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Fascismo

Em 1919, um ex-socialista italiano, Benito Mussolini, funda um movimento


revolucionário, batizado de Fasci Italiani di Combattimento, de onde derivará a
expressão fascismo (fasci significa "feixe", tendo o feixe sido um símbolo do poder dos
cônsules romanos). Inicialmente, esta organização política terá um programa
republicano, democrático e socialista. Porém, a simpatia dos industriais, grandes
proprietários e de alguma burguesia, para além de desenvolver o movimento, imporá um
cariz mais totalitarista e conservador. Neste contexto, entram os fascistas para o
Parlamento na ala conservadora, embora ainda com pouca expressão política. Esta
apenas surge a partir de 1921 e, principalmente, de 1922, quando, entre 27 e 30 de
outubro, organizam uma greve geral e uma marcha sobre Roma, na qual participam
cerca de 30 000 fascistas, liderados por Mussolini, dito o Duce (Guia), ladeado pelas
suas forças de "choque", os Camisas Negras. Inicia-se então uma política de terror e
uma série de atos "punitivos" contra a esquerda.
O rei Vítor Emanuel III, perante a situação, convida o líder fascista a formar governo.
Insatisfeitos, porém, com o facto de estarem em coligação no governo, os fascistas
lutam pelo poder absoluto, conseguindo mesmo modificar a lei eleitoral em 1924, de
forma a garantir maioria parlamentar. Paralelamente, prosseguem com o terror e as
purgas, assassinando o líder socialista Giacomo Matteoti naquele ano. Nos dois anos
seguintes, com a abolição dos partidos e formações sindicais não-fascistas e o
afastamento dos deputados dessa esfera ideológica, abre-se caminho para o partido
único e para uma ditadura total. O regime apoiava-se, igualmente, no combate e
perseguição do comunismo. O apoio da burguesia, grupo social de origem dos quadros
fascistas, era aí bem visível. Lança-se também na aventura colonial, com a expedição
a Corfu em 1923 e, na década seguinte, à Etiópia e Albânia. Mussolini mobiliza a
população para grandes batalhas económicas (grandes trabalhos, colheitas, drenagem de
pântanos...) e para a política externa (anexação de Fíume, ou Rijeka, atual Eslovénia). A
crise económica de 1930 lançará o dirigismo económico de estado e o reforço do
totalitarismo. Entre 1936 e 1939, Mussolini apoiará Franco na Guerra Civil de Espanha.
Nessa época, adota uma política antissemita, na sequência do acordo com a Alemanha
de Hitler (Eixo), com a qual alinha na Segunda Guerra Mundial (a partir de 1940). O
fascismo alemão distinguia-se do italiano - pactista e corporativista - pelo seu
totalitarismo radical, pró-ariano e antissemita (os italianos nunca atingiram o grau de
crueldade ou fundamentalismo cego dos nazis neste aspeto).
Para além da Itália, também noutros países se instauram regimes totalitários de cunho
fascista: Portugal (o Estado Novo, corporativista, católico e
conservador), Espanha (denominado aqui falangismo, baseado no nacional-catolicismo
reacionário), Alemanha (denominado nacional-socalismo ou nazismo), Áustria, Roméni
a, Hungria, Jugoslávia, entre outros. Mais tarde, entre os anos 50 e 80, em vários países
latino-americanos, instalam-se ditaduras militares que se definiam como
fascistas: Chile (com Pinochet), Argentina e Brasil.
Basicamente, o fascismo caracteriza-se por uma recusa absoluta do liberalismo e das
suas consequências modernas - imperialismo democrático, socialismo -, com Mussolini
a alterar a "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" pelo "Crer, Obedecer, Combater".
Outro dos seus princípios doutrinários era o totalitarismo, definido como rigoroso
controlo do Estado, centralizado e hierarquizado sob todos os aspetos. A liberdade
individual submete-se à coletividade, com uniformização social. Pressupunha-se
também a repressão policial e a censura. O militarismo e a preparação da sociedade para
a guerra era outra faceta do fascismo, repercutindo-se na obediência e culto ao chefe
autoritário (duce, Führer, caudilho...). O elitismo era comum também. A frase "Os fins
justificam os meios" aplica-se igualmente ao fascismo, pela sua defesa da violência,
desrespeitando até os mais elementares direitos humanos. Outra das vertentes estruturais
do fascismo reside no nacionalismo radical e primazia do Estado, na exaltação da pátria,
por oposição ao internacionalismo (daí a autarcia, ou autossuficiência e independência
económica e política, com base na sobriedade), o que origina o racismo e a xenofobia
baseados em idealismos projetados no passado heroico (referências míticas) ou no
futuro como destino comum da nação, tudo no sentido de legitimar imperialismos e até
a supressão de liberdades democráticas.
O discurso fascista era, por outro lado, antimarxista, anticapitalista e revolucionário
(revolução como sinónimo de imposição de autoridade, ou Nova Ordem, como nos
nazis). A contradição deste discurso reside no facto de que o grande capital apoiava os
regimes fascistas, particularmente desde que os seus dirigentes cederam à direita
tradicional (não no caso da Alemanha), conservadora e católica, passando a ser um
instrumento da mesma. Outro elemento-chave do fascismo foi o corporativismo,
nomeadamente no regime totalitário português de Salazar, baeado nas corporações
como elemento político de governação (Assembleia Corporativa, Casa do Povo, Casa
do Mar...).
Os regimes fascistas da Alemanha e da Itália desapareceram no fim da Segunda Guerra
Mundial, persistindo noutros países. Na Europa, desapareceram na década de 70,
em Portugal e Espanha, na América Latina no decénio seguinte. Hoje em dia, todavia, o
ideário fascista é historicamente entendido como uma forma de atingir o poder e
conservá-lo fosse de que forma fosse, custasse o que custasse, mais do que uma doutrina
ou programa.

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