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Filosofia - 10º - Ética, direito e política - liberdade e justiça


social; igualdade e diferenças; justiça e equidade
Filosofia (Ensino Médio - Portugal)

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ARTICULAÇÃO ENTRE ÉTICA E DIREITO Mas o que significa exatamente igualdade?


Em sentido ético, pode ser entendida como o
O grande desafio da experiência de vivermos direito de todo e qualquer indivíduo a realizar-se
uns com os outros é a construção de uma enquanto pessoa, enquanto ser livre e autónomo,
sociedade organizada, estável e justa. sendo necessário que a lei e o Estado protejam o
indivíduo e os seus direitos.
As normas morais instituídas na sociedade não Em sentido político e jurídico, será, antes de mais,
permitem resolver os conflitos e problemas que o reconhecimento de que todos os cidadãos são
surgem nas relações do indivíduo entre si. Por iguais perante a lei.
isso, para além da esfera da ética, mas em
estreita relação com ela, é necessário criar um Sendo os indivíduos diferentes, como podemos
conjunto de regras que regulem o garantir a igualdade?
comportamento dos indivíduos no espaço Somos, pois, levados a perguntar pelas
público de forma clara e eficaz. Estas regras diferentes formas de aplicação da igualdade,
encontram-se formalizadas em leis (escritas) isto é, a perguntar, por exemplo, se as
que vinculam os indivíduos ao seu cumprimento igualdades de condição económica e social são
e preveem sanções, através de penas possíveis.
igualmente definidas.
Como devem ser repartidos ou distribuídos os
bens sociais, a riqueza, os encargos, as
oportunidades e os cargos políticos?

(1921-2002)
O direito corresponde a este conjunto de
normas (jurídicas) que regulam o Baseado na cooperação social como forma de
comportamento dos indivíduos de uma dada garantir aos indivíduos os meios mínimos que
comunidade através do poder (coercitivo) permitam a realização dos seus projetos de
organizado e institucionalizado pelo Estado, vida, Rawls apresentou uma conceção de
uma comunidade politicamente organizada que justiça como equidade.
nasce das necessidades de compatibilização,
da regulação dos conflitos e da organização da Rawls, tendo como modelo a sociedade
vida social. Esta organização e gestão da vida norte-americana, plural e rica em termos
social realiza-se a partir da política, enquanto culturais, mas também social e
atividade de um conjunto de agentes políticos, economicamente desigual, considera
que governam essa mesma vida coletiva no necessário repensar a estrutura e o
sentido de tornar o Estado o mais justo funcionamento básico da sociedade, isto é,
possível. refletir sobre a forma como são distribuídos os
direitos e os deveres e sobre as implicações
TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS que essa distribuição acarreta em termos de
vantagens e desvantagens para os cidadãos.
A liberdade é um valor indiscutível do ser
humano. Todavia, como sabemos, a vida em Uma sociedade só será justa na medida em que
sociedade impõe limites a esta liberdade. confirme a inviolabilidade dos direitos do
indivíduo enquanto pessoa e proporcione,
Estabelecendo tais limites, as leis, por princípio, através da cooperação de todos, o máximo de
devem ser justas e garantir os direitos de todos vantagens mútuas possível. Daí, Rawls rejeitar
os indivíduos na sociedade. Uma sociedade o utilitarismo: uma sociedade justa não permite
que discrimina os seus indivíduos, que não os que os sacrifícios impostos a uns poucos sejam
considera igualmente, não poderá, portanto, ser compensados pelo aumento de vantagens
uma sociedade justa. Sem igualdade não há usufruídas por um maior número.
justiça.

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A metodologia adotada por Rawls na exposição OS PRINCÍPIO DA JUSTIÇA


das suas ideias acerca da justiça segue a linha
dos pensadores contratualistas. O filósofo ☗ PRIMEIRO PRINCÍPIO - PRINCÍPIO DA
propõe apresentar um conjunto de argumentos LIBERDADE IGUAL
a partir da ideia de um contrato ou escolha
consensual e comprometida entre todos os Este princípio assegura e protege os direitos
indivíduos que pretendam formar uma fundamentais dos indivíduos (liberdade de
sociedade justa. Para isso, é necessário que pensamento e de consciência; liberdade de
todas as partes contrastantes se encontrem em expressão e de reunião; direito à propriedade
condições de o poderem fazer com sucesso, privada; a proteção à integridade física e
isto é, é preciso que a escolha dos princípios de psicológica; ao voto; etc.). Este conjunto de
justiça seja feita com total imparcialidade, ou liberdades básicas e iguais para todos os
seja, numa situada equidade. indivíduos não pode, sob quaisquer condições ou
em qualquer circunstância, ser posto em causa. A
Rawls define essas condições de equidade liberdade do indivíduo não deve nunca ser
através da posição original e do véu da sacrificada em proveito de qualquer outra coisa.
ignorância: Assim, este princípio da justiça tem prioridade
* posição original → deve ser vista como uma sobre os que seguem.
situação puramente hipotética, caracterizada de
forma a conduzir a uma certa conceção de justiça. ☗ SEGUNDO PRINCÍPIO - PRINCÍPIO DA
Entre essas características essenciais está o facto DIFERENÇA
de que ninguém conhece a sua posição na
sociedade, a sua situação de classe ou estatuto É o princípio que garante vantagens para todos e
social, bem como a parte que lhe cabe na para cada um, seja qual for a posição menos ou
distribuição dos atributos e talentos naturais, como mais privilegiada, que cada indivíduo venha a
a sua inteligência, a sua força e mais qualidades ocupar na sociedade. Pressupõe que a riqueza
semelhantes. Parto inclusivamente do princípio de seja distribuída tendo em conta as desigualdades
que as partes desconhecem as suas conceções sociais: a riqueza deve ser distribuída de forma
do bem ou as suas tendências psicológicas equitativa, permitindo que todos, dos menos
particulares. favorecidos aos mais favorecidos, melhorem a sua
situação, e assegurando que as vantagens
Na posição original, todos os indivíduos conseguidas pelos mais favorecidos acarretem
encontram-se hipoteticamente cobertos por um sempre vantagens para os mais desfavorecidos
véu da ignorância que os impossibilita de ver as Uma sociedade justa não poderá permitir que as
suas características particulares e, vantagens dos mais favorecidos sejam apenas
consequentemente, de escolher em função dos para esses.
seus interesses pessoais.
☗ SEGUNDO PRINCÍPIO - PRINCÍPIO DA
Para não correrem risco, as partes envolvidas no
OPORTUNIDADE JUSTA
contrato original, irão seguir a regra maximin:
estratégia de decisão que, existindo uma condição
É o princípio que garante a oportunidade de todos
de incerteza, permita maximizar o mínimo. Ou
acederem a funções/cargos sociais, em pé de
seja, os indivíduos procurarão maximizar os bens
igualdade. Uma sociedade justa terá de permitir
sociais primários (as liberdades, as oportunidades,
que todos os indivíduos possam conquistar uma
a riqueza) a cada membro da sociedade a partir
posição social a partir das suas próprias escolhas
de alguns princípios fundamentais.
e não do acaso. Assim, o Estado deve garantir as
mesmas oportunidades para todos, ao nível da
saúde, da educação, da cultura, etc.

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A concepção de justiça proposta por Rawls é uma


referência fundamental no âmbito da filosofia
política contemporânea, sendo também objeto de
críticas:

Robert NOzick (1938-202)


↪ Defensor do libertarismo perspectiva que
sustenta a conceição do Estado Mínimo, isto é,
um tipo de Estado que procura intervir o mínimo
possível na economia e na vida das pessoas,
limitando-se a assegurar os direitos básicos da
população, seja promovendo a segurança, a
justiça, o poder de polícia, seja criando legislação
que torne isso possível.
Nesse sentido, embora aceitando quase
inteiramente o princípio da liberdade Rawls,
Nozick, considera que o princípio da diferença
viola a liberdade por que interfere diretamente na
vida das pessoas. Um padrão na distribuição dos
direitos em que os menos favorecidos fiquem na
melhor situação possível exige uma intervenção
constante do estado e a sua intromissão abusiva
nas vidas individuais. O facto dos mais ricos
pagarem mais impostos é considerado por Nozick
uma injustiça, já que o Estado nos força a
trabalhar para os outros, se queremos trabalhar, e
nos força ajudar, quer queiramos quer não. E,
assim, esses impostos minam a liberdade e
autonomia das pessoas, instrumentalizando-as e
tratando-as (como diria Kant) como meios e não
como fins.

Michael Sandel (1953)


↪ Defende que o bem comum (que só em
comunidade se pode encontrar) tem prioridade em
relação às preferências individuais e que a
construção da nossa identidade só se é efetiva no
âmbito social, Sandel considera que a
metodologia proposta por Rawls para encontrar os
princípios da justiça está condenada ao fracasso.

Com a “posição original” e o “véu de ignorância”,


Rawls pretendia garantir a imparcialidade na
escolha dos princípios da justiça. Mas o facto de
as escolhas serem imparciais não implica que
sejam boas e justas. Cobertos por um véu de
ignorância, numa situação anterior a própria moral
(que define o que é bom ou mau), desenraizados
de qualquer comunidade concreta, centrados
apenas nos seus interesses pessoais e
esquecidos dos seus laços sociais, os indivíduos
não teriam qualquer noção daquilo que é bom e,
por conseguinte, também não teriam verdadeira
noção daquilo que é justo.
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