso não trabalhassem com ardor. Uma vez estabelecidos os sindicatos e,
consequentemente, os direitos básicos dos trabalhadores, passou-se a impulsionar a ideia de
mobilidade social como um estímulo para o trabalho. Ou seja, através da ideia de meritocracia, a
promessa de ascensão social por meio do esforço trabalho transformou-se em um dos pilares
fundamentais das sociedades modernas.
Factores individuais
Factores colectivos
O intercâmbio de posições é outro factor que permite a mobilidade social. Neste caso, a
sociedade proporciona aos membros dos estratos mais baixos meios para competir com os que
estão numa estrutura social mais alta, a partir da abertura de oportunidades para mudança de
profissões ou cargos no mercado de trabalho.