A estrutura social e as desigualdades. As desigualdades sociais aparecem, de imediato, em elementos materiais, como a moradia, as roupas, os meios de locomoção. Mas elas também se manifestam no acesso à educação e aos bens culturais, os chamados bens simbólicos. As desigualdades se evidenciam no dia a dia pelos contrastes entre a riqueza e a pobreza, que podemos constatar com nossos próprios olho sou mediantes as estatísticas e os meios de comunicação. Estrutura e estratificação social Estrutura social é o que define determinada sociedade. A estrutura social se constitui da relação entre os vários fatores – econômicos, históricos, sociais, religiosos, culturais – que caracterizam cada sociedade. Uma das características da ESTRUTURA DE UMA SOCIEDADE é sua ESTRATIFICAÇÃO, ou seja, a maneira como os diferentes indivíduos e grupos são classificados em estratos(= camadas) sociais e o modo como ocorre mobilidade de um nível para outro. A estratificação social foi analisada, em diferentes sociedades, com base na forma como os indivíduos organizam a produção econômica e o poder político . Para estudar a estratificação é necessário que se verifique COMOSE ORGANIZAM AS ESTRUTURAS DE APROPRIAÇÃO (ECONÔMICA) EDOMINAÇÃO (POLÍTICA).Entretanto, essas estruturas são atravessadas por outros elementos –como a religião, a etnia, o sexo, a tradição e a cultura -, que, de uma forma ou de outra, influem no processo de divisão social do trabalho e no processo de hierarquização. A estratificação social e as desigualdades decorrentes são produzidas HISTORICAMENTE, ou seja, são geradas por situações diversas e se expressam na organização das sociedades em sistemas de castas, de estamentos ou de classes. AS SOCIEDADES ORGANIZADAS EM CASTAS O sistema de castas é uma configuração social de que se tem registro em diferentes tempos e lugares, mas é na Índia que está a expressão mais acabada desse sistema. A sociedade indiana começou a se organizar em castas e sub castas há mais de 3 mil anos, adotando uma hierarquização baseada em religião, etnia, cor, hereditariedade e ocupação, que definem a organização do poder político e a distribuição da riqueza gerada pela sociedade. Apesar de haver na Índia, hoje, uma ESTRUTURA DE CLASSES, o sistema de castas permanece mesclado a ela. O sistema sobrevive por força de tradição, pois legalmente foi abolido em 1950. Existem QUATRO grandes castas na Índia:- BRÂMANES: casta sacerdotal, superior a todas as outras;- XÁTRIAS: casta intermediária, formada formalmente pelos guerreiros, que se encarregam do governo e da administração pública;- VAIXÁS: casta dos comerciantes, artesãos e camponeses, que se situam abaixo dos xátrias;- SUDRAS: casta dos inferiores, na qual se situam aqueles que fazem trabalhos manuais considerados servis. Os PÁRIAS são os que não pertencem a nenhuma casta e vivem, portanto, fora das regras existentes.(Há, ainda, um sistema de castas regionais que subdividem em outras tantas sub castas). O sistema de castas caracteriza-se por relações muito ISOLADAS. Não há, portanto, MOBILIDADE SOCIAL nesse sistema. Os elementos mais visíveis da IMOBILIDADE SOCIAL são:- Hereditariedade;- Endogamia (casamentos só entre membros da mesma casta);- Regras relacionadas à alimentação (só pode-se ter refeições com os membros da própria casta e alimentos preparados por elas mesmas);-Proibição do contato físico entre membros das castas inferiores e superiores. As palavras chaves para definir o sistema de castas são REPULSÃO, HIERARQUIA E ESPECIALIZAÇÃO HEREDITÁRIA. Embora seja proibido, as castas inferiores adotam costumes, ritos e crenças dos brâmanes, e isso cria uma certa homogeneidade de costumes entre castas. A rigidez das regras também é relativizada por casamentos entre membros de castas diferentes (menos com os brâmanes), o que não é comum, mas ocorre. A urbanização e a industrialização crescentes e a introdução dos padrões comportamentais do Ocidente têm levado elementos de diferentes castas a se relacionarem, o que vai contra a persistência dos padrões mais tradicionais, pois, no sistema capitalista, no qual a Índia está fortemente inserida, a estruturação societária anterior só se mantém se é fundamental para a sobrevivência do próprio sistema. Assim, no caso da Índia, o sistema de castas está sendo gradativamente desintegrado, o que não significa, entretanto, que as normas e os costumes relacionados com a diferenciação em castas tenham desaparecido do cotidiano das pessoas. Isso é confirmado pela existência de programas de cotas de inclusão para as castas consideradas inferiores nas universidades públicas. Nas palavras de BOUGLÉA palavra “CASTA” não faz pensar, apenas, nos trabalhos hereditariamente divididos, e sim também nos direitos desigualmente repartidos. Os vários grupos dos quais essa sociedade é composta se repelem, em vez de atrair-se, que cada um desses grupos se dobra sobre si mesmo, se isola faz quanto pode para impedir seus membros de contrair aliança ou, até, de entrar em relação com os membros dos grupos vizinhos. Repulsão, hierarquia, especialização hereditária, o espírito de casta reúne essas três tendências. Cumpre retê-las a todas se se quiser chegar a uma definição completa do regime de castas. AS SOCIEDADES ORGANIZADAS POR ESTAMENTO. O sistema de ESTAMENTOS ou ESTADOS constitui outra forma de ESTRATIFICAÇÃO.(Ex. SOCIEDADE FEUDAL. França no século XVIII era dividida em três estados: nobreza, clero e terceiro estado, que incluía todos os outros membros da sociedade.). A sociedade estamental não se revela e explica apenas no nível das estruturas de poder e apropriação. Para compreender os ESTAMENTOS (em si e em suas relações hierárquicas), é indispensável compreender o modo pelo qual categorias tais como tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo parecem predominar no pensamento e na ação das pessoas. Assim, o que identifica um estamento é também o que o diferencia, ou seja, um conjunto de direitos e deveres, privilégios e obrigações que são aceitos como naturais e são publicamente reconhecidos, mantidos e sustentados pelas autoridades oficiais e também pelos tribunais. Em uma sociedade estamental, a condição dos indivíduos e dos grupos em relação ao poder e à participação na riqueza produzida pela sociedade não é só uma questão de fato, mas também de direito. Assim, a desigualdade, além de existir, torna-se um direito. A possibilidade de MOBILIDADE de um estamento para outro existia, mas era muito controlada – alguns chegavam a conseguir títulos de nobreza, oque, no entanto, não significava obter o bem maior da época, a TERRA. A propriedade da terra definia o prestígio, a liberdade e o poder dos indivíduos. Os que não a possuíam eram DEPENDENTES, economicamente e politicamente além de SOCIALMENTE INFERIORES.O que explica, entretanto, a relação entre os estamentos é a reciprocidade.(Ex. SOCIEDADE FEUDAL: Obrigação dos servos para com os senhores(trabalho) e destes para com aqueles (proteção), ainda que os camponeses e servos estivessem sempre em uma condição de inferioridade). Entre os proprietários de terras, havia uma relação de outro tipo: um senhor feudal (suserano) exigia serviços militares e outros dos senhores a ele subordinados (vassalos). Formava-se, então, uma REDE DE OBRIGAÇÕES RECÍPROCAS, como também de fidelidade, observando-se uma HIERARQUIA EM CUJO TOPO ESTAVAM OS QUE DISPUNHAM DE MAIS TERRAS E MAIS HOMENS ARMADOS.
José Souza Martins:“ Um nobre pobre, na consciência social da época e na
realidade das relações sociais, valia dezesseis vezes um pobre que não era nobre, porque as necessidades de um nobre pobre eram completamente diferentes das necessidades sociais de um pobre apenas pobre”. Basicamente é isso que distingue estamento de classe social: não se levam em consideração as origens das pessoas, e sim as condições econômicas. Atualmente, muitas vezes utilizamos o termo ESTAMENTO para designar determinada categoria ou atividade profissional que tem regras muito precisas para que se ingresse nela ou para que o indivíduo se desenvolva nela, como um rígido código de hora e de obediência. Assim, usar as expressões “estamento militar” ou “estamento médico”, significa afirmar as características que definiam as relações na sociedade estamental. POBREZA: CONDIÇÃO DE NASCENÇA, DESGRAÇA, DESTINO A pobreza é a expressão mais visível das desigualdades em nosso cotidiano, recebendo diferentes explicações ao longo da história. No período medieval, o pobre era uma personagem complementar ao rico. Não eram critérios econômicos ou sociais que definiam a pobreza, mas a CONDIÇÃO DE NASCENÇA, como afirmava a IGREJA CATÓLICA, que predominava na Europa ocidental. Havia até uma visão positiva da pobreza, pois esta despertava a caridade e a compaixão. E não se tratava de uma situação fixa, pois, como havia uma moral positiva, podiam ocorrer situações compensatórias em que o ricos eram considerados “POBRES EM VIRTUDES” e, os pobres, “RICOS EMQUALIDADES”. De acordo com essa visão cristã de mundo, os ricos tinham a obrigação moral de ajudar os pobres; Outra explicação paralela, corrente no mesmo período, atribuía a pobreza a uma DESGRAÇA decorrente das GUERRAS ou ADVERSIDADES como doenças ou deformidades físicas. Isso tudo mudou a partir do século XVI, quando se iniciou uma nova ordem, na qual o indivíduo se tornou o centro das atenções. O pobre passava a encarnar uma ambiguidade: representava a pobreza de Cristo e, ao mesmo tempo, era um perigo para a sociedade. Sendo uma ameaça social, a solução era a DISCIPLINA e ENQUADRAMENTO. Assim, o Estado herdou a função de CUIDAR dos pobres, o que antes era função dos ricos. Com o crescimento da produção e do comércio, principalmente na Inglaterra, houve necessidade crescente de mão de obra, e a pobreza e a miséria passaram a ser interpretadas como resultado da PREGUIÇA e da INDOLÊNCIA dos indivíduos que não queriam trabalhar, uma vez que havia muitas oportunidades de emprego. Essa justificativa tinha por finalidade fazer com que as grandes massas se submetessem às condições do trabalho industrial emergente. No final do éculo XVIII, com o fortalecimento do LIBERALISMO, outra justificativa foi formulado: as pessoas eram responsáveis pelo seu próprio DESTINO e ninguém era obrigado a dar trabalho ou assistência aos mais pobres. Muito ao contrário, dizia-se que era necessário manter o medo à fome para que os trabalhadores realizassem bem suas tarefas. Segundo THOMAS MALTHUS, a população crescia mais que os meios de subsistência e, assim, afirmava que toda assistência social aos pobres era REPUDIÁVEL, uma vez que os estimularia a ter mais filhos, aumentando assim a sua miséria. Posteriormente, apareceram recomendações e orientações de abstinência sexual e casamento tardio para os pobres, pois desse modo teriam menos filhos. Em meados do século XIX, difundiu-se a ideia de que os trabalhadores eram perigosos por duas razões:- Eles poderiam transmitir doenças porque vivam em condições precárias de saneamento e de saúde- Podiam se rebelar, fazer movimentos sociais e revoluções, questionando os privilégios das outras classes, que possuíam riqueza e poder.
Perspectivas e limites das políticas públicas voltadas à coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos: análise a partir da Política Nacional de Resíduos Sólidos e de gestores de cooperativas de catadores de materiais recicláveis no Município do Rio de Janeiro