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AS VIRTUDES DA REPÚBLICA

Reflexões sobre o político


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitora Sandra Regina Goulart Almeida
Vice-Reitor Alessandro Fernandes Moreira

EDITORA UFMG
Diretor Flavio de Lemos Carsalade
Vice-Diretora Camila Figueiredo

CONSELHO EDITORIAL
Flavio de Lemos Carsalade (Presidente)
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Camila Figueiredo
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Ênio Roberto Pietra Pedroso
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Kátia Cecília de Souza Figueiredo
Lívia Maria Fraga Vieira
Luciana Monteiro de Castro Silva Dutra
Luiz Alex Silva Saraiva
Marco Antônio Sousa Alves
Raquel Conceição Ferreira
Renato Assis Fernandes
Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi
Rita de Cássia Lucena Velloso
Rodrigo Patto Sá Motta
Weber Soares
Karine Salgado
Philippe Oliveira de Almeida
Organizadores

AS VIRTUDES DA REPÚBLICA
Reflexões sobre o político
© 2023, Os organizadores
© 2023, Editora UFMG

Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
escrita do Editor.

V819 As virtudes da república: reflexões sobre o político / Karine Salgado, Philippe


Oliveira de Almeida organizadores. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2023.

186 p. (Humanitas)

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5858-122-2

1. Republicanismo. 2. Estado – Filosofia. 3. Ciência política. I. Salgado,


Karine. II. Almeida, Philippe Oliveira de. III. Série.

CDD: 320.01
CDU: 32

Elaborada por Vilma Carvalho de Souza – Bibliotecária – CRB-6/1390

COORDENAÇÃO EDITORIAL Michel Gannam


DIREITOS AUTORAIS Anne Caroline Silva
ASSISTÊNCIA EDITORIAL Eliane Sousa
COORDENAÇÃO DE TEXTOS Clarissa da Cunha Vieira
PREPARAÇÃO DE TEXTOS Beatriz Trindade
REVISÃO DE PROVAS Beatriz Trindade
COORDENAÇÃO GRÁFICA Fernando Freitas
PROJETO GRÁFICO Cássio Ribeiro, a partir de Glória Campos - Mangá
FORMATAÇÃO E MONTAGEM DE CAPA Ederson Ciriaco
IMAGEM DA CAPA Le Serment du Jeu de paume, Jacques-Louis David, 1791-1792,
Musée Carnavalet - Histoire de Paris
PRODUÇÃO GRÁFICA Warren Marilac

EDITORA UFMG
Av. Antônio Carlos, 6.627 | CAD 2 | Bloco 3
Campus Pampulha | 31270-901 | Belo Horizonte-MG | Brasil
Tel. +55 31 3409-4650
www.editoraufmg.com.br | editora@ufmg.br
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO7
Os organizadores

REPÚBLICA
Virtude e virtudes e seus inimigos 11
Paulo Ferreira da Cunha

REPUBLICANISMO E VIRTUDE
Uma introdução ao problema
a partir de Aristóteles 31
Helton Adverse

ENTRE A AUTORIDADE E O PODER CIVIL


A causa eficiente do poder político
na segunda escolástica 45
Marcus Paulo Rycembel Boeira

ALGUMAS APROXIMAÇÕES ENTRE


O ELOGIO DA CIDADE DE FLORENÇA
E A HISTÓRIA DO POVO FLORENTINO
DE LEONARDO BRUNI73
Fabrina Magalhães Pinto

O REPUBLICANISMO DE KANT97
Karine Salgado
POR FALAR EM VIRTUDES
Separação dos poderes, força vital da constituição
e lealdade institucional
(ou quis custodiet ipsos custodes?)115
Raoni M. Bielschowsky

FILOSOFIA DO ESTADO
E UTOPIAS HISTÓRICAS
Comunidades alternativas como laboratórios
de experimentalismo institucional 141
Philippe Oliveira de Almeida

MOVIMENTO REPUBLICANO
NO BRASIL ATRAVÉS DE TEXTOS
Do Manifesto Republicano de 1870 à Constituinte
de 1890-1891 169
Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira

SOBRE OS AUTORES 185


APRESENTAÇÃO

Nosso país assistiu, nos últimos anos, à erosão simbólica e


física de seu espaço comum. O patrimonialismo e a corrupção
sistêmica reduziram o Estado a um conjunto de feudos, loteados
por plutocratas menos comprometidos com a nação. Torna-se
urgente, em tal contexto, que a Academia se mobilize para pen-
sar novas estratégias que auxiliem a população brasileira na
missão de refundar a República. Os elos entre o individual e o
coletivo precisam ser reconstruídos, e a universidade tem um
importante papel na busca por novos horizontes nos quais pos-
samos vivenciar a cidadania de forma mais plena. Esta obra,
que congrega trabalhos inéditos de prestigiados estudiosos, as-
sume o desafio de, a partir de uma perspectiva transdisciplinar,
rediscutir o republicanismo, de sorte a, tendo por referência
experiências passadas, tornar-nos mais conscientes de nossos
desafios futuros. Como leitmotiv que perpassa os capítulos do
livro – escritos dentro de perspectivas teóricas diversas –, encon-
tra-se o problema das virtudes necessárias ao estabelecimento
de uma sociedade autenticamente republicana. Se o Estado neo-
liberal se mantém indiferente às aspirações particulares de seus
membros, o republicanismo demanda engajamento moral, parti-
cipação ativa de todos na preservação do político, compromisso
pessoal com aquilo que é comum. É a respeito da natureza desse
engajamento e dessa participação que esta obra visa meditar.
Subjacente à pluralidade de abordagens, encontra-se a unidade
de um projeto (que atiça e inspira pesquisadores das mais di-
versas áreas): trabalhar para que o povo novamente possa se
reconhecer nas (se identificar com as) estruturas institucionais
que conduzem a vida coletiva.
A queda do Muro de Berlim, ao final da década de 1980, foi
interpretada por muitos como o início de uma era pós-ideoló-
gica, triunfo da pax americana. Contudo, a crise política que
se espraiou pelo mundo na última década pôs a nu as fissuras
da ordem vigente. O desespero e o desencanto gradualmente
dinamitam o appetitus societatis, o ímpeto (fundamental à pre-
servação de toda e qualquer comunidade política) que leva os
indivíduos a se engajarem em um projeto coletivo de organiza-
ção social. Isolados pelo rancor e pelo medo, compomos uma
massa, mas não um povo. A vitalidade de um Estado eviden-
cia-se pela capacidade do jogo de alternância de poder para
absorver (e fortalecer-se com) a pluralidade e a divergência. Em
nossa sociedade, em contrapartida, os ódios ideológicos termi-
naram por minar o sentimento de pertença a um espaço comum.
No Brasil, em especial, é notório o ceticismo que a população
nutre, hoje, diante da coisa pública – vista não mais como bem
de todos, mas como terra de ninguém. Nessa conjuntura, é im-
prescindível que a Academia resgate a discussão teórico-filosó-
fica a propósito do republicanismo. As comunas renascentistas,
espelhando-se na Antiguidade greco-romana, revitalizaram a
noção de vita activa, quer dizer, o ideal de cidadania enquanto
participação nos processos decisórios que ditam os rumos da
pólis. Desde suas origens, o humanismo, no Ocidente, sempre
se mostrou conectado à valorização da república, como família
ampliada, esfera na qual todos os cidadãos podem se reconhe-
cer. Pensadores tão diversos quanto Cícero, Nicolau Maquiavel
e Hannah Arendt irmanam-se no esforço para fomentar as vir-
tudes da república, o rol de princípios e hábitos indispensáveis
à edificação de um corpo político-social assentado na liberdade,
na igualdade e na fraternidade. Quais são os valores necessários

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para reconstruir os laços entre a vida privada e a vida pública,
a sociedade e a política? Para além do mito burguês segundo
o qual são os vícios privados (a ganância, a inveja etc.) que
produzem benefícios públicos (a riqueza das nações), é preciso
refletir sobre o ethos que deve sustentar uma sociedade efetiva-
mente justa. O papel indispensável que o espaço público ocupa
na autorrealização do homem (zoon politikon) sempre foi ob-
jeto de inúmeros debates na história do Ocidente – debates que
precisam ser recuperados, hoje, caso queiramos de fato superar
aquilo que o grande jusfilósofo mineiro Joaquim Carlos Salgado
descreveu como “Estado Poiético” (isto é, um Estado convertido
em aparelho tecno-burocrático a serviço de interesses econômi-
cos escusos e despido de qualquer responsabilidade para com
o ethos de nossa cultura). Conceitos como os de “democracia
participativa” e “patriotismo constitucional” encontram-se na
ordem do dia, mas é fundamental que os interpretemos à luz da
multissecular tradição de pensamento que sedimentou o imagi-
nário político de nossa civilização. Novos arranjos institucionais
(alterações no sistema de checks and balances, por exemplo)
não são suficientes para sanar a crise política que vivenciamos
hodiernamente, caso não recuperemos, nos indivíduos, virtudes
republicanas que os mobilizem na tarefa de restauração do Es-
tado Democrático de Direito.
Trazendo intelectuais de áreas diversas (como o Direito, a
Filosofia e a História) para meditarem conjuntamente sobre o
republicanismo, este livro pretende oferecer uma contribuição
a esse empreendimento, a partir de um esforço coletivo de se
pensar o Estado em franco diálogo com o Direito, a Filosofia,
a História e a Política no âmbito da linha de pesquisa Estado,
Razão e História, do Programa de Pós-graduação em Direito
da UFMG, através das iniciativas do Grupo Internacional de
Pesquisa Direitos Humanos: raízes e asas, conjuntamente com
seus colaboradores em instituições nacionais e estrangeiras e
seus interlocutores.
Os organizadores

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