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Introdução à Filosofia

Política
Introdução à Filosofia Política

• A filosofia política é a disciplina que estuda a maneira


como devemos viver em sociedade, isto é, trata de saber
quais as formas corretas de organização social.
Introdução à Filosofia Política
Filosofia Política Ciência Política
• Disciplina normativa – tenta descobrir como as • Estudo descritivo – tenta descobrir como são as
coisas devem ser: o que está certo, e o que é justo coisas.
ou moralmente correto. • Estuda a maneira como as sociedades concretas se
• Estuda a maneira como qualquer sociedade deve organizam efetivamente.
organizar-se. • Ocupa-se de problemas empíricos.
• Ocupa-se de problemas conceptuais. • Ex: Como se distribui a riqueza no país X ?
• Ex: Que princípio deve reger a distribuição da
riqueza?
Introdução à Filosofia Política
• Filosofia política:
• Apesar de ser uma disciplina conceptual e normativa, não implica que a
informação empírica e descritiva facultada pelas ciências políticas não seja
importante.
• A filosofia política também não se pode confundir com a política. (O
político é um executor).
Introdução à Filosofia Política
• A filosofia política é inevitável, pois:
Pode não interessar se uma sociedade não tem uma política oficial sobre
a solução para o problema do livre-arbítrio, mas em todas as sociedades
há alguém que detém o poder político e a riqueza encontra-se distribuída
de uma forma ou de outra. Aqueles que preferem não participar verão as
decisões políticas serem tomadas por si, quer gostem delas quer não.
Nada dizer ou fazer é, na prática, dar aval à situação atual, por
insatisfatória que seja.
Jonathan Wolff, Introdução à Filosofia Política
Problema da Justiça Social
• Formulação do Problema da Justiça Social:
• O que é realmente uma sociedade justa? Ou seja, quais os princípios gerais em que
se deve basear uma sociedade justa?
• Uma sociedade em que há, ao mesmo tempo, pessoas muito ricas e pessoas muito
pobres pode ser justa?
• Uma sociedade em que todas as pessoas usufruem da mesma riqueza é
necessariamente justa?
• Este problema tem a ver com a justiça social ou distributiva (sobre a forma como
estão distribuídos os recursos ou riqueza) e não com a justiça retributiva (sobre a
finalidade das penas atribuídas em tribunal).
Teorias que respondem ao Problema da Justiça Social
Teoria da Justiça de John Rawls: liberalismo
social
• Justiça como equidade
• John Rawls traça um caminho intermédio entre o libertismo e o igualitarismo, e defende uma
teoria da justiça como equidade.
• Justiça como equidade:
Os princípios da justiça são aqueles que seriam escolhidos numa situação de equidade
- em que todas as pessoas merecem, à partida, igual consideração.
Então, o que é uma sociedade justa? Como poderemos saber? Para isso, vamos fazer
uma experiência mental para encontrar os princípios de justiça corretos.
Experiência mental
• O Tiago e o Manuel estão a jogar cartas. O Tiago dá as cartas e o Manuel
recebe-as e olha para elas. No entanto, o Tiago reparou numa carta no chão
(o Ás de Espadas). Ao ver isto propôs para se anular a jogada e dar
novamente as cartas. Mas, o Manuel insiste em jogar (aliás, saiu-lhe o melhor
jogo desse dia). Há um desacordo. Que devem eles fazer?
Estratégias para ver o que seria justo fazer:
1 Proceder a um acordo verbal (antes do jogo) no sentido de jogar segundo um
conjunto bem conhecido de regras do jogo.
2 Solicitar o conselho de um "espectador imparcial", um árbitro. . .
3 Fazer apelo a um acordo hipotético: Mentalmente, poder-se-ia analisar o
acordo que se teria feito se cada um tivesse colocado a questão antes de o jogo
começar.
Com base em (3) talvez o Tiago consiga convencer o Manuel de que, se
tivessem discutido o assunto, teriam concordado em anular a jogada.
• O acordo hipotético exige certas circunstâncias:
• É preciso abstrair da vida real (Ex: imaginar que acordo se teria feito antes
das cartas serem dadas).
• Assim, pressupõe-se alguma ignorância (Ex: ninguém saberia que cartas lhe
tocará e assim não se é influenciado pelo interesses particulares).
• Rawls usa o argumento do acordo hipotético para justificar e escolher os
princípios da justiça, e designa-o por "posição original".
Posição Original
Rawls pressupõe que as perspetivas que as pessoas têm da justiça são muitas vezes
parciais (já sabem as “cartas” sociais que tiveram e assim não conseguem ser
imparciais) (P.e.: Se és rico, provavelmente queres a liberdade de adquirir e de
aproveitar os frutos do teu esforço. Mas, se és pobre, provavelmente defendes mais um
sistema que redistribui a riqueza.)
Mas, a justiça requer imparcialidade. Esta imparcialidade pode ser modelada através
do pressuposto de ignorância.
Então, como garantir esta imparcialidade que é essencial para a justiça?
Através da “posição original”: Ou seja, é uma situação imaginária em que as pessoas,
estando sob um véu de ignorância que garante a sua imparcialidade, escolhem os
princípios de justiça corretos.
Posição Original
• As pessoas na posição original – os contratantes hipotéticos – têm à
sua frente um "véu de ignorância" que não lhes permite aperceberem-
se das suas circunstância particulares.
• Véu de ignorância: faz desconhecer quem as pessoas são na
sociedade e quais são as suas peculiaridades individuais.3
https://www.youtube.com/watch?v=ukQFNSn1leY
• Devido a esta ignorância, não sabem como ser parciais a seu favor e,
assim, vêem-se obrigadas a agir imparcialmente.
Posição Original - Véu de Ignorância
• Na posição original as partes (pessoas singulares) estão sob um véu de ignorância, e deste modo
não sabem:
• 1 Qual é o seu lugar na sociedade, nem a importância da classe social a que pertencem.
• 2 O seu estatuto social, sexo, raça.
• 3 A sua posse de “atributos naturais”.
• 4 A sua própria ideia de bem.
• 5 Mas, as partes estão interessadas em escolher o que é melhor para si, tendo interesse em obter
bens primários (ou seja, coisas que são valiosas em seja qual for o projeto de vida, tal como
liberdades, oportunidades, riqueza, rendimento, etc).
• • Estas condições da posição original atuam como dispositivo que nos ajuda a perceber os
princípios corretos da justiça.
Os princípios da Justiça de Rawls
• Tendo definido a posição original, que princípios de justiça dela resultariam? Os princípios
que Rawls escolheria são os seguintes:
• 1 Princípio da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a máxima liberdade para
cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
• 2 Princípio da oportunidade justa: As desigualdades económicas e sociais devem
estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de igualdade de
oportunidades.
• 3 Princípio da diferença: A sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza,
exceto se a existência de desigualdades económicas e sociais gerar o maior benefício
para os menos favorecidos.
(1) Princípio da liberdade
• Tem uma prioridade sobre os outros dois princípios.
• Atingido um nível de bem-estar acima da luta pela sobrevivência, a liberdade
tem prioridade absoluta sobre o bem-estar económico ou a igualdade de
oportunidades.
• O que é importante é assegurar as liberdades (de expressão, de religião, de
reunião, etc). Elas não devem ser violadas em troca de vantagem económicas
ou outras.
• P.e.: não se pode defender a escravatura – é incompatível com o
reconhecimento da liberdade igual.
Princípios (2) e (3)
• Nos princípios (2) e (3) sustenta-se que pode haver desigualdades económicas.
• As desigualdades podem funcionar como um sistema de incentivos.
• Sem desigualdades, numa sociedade perfeitamente igualitária, os incentivos seriam
eliminados.
• Assim não haveria razões sociais e económicas para os indivíduos desenvolverem
carreiras que implicam estudos e preparação especialmente longos ou que requerem
esforço acima do normal.
• Desta forma, a sociedade no seu conjunto ficaria a perder.
• Mas, a desigualdade é aceite só se for moralmente legítima: ou seja, se respeitar o
princípio da oportunidade justa e o princípio da diferença.
(2) Princípio da oportunidade justa
• Também se pode chamar princípio da não-discriminação.
• Neste princípio deve-se promover a igualdade de oportunidades – para
isso é necessário, por exemplo, que o estado garanta o acesso de
educação a todos.
• As desigualdades na distribuição da riqueza são aceitáveis apenas na
medida em que resultam de uma igualdade de oportunidades.
(3) Princípio da diferença
• O princípio da diferença afirma que a distribuição da riqueza e do
rendimento, na sociedade, deve ser igual, a menos que a desigualdade traga
benefícios para todos. Em especial, deverá beneficiar os mais desfavorecidos.
• Este princípio indica uma maximização da situação dos que estão na pior
situação à partida. Implica uma certa visão distributiva (aos que estão em
pior situação – os pobres).
• Rawls aceita a afirmação condicional de que se é necessário uma
desigualdade para melhorar as condições de todas as pessoas, e, em especial,
para tornar as condições dos mais desfavorecidos melhores do que seriam de
outra forma, aquela deve ser permitida.
Os argumentos a favor dos princípios da
Justiça de Rawls
• Justificação dos Princípios da Justiça:
• Mas, como é que Rawls justifica os seus princípios da justiça?
• Existem duas vias de justificação:
• 1 A partir da metodologia do “equilíbrio refletido”.
• 2 A partir do argumento da “posição original” e da “regra maximin”.
Metodologia do equilíbrio refletido
• Metodologia do equilíbrio refletido consiste em avaliar os princípios
sugeridos por Rawls à luz das nossas intuições morais e, assim, ver a sua
pertinência.
• Então, segundo esta metodologia, que razões temos para escolher os três
princípios da justiça?
Metodologia do equilíbrio refletido
• Princípio da liberdade - Que razões temos para escolher o princípio da
liberdade? • A liberdade é um bem social primário e é fundamental para
concretizarmos os nossos objetivos e projetos de vida (devendo, por isso,
distribuir-se igualmente). • Portanto, as liberdades protegem as diversas
formas de vida individuais. • Seria imoral privar as pessoas de liberdade, uma
vez que não se poderia assumir expressa e conscientemente uma determinada
conceção de bem, como também seria impossível existir expressão,
pensamento e ação livre.
Metodologia do equilíbrio refletido
• Princípio da oportunidade justa - Que argumento teríamos para escolher o princípio
da oportunidade justa? • Constata-se que, na realidade, existe uma lotaria social (as
pessoas nascem em contextos socioeconómicos muito diferentes) e certos
indivíduos podem ficar impedidos de aceder a funções e cargos por falta de
oportunidade de educação e de cultura. • Mas, este tipo de contingências sociais é
arbitrário do ponto de vista moral, pois os indivíduos que nasceram nesses
contextos não são responsáveis por isso. • Assim, de forma a minimizar a lotaria
social, precisamos do princípio da oportunidade justa. Para isso é necessário, por
exemplo, que o Estado garanta a todos o acesso à educação (independentemente do
contexto social).
Metodologia do equilíbrio refletido
• Argumento a favor do Princípio da Oportunidade Justa (1) A lotaria social é
moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais. (2) Se a lotaria social é
moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais, então há um dever moral
de minimizar essa lotaria social. (3) Se há um dever moral de minimizar essa
lotaria social, então deve-se adotar o princípio da oportunidade justa. (4) ∴
Deve-se adotar o princípio da oportunidade justa. [De 1-3]
Metodologia do equilíbrio refletido
• Princípio da diferença - Que argumento teríamos para escolher o princípio
da diferença? • Os indivíduos têm diferentes dotes naturais e talentos e estes
são desigualmente remunerados pelo mercado; além disso, nenhuma forma
de igualdade de oportunidades permite retificar esta lotaria natural. • Porém,
estas contingências naturais, que conduzem a grandes desigualdades de
riqueza, são arbitrárias do ponto de vista moral, pois os indivíduos não são
responsáveis pela lotaria natural. • Logo, de forma a minimizarmos a lotaria
natural, precisamos do princípio da diferença que procura beneficiar os
menos favorecidos.
Metodologia do equilíbrio refletido
• Argumento a favor do Princípio da Diferença (1) A lotaria natural é
moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais. (2) Se a lotaria natural é
moralmente arbitrária e fonte de injustiças sociais, então há um dever moral
de minimizar essa lotaria natural. (3) Se há um dever moral de minimizar essa
lotaria natural, então deve-se adotar o princípio da diferença. (4) ∴ Deve-se
adotar o princípio da diferença. [De 1-3]
Justificação dos Princípios da Justiça a partir da
Posição Original e da Regra Maximin.
• A metodologia da posição original é:
• 1 Uma experiência mental em que se imagina uma situação em que as pessoas (as
partes) de uma sociedade são levadas a avaliar os princípios da justiça.
• 2 Mas as partes estão cobertas por um véu de ignorância que as fazem desconhecer
quem são na sociedade e quais as suas peculiaridades individuais, garantindo desta
forma uma imparcialidade na escolha dos princípios da justiça.
• 3 Do mesmo modo, as partes têm interesse em obter bens sociais primários, ou seja,
coisas que são valiosas em qualquer projeto de vida, como ter liberdades,
oportunidades, rendimento e riqueza.
Posição Original e Regra Maximin
• Tendo em conta a experiência mental a Posição Original, as partes
escolheriam na posição original o princípio da liberdade?
• Sim, pois. . .
• Pelo facto de não saberem as suas posições na sociedade ou a que grupo elas
pertencem, seria irracional prejudicar um determinado grupo (por exemplo,
os pobres) ou tirar a liberdade a um certo setor da sociedade, uma vez que
poderiam estar a prejudicar-se a si mesmas.
• Assim, quer-se uma liberdade igual para todos.
Posição Original e Regra Maximin
• Tendo em conta a experiência mental a Posição Original, as partes
escolheriam na posição original o princípio da liberdade e o princípio da
diferença?
• Sim, pois. . .
• seguem a regra maximin: Esta regra é um princípio de escolha a aplicar em
situações de ignorância, como é o caso de se ser abrangido pelo véu de
ignorância.
• De acordo com esta regra, se as partes não sabem quais serão os resultados
que podem obter ao nível dos bens sociais primários, então é racional jogar
pelo seguro e escolher como se o pior lhes fosse acontecer.
Posição Original e Regra Maximin
• Além disso, a regra maximin é acompanha de três condições:
• 1 as partes não têm conhecimento de probabilidades;
• 2 as partes têm aversão ao risco;
• 3 as partes estão especialmente interessadas em garantir a exclusão de
resultados absolutamente inaceitáveis.
Não se poderá aceitar um princípio
utilitarista?
• Problema: Será que as partes não poderiam escolher na posição original um
outro princípio como, por exemplo, um princípio utilitarista?
• Não, pois. . .
• Este princípio não assegura garantias mínimas para ninguém. Seguindo o
utilitarismo, poderiam existir grandes desigualdades.
• Pelo menos em teoria, é possível pensar que um conjunto de indivíduos veja
as suas liberdades sacrificadas (como no exemplo da escravatura) para gerar
maior bem-estar para uma maioria.
• Da mesma forma, as oportunidades ou os níveis de rendimentos e de
riqueza de alguns podem ser drasticamente prejudicados em nome do
bem-estar geral.
• Em contraposição com o princípio de utilidade:
• Rawls não permite o sacrifícios das liberdades básicas, da igualdade
equitativa de oportunidades, e da distribuição de acordo com o
princípio da diferença.
Síntese da teoria da justiça de John Rawls
Objeções à teoria da justiça de John Rawls

• Serão os argumentos de Rawls plausíveis? Será que temos realmente


uma sociedade justa se seguirmos os três princípios propostos por
Rawls?
• Objeções à teoria da justiça de John Rawls:
• 1 Crítica libertarista de Nozick
• 2 Crítica comunitarista de Sandel
Objeções à teoria da justiça de Rawls: a
crítica libertarista de Nozick.
• Não é possível abraçar consistentemente e simultaneamente o princípio da
liberdade e o princípio da diferença.
• Dar liberdade às pessoas implica que não podemos impor restrições às
posses individuais de propriedade.
• Limitar a quantidade de propriedade que as pessoas podem adquirir e
aquilo que podem fazer com ela é uma forma de restringir a liberdade
individual.
• Um respeito conveniente da liberdade elimina o princípio da diferença, ou
qualquer outros princípio relativo à distribuição.
• Segundo Nozick, a teoria da justiça de Rawls é um exemplo de conceção
padronizada da justiça:
• Sociedade justa para Rawls: É uma sociedade que obedece a um determinado
padrão na distribuição dos bens ou da propriedade: esse padrão é o princípio da
diferença.
• Uma sociedade em que a riqueza e a propriedade não estejam distribuídas segundo
esse padrão será, segundo o princípio da diferença, injusta.
• Mas, Nozick defende que esta conceção padronizada de justiça viola a liberdade
individual e os direitos de propriedade.
• Nozick apresenta a experiência mental de Wilt Chamberlain.
• A experiência mental de Wilt Chamberlain
Wilt Chamberlain é um jogador de basquetebol em alta. A sociedade em que
vive distribui a riqueza segundo o princípio da diferença. A esta distribuição de
riqueza vamos chamar D1. Depois de várias propostas, Wilt Chamberlain
decide assinar o seguinte contrato com uma equipa: nos jogos em casa, recebe
25 cêntimos por cada bilhete de entrada. Todos o querem ver jogar.
Chamberlain joga muito bem. Vale a pena pagar o bilhete. A época termina e 1
milhão de pessoas viu os jogos. Chamberlain ganhou 250 000 euros. O
rendimento obtido é bem maior que o rendimento médio. Gera-se assim uma
nova distribuição muito desigual de riqueza na sociedade em questão, a que
vamos chamar D2, violando-se o princípio da diferença.
• De acordo com Rawls, se D2 não coincidir com o tipo de distribuição
exigida pelos princípios de justiça padronizados (como o princípio da
diferença) será necessário redistribuir o dinheiro; por exemplo:
• Com o princípio da diferença de Rawls, os 250 000 euros têm de afetar de
forma positiva os mais desfavorecidos, exigência que pode obrigar à
transferência compulsiva de parte do dinheiro ganho por Chamberlain para
este grupo sociológico.
• Ou, fazia-se a proibição antecipada das transações que não contribuam
para a maximização da posição dos mais desfavorecidos.
• Mas, para Nozick, existe aqui uma limitação da liberdade individual.
• T1. “A lição ilustrada pelo exemplo de Wilt Chamberlain (. . . ) é que
nenhum princípio finalista ou princípios distributivo padronizado de
justiça pode ser continuadamente realizado sem interferir
continuadamente na vida das pessoas”. Nozick, Anarquia, Estado e
Utopia, p. 207
• T2. “Para manter um padrão é preciso ou [1] interferir
continuadamente para impedir as pessoas de transferirem recursos à
vontade, ou [2] interferir continuadamente (ou periodicamente) para
retirar a algumas pessoas recursos que outros por alguma razão
decidiram transferir para elas”. Nozick, Anarquia, Estado e Utopia, p.
207.
• Segundo Nozick,
• mesmo que, num certo momento, uma sociedade estivesse de acordo com
os padrões de justiça que Rawls propõe, manter esses padrões distributivos
exigiria uma intervenção constante do estado através de tributações.
• Essa intervenção seria inaceitável pelo facto de desrespeitar os direitos de
propriedade e de liberdade individual dos cidadãos.
• O princípio da diferença viola o princípio deontológico de Kant: nunca
devemos tratar os outros como meros meios.
• A tributação equivale a trabalhos forçados, uma espécie de escravidão.
• A tributação equivale a trabalhos forçados Supõe que trabalhas 40
horas por semana e 25% do teu salário é desviado para os impostos,
para redistribuir pelos pobres. Não podes contornar isto: se queres
fazer o trabalho que fazes e receber o teu salário tens de pagar este
imposto. Assim, durante 10 horas (25% do teu tempo) és obrigado a
trabalhar para as outras pessoas. Durante 10 horas por semana pouco
mais és do que um escravo.
• Será esta ideia de Nozick plausível? Será que a tributação não
aumentará a liberdade dos pobres?
(2) Crítica comunitarista de Sandel
• Michael Sandel argumenta que:
• A avaliação dos princípios da justiça é uma escolha moral.
• Mas, com o véu de ignorância de Rawls, tais escolhas são realizadas de
forma egoísta e apenas por interesses pessoais.
• Contudo, as escolhas morais também devem decorrer de laços comunitários
que nos moldam e onde temos as nossas raízes.
• Por isso, a forma como Rawls argumenta a favor dos princípios da justiça,
através do véu de ignorância numa posição original, não é bem-sucedida.
• As deliberações e decisões realizadas a coberto do véu de ignorância
na posição original são moralmente cegas, pois:
• o véu de ignorância implica que as escolhas sejam feitas por
indivíduos totalmente desenraizados e desligados de qualquer laço
social e, portanto, interessadas no seu próprio bem, sem se guiarem
por qualquer noção de bem comum ou sequer de vida boa.
• Assim, as escolhas dos princípios da justiça resultam da agregação de
meras preferências individuais totalmente amorais.

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