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Quer dizer, para Rawls não lhe interessará, como acontecera com os seus
predecessores contratualistas (Rousseau, Hobbes, Locke, entre outros) adeptos de
uma base contratual na origem do Estado, o que se terá passado (ou o que se poderia
ter passado) em momentos pré-históricos, imediatamente anteriores à entrada do ser
humano em «estado de sociedade».
Para tal, a teoria de Rawls dá por assentes uma série de pressupostos, uma vez
que ele não parte da origem do mundo, da vida e do Homem – como os primeiros
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O estado sem Estado: situação dos seres humanos antes da instauração de um poder comum, de
regras comuns, ou mesmo da vida em sociedade
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contratualistas. Ele dá por adquiridos certos valores civilizacionais que não discute
nem fundamenta, porque os pressupõe aceites pela maioria esmagadora dos seus
leitores.
John Rawls, tendo esta pergunta presente, procurará facultar os princípios para
se construir uma sociedade justa e equitativa.
Nesta situação inicial, portanto, não há homens primitivos a trocar a sua vida
paradisíaca de plena liberdade natural por uma vida, mais responsável e trabalhadora,
em comunidade com os outros (referência aos contratualistas), sob a égide do Direito
e do Estado. Neste cenário imaginado por Rawls, já que todos os constituintes vivem
numa sociedade ordenada e mais ou menos civilizada, o povo soberano acha-a
imperfeita e/ou injusta e confere-lhes a missão de definirem regras de uma sociedade
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mais justa, sem voltar atrás e tendo em conta, por conseguinte, a existência do Estado,
do Direito e de uma sã convivência entre todos os cidadãos.
Tendo aceitado esta situação hipotética, a seguir Rawls averiguará quais seriam
os princípios racionais que se deveriam adoptar para organizar uma sociedade. Ou
seja, ao ter isto em conta, o filósofo vai pretender eliminar todas aquelas
características que considera irrelevantes das nossas vidas que, de outra forma,
tendem a interferir na nossa avaliação do tipo de sociedade que deveria existir.
Desta forma, os princípios que emergem deste processo não devem ser
controversos, uma vez que se realizássemos efetivamente a experiência mental não
deveria haver diferença entre quaisquer indivíduos nela envolvida. Isto porque na
posição original, todos aqueles elementos que nos distinguem, teriam sido eliminados,
e, por isso, seriam completamente desconhecidos para nós. Os princípios deveriam
ser, então, aqueles que os participantes racionais concordariam.
Estes princípios, para Rawls, unificam as suas conclusões políticas básicas, que
são liberais e igualitárias.
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experiência mental de posição original como forma de criar princípios básicos para a
ordenação de uma sociedade justa, comparando-a depois com as instituições pré-
existentes para fazer ajustes mais detalhados. Quer dizer, Rawls acredita que os
princípios para a ordenação da sociedade que emergem juntos merecem o nome
«justiça como equidade», já que se chega a eles por meio de um processo racional e
imparcial.
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O segundo princípio de Rawls, relacionado com a justa distribuição dos bens
essenciais, subdivide-se em dois princípios: o princípio da justa igualdade de
oportunidade e o princípio de diferença.
No seu todo, este segundo princípio tem prioridade lexical sobre quaisquer
princípios de eficiência, o que significa que a justiça é mais importante do que a
utilidade.
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excelente nível de vida, existe um risco significativo de auferirem um salário que mal
dê para viver.
(igualdade) (equidade)
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2. Críticas a Rawls
Não obstante, como será possível realizar o padrão proposto? Para Nozick a
única forma para implementar o Princípio da Diferença será se o Estado redistribuir
constantemente a riqueza. Assim, este mesmo Estado terá que forçar algumas pessoas
a pagar impostos, retirando-lhes parte do que ganharam legitimamente, para que
outras pessoas sejam beneficiadas. Nozick, de modo geral, considera isto perverso e -
seguindo o pensamento kantiano-, eticamente inaceitável, dado que proceder desta
forma não é mais que tratar as pessoas como meios, violando os seus direitos de
propriedade. Isto é, basicamente, retira-se ao trabalhador bens obtidos legitimamente.
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Além do mais, o maior perigo que representa esta redistribuição da riqueza é
que exigirá uma contínua intervenção do Estado na vida dos indivíduos, sem garantir
que a redistribuição contribua efetivamente para as desigualdades existentes ao nível
das oportunidades. Pois, como nunca é possível prever a aplicação que cada indivíduo
dará ao benefício recebido do Estado, seria necessário, em simultâneo, uma
fiscalização permanente de modo a garantir os reajustamentos necessários a uma
redistribuição justa. Quer dizer, a partir do momento que o Estado intervém, não
consegue controlar o tipo de utilização que os cidadãos farão dos benefícios que
receberam.
Segundo Sandel a proposta de Rawls é inusitado, porque, para ele, Rawls refere
como pessoas na posição original são seres humanos isolados, desprovidos de família,
comunidade, género, nacionalidade, cultura, valores, entre outros, o que não é mais
do que uma pura abstração, dado que os seres humanos são tudo menos isso. O
Homem é um ser social, cuja identidade individual é imperceptível sem eles elementos
previamente descritos.
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2.3 A regra maximin: o contratualismo e a rejeição do utilitarismo
Quando Rawls implementa a estratégia conhecida como «maximim», que significava
escolher a opção que possibilitasse a melhor solução no pior dos casos, opõe-se, em
certa medida, ao utilitarismo, já que este último se importa fundamentalmente com o
resultado global das nossas ações em termos de bem-estar ou prazer: «O maior bem
bem-estar para o maior número de pessoas». Quer dizer, o utilitarismo pode
perfeitamente legitimar situações em que haja enormes diferenças de riqueza, desde
que o cálculo geral de felicidade seja geral. Porém, embora a finalidade para um
utilitarista seja a felicidade e a equidade apenas um meio para alcançar o que é
intrínseco para esta teoria, para Rawls, o valor intrínseco da sua Teoria da Justiça não
será a felicidade, mas sim a equidade.