Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Diálogos: o Ensino Médio que temos e o que queremos”, organizado pelo Núcleo
Colégio Pedro II. De início, portanto, cabe duas notas. Embora seja um
ensino médio não é objeto central de minhas pesquisas e reflexões. Por outro
movimento sindical docente, faz com que parte das reflexões aqui elencadas
1
Utilizaremos a expressão contrarreforma para explicitar o cerne da proposta que, a nosso ver, aponta para
a retração ao direito ao acesso ao pensamento histórica e socialmente acumulado cuja escola e seu
currículo são elementos axiais.
Isto posto, partimos da concepção que a educação e as políticas educacionais
resultam, historicamente, das lutas acumuladas das distintas classes sociais bem
das políticas educacionais são cortadas pelas organizações das distintas classes
precisam ser postas em contraste com uma conjuntura mais ampla, como já dito
histórico em suas disputas na sociedade civil, bem como cotejá-las com outras
portanto, por estes nexos determinantes é que permite tomar as políticas públicas
2
Para Gramsci, de forma sumária, era um equívoco comum tratar da análise do Estado apenas por aquilo
que ele denominou de sociedade política. A sociedade política é o aparato próprio do Estado e suas
instituições como, p.ex. judiciário, polícia, leis, exército, receita fiscal e tributária, funcionários da
burocracia, etc. Sem desprezar a importância desse termo, Gramsci atenta para as disputas que ocorrem
na sociedade civil, dentre as classes sociais e aquilo que denominará de aparelhos privados de hegemonia.
Os aparelhos privados de hegemonia buscam tornar aquilo que é demanda específica, particular de uma
classe como uma ideia universal, comum as distintas classes ou benéfica a “nação”, na construção desse
consenso encontra-se um importante pilar da sua hegemonia, o outro pilar, segundo Gramsci, seria a
coerção cujo aparato material mais bem elaborado seria, justamente, a sociedade política. Todavia, como
nota analítica é importante ressaltar que a coerção não é exclusiva da sociedade política e bem como o
consenso não o é da sociedade civil. Mais do que estáticos estes termos estão em profunda relação
dialética.
3
No conjunto dessas medidas que buscam dar novos formatos ao Estado e que precisam ser postas num
mesmo conjunto dialético não estão apenas o conjunto de propostas educacionais (como a Base Nacional
Curricular Comum, a contrarreforma do Ensino Médio, o Future-se, as escolas cívico-militares, o avanço do
assédio ao docente, beócia e brilhantemente representado pelo Movimento Escola Sem Partido, dentre
outros) mas, também, aquelas que, em princípio, tratam de outras searas como a PEC do Teto dos Gastos
ou a Contrarreforma administrativa (PEC 32/2020) entre tantas outras políticas.
em seu sentido mais profundo, para além da aparência fenomênica. De acordo
terreno fértil na realidade. Se, por um lado, as relações materiais de produção são
linguagem e da cultura no seu sentido latu, por outro lado, estas não deixam
educacionais como objeto. Estas políticas educacionais não são mera carta de
sim no Brasil, marcado por uma formação social específica que denominaremos
(2018).
para o quê?
Não nos cabe aqui fazer uma remissão detalhada sobre a produção da
desejarem aprofundar-se no tema, por óbvio, contam com vasta literatura (que ora
nos serve de suporte) sobre este debate. Destaco, no entanto, três importantes
obras que condensam parte substancial dos aspectos que analisamos. A primeira
antagonismo entre o moderno e o arcaico, mas sim de sua relação dialética que
burguesias podiam impor internamente seus projetos políticos pois contavam com
Francisco de Oliveira (2013) cujo título “Crítica à Razão Dualista” já enseja bem o
propósito daquela reflexão. Sem mais delongas, Chico de Oliveira nos presenteia
troca, Marini chama atenção para um traço fundamental das relações sociais de
num país exportador de comodities cuja força motriz está no trabalho simples de
ora pelo consenso, ora pela coerção, valores sociais de uma sociabilidade
REFERÊNCIAS