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ÉTICA-MORAL EM
J. STUART-MILL
Todos os seres humanos pretendem ser felizes, isto é, ter mais prazer do que dor,
por isso é obrigação de todos os elementos da comunidade agir para maximizar
a felicidade do maior número de pessoas possível. É este o princípio moral do
utilitarismo, designado princípio da utilidade ou da maior felicidade.
Princípio da utilidade
(ou princípio da maior felicidade)
3. Segundo Mill, a utilidade é o que torna uma ação moralmente valiosa. O critério
da moralidade de um ato é o princípio de utilidade ou da maior felicidade. Este
princípio é o teste da moralidade das ações. Uma ação deve ser realizada se e só
se dela resultar a máxima felicidade possível para as pessoas ou as partes que por
ela são afetadas. A ideia central do utilitarismo é a de que devemos agir de modo
que da nossa ação resulte a maior felicidade ou bem-estar possível para as
pessoas por ela afetadas. Uma ação boa é a que é mais útil, ou seja, a que produz
mais felicidade global ou, dadas as circunstâncias, menos infelicidade ou dor.
Quando não é possível produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a
infelicidade. Assim, de acordo com a perspetiva de Stuart-Mill importa apenas as
consequências/efeitos das nossas ações, ou seja, o momento de deliberação é uma
das etapas fundamentais, como condição necessária, para definir o valor da
moralidade das nossas ações, desvalorizando as intenções ou os motivos que
influenciam/determinam os nossos atos.
O Princípio da
Imparcialidade
- O que significa? -
A felicidade de quem?
• A felicidade que Stuart-Mill defende é a felicidade do maior n.º de pessoas, ou
seja, o utilitarismo não defende a felicidade individual (de quem pratica a
ação/agente);
O Princípio da
os afetados pela nossa ação. A máxima felicidade
possível corresponderá o maior bem para o maior
Imparcialidade
número. Se for isto o que procuramos promover
quando agimos, então a nossa ação será
moralmente correta.
De acordo com Mill, os prazeres não são todos iguais e, por isso, alguns
proporcionam mais felicidade do que outros. Distinguindo
qualitativamente os prazeres: em prazeres superiores e prazeres
inferiores.
Prazeres Prazeres
Superiores Inferiores
Prazeres Superiores Prazeres inferiores O Homem, ser
racional, é capaz de
Os prazeres sentir felicidade com
superiores ou prazeres
espirituais/intelectuais Os prazeres intelectuais, sendo
relativos às inferiores ou estes, segundo S. Mill,
os que proporcionam
faculdades sensoriais/corporais
felicidade aos seres
intelectuais, à estão ligados ao humanos.
imaginação e aos corpo, provenientes os prazeres
sentimentos morais. das sensações, mais espirituais são mais
São potenciadores de precisamente, às valiosos/superiores
bons sentimentos necessidades aos corporais.
morais (como a
físicas/biológicas.
generosidade, a
honradez, o bom
caráter). Permitem a Satisfazer os
realização plena do instintos é próprio
ser humano. dos animais.
Como se justifica a superioridade dos prazeres superiores
face aos prazeres inferiores?
Ou seja, Mill defende, a partir do excerto, a ideia de que os prazeres espirituais são
mais valiosos do que os prazeres sensíveis, de tal modo que muito poucas pessoas
consentiriam que as convertessem em alguns dos animais inferiores em troca de um
gozo total de todos os prazeres bestiais.
Stuart-Mill afirma que a felicidade a que o utilitarismo faz referência se
define não apenas em termos de quantidade, mas também de qualidade.
Princípios Secundários
Deveres Absolutos
Como vimos anteriormente, Stuart Mill não defende a existência de deveres
absolutos como Kant (não roubar, não matar ou não mentir). No entanto, o
filósofo considera que as normas morais que proíbem o roubo, o assassinato ou
a mentira têm valor, visto que são normas intemporais e justificadas. No entanto,
para o pensador estas normas não são imperativos absolutos pelas quais as
nossas ações se devem basear.
Dizer a verdade é um ato normalmente mais útil que prejudicial e por isso a
norma «não deves mentir» sobreviveu ao teste do tempo. Mas há situações em
que não respeitar absolutamente uma determinada norma moral e seguir o
princípio da utilidade terá melhores consequências do que respeitá-las.
Resolve os conflitos morais entre princípios/máximas morais da ética Kantiana.
Deveres Absolutos
Segundo Mill, em geral, matar, roubar e mentir são ações moralmente incorretas, pois é
mais habitual provocarem infelicidade do que felicidade. Em geral, ajudar quem precisa é uma
ação moralmente correta, na medida em que o mais usual é provocar felicidade e não
infelicidade. Porém, pode haver circunstâncias em que roubar ou mentir provoquem mais
felicidade do que infelicidade e em que ajudar quem precisa provoque mais infelicidade do
que felicidade – e nesse caso roubar ou mentir será moralmente correto.
• Recuperando agora o caso proposto por Kant, para o utilitarismo, se dizer a verdade a uma
assassino acerca do paradeiro de uma pessoa que este persegue trouxer mais infelicidade
do que felicidade para a generalidade dos envolvidos, então é correto mentir.
Deste modo, Mill defende que nos devemos guiar, sobretudo, pelas regras da
moralidade comum – por exemplo, não devemos roubar, não devemos torturar
ou não devemos quebrar promessas, mas também a partir de princípios que
denomina de princípios secundários/subordinados, de fácil aplicação, que
normalmente conduzem a boas consequências, promovendo o bem-estar geral,
e que resultaram, em grande medida, da influência do padrão utilitarista ou da
maior felicidade.
Princípios Secundários
Mill tem consciência da dificuldade do ser humano em viver guiando-se pelo Princípio da
Maior Felicidade, por um lado não conseguimos estar sempre motivados para promover
a felicidade imparcialmente o bem-estar e, por outro lado, temos uma tendência natural
para dar maior importância à nossa felicidade em prol dos outros. E ainda, a dificuldade
que o ser humano tem em prever as consequências de muitos dos seus atos. Deste
modo, Stuart-Mill argumenta que um utilitarista deverá guiar-se por princípios
secundários.
Princípios Secundários
4. Quando confrontado com uma situação em que tem de mentir para salvar a
vida de uma pessoa, como agiria um utilitarista?
Exercícios de Consolidação
Pág. 123
1. Não. Para o utilitarista as ações são moralmente corretas ou incorretas conforme as consequências: se
promovem imparcialmente o bem-estar são boas. Isto quer dizer que não há ações intrinsecamente
boas. Só as consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres
que devam ser respeitados sempre e em todas as circunstâncias. Se, para a ética kantiana, alguns
atos como matar, roubar ou mentir são absolutamente proibidos mesmo que as consequências sejam
boas, para Mill justifica-se, por vezes, não respeitar um dever em prol da felicidade geral.
2. As normas morais comuns estão em vigor em muitas sociedades por alguma razão. Resistiram À prova
do tempo e em muitas situações fazemos bem em segui-las nas nossas decisões. Contudo, não devem
ser seguidas cegamente. Nas nossas decisões morais devemos ser guiados pelo princípio de utilidade
e não pelas normas ou convenções socialmente estabelecidas. Dizer a verdade é um ato normalmente
mais útil do que prejudicial, e por isso a norma «não deves mentir» sobreviveu ao teste do tempo.
Segui-la é respeitar a experiência de séculos da humanidade. Mas há situações como e que não
respeitar absolutamente uma determinada norma moral e seguir o princípio de utilidade terá
melhores consequências globais do que espeitá-la.
Exercícios de Consolidação
Pág. 123
3. Não. Parece que o princípio utilitarista «A maior felicidade par ao maior número» aponta para
essa convicção, no entanto, este princípio da «maior felicidade» embora exija ponderação na
avaliação das melhores consequências, não implica cegueira moral nem a defesa de atos
moralmente repugnantes. A avaliação da moralidade das consequências da ação não é, em Mill,
puramente quantitativa mas também qualitativa, de acordo com a distinção entre prazeres
superiores e prazeres inferiores.
4. O utilitarista resolveria esta situação optando por mentir e provavelmente salvar a vida de uma
pessoa. Mentir e provavelmente salvar a vida de uma pessoa causará menor dor ou sofrimento
(neste caso, para a pessoa em fuga, os seus familiares e amigos) do que dizer a verdade e colocar
em causa a vida dessa pessoa.
De acordo c/ a perspetiva ética de Mill:
Mill considera que existe um poderoso sentimento natural e será este a constituir a força da
moralidade utilitarista, logo que a felicidade geral seja reconhecida como o padrão ético. Este
fundamento firme consiste nos sentimentos sociais da humanidade, no desejo de estar unido
aos semelhantes e em harmonia com eles. Existe, portanto, uma sociabilidade natural dos seres
humanos, um sentimento social natural que nos leva à cooperação mútua. A desejar que os
nossos interesses se encontrem em harmonia com os dos nossos semelhantes. Ter em conta
cada vez mais os interesses dos Outros leva-nos a descobrir que a nossa vida é também
cada vez melhor para nós próprios e que seria prejudicial não ter em conta o bem-estar
geral. Adotar o princípio da maior felicidade implica a escolha racional e imparcial das possíveis
ações que promovem o melhor para todos.
Este sentimento natural – que constitui, segundo a convicção dos mais esclarecidos e
conscientes, um sentimento desejável para todos - pode estar desenvolvido com intensidades
diferentes consoante o grau de desenvolvimento espiritual em que o indivíduo se encontra,
podendo ser reforçado e alargado com os progressos da civilização. Mill acredita que o
progresso do espírito humano é a chave para encontrar a verdadeira felicidade.
Principais críticas à perspetiva ético-moral
de Stuart-Mill
Para o utilitarista, na perspetiva dos seus críticos, uma pessoa
O utilitarismo justifica a pode desrespeitar uma das regras morais básicas, como a
prática de ações imorais. regra de «não roubar» ou a de «não mentir», e, ainda assim,
agir moralmente, desde que essa ação proporcione uma maior
quantidade de felicidade a um número de pessoas maior do
que as pessoas a quem provocou dor ou sofrimento.