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Filosofia – 10º ano

Unidade Didática II - A ação


humana e os valores
3. Dimensões da ação humana e dos
valores
3.1 A dimensão ético-política –
análise e compreensão da
experiência convivencial
3.1.4 Ética, direito e política

ÉTICA, DIREITO E POLÍTICA


J. Rawls - o contratualismo e a justiça como equidade
A Teoria da Justiça de Rawls

Como é possível uma sociedade justa?


John Rawls defende que a principal
caraterística das instituições que
organizam e regem uma sociedade
deve ser a justiça. Se as leis e as
instituições sociais foram eficientes,
mas injustas, devem ser
reformuladas.

Por isso, o objetivo da sua investigação era o de alcançar


princípios de justiça através dos quais se possam organizar as
instituições sociais de forma justa.
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A Teoria da Justiça de Rawls

Mas, como alcançar princípios justos?

Rawls, ao tentar descobrir quais os


princípios da justiça social, depara-se
com um obstáculo: a falta de
imparcialidade.

Segundo o filósofo, cada pessoa


tende a escolher ou considerar mais
justos os princípios que maximizem
as suas próprias vantagens e
minimizem as suas desvantagens.
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A Teoria da Justiça de Rawls
Para superar esta dificuldade, Rawls propõe uma experiência mental:
A posição original
A posição original é hipotética e
consistiria em colocar os indivíduos sob
um “véu de ignorância”, ou seja, numa
situação em que desconhecessem
completamente a sua condição
específica (nada sabendo sobre as suas
características concretas: Por exemplo, o
sexo, a riqueza, a religião, a profissão, etc).
Deste modo, os indivíduos seriam então
capazes de alcançar a máxima equidade
na definição dos princípios da justiça.
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A Teoria da Justiça de Rawls
Condições da posição original
(condições necessárias para que os sujeitos sejam totalmente imparciais)

•Todos possuem conhecimentos


mínimos sobre o funcionamento da
sociedade;
• Os sujeitos são racionais;
• Todos gozam dos mesmos direitos no
processo para a escolha dos princípios;
•O que for proposto tem que ser
reconhecido por todos e não pode ser
revogado, mesmo que alguma das
partes descubra, no final, que não é
beneficiada.
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A Teoria da Justiça de Rawls
Princípios da justiça

Nesta situação hipotética (posição original), Rawls acredita que


quaisquer agentes racionais, decidindo entrar em acordo na
posição original, concordariam com os seguintes princípios:

1. Princípio da 2. Princípio da 3. Princípio da


liberdade oportunidade diferença
justa

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A Teoria da Justiça de Rawls
Princípios da justiça

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A Teoria da Justiça de Rawls
1. Princípio da liberdade
A sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada pessoa
compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
Ou seja, todos os cidadãos devem ter direito ao mais amplo sistema de
liberdades básicas (como, por exemplo, o direito de votar, ocupar um cargo
público, liberdade de consciência e de pensamento, direito à propriedade
privada, direito à proteção contra prisão arbitrária, etc.) e este sistema deve ser
semelhante para todos.

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A Teoria da Justiça de Rawls
2. Princípio da oportunidade justa

Segundo este princípio, é permissível, numa sociedade justa, que


haja alguma desigualdade em termos de riqueza.

Isso é inevitável, pois, mesmo partindo de uma base igual, diferentes


pessoas têm diferentes prioridades, preferências, qualidades e níveis de
empenho em tarefas lucrativas, por isso, uns enriquecerão e outros não.

Tal situação não é, para Rawls, injusta, pois o que é necessário é garantir
que todos partem efetivamente de uma base igual. Isso consegue-se
com políticas sociais – por exemplo, bolsas de estudo, no caso da
educação – que permitam compensar aqueles que, por motivos
exteriores a si, têm menos recursos ou são socialmente desfavorecidos.
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3. Princípio da diferença
Este princípio diz respeito à distribuição justa da riqueza e tem
como pressuposto que essa distribuição deve ser equitativa.
A única razão para aceitar que alguns tenham mais é que isso
possa funcionar como compensação para os mais pobres.
No princípio anterior, notámos que as diferenças em riqueza são admissíveis se são
consequências de fatores como o mérito, o empenho e as escolhas pessoais.
No entanto, há outros fatores que geram desigualdades económicas,
mas que não são controlados pelo indivíduo, como os talentos pessoais
e as capacidades naturais (ex: grande talento criativo, força, beleza
física). Segundo Rawls, estas benesses da sorte saem aos humanos como
prémios da lotaria, que igualmente distribui caraterísticas desvantajosas
e, pela mesma razão, ninguém merece ser beneficiado nem
prejudicado por essa “lotaria”.
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A Teoria da Justiça de Rawls
3. Princípio da diferença (continuação)
Ainda que não seja possível anular as diferenças entre as pessoas, devemos
reduzi-las ao máximo, recorrendo para isso à redistribuição da riqueza,
segundo duas ideias contidas no princípio: (1) a ideia de que todos devem ter o
mesmo – salvo as diferenças legítimas – e (2) a ideia de que os menos
favorecidos, física ou inteletuamente, devem ser compensados por isso.

É claro que isto implica coagir (forçar) os mais abastados a pagarem mais
impostos para proveito dos menos afortunados. Isso é admissível para Rawls,
que reconhece que o direito à propriedade existe, mas não é absoluto.

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Regra maximin

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A Teoria da Justiça de Rawls

Porquê? Porque é esta a que garante o maior acesso aos bens sociais primários.
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A Teoria da Justiça de Rawls
Assim, conclui-se que Rawls....

• apresenta uma posição contratualista (contrato)


Rawls considera que pessoas racionais são capazes de chegar a um acordo que
registe os princípios da justiça que devem reger as estruturas de uma sociedade

• defende uma justiça com equidade


O acordo sobre os princípios da justiça é alcançado numa situação inicial que é
equitativa, ou seja, a escolha depende de uma situação de imparcialidade

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Uma objeção à Teoria da Justiça de Rawls
A crítica de Robert Nozick: a irrelevância do mérito

A crítica de Nozick assenta na conceção de que os indivíduos possuem direitos


básicos, um dos quais o direito de possuir propriedade, e que esses direitos
limitam a ação do Estado.

Assim, o Estado não pode, segundo Nozick, aplicar o


princípio da diferença de Rawls, pois isso seria interferir
na posse da propriedade (a menos que esta tenha sido
obtida por processos ilegais, tais como o roubo ou fraude).
Desde de que a posse da propriedade tenha resultado de
meios legalmente estabelecidos (trabalho, doações ou
heranças), o Estado não pode retirar uma parte dos bens
dos mais ricos e distribuí-los pelos mais necessitados.
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