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ESTRUTURA E

SUPERESTRUTURA:
O QUE DIZ O MARXISMO
CLÁSSICO

V CÍRCULO FORMATIVO EMANCIPA


30 anos do Instituto de Estudos e Pesquisas do
Movimento Operário

Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação, Estética e


Sociedade (GPTREES)

Professor Deribaldo Santos


O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de
guia para meus estudos, pode ser formulado, resumidamente, assim:
Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008 (p. 47).
.
Na produção social da própria existência, os homens entram em
relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade;
essas relações de produção correspondem a um grau determinado de
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade
dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da
sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem formas sociais
determinadas de consciência. O modo de produção da vida material
condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o
seu ser social que determina sua consciência.
A contradição como garantia da dialética social
Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008 (p. 47-8).

Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças


produtivas materiais da sociedade entram em contradição com
as relações de produção existentes, ou, o que não é mais que sua
expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das
quais elas se haviam desenvolvido até então. De formas
evolutivas das forças produtivas que eram, essas relações
convertem-se em entraves. Abre-se, então, uma época de
revolução social. A transformação que se produziu na base
econômica transforma mais ou menos lenta ou rapidamente
toda a colossal superestrutura.
Transformações matérias e transformações espirituais
Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008 (p. 48).

1. Condições econômicas de produção – que podem ser


verificadas fielmente com ajuda das ciências físicas e
naturais;

2. Formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou


filosóficas, em resumo, as formas ideológicas
[espirituais] sob as quais os homens adquirem
consciência desse conflito e o levam até o fim.
E preciso explicar a consciência pelas contradições materiais, pelo
conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de
produção.
Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008 (p. 48).

Do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela ideia que de si


mesmo faz, tampouco se pode julgar uma tal época de transformações
pela consciência que ela tem de si mesma [...]. Uma sociedade jamais
desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas
que possa conter, e as relações de produção novas e superiores não
tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais de existência
dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha
sociedade. Eis porque a humanidade não se propõe nunca senão os
problemas que ela pode resolver, pois, aprofundando a análise, ver-se-á
sempre que o próprio problema só se apresenta quando as condições
materiais para o resolver existem ou estão em vias de existir.
Com o fim do capitalismo põe-se, pois, o fim da pré-história
da sociedade
Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008 (p. 48).

Em grandes traços, podem ser os modos de produção asiático,


antigo, feudal e burguês moderno designados como outras
tantas épocas progressivas da formação da sociedade
econômica. As relações de produção burguesas são a última
forma antagônica do processo de produção social, antagônica
não no sentido de um antagonismo individual, mas de um
antagonismo que nasce das condições de existência sociais dos
indivíduos; as forças produtivas que se desenvolvem no seio da
sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições
materiais para resolver esse antagonismo.
A determinação da consciência pelo ser social é, portanto,
sustentada de todo em geral
Lukács. Peq. Ontologia, p. 583.

Enquanto o próprio Marx, imediatamente


antes da passagem ontologicamente
decisiva por nós citada, por um lado fala
que à superestrutura »correspondem
determinadas formas de consciência
social«, além disso que o »modo de
produção da vida material« »condiciona«
»o processo de vida social, política e
espiritual em geral.
György Lukács (1885-1971)
Plekhanov e a relação estrutura/superestrutura

O marxismo tradicional, todavia, não pode sequer lidar com tais adversários.
Nele emerge um falso dualismo, gnosiologicamente justificado e, por isso, que
passa ao largo das questões ontológicas decisivas, entre ser social e consciência
social. Plekhanov, sem dúvida o filosoficamente mais culto teórico do período
pré-Lenin, tanto quanto eu saiba, formulou essa teoria no modo mais influente.
Ele quer assim determinada a relação de base e superestrutura: a primeira é
constituída pelo »estado das forças produtivas« e pelas »condições econômicas
por elas determinadas«. Desta base brota, já como superestrutura, a consciência
social, que Plekhanov assim define: »a psicologia do homem social, determinada
em parte diretamente pela economia e, em parte, por todo regime sócio-político
edificado sobre ela«. A ideologia reflete, então, »as propriedades dessa
psicologia«. (Lukács. Peq. Ontologia, p. 674).
Síntese engelsiana
sobre a relação
estrutura-
superestrutura
Marx: 1818 - 1883

Engels: 1820 - 1895


Síntese engelsiana sobre a relação estrutura-superestrutura.
Carta de Engels a Bloch de 21 de setembro de 1890, in Marx-Engels: Ausgewählte Briefe. Verlagsgenoss. Ausländ, Moscou-Leningrado,
1934, p. 374; MEW, v. 37, p. 463. Analogamente, para Mehring, 14 de julho de 1893, in Marx-Engels: Ausgewählte

»Segundo a concepção materialista da história, o fator determinante em


última instância na história é a produção e a reprodução da vida real. Mais
não foi afirmado, nem por Marx, nem por mim. Se agora alguém distorce
isso no sentido de que o fator econômico seria o único fator determinante,
transforma aquela proposição numa frase vazia, abstrata, absurda. A
situação econômica é a base, mas os diversos momentos da superestrutura
(...) exercem também a sua influência no curso das lutas históricas e, em
muitos casos, determinam de modo preponderante a forma dessas lutas.
Há uma interação de todos esses momentos, na qual, passando por essa
quantidade infinita de casualidades, (...) o movimento econômico termina
por se impor como necessário. « (Lukács. Peq. Ontologia, p. 676)
A rejeição da hierarquia no terreno ontológico

Deve ser ao menos [...] indicado que a prioridade do econômico


sublinhada por Marx não compreende em si nenhuma relação
hierárquica. Expressa o simples estado de fato de que a
existência social da superestrutura sempre, ontologicamente,
pressupõe a do processo da reprodução econômica, que tudo
isso é ontologicamente (ontologisch) inconcebível sem a
economia enquanto, por outro lado, pertence à essência do ser
econômico que ele não possa se reproduzir sem chamar à vida a
correspondente superestrutura, mesmo se contraditória.
(Lukács. Peq. Ontologia, p. 677).
A exemplo da educação:
O SOCIAL COMO PRIORIDADE

No orgânico o desenvolvimento é dado de um só golpe e


se repete ciclicamente. No social há a necessidade da
conquista. Isso vale para qualquer patamar de
desenvolvimento superestrutural.
“[...] patamares ontológicos do ser social não são dados
de uma vez por todas, ao contrário — tal como no
orgânico —, desenvolvem em processo histórico
gradualmente a sua própria, imanente, forma mais
pura.” (Lukács. Peq. Ontologia, p. 686).
O que chamamos de superestrutura

Quanto mais disseminada a divisão social de trabalho, quanto


mais decididamente social se torna a própria sociedade, tanto
mais numerosas e complicadas necessariamente se tornam as
mediações para manter o processo de reprodução em
andamento normal [...] o processo de reprodução econômica,
a partir de um determinado patamar, não pode funcionar
sem a formação de campos de atividade não econômicos que
ontologicamente possibilitem o desdobramento desse
processo. (Lukács, Gr. Ontologia, p. 335).
A posição de MÉSZÁROS
Estrutura social e formas de consciência II. A dialética da estrutura e da história. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2014 (p. 101).

Nenhuma sociedade pode reproduzir adequadamente


a si mesma e avançar em sua capacidade de satisfazer
uma gama crescente de carências [needs] humanas
sem criar instituições e estruturas normativas
confiáveis, de acordo com os requisitos reguladores
cumulativos de um metabolismo social cada vez mais
complexo e entrelaçado. Nesse sentido, uma vez que a
fase regulada pelas determinações materiais mais
brutas é deixada para trás, o intercâmbio social é
inconcebível sem a intervenção crescente dos fatores
superestruturais, com suas correspondentes formas de
István Mészáros (1930-2017) normatividade.
A distinção substancial para Sergio Gianna
Ideologia, ciência e filosofia: unidade e diferença no pensamento de Lukács e Mészáros. Maceió: Coletivo
Veredas, 2021.

Em resumo, até agora sintetizamos alguns


aspectos da unidade na abordagem de ambos os
pensadores mas, sobretudo, uma diferença
substancial em torno de sua conceptualização da
ideologia, que assume em Lukács um caráter mais
amplo e abrangente em sua conexão com a
superestrutura e o lugar que ocupa dentro dela,
enquanto para Mészáros limita-se às “formas de
consciência social”, que são discursos práticos e
teóricos que incidem nos conflitos sociais (p. 151).
A PALAVRA É MEU LUGAR NO
MUNDO.
CLARICE LISPECTOR

A SALA DE AULA É MEU LUGAR NO


MUNDO.
SUSANA JIMENEZ

OBRIGADO!

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