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QUESADA, Miguel Angelo Ladero. Espanã a Finales de la Edad Media, 2- Sociedad. Ed.
DYKINSON, S.L. Meléndez Valdez. Imprenta Taravilla, Madrid. 2019
ESTRUTURA E FUNÇÃO
ESTUDOS SETORIAIS
Imagem orgânica, sociedade como um CORPO. Ideias organicistas, mais ricas de matizes
que a tripartite. Corpo formado por membros para que funcione com equilíbrio;
Antecedentes dessa teoria nos primeiros séculos do cristianismo, como São Paulo (p.22);
descrição do ordenamento interno da Igreja mediante imagens que representam um corpo
místico (KANTOROWICZ, dois corpos do rei). Metáforas do campo religioso que
inspirariam o campo secular/temporal da sociedade;
Século XII, governo e administração (João de Salisbury, Policratius). Sacerdotes como
alma da república; príncipe a cabeça; conselho o coração; juízes e governadores, os olhos,
ouvidos e língua; guerreiros, as mãos; cortesãos do príncipe, as costas; arrecadadores e
administradores, o ventre; os agricultores, os pés (QUESADA, 2019, p.23);
Francesc Eiximenis aumenta e põem mais camadas de matização nessa divisão em seu
regiment de la coisa publica; define três níveis sociais segundo sua capacidade política e
econômica: menores, médios e maiores (QUESADA, 2019, p.23);
Para Quesada, desde as primeiras teorias sobre os ordenamentos e estratos sociais, denota-
se uma concepção negativa da hierarquia e ordenamento social. Autores como San
Agostinho, San Gregorio Magno e outros, aceitam a necessidade coercitiva do poder
como mal menor: por natureza, os homens seriam iguais em suas dignidades, porém a
necessidade do poder político coativo se deve a necessidade de combater e limitar o mal
que o pecado original introjetou. Assim, com el fin de que la liberdad de obrar mal se vea
restrigida por el poder del que domina (QUESADA, 2019, p.23) (GREGORIO MAGNO,
setentiae, III, 47);
Dualidades PODER e OBEDIÊNCIA; RIQUEZA e POBREZA. O ser humano anterior ao
poder político, o ideal da humanidade perfeita não precisaria dele. José Bonifácio (século
VIII), noção de uma “orden de los que mandam y um orden de los súbditos, um de los
ricos y un orden de los pobres” (QUESADA, 2019, p.24). Século XVII, Pedro de
Figueroa: “somos todos libres y por natureza y em rázon de exenciones muy iguales. No
hubiera diferencia de superiores y súbditos si no prevaricara el primeiro hombre”
Na baixa idade média as ideias se manifestam mais claramente, diversificação das fontes
de riqueza e renda dentro de cada estamento ou grupo social. Maior variedade de trabalho
e atividades sociais, especialmente nas cidades (QUESADA, 2019, p.24). Mobilidade
social aumenta pelo esforço ou boa sorte dos agentes. Férnandez de Oviedo: “cada dia
sabemos por experiencia que uno es pobre sabe ganar honor e hacienda, e outro que
nace heredado no sabe vivir com cuanto tiene, e lo pierde todo (QUESADA, 1991, p.24);
o Devido as novas diversificações sociais e conjunturas políticas, as teorias dos três
estados se transformam. Dualidade mando/obediência outorgada como “primeira
ordem”, por razão de sua eficácia e responsabilidade (rei e nobreza seculares, papa
e clero eclesiásticos);
O segundo aspecto é observável nos exempla morais e tratados de penitência, nos quais os
autores insistem na multiplicidade de situações morais e maneiras de se viver, cada uma
requerendo uma atenção moral específica do agente, guiando as atividades de ofícios e os
respectivos vícios (obras de Don Juan Manuel, Pedro López de Ayala, San Vicente Ferrer)
(QUESADA, 2019, p.24);
Meios urbanos do séc. XIII, topografia da cidade mostrando a pobreza e as diferenças
entre ricos e pobres. Economia quase totalmente monetária, diversificação profissional,
marginalidades;
Padrões de vizinhança para a cobrança de impostos diretos ou repartição militar, divisão
dos vizinhos conforme quantias patrimoniais (QUESADA, 2019, p.25);
Críticas à riqueza mobiliaria, mal uso pela usura. Pecado da avareza e fundamentos
morais. Reprovações aos estados mais abastados pelas atitudes de vangloria e soberba.
Críticas morais, mas nunca aos fundamentos. Havia a crença de que a ordem sempre
poderia recuperar sua harmonia funcional mediante regenerações éticas e bom governo
(QUESADA, 2019, p.25);
Atenção ao indivíduo. Perfeição moral, cavaleiresca e intelectual. Ideais de eremitismo
(Luis de León);
Sem condições objetivas ou subjetivas (tomada de consciência) para uma mudança
“global”. Imaginário do medievo e reflexões que tomava considerações alheias e utópicas
ao mundo real. Irreais, porém úteis como crítica ao real. Idade de ouro primitiva
(ucrônicas), evocações cervantinas; fé milenarista no retorno da perfeição do paraíso,
quando ocorreria o fim do tempo presente (Ciudad de Deus agostiniana); outras eram
utópicas, geografia imaginária do Paraiso Terrestre, Pais de Jauja, ordenação do Padre
Juan, isla de Utopia de Tomás Moro desde 1516 (contexto das explorações ultramarinas)
(QUESADA, 2019, p.25-26)
FALTANDO PAG
Baixa idade média, Castela. Procedimento do Mayorazgo. Formas mais antigas já vistas
desde o séc. XII. Aumenta no séc. XIII e se generaliza nas casas da alta nobreza da época
Trastamara, a partir do Enrique II (1369-1379) e Leyes de Toro (1505). Separação de
certos bens do patrimônio familiar para formar uma massa de sucessão especial, destinado
ao primogênito e que tende a permanecer na família (QUESADA, 2019, p.35);
Autorização régia, podendo se ampliar com bens, constituindo melhoras ao titular do
mayorazgo, que era espécie de usufrutuário e gestor, já que não podia alienar os bens;
Sem filhos, herdavam os parentes de sangue mais próximos (começando dos
ascendentes). Direito de troncalidad. Caso ainda em vida, o titular da terra deveria alienar
a terra pelo preço fixo aos herdeiros (direito de reserva) ou estar sujeito ao direito de
retrato (sob condição suspensiva, alienação imperfeita) se quiser alienar a terra
(QUESADA, 2019, p.35);
O REINO
Ordem política e jurídica das sociedade europeias passa por mudanças exponenciais a
partir do séc.XIII, ainda que mantendo certas continuidades e laços com àquilo construído
até então;
Romanismo, aristotelismo, bem como novos conceitos (universitas, res publica),
plenitude do poder real, tiranicídio. Crise estrutural da baixa idade média, processo de
mudanças no sistema social. Reajuste do sistema de poder e da distribuição de seus
elementos;
Clero, nobreza e aristocracias locais. Reajuste do sistema de poder, legitimação doutrinal
e simbólicas, jurisdição e administração;
Natureza: Habitantes do reino como membros da comunidade política pelo que se entende
como “vassalagem natural”, superior a qualquer outra forma de vinculação temporal
(QUESADA, 2019, p.36);
Território: Estabilidade na segunda metade do séc. XIII, depois de arranjos fronteiriços
entre os reinos hispânicos. Se elabora uma imagem política, na qual se dividem em
circunscrições eclesiásticas, judiciais, militares e fiscais que englobam ou superam as
demarcações municipais ou senhoriais (QUESADA, 2019, p.36)
o Monarquia: Cume do sistema, titular dos instrumentos gerais e mais importantes
do exercício de poder, núcleo de uma forma de estado (res publica) na qual se
hierarquizavam todos os demais poderes institucionais e fáticos do reino,
alimentando-se por sua vez da consciência da identidade pátria (QUESADA,
2019, p.36-37);
Continuidade que dependia do acordo expresso ou tácito entre os titulares do poder
político para manter continuidade da ordem vigente. Monarquia central na concentração
de poder, mas a sociedade política também promovia e era afetada pelas mudanças e
demandas, gerando desequilíbrios e lutas intestinas. Disputavam-se as articulações e
exercícios de legislação, jurisdição e administração, domínio de recursos financeiros e
militares (QUESADA, 2019, p.37);
OS PODERES DO REI
Poder régio exercido de maneiras semelhantes nos reinos do medievo. Mando militar,
capacidade de declarar guerra e paz, acordar medidas de perdões e graça, chamar às
armas,
Dessas funções derivavam as funções judiciais, governamentais e administrativas
concretas, ou de outros em seu nome. Daí advinha o direito de cobrar determinadas rendas
e direitos fiscais como poder público eminente (QUESADA, 2019, p.42);
Segundo o ideário romanista, na Baixa Idade Média o rei voltava a corporificar a lex
animata, recuperação de sua capacidade legislativa. No caso de Castela, só a Coroa podia
promulgar ou derrogar leis, como demonstra o Ordenamento de Alcalá de 1348,
exercendo sua prerrogativa legislativa por meio das Cortes promulgado Ordenamientos y
pragmáticas;
No caso de Aragão e Navarra, as Cortes tiveram capacidade co-legislativa, ainda que o
monarca conservasse a exclusividade da promulgação legal. Conforme Quesada, o rei
podia ir além das leis, no caso de uma modalidade absolutista, partindo da expressão
romana princeps legibus solutus est y et ex certa scientia, usando sua potentia absoluta,
além da ordinária subordinada pela lei (vis directiva). Porém, pouca força coativa tinha
para balizar objetivamente o rei, ainda que uma principiologia colocasse o rei como
servus legis em certo sentido (pai e filho da justiça ao mesmo tempo, KANTOROWICZ);
Na mesma toada, o poder real se manifestava no exercício de outros direitos soberanos,
definidos pelo direito romano tardio: iuria regalia e regalias, que garantiam à coroa
minas, fontes salinas, bosques, pastos e terras incultas, cuja possessão não pertencia a
outras instituições/particulares. Se englobam também a caça e pesca;
Outras prerrogativas da coroa compreendiam a cunhagem de moedas, autorização para
celebrar feiras/mercados, seguranças de caminhos públicos. Em suma, manifestações de
sua capacidade de manter a justiça (QUESADA, 2019, p.42);
Manifestação de uma administração pública, institucionalizando-se cada vez mais em
nome e à serviço da coroa. Inicialmente, sem separação, mas interrelacionados, com um
mesmo órgão institucional “Julgando e governando”, sem que isso implicasse numa
confusão de sua natureza jurídica funcional;
Instituições flexíveis, sem ordenamentos fixos que delimitassem de seu leque de
competências, de modo que podiam livre e rapidamente adjudicar novas tarefas (ou
modificar antigas) segundo a convencia política do momento pela coroa. Ainda que
houvesse um notável esforço para promulgar ordenanças que regulassem claramente suas
atividades, havia amplo espaço para liberdades de competência (QUESADA, 2019, p.43);
Comunicação dupla entre coroa e súditos, de maneira ordinária (através da mediação de
instituições públicas) e extraordinárias/direta por meio da apresentação de memoriais ou
cartas (bem como o servicio regio, situação que prescindia das estruturas administrativas,
insólita e condenável, sobretudo se não tivesse êxito de seus objetivos políticos);
INSTITUIÇÕES TERRITORIAIS
Instituições territoriais/locais para garantir a regularidade e eficácia do poder régio.
Delegados e nobrezas territoriais, poderes políticos que podiam resistir delegações régias
(QUESADA, p.47);
Adelantados mayores (XIII), merinos mayores e Corregidores (séc. XV). Procuradores e
governadores gerais, capacidade administrativa e judiciária;
Conhecimento imperfeito sobre o pais, habitantes e recursos. Dificuldade para conservar e
manejar agilmente documentos/contas e escrituras. Situações que fizeram reis colocarem
limites na centralização burocrática que mediava o poder régio (QUESADA, p.48);
Em Castela, reis mantiveram o controle sobre o novo sistema fiscal (séc. III ao séc.XV,
serviços extraordinários de Alfonso X, concedidos pelas Cortes, um dos pilares da
fazenda real). Rendas de origem eclesiástica, taxas aduaneiras e sobre os ganados (gados,
semoventes) transeuntes;
Alcabalas, salinas e montazgos (uso de pastos e terra pública). Notável liberdade de ação
financeira com os novos sistemas de impostos. Arrendados de companhias privadas, que
pagavam de antemão. Controle externo sobre o emprego de recursos, aristocracia local
discutiam sobre a repartição, mas não as características da nova fazenda real;
Debilidade da fazenda e rendas próprias das jurisdições senhoriais e municipais
demonstra o triunfo do estado monárquico castelhano, com reis intervindo habitualmente
até nas rendas eclesiásticas (QUESADA, p.50);
Recursos financeiros empregados geralmente em gastos militares. Guerras que
afiançavam a identidade e hegemonia, bem como fronteiras. Monopólio da violência,
meios de exercer guerra e paz. Castela com mais recursos para financiar ofensivas bélicas
(QUESADA, p. 50);
AS CORTES
AMBITO ESPANHOL
Plena organização territorial e institucional das igrejas hispânica alcançada no segundo
terço do séc. XIII. Após isso, época de dificuldades. Suposta decadência moral da Igreja,
clero e prática religiosa que se tornam agudas no séc. XIV, aspectos de uma crise geral
(p.60-61);
Projetos de reforma quatrocentistas, com efeitos práticos diversos a longo e médio prazo,
ou limitados. De início, tratava-se de atualizar e aplicar princípios canônicos e
institucionais já existentes, especialmente àqueles elaborados a partir de Latrão IV, ainda
que não imediata. Cenário de crise política e econômica desde 1272 que se agrava.
Situação só passaria a melhorar de Valladolid 1322, mas ainda sobre um cenário de crise
nas relações entre o clero e episcopado, nos tempos de Pedro I (p.61);
Igreja aragonesa mais receptiva aos cânones de Latrão IV, bem como mais bispos
reformadores. Estimuladas pelos risco das heresias cátaras, valdenses e beguinas, mais
abundantes do que em Castela;
Importância dos concílios e sínodos. Regulação dos aspectos da vida religiosa, ritmo de
convocatória e celebração que muda segundo épocas e reinos. Atividade conciliar e
sinodal maior em Aragão no séc. XIII, situação que muda progressivamente para Castela
no período dos reis católicos, ainda que no séc.XV castelhano, o mais recorrente tenham
sido sínodos diocesanos. Impulsos de reforma e mudança que variaram, e a suficiência do
cumprimento dependia tanto do empenho pessoal de bispos quanto das colaborações e
eventuais resistências;
Preocupações dos dirigentes eclesiásticos em diminuir as abstenções e melhorar a ação
pastoral do alto clero, bem como a formação intelectual e letrada dos eclesiásticos.
Fundações de colégios em cidades universitárias, atenção ao funcionamento de escolas
catedráticas. Aumento progressivo de canônicos com graduação universitária nas
dioceses, do séc. XIII ao XV (p.62);
Intervenções políticas e régias, variada gama de relações com a sociedade em geral e seus
poderes estabelecidos. Relações com a realeza, intervenções organizacionais e Roma;
Relação entre o pontificado e os reinos, mediante núncios e outros membros
representantes. Centralização administrativa e fiscal do pontificado em Avignon (1309),
influência contumaz na igreja espanhola. Aumento da pressão fiscal, centralizada na
figura dos coletores pontificais em cada reino, que repercutia negativamente no bom
funcionamento pastoral e na riqueza das dioceses, além de despertar resistências tanto do
clero quanto dos monarcas (p. 63);
Cisma pontifico (1378-1417), tempo propício para aumento de intervenções régias,
buscando uma integração eclesiástica ao aparato da monarquia, imposições da soberania
monárquica sobre as estruturas eclesiásticas de cada reino, baseada na noção de monarcas
como protetores da Igreja e clérigos como naturais do reino (no sentido temporal), sem
intervir nas questões doutrinais/sacramentais e liberdades eclesiásticas. Efetividade
crescente desde o tempo de Alfonso X;
Papa Martin V, concordatas com naciones europeias, redução durante 5 anos de
intervenções pontifica em matéria de fiscalidade e provisão de benefícios. Consolidação
indireta da intervenção dos reis em assuntos eclesiásticos. Demandas para que os
benefícios eclesiásticos fossem para os naturais do reino, e não para estrangeiros. A
atitude visava promover o clero local, ações pastorais, bem como garantir a fidelidade
política da moeda e seus titulares (p.63);
o Demandas reais quanto a nomeação de candidatos de arcebispados, bispados,
dignidades e outros. Súplicas concedidas pelos papas Benedito XIII, Martin V e
Calixto III. Caminho para a consecução do patronato real pleno, que obrigava a
aceitação dos patronatos propostos pelos monarcas (no caso dos reis católicos,
obtiveram para as sedes episcopais de Granada, Canarias e Indias);
Outra demanda conquistada foi o controle financeiro procedente das rendas eclesiásticas e
esmolas dos fiéis por parte do poder real. Tercias reales (parte do dízimo eclesiástico)
passam definitivamente a formar parte do ingresso real, com os monarcas podendo contar
com quase a totalidade das décimas e subsídios extraordinários estabelecidos sobre as
rendas da Igreja, bem como das esmolas arrecadadas das predicações de indulgencias
geradas pela cruzada (p.64);
Facilidade dos reis para realizar reformas eclesiásticas, como Juan I de Castela
assessorado por conselheiros eclesiásticos e Pedro de Luna (futuro Benedito XIII),
promovendo iniciativas monásticas de jerônimos, cartuchos e beneditinos. Proteção de
imunidades e bens eclesiásticos. Tais intervenções régias continuaram no reinado de
Enrique III e Juan II, precedentes do grande impulso reformador levados a cabo pelos reis
católicos desde 1480 (p.64);
Criação de relações novas e duradouras entre monarquia e episcopado, bem como a
influência de bispos e outros membros da elite eclesiástica na elaboração e legitimação do
modelo de poder monárquico, tanto ideologicamente quanto na forma de
governar/administrar; (p.65)
Clientela entre monarquia e poder eclesiástico, mediante negociações com Roma,
promoções políticas, formando na Corte grupos de confiança (confessores reais e
membros da Capela Real);
BISPOS E DIOCÉSES
Cada bispo dirigia e servia como pastor religioso habitual/ordinário de um território,
compreendido pela diocese. As dioceses se agrupavam em províncias eclesiásticas, com
um arcebispo metropolitano a frente, esses dependentes do Papa. Haviam também
dioceses isentas, cujos titulares estavam vinculados sem intermediários ao papado (p.66);
Cabia a Roma outorgar o título de primado (grau honorífico, mas que não implicava num
exercício jurisdicional superior tampouco específicos sobre os bispados em seu âmbito) a
um metropolitano, geralmente o titular da sede mais antiga ou de maior significado
histórico. Na Espanha, era o Arcebispo de Toledo, desde 1088;
Demarcações geográfica, criação de dioceses. Finais do séc. VII e meados do séc. XIII,
conforme avanços dos reinos cristãos. Restauração/continuidades de bispados visigóticos.
Províncias eclesiásticas, metropolitanas: Toledo, Braga, Santiago, Tarragona, Sevilla, bem
como outras à margem (Oviedo, León y burgos, Mallorca, Cartagena);
Províncias do séc. XIII não se atinham a divisões políticas de fronteiras entre reinos, visto
que essas só terminaram de se precisar no último terço do mesmo século;
Província de Toledo compreendia a maior parte do território castelhano, com exceção da
dioceses ao Norte. Modificações baixo-medievais cujo intento eram ajustar, conforme
possível, as províncias eclesiásticas para cada território. A época do grande cisma foi
importante para que os reis conseguissem seus propósitos. Grandes divisões eclesiásticas
se aproximando das políticas. Novo patronato real após incorporação de Granada à
Castela. Nos finais do século XV, 7 sedes arcebispais e 41 episcopais nas coroas de
Castela (33), Aragão (14) e navarra (1) (p.68-69);
Igreja como a única entidade com uma organização desenvolvida da qual os poderes
políticos laicos pudessem tomar como modelo (p.69);
BISPOS
Plenitude das funções sacerdotais em sua diocese. Não era superior ao presbítero em
relação a eucaristia, se não num grau de ordem sacerdotal de maior dignidade pelos
poderes exercidos. Aspectos cerimoniais e simbólicos, báculo e mitra, anel e selo
episcopal. Solenidade de entrada e recebimento, bem como honras fúnebres e sepulturas
(p.69).
Poderes episcopais que são exercidos no âmbito da 1) ordem, 2) magistério e 3)
jurisdição. 1) capacidade de administrar os sacramentos, inclusive a absolvição de
pecados graves, bem como o acesso à vários níveis do clero. Organizava e presidia o culto
e suas manifestações litúrgicas, além do calendário ao longo do ano;
Dele dependiam não apenas o clero secular, mas também dos monastérios e conventos
situados em sua diocese;
A prerrogativa de magistério fazia do bispo responsável pela formação intelectual de seus
sacerdotes, que deveriam possuir os conhecimentos necessários para exercer suas funções,
além do dever da prédica, catequese e ensino da doutrina cristão aos fiéis da diocese
(p.70);
Poder jurisdicional obrigava o bispo a julgar os delitos cometidos contra o direito
canônico em geral, bem como ditar normas complementares para guiar a conduta dos
clérigos e laicos. Fazia por sua própria iniciativa ou por cooperação de sínodos e
assembleias do clero diocesano por ele presidido, no qual elaborava estatutos ou
constituições sobre muitos aspectos da administração eclesiástica e da vida religiosa
(p.70);
Frequente a reunião de concílios conjuntos das dioceses de uma província eclesiástica,
presididas por um arcebispo metropolitano, além dos concílios plenários de todo o reino
(não convocados diretamente pelo papa, mas com sua aprovação);
Dependia também da jurisdição episcopal a outorga de ofícios e benefícios eclesiásticas
nas dioceses, começando pelo cabido catedralício, e com ele, a supervisão das práticas
administrativas e a defesa dos bens e rendas pertencentes às instituições dioceses (p.70).
Igrejas de patronato consistiam em caso especiais, ainda que o bispo a opção de confirmar
o cargo proposto pelo patrono. Todos os estatutos de instituições de direito eclesiástico
existentes numa diocese (até confrarias e hospitais) precisavam da sanção de licença
episcopal;
Para exercer seus poderes com maior proximidade, o bispo deveria efetuar visitas
pastorais, que lhe permitiam conhecer às situações concretas, além de corrigir abusos. As
visitas deveriam ser anuais, tal como os sínodos, segundo disposto desde 1215 pela Igreja,
ainda que o mais recorrente fosse a delegação da visita para arcediagos (arcedianos),
arciprestes ou vicários mais próximos das paróquias que deviam ser inspecionadas (p.70);
As procuraciones (direitos de visita) e catedrático (pagamento anual dos clérigos de uma
diocese ao bispo) consistiam em formas de se reconhecer seu poderio jurisdicional.
Bispos de rodeavam de uma casa formada por dezenas de sujeitos: familiares (em sentido
figurado), mordomos para a administração de bens e rendas da mesa episcopal, servidores
domésticos. Dispunha também de uma chancelaria e cúria, com vicários gerais que
exerciam poderes episcopais delegados. Em alguns casos, contava com a presença de um
bispo assistente (coadjuntor), e habitualmente atuava um oficial de justiça (provisor) a
frente do tribunal episcopal, além de visitadores diocesanos, também por delegação do
prelado (p.70-71);
3) Clero Secular:
Dentro de sua condição comum, o clero consistia num grupo com grandes diferenças
internas. De um lado, havia um alto/médio clero que dispunha de recursos econômicos
estáveis, graça aos recursos dos cargos de prebenda, suficientes para assegurar um
sustento digno (p.73)
Benefício, definido como uma entidade jurídica constituída ou erigida perpetuamente
pela autoridade eclesiástica competente, que consiste em ofício sagrado e no direito de
receber os rendimentos vinculados à dotação do ofício (Direito Canônico), também
chamado de prebenda (p.73); (CALVO, El Clero, 2017, Teruh, vocabulário básico, 1993);
Número de benefícios que era limitado em função das rendas, e não tendeu a crescer. De
modo que havia muitos capelães e clérigos que exerciam seu labor sujeitos a rendas
insuficientes ou a salários. Na Coroa de Castela (com exceção de Canárias e Granada)
havia a finais do séc. XV entre 10.000 a 15.000 beneficíos, incluindo capellanias. Porém,
se aos benefícios dos cabidos catedralícios e colegiadas e aos curas paroquiais se
adicionem os servideros, prestamaras e capellanias mais difíceis de localizar,a cifra de
todo o reino dos reis católicos alcançaria ou superaria 35.000. Dessas rendas vivia o clero
secular, desde os cargos altos e médios, verdadeira aristocracia dentro da sociedade
eclesiástica de cada diocese, até os mais modestos economicamente, visto que os níveis de
ingresso foram variados (p.74);
Havia também uma clara distinção entre o os clérigos de ordenações maiores/sacras,
obrigados ao ministério sacerdotal e celibato, e clérigos menores, também integrados na
jurisdição eclesiástica, mas que podiam contrair matrimônio, exercer ofícios seculares e
viver de fato como laicos. Estavam inclusos na imunidade eclesiástica, ainda que a
indeterminação de algumas situações concretas e abuso do foro eclesiástico produzissem
situações de enfrentamento com jurisdições seculares, em especial os fueros municipais
(p.74);
Intervenções pontificais provendo benefícios a favor de clérigos estrangeiros, em geral
absentistas, geraram fortes queixas no séc. XIV dentro das Cortes castelhanas (1329-
1390), querelas que denunciavam a desatenção aos deveres eclesiásticos e capital que ia
para fora do reino. Os reis apoiavam as reclamações, muitas vezes eles mesmos
suplicando aos papas a provisão de benefícios em favor de clérigos naturais do reino. De
modo que as súplicas reais pelos reis à Roma cresceram de importância, ainda que
deslocando a competência bispal e dos cabidos catedralícios (p.74);
Reis entrando no âmbito eclesiástico (cabido real, benefícios e boas relações do rei,
especialmente Juan II). Monarcas buscando que a maior quantidade de benefícios
recaísse sobre os naturais do reino e sedes episcopais, utilizando procedimentos de
súplicas, buscando um patronato real pleno (p.74);
Reis exerciam direitos de patronato real, provendo benefícios para algumas colegiadas e
capelas funerárias de fundação régia (reyes viejos e reyes nuevos, da catedral de Toledo)
ou as capelas reais de Sevilla e Córdoba, além de diversas igrejas de patronato laico, no
qual o patrono propunha um clérigo, que dependeria da nomeação bispal (p.74-75);