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Como Estado e sociedade se integram no Brasil eternizando o

subdesenvolvimento?
Melissa Andréa Smaniotto1

Personalidade, personalidade
Personalidade sem igual
Porém... subdesenvolvida, subdesenvolvida
E essa é que é a vida nacional!
(Carlos Lyra, Canção do Subdesenvolvido)

RESUMO: Tendo como ponto de partida a relação entre Estado, sociedade civil e desenvolvimento e
confrontando as peculiaridades que permeiam tais concepções contemporâneas, o objetivo deste artigo
é discutir como Estado e sociedade se integram no Brasil eternizando o subdesenvolvimento. Para
tanto, são diferenciadas as noções de desenvolvimento e subdesenvolvimento e é apresentada uma
breve trajetória histórica brasileira, comparando passado e futuro e, ao mesmo tempo, identificando o
caminho que moldou, de maneira diversa, a sociedade e o Estado brasileiros e, simultaneamente, os
aproximou a ponto de interagirem e ensejarem a condição de subdesenvolvimento imposta ao Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Brasil; Estado; Sociedade Civil; Desenvolvimento; Gênero.

Introdução: Estado e sociedade civil


Sair da zona de conforto é um grande desafio ao pesquisador da área de
Ciências Sociais Aplicadas. Mais do que isso, é inevitável. Seja qual for o objeto de
investigação e apesar do recorte metodológico inerente à produção acadêmica, a
interdisciplinaridade surge como um instrumento hábil a contribuir na compreensão da
conjuntura que permeia a maioria (se não a totalidade) das temáticas investigadas por
cientistas sociais. E enquanto tais a reflexão se direciona à compreensão dos
processos sócio históricos que resultaram nos fenômenos sociais presentes e quais
são as possibilidades viáveis e adequadas ao futuro da sociedade.
Pois bem. Ao desenvolver estudo em tal âmbito do conhecimento é impossível
ignorar a posição geográfica do que se pretende investigar. Nesse sentido, inserido
na realidade nacional, o pesquisador se obriga a compreender como a condução do
país interfere nos fenômenos sociais tipicamente brasileiros e em que medida o faz.
São múltiplos os matizes a serem considerados.
No entanto, partindo da questão geográfica, a proposta aqui se limita a refletir
sobre como o Brasil - enquanto país que tem grande potencial para o desenvolvimento
-, contraditoriamente se encontra estagnado em um estado de subdesenvolvimento,
tendo como cúmplices o Estado e a sociedade.

1
Doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná.
Mestre em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG/PR). E-mail: melissa.smaniotto@yahoo.com.br.
https://orcid.org/0000-0001-7967-9068.
São inúmeras as concepções de Estado e sociedade que aqui poderiam ser
trazidas. Todavia, tais categorias serão aqui delimitadas apenas no intuito de orientar
a discussão, sem a pretensão de engessá-las e tendo a lucidez que ao se deparar
com assuntos tão complexos e entrelaçados, outros posicionamentos são tão bem-
vindos quanto aqueles aqui trazidos.
No dizer de Estanque (2013) o conceito de Estado2 3 é complexo, polêmico e
controverso, mas pode ser identificado com base nas seguintes premissas funcionais:
“(a) uma forma de governo dotada de instituições e meios para impor a sua lei; (b) um
povo que aceita submeter-se a esse governo e com ele partilha determinados valores;
(c) um território com fronteiras bem delimitadas” (ESTANQUE, 2013, p. 226).
Reconhecidas estas como funções peculiares à atuação estatal e como modo de
assegurar a convivência entre seus integrantes, é aceita, de forma predominante, a
submissão a essa força centralizadora.
Interessante notar que há uma incessante releitura do significado de Estado,
cuja formação é permeada pelas realidades sócio históricas que se transformam em
um perene devir, sofrendo, portanto, diferentes interferências que vão desde as
especificidades regionais, passam pelos costumes e alcançam até o processo de
estruturação de determinada sociedade.
Nessa toada é impossível descolar a noção de Estado do capitalismo que
orienta a dinâmica do mercado econômico 4 e provoca efeitos nas mais diversas áreas
tais como a política, a administrativa e a cultural, havendo um consenso no seguinte
sentido quanto à concepção contemporânea da função de Estado:

o Estado tem como principal função societal, no capitalismo, organizar as


classes dominantes enquanto ‘bloco-no-poder’, conferindo coerência e
aproximando os diferentes interesses entre fracções específicas da
burguesia, função essa que só pode ser cumprida na medida em que a
relativa autonomia das instituições seja assegurada (ESTANQUE, 2013, p.
232).

2
Marx vê o Estado como uma dimensão do sistema de dominação de classes considerando-o uma
instituição ‘parasita’ que serve os interesses da burguesia e dos altos funcionários, um ‘epifenómeno’
das relações de propriedade, sobressaindo ainda no seu pensamento uma noção de ‘Estado-
instrumento’ (ESTANQUE, 2013, p. 228).
3
Para Weber, o Estado é, por definição, a esfera da política e das instituições da governação, que
devem – através da lei – prevenir o risco de excessivo intervencionismo na economia e na sociedade
(ESTANQUE, 2013, p. 229).
4
A economia tem um fundamento político no sentido em que o modo como cada um dos agentes
económicos participa no sistema produtivo (e no mercado) obedece a relações de poder e dominação
orientadas por critérios e formas de retribuição e de recompensa profundamente desiguais, mas
suportadas por lógicas de consentimento que naturalizam as desigualdades e formas de exploração
(ESTANQUE, 2013, p. 232).
Levando isso em conta, é preciso dizer que essa reciprocidade entre
sociedade e Estado é o fio condutor de um país que pretende seguir rumo ao seu
desenvolvimento ou tornar-se-á um empecilho ao alcance deste, perpetuando um
subdesenvolvimento.5 Infelizmente, ao o que tudo indica, é forçoso reconhecer que o
Brasil apresenta um formato estatal de um arranjo político de dominação, estagnando
projetos de desenvolvimento em prol da nação brasileira e seus cidadãos.
Tão divergente quanto o conceito e funções do Estado, a sociedade civil
também comporta múltiplos significados que são moldados por construções históricas
e extrapolam a discussão ora proposta. Daí porque é mais prudente emprestar uma
concepção contemporânea alinhada ao debate sobre o (sub) desenvolvimento do
Brasil e à íntima relação deste com o Estado e a sociedade civil:

A sociedade política está constituída pelos órgãos das superestruturas


encarregados de implementar a função de coerção e domínio, ao passo que
a sociedade civil é conformada pelo conjunto de organismos, usualmente
considerados “privados”, que possibilitam a direção intelectual e moral da
sociedade, mediante a formação do consenso e a adesão das massas. A
trama da sociedade civil é formada por múltiplas organizações sociais, de
caráter cultural, educativo e religioso, mas também político e, inclusive,
econômico. Por seu intermédio, difundem-se a ideologia, os interesses e os
valores da classe que domina o Estado, e se articulam o consenso e a direção
intelectual e moral do conjunto social. Nela se forma a vontade coletiva, se
articula a estrutura material da cultura e se organiza o consentimento e a
adesão das classes dominadas (ACANDA, 2006, p. 175)

Ao delimitar as categorias de Estado e sociedade civil resta evidenciada o


quanto estes entes abstratos estão entremeados a ponto de serem apontados como
os principais responsáveis pelo desenvolvimento de um país. Contudo, quando se fala
em desenvolvimento é forçoso esclarecer o sentido de tal fenômeno para, somente
depois, relacionar tais categorias e aproxima-las da realidade brasileira
contemporânea.

DESENVOLVIMENTO X SUBDESENVOLVIMENTO
Por ser multifacetado, o significado de desenvolvimento é objeto de várias
disputas teóricas que vão muito além das limitações impostas por este texto e

5
É na sua tripla função – económica, ideológica e política – que o Estado realiza o seu papel de
produção e de revitalização permanente dos ingredientes que cimentam a sociedade no seu conjunto
(ESTANQUE, 2013, p. 232).
inerentes a esta pesquisadora. Indiscutivelmente, inclui transformações geográficas,
institucionais, culturais, estruturais, tecnológicas, entre outras.
Neste caso Souza (1996) pondera que é preciso ter a lucidez de perceber o
âmago do desenvolvimento como algo inerente a uma cultura de transformação
reconhecedora de que, antes de tudo, o considera como um valor social pertencente
à sociedade6 e ao espaço7. Dada essa circunstância sua concepção pode parecer até
mesmo redundante ao assim considerar o desenvolvimento “simplesmente como um
processo de aprimoramento (gradativo ou, também, através de bruscas rupturas) das
condições gerais do viver em sociedade, em nome de uma maior felicidade individual
e coletiva” (SOUZA, 1996, p. 9). Processo esse que deve abranger, ao mesmo tempo,
as relações sociais e a organização espacial como faces a serem modificadas para
que haja efetivo desenvolvimento. Daí porque se fala sobre a teoria do
desenvolvimento sócio espacial como uma teoria aberta8 e descentralizadora9
(SOUZA, 1996).
Paradoxalmente, o viés econômico, modelado pela tradicional fórmula do PIB
per capta, cujos resultados favoráveis ao desenvolvimento eram obtidos a partir da
soma entre industrialização e crescimento, orientou e ainda orienta de maneira
considerável a concepção da categoria ora discutida. Baseada no sistema capitalista
esse entendimento contempla diferentes graus de atuação estatal para regular o
mercado na tentativa de conciliar interesses antagônicos e plurais decorrentes da vida
em sociedade. A principal crítica em relação a isso e que torna vulneráveis esses
parâmetros de desenvolvimento é por se caracterizar como algo que desconsidera o
viés social, tornando-se excludente10, eis que uma boa parte da população sobrevive

6
“[...] é necessário compreender a sociedade como um todo indivisível, constituído não de "instâncias",
"estruturas" ou "sistemas" autônomos (economia, política...), mas de dimensões interdependentes,
onde cada dimensão, embora distinta das demais, não pode ter sua própria dinâmica apreendida se a
desconectarmos, "por pragmatismo", das demais” (SOUZA, 1996, p. 18).
7
“O espaço, produto social, é um suporte para a vida em sociedade e, ao mesmo tempo, um
condicionador dos projetos humanos; um referencial simbólico, afetivo e, também, para a organização
política; uma arena de luta; uma fonte de recursos (sendo a própria localização geográfica, que é algo
essencialmente relacional, um recurso a ser aproveitado)” (SOUZA, 1996, p. 11).
8
“[...] por abrir-se a generalizações de alcances variáveis; [...]” (SOUZA, 1996, p. 18).
9
“[...] pois busca, no processo explicativo, uma constante vigilância no que toca ao etnocentrismo, do
mesmo modo como, no plano estratégico, abdica de uma postura autoritária (fundada em uma verdade
pretensamente absoluta) em nome de um princípio de não-intervenção, por sua vez assentado sobre
a convicção da incomensurabilidade das culturas à humanas, que são os marcos referenciais luz dos
quais idéias-força e valores como "desenvolvimento", "justiça" e outros, por tanto tempo tidos como
passíveis de definição universalmente verdadeira, deverão ser apreciados” (SOUZA, 1996, p. 18).
10
“O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza
e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos
serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos” (SEN, 2010,
p.16).3399
totalmente alheia a esse cenário econômico, além de ser inspirado em sociedade
europeias que se distanciam, e muito, das vicissitudes brasileiras.
Diante dessas ponderações e tendo como ponto de partida a busca de
equidade social, inspirada em Maluf (2000), o propósito desta sucinta discussão é
superar a perspectiva estritamente capitalista de que para um país ser considerado
desenvolvido basta garantir uma economia robusta e estável.11
Além disso, faz-se necessário considerar que o conceito de desenvolvimento
é infinitamente inacabado haja vista que não pode ser descolado dos objetivos aos
quais serve, justamente porque existe um descompasso “quanto ao que se considera
valioso promover, ou ao que seria uma vida valiosa (Sen, 1988) ” (MALUF, 2000, p.
63). Trata-se de uma tendência irreversível de promover uma releitura da
compreensão de desenvolvimento que envolve o esforço de civilizar o sistema
capitalista sem ficar por este limitado12.
Por outro lado, isso não significa dizer que o desenvolvimento econômico
pode ser ignorado. Pelo contrário, é preciso pondera-lo para se falar em
desenvolvimento social. Mais uma vez Maluf (2000) serve de norte para afirmar que
desenvolvimento econômico é “o processo sustentável de melhoria da qualidade de
vida de uma sociedade, com os fins e os meios definidos pela própria sociedade que
está buscando ou vivenciando este processo” (MALUF, 2000, p. 71).
Seguindo esse raciocínio, simultaneamente ao desenvolvimento econômico,
para delinear os contornos do que se compreende por desenvolvimento social, outros
critérios merecem ser considerados, quais sejam: a melhora da qualidade de vida com
o respeito e valorização da diversidade em seus vários matizes (cultural 13,
institucional, humano e natural), a diferente condição dos indivíduos14, o

11
“A necessidade de repensar o desenvolvimento justifica-se, no mínimo, como contraposição à
convencional prescrição de “mais crescimento econômico” acompanhado de instrumentos
compensatórios das evidentes mazelas sociais e ambientais geradas pelos padrões de crescimento
que vigoram até os dias atuais” (MALUF, 2000, p. 55).
12
“[...] a idéia e a prática de desenvolvimento intencional vêem-se confrontadas com o processo
imanente de desenvolvimento do capitalismo, de modo que a dificuldade de definir desenvolvimento
está em tornar a intenção consistente com o processo imanente” (MALUF, 2000, p. 68).
13
“[...] Desenvolvimento significa essencialmente obter melhorias materiais que podem ser
conseguidas mantendo-se as identidades culturais [...]” (MALUF, 2000, p. 77).
14
“A segunda implicação é a necessidade de combinar os enfoques recentes “de baixo para cima” em
que ganha destaque a diferente condição dos indivíduos, perspectiva presente entre outros no conceito
de desenvolvimento humano, com a antiga e boa noção de desenvolvimento social para a qual, olhando
“de cima para baixo”, a condição dos indivíduos (ou grupo de indivíduos) e suas trajetórias possíveis
são também determinadas por seu “pertencimento” a determinado segmento ou classe social, por sua
vez, fonte de desigualdades. Vale dizer, o enfoque de desenvolvimento humano que ganhou
proeminência na última década, ainda que valioso, não é plenamente intercambiável ou não substitui o
de desenvolvimento social ” (MALUF, 2000, p. 78).
desenvolvimento humano15 e o abrandamento das diferenciações geográficas
(MALUF, 2000).
Quando tais questões são ignoradas há uma grande probabilidade de se
detectar o subdesenvolvimento, que consiste basicamente nas falhas de mecanismos
empregados para se alcançar homogeneidade social, que desencadeia uma
distribuição desigual e injusta de recursos a que toda e qualquer pessoa deveria ter
acesso16. Ou dito de outro modo, “reduzir a iniquidade beneficia os mais pobres no
curto prazo e favorece o crescimento no longo prazo” (MALUF, 2000, p.82).
Traçados esses contornos gerais que relacionam as categorias Estado,
sociedade, desenvolvimento e subdesenvolvimento, o intuito é analisar, ainda que
superficialmente, os bastidores desse complexo e delicado cenário que auxiliam na
compreensão de como Estado e sociedade se integram no Brasil eternizando o
subdesenvolvimento.

BREVE TRAJETÓRIA HISTÓRICA BRASILEIRA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE


ESTADO E SOCIEDADE: UM COMPARATIVO ENTRE O PASSADO E O
PRESENTE
Ao resgatar alguns momentos históricos mais determinantes para a discussão
sobre (sub) desenvolvimento se torna viável identificar o caminho que moldou, de
maneira diversa, a sociedade e o Estado brasileiros e, ao mesmo tempo, os aproximou
a ponto de interagirem e ensejarem a condição de subdesenvolvimento imposta ao
Brasil.
Indiscutivelmente, a colonização brasileira por Portugal é o início de um
processo histórico que passou pela transição desse país de uma monarquia
acompanhada de um contexto feudal que, por sua vez, foi sendo substituído por uma
burguesia comercial. Esta, ao vivenciar o auge do patrimonialismo, passou por várias
transformações, dentre as quais se destaca a transição de uma aristocracia para
burocracia, propiciando que algumas atividades mercantis fossem controladas pelo

15
“[...] desenvolvimento como expansão das capacidades (capabilities), entendidas enquanto condição
para que os indivíduos exerçam plenamente a liberdade de escolher os “modos de funcionar”
(functionings), os modos de ser e de fazer (doings and beings) que tenham razões para valorizar (Sen,
1988 e 1989)” (MALUF, 2000, p. 79).
16
“A modernização (e o crescimento) como ‘paradigma’, se assemelha a um paciente em coma,
mantido vivo com a ajuda de aparelhos, diante das contradições do capitalismo e da contínua e
crescente exclusão de contingentes populacionais e partes do globo dos benefícios da globalização
econômica” (SOUZA, 1996, p. 14).
Estado português e, por conseguinte, o capital também fosse submetido a tal controle
estatal. É o estamento burocrático que é importado de Portugal para terras brasileiras:

[…] O estamento sem mais seria apenas a face social da constituição de um


grupo aglutinado em torno de específica concepção exclusiva de honra. A
burocracia sem mais seria mero aparato de poder controlado pelo mandante,
conquanto indispensável à gestão. A combinação das duas coisas cria um
ente de certo modo monstruoso, que ao mesmo tempo bloqueia a
organização do poder central e a da sociedade a ele submetida. O estamento
burocrático atua, fundamentalmente, no interesse da sua perpetuação; mas,
sendo ele próprio ente político, sua ação se volta para assegurar o padrão de
poder central no qual está incrustado […]. (FAORO, 2001, pag. 17)

Isso significa dizer que grupos minoritários se apoderaram do controle estatal


exercendo o poder voltado aos interesses que lhes eram peculiares enquanto à
maioria da sociedade restava se submeter aos desmandos e resquícios da
colonização portuguesa legitimada então pela Constituição de 1824. Foi
consolidando-se, assim, um modelo opressor, originado em Portugal, que teve, em
terras tupiniquins, períodos de fortalecimento alternando com fases de
enfraquecimento, no entanto, que acabou prevalecendo à medida que alguns grupos
se revezavam no exercício do poder, perpetuando-se, assim, esse estamento
burocrático.
Faoro (2001), ao intitular tal fenômeno social como “sistema patrimonial do
capitalismo politicamente orientado”, observa aí uma tradição secular, em que se
confundem o espaço público e o privado com o intuito de atender aos interesses de
uma minoria que, desde então, detêm as rédeas do poder amparadas pelo capitalismo
e pelo patrimonialismo 17. Daí porque Faoro (2001) usa a expressão “donos do poder”.
No mesmo sentido, porém em outro momento histórico brasileiro, qual seja o
século XIX, Franco (1997) ao se debruçar sobre a releitura do significado de ser livre
ou escravo, relata também que a escassez de recursos públicos e os interesses de

17
Fazendo uma crítica, Souza (2017) afirma que “O patrimonialismo esconde as reais bases do poder
social entre nós. Ele assume que interesse privado é interesse individual privado, de pessoas
concretas, as quais se contraporiam aos interesses organizados apenas do Estado. Tudo como se
houvesse interesses organizados apenas no Estado, suprema estratégia de distorção da realidade.
Uma noção de senso comum do leigo que não percebe os interesses privados organizados no mercado
e sua força, ou seja, que não percebe, em suma, como o capitalismo funciona. Daí decorre a noção
absurda, mas tida como verdade acima de qualquer suspeita entre nós: a noção de que a elite poderosa
está no Estado, com isso invisibilizando a ação da elite real, que está no mercado, tanto nos oligopólios
quanto na intermediação financeira. Se compararmos nosso capitalismo com o narcotráfico, o político
corrupto é o aviãozinho do tráfico, quem fica com as sobras; a boca de fumo que faz o dinheiro grande
é o mercado da rapina selvagem que temos aqui. O conceito de patrimonialismo serve, precisamente,
para encobrir os interesses organizados no mercado, que funcionam para se apropriar da riqueza
social, já que a noção de privado é absurdamente pessoalizada, permitindo todo tipo de manipulação.
A real função da noção de patrimonialismo é fazer o povo de tolo e manter a dominação mais tosca e
abusiva de um mercado desregulado completamente invisível” (SOUZA, 2017).
uma minoria levaram a aceitação, naquela época, de verbas privadas para que
serviços públicos pudessem ser realizados, bem como a utilização de propriedades
particulares para o funcionamento de tais serviços
Nessa toada, ao dialogar com Faoro (2001), Schwrtzman (2007) desenvolve
um raciocínio que identifica como neopatrimonialismo, em que o próprio
patrimonialismo se moderniza e é permeado por um capitalismo que inclui a
cooptação política. Essa expressão “cooptação política” é traduzida por Schwrtzman
(2007) como um sistema de participação política débil, dependente e controlada de
cima para baixo, exigindo que algumas pessoas dela estejam excluídas, com vínculos
de dependência entre os detentores do poder e os emergentes. Portanto, ter esse
benefício, ainda que de forma efêmera, fez com que a participação política
representasse e ainda represente muito mais do que um simples direito. Depara-se,
assim, com um privilégio.
Intimamente relacionado a esse contexto sócio histórico se aponta o fato do
Brasil estar em um “limbo” situado entre as características de um universo feudal em
razão da existência de latifúndios que exploravam (e ainda exploram) algum tipo de
cultura da terra e os projetos que tentavam implantar uma modernização cuja
demanda foi provocada pela hegemonia do sistema capitalista.
Aliás, Vianna (2005) constata que essa força centrípeta dos senhores de
engenhos e grandes latifundiários que dominaram o poder político regionalmente é
um dos principais - se não o mais importante - no sentido de ser identificado como um
fator impeditivo do desenvolvimento do Brasil porque forjada em interesses
individuais, de forma hierárquica e verticalizada, que se contrapõe ao exercício de
uma solidariedade horizontal, dependente de um despertar do consciente coletivo e
nacional nesse sentido.
Nessa toada, as dimensões continentais do Brasil revelam o quanto a questão
geográfica, sem excluir outros fatores, foi essencial para forjar os contornos do
subdesenvolvimento brasileiro, que é retratado por Vianna (2005) como uma
organização agrária que gravitava em torno dos latifúndios e atraía os habitantes
locais (pequenos proprietários, milicianos, foreiros, serviçais, entre outros) para uma
relação de domínio.
E como desdobramento disso, outros setores da economia não se
desenvolviam e não se integravam, assegurando-se, assim, uma hegemonia
aristocrática dos grandes fazendeiros quanto ao exercício do poder político e sua
habilidade de influenciar as instituições e grupos sociais.
Por conseguinte, Vianna (2005) afirma que esse formato de organização
agrária, como se deu a ocupação geográfica e as configurações das populações
meridionais foram determinantes para consolidar esse contexto histórico. Isto porque
os latifúndios então existentes eram autossuficientes a ponto de simplificar as
atividades de comércio e indústria dos centros urbanos em que os comerciantes e os
artesãos, aglomerados em vilas, aldeias e povoados, eram totalmente desprovidos de
força política, de espírito corporativista e de junção de objetivos e anseios de
solidariedade moral. Em síntese: na cidade era cada um por si, acentuando-se,
inclusive, o nomadismo. Por outro lado, nos grandes senhorios rurais as oligarquias
estavam bem consolidadas.
Hodiernamente, apesar do crescimento dos centros urbanos e da migração da
maioria da população para estes, o poderio dos clãs rurais é bem perceptível, inclusive
no Congresso Nacional, pois a bancada ruralista tem representatividade acentuada
não apenas no Poder Legislativo, mas também no Executivo, como forma de
assegurar que seus interesses sejam viabilizados ainda que isso afete, de algum
modo, o desenvolvimento nacional.
Por óbvio, são inúmeras as variantes históricas a serem consideradas, tanto
interna quanto externamente. Deste modo, aliada a essa peculiar conjuntura histórica
nacional, é preciso considerar a globalização como um dos fatores que interfere no
desenvolvimento de qualquer país, inclusive o Brasil, enquanto uma força exógena
que se impõe à realidade brasileira, tanto quanto em qualquer outro Estado soberano.
Essa percepção, segundo Wallerstein está relacionada com a teoria do sistema
mundo:

Um sistema mundo é um sistema social, um sistema que possui limites,


estruturas, grupos associados, regras de legitimação e coerência. A sua vida
é feita das forças em conflito que o mantém unido por tensão e o dilaceram
na medida em que cada um dos grupos procura eternamente remodela-lo a
seu proveito. Tem as características de um organismo, na medida que tem
um tempo de vida durante o qual suas características mudam em alguns
aspectos e permanecem estáveis noutros (Wallerstein, 1974a, p. 337 APUD
MARTINS, 2015).18

18
“A grande força da teoria do sistema-mundo é que ela não se define a si mesma como estreita e
dogmática (Wallerstein, 2012, p. 27), mas, sendo multidisciplinar, dialoga com todos os âmbitos da
sociedade, da política, da economia e da cultura. Por isso, se mantém como ferramenta atual de análise
da sociedade e do mundo” (MARTINS, 2015).
Esse sistema, imbuído de uma considerável dinamicidade, está
em estado permanente de transformação e tensionamento entre todos os países, os
quais são afetados em maior ou menor medida de acordo com a distribuição de
riquezas e acumulação de capital financeiro, assim como das características de capital
humano existentes em cada em nação.19
Em outras palavras, o mundo globalizado se aproveita das
características endógenas de um país, sobretudo nos aspectos econômico, político e
cultural, para inseri-lo em uma hierarquia mundial20, de pouca, árdua e rara
mobilidade, classificando-o como centro21, semi-periferia22 e periferia23. Em síntese,
há uma relação de forças internacionais e um jogo de poder que interfere, em maior
ou menor grau, no desenvolvimento de um país.
E o Brasil não escapou a essa globalização, principalmente ao
se submeter a empréstimos financeiros internacionais (p.ex., FMI), que impuseram
condições no intuito de conservar essa hierarquia ao exigir implicitamente que fossem
mantidos “o caráter de dependência, a divisão internacional do trabalho e a estrutura
do sistema-mundo (centro, periferia e semi-periferia)” (MARTINS, 2015).
Em consonância com essa questão financeira global, ainda há
no momento presente, o avanço mundial de uma “nova” direita política, que pregando
um conservadorismo predatório tem atuado em muitos países, desconstruindo

19
“[...] A má distribuição do capital acumulado e do capital humano fornece uma “forte tendência” para
a automanutenção do sistema-mundo moderno. Ou seja, são forças que contribuem para a manutenção
de um centro (com predominância de capital acumulado e de alta capacitação da força de trabalho) e
de regiões periféricas (onde predomina a baixa poupança, por conseguinte, baixos investimentos e
baixa qualificação da força de trabalho, e com Estados débeis com baixo nível de autonomia). A
ideologia construída e mantida nos países do centro e a homogeneização cultural também contribuem
para proteger a manutenção da divisão dispare do mundo” (MARTINS, 2015).
20
“[...] Wallerstein divide o mundo em três níveis hierárquicos, não sendo uma classificação fixa, pois
países do centro podem tornar-se semi-periferia ou periferia e vice-versa. Aspectos econômicos,
políticos e culturais são importantes para caracterizar e definir se um país faz parte do centro, semi-
periferia ou da periferia do sistema-mundo” (MARTINS, 2015).
21
“Aspecto econômico: países com produção de alto valor agregado tecnológico; produtor e exportador
de tecnologia; mão de obra especializada; Aspecto político: Países que são Estados fortes, tendo a
capacidade de ampliar seu domínio para além de suas fronteiras; Aspecto cultural: Possuem forte
identidade nacional e ampliam sua identidade como referencial para além das fronteiras” (MARTINS,
2015).
22
“Aspecto econômico: Países de industrialização de baixo valor tecnológico agregado; não produz
tecnologia, mas a absorve; mão de obra semi-especializada e não especializada; Aspecto político:
Países de industrialização de baixo valor tecnológico agregado; não produz tecnologia, mas a absorve;
mão de obra semi-especializada e não especializada; Aspecto cultural: Possuem identidade cultural e
nacional média” (MARTINS, 2015).
23
“Aspecto econômico: Países que produzem produtos primários apenas; mão de obra não
especializada; Aspecto político: Estados que nem possuem o controle da sua política interna, nem
exercem influência externa; Aspecto cultural: Não possuem identidade nacional ou é fragmentada,
prevalecendo identidades étnica ou religiosa” (MARTINS, 2015).
quaisquer perspectivas de desenvolvimento que incluam uma emancipação cultural
para implantar uma democracia efetivamente representativa dos interesses
populares. E pior, agravando um cenário que já desfavorável ao tão almejado
desenvolvimento.
O Brasil é um desses países, em que lamentavelmente se difundiu esse perfil
de extrema direita, cujo governo desde 2019, em parte refletindo posicionamentos
defendidos por anônimos integrantes da sociedade civil, dentre outras decisões
questionáveis, promove um desmantelamento de políticas públicas, implantadas em
gestões anteriores, com o objetivo de promover o desenvolvimento nesses termos.
Ao que parece, se prioriza a desconstrução dos mínimos avanços civilizatórios
já obtidos e uma imensa resistência em repensar e reconstruir a condição do Estado
nacional simultaneamente acompanhada de uma frágil conscientização da sociedade
civil quanto à imprescindibilidade de romper com posturas tão danosas, o que inclui
as relações sociais mantidas no dia-a-dia. Sem a pretensão de fazer generalizações,
é perceptível a conveniência - daqueles que atuam nos três poderes e em todos níveis
(federal, estadual e municipal) – como o critério orientador da promoção de políticas
públicas e não as demandas dos brasileiros que, sequer, muitas vezes, são
portadores do status de cidadão.
Há, portanto, uma “meia culpa” de uma conjuntura universal que afeta
diretamente os projetos de desenvolvimento nacional, ou, no dizer de SOUZA (2017)
é forjado um salvo conduto para as elites brasileiras, lhes retirando parte da
responsabilidade pelos infortúnios vivenciados no Brasil. Nessas tão adversas
circunstâncias internas e externas, o Brasil vai tentando superar esse
subdesenvolvimento, no entanto, cai em armadilhas por acontecimentos ocorridos
dentro e fora do país, que dificultam imensamente a implantação de um Estado Social
Democrático de Direito, com objetivos previamente estabelecidos na Constituição
Federal de 1988 que não se concretizam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Interpretar a realidade brasileira é algo que exige fôlego, comporta
divergentes pontos de vistas e requer uma profundidade teórica que vai muito além
das divagações aqui trazidas. Tendo como fio condutor a retomada de alguns eventos
históricos que podem ser considerados determinantes na formação do Estado e da
sociedade nacionais, e, por conseguinte, nas consequências para o
subdesenvolvimento do Brasil, tornou-se perceptível o quanto estão arraigados ranços
que ainda no momento presente perpetuam as precárias condições sociais existentes
no país e o conduzem para a contramão do desenvolvimento.
Ao confrontar as categorias Estado, sociedade e desenvolvimento amplia-se
a compreensão sobre como as questões econômicas e políticas contemporâneas
trazem implícitas uma herança arcaica de patrimonialismo, hierarquia, dominação,
clientelismo, troca de favores e uso de bens e serviços públicos para atender a
interesses privados em detrimento do bem comum. Mais do que isso, se verifica que
o viés econômico é apenas um dos fatores a serem considerados na busca por
desenvolvimento.
Para tanto, é necessário associar recursos financeiros disponíveis,
juntamente com habilidades humanas que conciliem política, capitalismo,
globalização, tecnologia e cultura em prol de políticas públicas voltadas senão ao
alcance da equidade, pelo menos no sentido de diminuir as desigualdades materiais
e imateriais entre os habitantes de uma nação. Tem-se como exemplo o acesso às
universidades públicas e particulares por diferentes processos de seleção, a
instauração de defensorias públicas que promovem o acesso à justiça daqueles que
não têm condições de fazê-lo sem prejuízo da sua própria subsistência, programas de
redistribuição de renda, entre outros.
É pouco? Sim. Mas é um começo de uma lenta transformação a ser exercitada
por muitas gerações que ainda convivem e conviverão – não se sabe até quando -
com uma democracia imatura e frágil, instabilidade política, polarização ideológica e
crise de valores como legados dessa trajetória histórica colonial, patrimonial e
patriarcal. Há muito a ser feito, mas por onde começar?
Amartya Sen (2010) traz uma tese viável ao defender a ideia de
desenvolvimento como liberdade e ampliar o conceito daquele além do âmbito
econômico ao afirmar que “O desenvolvimento consiste na eliminação de privações
de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer
preponderantemente sua condição de agente” (SEN, 2010, p. 10). Ou em outras
palavras, “o desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das
liberdades reais que as pessoas desfrutam” (SEN, 2010, p. 16).
Este, enquanto precursor do índice de desenvolvimento humano (IDH)
apresenta um raciocínio em que desdobra a concepção de liberdade (liberdade
constitutiva e instrumental) para relaciona-las entre si e promover transformações que
se encaminhem no sentido de se aproximar pouco a pouco de um efetivo
desenvolvimento social.24
É interessante notar que Sen (2010) pondera que toda e qualquer pessoa,
enquanto integrante da sociedade e usufruindo das liberdades nos moldes por este
descritos, deve ser um agente contributivo para a obtenção de tal objetivo e dedica
um capítulo específico às mulheres considerando-as protagonistas das mudanças
sociais enquanto agentes com aptidão para tanto25.
Ao pregar isso, Sen (2010) alerta para a negligência dos estudos de
desenvolvimento quanto ao potencial feminino e observa que o empoderamento da
mulher favorece e muito a redução das iniquidades e, por conseguinte, tem um efeito
transformador para criar condições propícias a ponto de melhorar as circunstâncias
nas quais se encontra um país subdesenvolvido.26
Seguindo esse raciocínio, Sen (2010) discorre sobre a existência de conflitos
cooperativos27 e percepções de intitulamento28 nos arranjos familiares e o quanto isso
pode influenciar outros âmbitos da vida feminina, refletindo-se simultaneamente em
outros aspectos tais como a sobrevivência das crianças, o controle de natalidade e
papéis políticos, econômicos e sociais das mulheres (SEN, 2010).
Isso significa dizer que os papéis atribuídos aos gêneros feminino e masculino
e a oscilação entre o grau de liberdade imposto para homens e mulheres, têm uma
relação simbiótica não apenas com as convenções sociais, mas também com o nível

24
“As liberdades não são apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios
principais” (SEN, 2010, p. 25).
25
“[...] as mulheres são vistas cada vez mais, tanto pelos homens como por elas próprias, como agentes
ativos de mudança: promotoras dinâmicas de transformações sociais que podem alterar a vida das
mulheres e dos homens” (SEN, 2010, p. 246).
26
“As diversas variáveis identificadas na literatura desempenham, portanto, um papel unificador de dar
poder às mulheres. Esse papel tem de ser relacionado ao reconhecimento de que o poder feminino –
independência econômica e emancipação social – pode ter grande projeção sobre as forças e os
princípios organizadores que governam as divisões dentro da família e na sociedade e pode, em
particular, influenciar o que é implicitamente aceito como ‘intitulamentos’ das mulheres” (SEN, 2010, p.
249).
27
“[...] mulheres e homens tem interesses congruentes e interesses conflitantes que afetam a vida
familiar. Assim, a tomada de decisões na família tende a assumir a forma de uma busca de cooperação,
com alguma solução ajustada – em geral implicitamente – sobre os aspectos conflitantes [...] os
conflitos entre os interesses parcialmente díspares no meio familiar são muitas vezes resolvidos por
meio de padrões de comportamento sobre os quais existe um acordo implícito, padrões que podem ser
ou não particularmente igualitários [...] a percepção de quem está fazendo que quantidade de trabalho
‘produtivo’ ou de quem está ‘contribuindo’ em que quantidade para a prosperidade da família pode ter
grande influência” (SEN, 2010, p. 250).
28
“A percepção das contribuições individuais e dos intitulamentos apropriados de mulheres e homens
tem um papel fundamental na divisão dos benefícios conjuntos da família entre os membros de cada
sexo. Em consequência, as circunstâncias que influenciam essas percepções (como por exemplo o
potencial das mulheres para auferir uma renda independente, trabalhar fora de casa, receber instrução,
possuir bens) são crucialmente importantes para esses divisões” (SEN, 2010, p. 251).
de desenvolvimento do país em que se encontram.29 Daí porque o protagonismo das
mulheres, enquanto agentes de transformações sociais e econômicas, é
imprescindível no processo de desenvolvimento de um país porque são
características inerentes e singulares a cada sociedade.
Portanto, o ápice das discussões aqui trazidas se encontra na imensurável
contribuição que a disciplina de Estado, sociedade e desenvolvimento no Brasil trouxe
para esta pesquisadora, eis que ao investigar como os papéis de gênero masculino e
feminino, exercidos nos arranjos familiares brasileiros, no século XXI, são
reproduzidos pelas partes envolvidas em conflitos judicializados submetidos à
mediação realizada pelo Centro Judiciário de Soluções de Conflito e Cidadania
(CEJUSC) de Ponta Grossa, Paraná, e se interferem no alcance da igualdade material
entre os referidos gêneros, a construção da tese exige que obrigatoriamente se atente
para a conjuntura do desenvolvimento social do país.

REFERÊNCIAS
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ESTANQUE, Elisio. O Estado social em causa: instituições, políticas sociais e


movimentos sócio-laborais no contexto europeu. in Silva, Filipe Carreira da (org.) Os
Portugueses e o Estado Providência. Lisboa: ICS, 2013.

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Paulo; Globo, 2001.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 4. Ed.


São Paulo: Editora da Unesp, 1997.

MALUF, R. Atribuindo sentindo (s) a noção de desenvolvimento econômico. Estudos,


sociedade e agricultura. Rio de janeiro: UFRRJ/CPDA, n. 15, out. 2000, pp. 53-85.

Martins, J. R. (2015). Immanuel Wallerstein e o sistema-mundo: uma teoria ainda


atual? Iberoamérica Social: revista-red de estudios sociales (V), pp. 95-108.
Disponível em <https://iberoamericasocial.com/immanuel-wallerstein-e-o-sistema-
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SCHWRTZMAN, Simon. Bases do autoritarismo brasileiro. 4 ed. Rio de Janeiro:


Publit Soluções Editoriais, 2007.

29
“O ganho de poder das mulheres é um dos aspectos centrais no processo de desenvolvimento em
muitos países do mundo atual. Entre os fatores envolvidos incluem-se a educação das mulheres, seu
padrão de propriedade, suas oportunidades de emprego e o funcionamento do mercado de trabalho.
Mas, indo além dessas variáveis acentuadamente ‘clássicas’, são também fatores importantes a
natureza das disposições empregatícias, as atitudes da família e da sociedade em geral com respeito
às atividades econômicas e sociais que incentivam ou tolhem a mudança dessas atitudes.” (SEN, 2010,
p. 262).
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Tradução: Laura Teixeira Motta.
Revisão técnica: Ricardo Doninelli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

SOUZA, Jessé. A Elite do atraso, Da escravidão à lava jato. Rio de Janeiro: Leya,
2017.

SOUZA, M. A teorização sobre o desenvolvimento em uma época de fadiga teórica,


ou: sobre a necessidade de uma “teoria aberta” do desenvolvimento sócio-espacial.
Território. Rio de Janeiro: LAGET/UFRJ, n.1, v.1, jul./dez. 1996, p. 5-22.

VIANNA, Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Senado Federal – Conselho


Editorial. Edições do Senado Federal. Vol. 27. Brasília, DF: 2005.

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