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ÉTICA

A Fundamentação da Moral
Problema da Fundamentação da Moral
PROBLEMA:
Perguntar pelo fundamento da moral é procurar saber duas coisas:
1 Qual é o bem último? Ou seja, que coisa valorizamos por si mesma
(valor intrínseco e não instrumental)?
2 O que faz uma ação ser correta? Ou seja, qual é o critério da ação
correta?
• Os problemas (1) e (2) estão relacionados. Isto porque é natural
pensar que as ações corretas promovem o bem, e as incorretas
promovem o mal.
ÉTICAS CONSEQUENCIALISTAS E DEONTOLÓGICAS

- O valor moral das ações depende das suas consequências


– Ética consequencialista de Mill

- O valor moral das ações é determinado pela intenção do


sujeito – Ética deontológica de Kant
A Resposta Utilitarista

Ética Utilitarista de Mill

Qual é o bem último? A felicidade

Qual é o critério da ação correta? As consequências


A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

O utilitarismo defende o Princípio Utilidade ou da


Maior Felicidade.
• De acordo com este princípio, uma ação é correta
quando produz a maior felicidade para o maior
número, ou seja, quando maximiza imparcialmente
o bem. Assim, uma ação é correta se, e só se,
previsivelmente maximizar a felicidade geral
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
• Aquilo que importa promover não é a felicidade do próprio agente (egoísmo
ético), mas a felicidade geral.
• A melhor escolha será aquela que, de um ponto de vista imparcial, promove
a maior felicidade geral. Ou seja, aquela que mais felicidade trouxer a um
maior número de agentes morais.
• Na avaliação de um ato, o que interessa são as melhores consequências (o
que resultará desse ato); sendo irrelevante o motivo ou intenção do agente
(a razão pela qual queremos fazer algo).
• Assim, o utilitarista defende uma perspetiva consequencialista – são as
consequências de um ato que determinam se este é certo ou errado.
• Por isso, também não há regras morais absolutas ou invioláveis
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Princípio da Maior Felicidade
Uma ação é moralmente correta se, e só se, tendo em conta as alternativas, for
aquela que resulta numa maior felicidade geral. Caso contrário, a ação é moralmente
errada.
As ideias principais são as seguintes:
1 Um ato ser certo ou errado depende de um único fator: a sua contribuição para a
felicidade. (Consequencialismo)
2 Conceito de felicidade: prazer. (Hedonismo)
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

CARACTERÍSTICAS

Ética Consequencialista:
A moralidade de uma ação é determinada em função das suas
consequências.

Assim, uma ação não é, por si, boa ou má, mas sê-lo-á de acordo com
os efeitos que produzir.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

CARACTERÍSTICAS

Imparcialidade
No cálculo das consequências da sua ação, o agente deve ser
rigorosamente imparcial.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

Imparcialidade
“(…) a felicidade (…) não é a felicidade do que age, mas a de
todos. Porque o utilitarismo exige a cada um que, entre a
sua felicidade e a dos outros, seja um espectador tão
estritamente imparcial como desinteressado e benevolente”
J. Stuart Mill (1861). Utilitarismo. Trad. de Luís Lourenço. Lisboa: Lisboa Editora, 2005. p 89
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

Exigência de imparcialidade, altruísmo e universalidade


O bem-estar a promover não é apenas o do agente mas o de todos os envolvidos.
• Uma consideração imparcial dos interesses implica que o modo de o bem-estar
ser distribuído não é importante em si mesmo.

Se ao optar por uma situação A, três pessoas ficam satisfeitas e duas não, e se ao
optar por B apenas duas pessoas ficam satisfeitas e três não, o princípio utilitarista
obriga a optar por A mesmo que o agente esteja entre as pessoas insatisfeitas.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

Imparcialidade e Altruísmo
A moral utilitarista pode exigir que coloquemos de
lado os interesses pessoais em benefício do
interesse geral.
•Se dedicar o meu tempo livre a trabalho gratuito
numa organização de apoio aos sem abrigo traz
mais bem estar ao mundo que dedicá-lo à minha
coleção de selos. A moral utilitarista impõe-me a
primeira opção.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

Mas, o que é a felicidade?


A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

CARACTERÍSTICAS

Ética Hedonista:

- O bem, ou fim último da ação humana, é a felicidade, aferida

como o prazer e a ausência da dor.


A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
CARACTERÍSTICAS
Ética Hedonista
A felicidade ou bem-estar de um indivíduo consiste unicamente no prazer e na
ausência de dor ou sofrimento.
Nem todos os prazeres têm o mesmo valor: alguns são melhores que outros. Mas
porquê? Duas teorias que respondem a essa questão:
Hedonismo quantitativo: o valor intrínseco de um prazer depende apenas da sua
duração e intensidade (Ética Utilitarista de Bentham)
Hedonismo qualitativo: o valor intrínseco de um prazer depende sobretudo da sua
qualidade (ética Utilitarista de Stuart Mill).
Hedonismo Quantitativo (Bentham)

• Bentham (fundador da ética utilitarista)


defendia que os prazeres poderiam ser
quantitativamente melhores atendendo à
sua intensidade e duração.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL

Objeções ao hedonismo quantitativo:


Para Mill a avaliação dos prazeres não depende apenas da quantidade.
Considere-se a seguinte experiência mental:
• Imagine-se a vida tranquila e agradável de uma ostra com a duração de 500 anos.
• Agora compare-se essa vida com a de um cientista que desfrutou de prazeres
superiores que resultaram do trabalho científico, mas que só durou 60 anos.
• Segundo o hedonismo quantitativo, a vida da ostra seria melhor do que a do
cientista, dado que os prazeres da ostra duram muito mais tempo.
• Contudo, parece óbvio que a vida do cientista é qualitativamente melhor do que a da
ostra.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Hedonismo qualitativo:
• Mill defende que alguns tipos de prazeres são qualitativamente
superiores a outros. Ou seja, há prazeres intrinsecamente melhores
do que outros. Os prazeres inferiores correspondem aos prazeres
corpóreos, ou seja, dizem respeito à satisfação das necessidades
primárias (comer, dormir, etc.). Os prazeres superiores correspondem
aos prazeres intelectuais e emocionais, ou seja, dizem respeito à
satisfação das necessidades mentais/espirituais (como a fruição da
beleza, do conhecimento, da amizade e do amor, etc.).
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Distinção quantitativa e qualitativa dos prazeres
Assim,
Stuart Mill, ao contrário de Bentham (também utilitarista), considera que os
prazeres não se distinguem apenas pela intensidade e duração (quantidade), mas
sobretudo pela qualidade.
Os prazeres físicos são qualitativamente diferentes dos prazeres intelectuais.
Ao contrário dos prazeres físicos, os prazeres intelectuais estão ligados às
faculdades superiores do ser humano, às emoções, à imaginação, ao conhecimento,
à experiência estética e moral.
As capacidades humanas são de nível superior e vão além do prazer físico.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
“É indiscutível que o ser cujas capacidades de prazer são baixas tem uma maior
possibilidade de vê-las inteiramente satisfeitas; e um ser superiormente dotado
sentirá sempre que qualquer felicidade que possa procurar é imperfeita, tendo em
conta a maneira como o mundo é constituído. Mas ele pode aprender a suportar
as imperfeições da sua felicidade. (...) É melhor ser um ser humano insatisfeito do
que um porco satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o
idiota, ou o porco, têm opiniões diferente, é porque apenas conhecem o seu lado
da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados”.
Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, p. 54.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Distinção quantitativa e qualitativa dos prazeres
Mas como sabemos que os prazeres intelectuais são superiores aos
corporais?

Stuart Mill pensava que as pessoas com experiência nos dois tipos de
prazeres nunca abdicariam dos prazeres intelectuais (específicos do ser
humano) pelos inferiores.
Para Mill, os prazeres intelectuais são superiores e devem ser
preferidos aos prazeres físicos (comuns ao homem e ao animal) mesmo
quando a sua duração ou intensidade é inferior.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Hedonismo qualitativo:
• Assim, Mill argumenta que quem tem experiência dos dois tipos de
prazeres (intelectuais e corporais) não trocaria a oportunidade de fruir
dos prazeres superiores por nenhuma quantidade de prazeres inferiores.
• Por exemplo, ainda que os prazeres de um porco fossem mais intensos e
duradouros do que os de um ser humano, os de um ser humano seriam
preferíveis aos de um porco, pois o porco apenas pode ter prazeres
inferiores.
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
Hedonismo qualitativo:
Apesar de os prazeres superiores serem mais difíceis de
alcançar e de satisfazer completamente, esta insatisfação é
preferível ao contentamento resultante da satisfação dos
prazeres puramente físicos.
«É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco
satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito»
A ÉTICA UTILITARISTA DE MILL
EXERCÍCIOS
Considere-se duas vidas possíveis:
(1) a vida de uma ostra, que contém apenas prazer físico ténue, mas que se
estenderá por um milhão de anos;
(2) a vida feliz de um artista ou cientista, que terá a duração normal da vida
humana.
1 Segundo o hedonismo quantitativo, que vida será melhor? Porquê?
2 Segundo o hedonismo qualitativo, que vida será melhor? Porquê?
3 Que vida será melhor? Porquê?

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