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A PERSPETIVA

ÉTICA-MORAL EM
J. STUART-MILL

Filosofia – 10.º ano


Prof. Kelly-Elizabeth
John Stuart-Mill
1806-1873
Nasceu em Inglaterra (Pentónville) e faleceu
em França (Avignon, com 66 anos);

É reconhecido como um dos maiores pensadores


do empirismo e do utilitarismo.

Suas principais obras abrangem textos de Lógica,


Epistemologia, Ética, Metafísica, Religião,
Filosofia Social e Política.

“Sistema de Lógica Dedutiva” (1843)


“O Governo Representativo” (1851)
“O Utilitarismo” (1861)
“As ações são corretas na medida em que
tendem a promover a felicidade, erradas na
medida em que tendem a promover o reverso
da felicidade.”
一 John Stuart Mill, Utilitarismo (1861)
Ideia Central do
Pensamento de Stuart Mill
Ao contrário das teorias éticas deontológicas,
como a Kantiana, para as teorias éticas
consequencialistas, de que é exemplo a teoria
utilitarista de Mill, são as consequências da
ação que determinam qual é o seu caráter
moral.

Stuart Mill defende que o máximo bem a


promover numa sociedade deverá ser a
felicidade de todos e de cada um.

Segundo o filósofo, o que faz com que as nossas


ações valham a pena, isto é, o que faz com que
elas sejam consideradas boas ou moralmente
corretas é a possibilidade de contribuírem para
a felicidade.
«O credo que aceita a utilidade ou o princípio da maior
felicidade como fundamento da moral sustenta que as
ações são justas na proporção com que tendem a
promover a felicidade. Entende-se por felicidade, o
prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a
ausência do prazer. (…) O prazer e a ausência de dor são
as únicas coisas desejáveis como fins; e todas as coisas
desejáveis são-no pelo prazer inerente a elas mesmas ou
como meios para a promoção do prazer e a prevenção
da dor.»
Stuart-Mill, Utilitarismo, Areal Editores, 2005, Porto, p.47.
A ética utilitarista de Stuart-Mill

Para Stuart-Mill, a utilidade (ou princípio da maior felicidade)


é o critério que permite avaliar moralmente as ações.
Nesse sentido, a sua ética é denominada de
consequencialista, uma vez que a moralidade ou a
imoralidade de uma ação é determinada pelos seus
resultados, ou seja, as suas consequências.

O utilitarismo é uma teoria ética consequencialista porque


faz depender o valor moral de uma ação das suas
consequências, definindo a ação boa como a que tem as
melhores consequências para o maior número de pessoas.

● Age sempre de modo a produzir a maior felicidade


para o maior número de pessoas.
O valor da ação é avaliada apenas pelas
consequências/efeitos produzidos. Assim, a ação útil
(utilitarismo) é aquela que produz as melhores
consequências/resultados possíveis, ou seja, que é
mais vantajosa, proveitosa e que produz a Felicidade
para o maior n.º de pessoas.

O motivo e a intenção (caráter) não são decisivos para


considerar a ação com valor moral.
Evitar que uma pessoa se
No caso de uma pessoa ajudar alguém apenas para ficar afogue é sempre bom
bem vista ou para ganhar uma recompensa, isso talvez independentemente da
signifique que ela não é uma boa pessoa, mas isso não motivação de quem
impede que a sua ação seja correta. salva.
Assim, o que determina se uma ação é ou não
moralmente correta são os seus resultados e não o
motivo que levou o agente a realizá-la.
Para Stuart-Mill o princípio moral fundamental adotado pelo utilitarismo e,
simultaneamente, a finalidade última (ou telos), que todos os seres humanos
pretendem alcançar.

Todos os seres humanos pretendem ser felizes, isto é, ter mais prazer do que dor,
por isso é obrigação de todos os elementos da comunidade agir para maximizar
a felicidade do maior número de pessoas possível. É este o princípio moral do
utilitarismo, designado princípio da utilidade ou da maior felicidade.

Princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade

Age sempre de modo a produzir a maior felicidade para o maior


número de pessoas.
Princípio de Utilidade ou da maior felicidade

Stuart-Mill chamou a esse critério «princípio da utilidade»,


mas por vezes também usava o nome dado por Bentham:
«princípio da maior felicidade».

O princípio da utilidade não é um regra entre outras, mas


sim a regra das regras: o princípio moral supremo que
permite determinar se algo (ações particulares, regras
morais, normas jurídicas, decisões políticas, decisões
económicas, etc.) é moralmente correto ou incorreto.
Para exprimir essa ideia, Stuart Mill usa as palavras como:
critério, padrão, teste e primeiro princípio.

Na ética de Stuart-Mill, o princípio da utilidade é o


equivalente ao imperativo categórico de Kant.
• A conceção utilitarista traduz-se no seguinte:

Conceção Uma conceção teleológica da ética, pois concebe um fim último e


teleológica define o bem em função desse fim (a felicidade);

Uma teoria eudemonista ou «eudaimonista» (do grego eudaimonia),


Teoria porque concebe a felicidade como o objeto da vida humana, e
Eudaimonista hedonista, pois identifica a felicidade comum estado de bem-estar ou
de prazer;

Uma teoria consequencialista, porque as consequências da ação (a


Teoria
utilidade) são o critério da moralidade, isto é, o padrão usado para
consequencialista determinar se a ação é boa ou má.
O que permite definir se uma ação é boa ou má, não
o sabemos com toda a certeza antes da ação se
concretizar (consequencialistista). No entanto,
durante o processo deliberativo que a antecede,
O que define refletir consciente e imparcialmente sobre as
consequências que a realização de uma dada ação
uma boa ação? pode trazer não só para o agente/indivíduo como
para todos os que possam ser afetados por ela.

Como poderemos fazer boas Assim, se as consequências forem positivas, isto é, se


escolhas e saber de antemão se trouxerem vantagens, então a ação será boa; se as
uma ação é boa? consequências forem negativas, por trazerem
desvantagens, então a ação será má.

A moralidade das ações depende da utilidade das


mesmas, isto é, o seu contributo para criar a maior
felicidade.
Princípio supremo da moralidade

Princípio da utilidade
(ou princípio da maior felicidade)

As ações corretas As ações incorretas


maximizam a felicidade minimizam a felicidade
ou reduzem a infelicidade. ou aumentam a
infelicidade.
Exercícios de Consolidação

1. Por que razão se considera que a ética utilitarista é uma ética


consequencialista?

2. Por que razão não pode ser considerada uma ética


deontológica?

3. Segundo Mill, o que torna valiosa uma ação? Em que consiste


o seu valor moral? Qual é o critério da moralidade de um
ato?
Exercícios de Consolidação
Pág. 121 – Exs: 1, 2 e 3

1. As teorias que denominamos de consequencialistas referem-se a teorias que


defendem que o valor moral das ações depende unicamente das
consequências que delas possam resultar. A nossa ação é útil na medida em
que dela resulte o prazer ou a felicidade para o maior número de pessoas.
Assim, se as consequências/efeitos dos nossos atos contribuam para a
infelicidade ou dor para o maior número de pessoas, o valor moral dessa ação é
considerada nula – são considerados atos incorretos.

2. A perspetiva ético-moral defendida por Stuart-Mill difere das teorias deontológicas


(defendida por I. Kant) uma vez que estas últimas tendem a considerar que agir
moralmente bem consiste em cumprir o dever pelo dever, ou seja, fazem depender o valor
moral das ações das intenções do agente, desconsiderando os efeitos ou consequências
que resultem das nossas ações (uma vez que são imprevisíveis). Por oposição, as teorias
utilitaristas ou consequencialistas defendem que agir moralmente consiste em optar
sempre pelas ações que previsivelmente proporcionem maior bem-estar/prazer ou a
ausência de infelicidade ou dor para o maior número de pessoas.
Exercícios de Consolidação
Pág. 121 – Exs: 1, 2 e 3

3. Segundo Mill, a utilidade é o que torna uma ação moralmente valiosa. O critério
da moralidade de um ato é o princípio de utilidade ou da maior felicidade. Este
princípio é o teste da moralidade das ações. Uma ação deve ser realizada se e só
se dela resultar a máxima felicidade possível para as pessoas ou as partes que por
ela são afetadas. A ideia central do utilitarismo é a de que devemos agir de modo
que da nossa ação resulte a maior felicidade ou bem-estar possível para as
pessoas por ela afetadas. Uma ação boa é a que é mais útil, ou seja, a que produz
mais felicidade global ou, dadas as circunstâncias, menos infelicidade ou dor.
Quando não é possível produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a
infelicidade. Assim, de acordo com a perspetiva de Stuart-Mill importa apenas as
consequências/efeitos das nossas ações, ou seja, o momento de deliberação é uma
das etapas fundamentais, como condição necessária, para definir o valor da
moralidade das nossas ações, desvalorizando as intenções ou os motivos que
influenciam/determinam os nossos atos.
O Princípio da
Imparcialidade
- O que significa? -

«O padrão utilitarista não é a maior felicidade do próprio agente,


mas a maior porção de felicidade no todo. (…) A felicidade que
constitui o padrão utilitarista do que está correto na conduta não é a
própria felicidade do agente, mas a de todos os envolvidos (…). O
utilitarismo exige que o agente seja tão estritamente imparcial
entre a sua própria felicidade e a dos outros como um espetador
desinteressado e benevolente. »
John Stuart Mill, Utilitarismo, Areal Editores, 2005, Porto, p.56 e 63-64 (adaptado)
Não se trata apenas da felicidade do agente, mas
de todas as pessoas implicadas na ação – ou do
maior número possível, se for impossível ter em
conta todas. O agente deve ter em conta a sua
felicidade, mas não lhe deve dar mais importância do
que à dos outros. A felicidade de cada um dos
indivíduos deve contar da mesma maneira. Por isso,
O Princípio da ao avaliar se uma ação é moralmente boa ou má,
Imparcialidade deve calcular-se de modo imparcial e não
tendencioso a felicidade é previsível ela produzir.

• A exigência de uma ponderação imparcial, isto


é, que se dê igual importância aos seus
interesses próprios e aos de todos os outros
que serão afetados pela sua ação;
«Quando se trata de decidir o que é moralmente correto fazer, não deve ter em conta
somente o seu bem-estar [tendência egoísta]. Deve ponderar sobretudo que
consequências a sua ação vai ter no bem-estar de todas as pessoas. E quando me
refiro a outras pessoas não abro exceções para as de que mais gosta, para familiares
e amigos seus. Deve ser imparcial quando delibera o que vai fazer.»

A felicidade de quem?
• A felicidade que Stuart-Mill defende é a felicidade do maior n.º de pessoas, ou
seja, o utilitarismo não defende a felicidade individual (de quem pratica a
ação/agente);

• Promover a felicidade é ir para além das relações sociais que estabeleço – é


não abrir exceções para quem mais gostamos – todos os indivíduos mesmo
aqueles que não conheço são importantes;

• A nossa ação é imparcial – a minha felicidade é tão importante como a


felicidade dos outros.
O padrão de imparcialidade de que se socorre o
utilitarismo diz-nos que ninguém é superior a
ninguém, que todos contamos da mesma maneira
e que quando dizemos «todos» incluímos nós
próprios: um igual entre iguais. A quantidade de
felicidade criada será aferida tendo em conta todos

O Princípio da
os afetados pela nossa ação. A máxima felicidade
possível corresponderá o maior bem para o maior

Imparcialidade
número. Se for isto o que procuramos promover
quando agimos, então a nossa ação será
moralmente correta.

Assim, a teoria ética defendida pelo utilitarismo como


uma forma de altruísmo ético visando tornar os seres
humanos mais solidários e empenhados na
construção de uma sociedade mais feliz.
Definição de Felicidade
Segundo Stuart Mill, uma boa ação, ou uma ação com valor moral são
aquelas que têm como finalidade última (telos) a promoção da felicidade
(que é um valor universal).

• A felicidade identifica-se com o estado de prazer e de ausência de dor


ou sofrimento.

• As ações que dão origem ao sofrimento ou à privação do prazer não


são úteis, porque não trazem qualquer benefício.
O que traz mais
felicidade, ler um livro
• O que se entende por felicidade? ou ajudar um amigo em
• Será que podemos definir o que é a dificuldade?
felicidade ou medir e hierarquizar os Há maior prazer em dar
prazeres? ou em receber?
Para Mill, a felicidade consiste no prazer – e o que importa neste
é a qualidade dos prazeres e não a apenas a sua quantidade.

De acordo com Mill, os prazeres não são todos iguais e, por isso, alguns
proporcionam mais felicidade do que outros. Distinguindo
qualitativamente os prazeres: em prazeres superiores e prazeres
inferiores.

Embora os prazeres inferiores possam ser mais fáceis de obter e mais


intensos que os prazeres superiores, estes são preferíveis devido à sua
natureza ou qualidade – e, portanto, proporcionam a um ser humano
(um ser racional e não apenas animal) uma maior felicidade.

• O Hedonismo de Stuart Mill é qualitativo e não quantitativo (apenas


valorizando o número de pessoas afetadas pela ação).
De que tipo de Felicidade se trata?

• Qual a natureza da felicidade identificada com o prazer?


• Que prazeres, segundo Mill, promovem a felicidade?

Para Mill, para além da perspetiva quantitativa dos prazeres (a intensidade e a


duração dos prazeres) – quanto mais os prazeres forem prolongados e intensos
serão melhores, do mesmo modo que se o sofrimento/dor for prolongado e intenso
serão piores – S. Mill considera que é igualmente importante atender às qualidades
dos prazeres:

Para Stuart-Mill é importante distinguir tipos de prazeres:

Prazeres Prazeres
Superiores Inferiores
Prazeres Superiores Prazeres inferiores O Homem, ser
racional, é capaz de
Os prazeres sentir felicidade com
superiores ou prazeres
espirituais/intelectuais Os prazeres intelectuais, sendo
relativos às inferiores ou estes, segundo S. Mill,
os que proporcionam
faculdades sensoriais/corporais
felicidade aos seres
intelectuais, à estão ligados ao humanos.
imaginação e aos corpo, provenientes os prazeres
sentimentos morais. das sensações, mais espirituais são mais
São potenciadores de precisamente, às valiosos/superiores
bons sentimentos necessidades aos corporais.
morais (como a
físicas/biológicas.
generosidade, a
honradez, o bom
caráter). Permitem a Satisfazer os
realização plena do instintos é próprio
ser humano. dos animais.
Como se justifica a superioridade dos prazeres superiores
face aos prazeres inferiores?

Segundo Mill, os prazeres superiores satisfazem melhor a natureza


de um ser racional, que é capaz de pensar, refletir, raciocinar,
imaginar e falar (as «faculdades mais elevadas») e não apenas de
sentir, como os animais não racionais (que apenas sentem e agem
por impulso, instintos e reação…).
O ser humano não concebe a felicidade em termos puramente
físicos e é de tal modo exigente que nunca se sente
completamente satisfeito – assim, é preferível uma vida em que
tenhamos a consciência e a possibilidade de usufruir de prazeres
superiores que apenas a satisfação de prazeres inferiores.
«Os seres humanos têm faculdades mais elevadas do que os
apetites animais e, uma vez que se tenham tornado conscientes
delas, não consideram como felicidade nada que não inclua a sua
satisfação. (…) Um ser de faculdades mais elevadas necessita de
mais para ser feliz. (…) É melhor ser um homem insatisfeito que
um porco satisfeito, é melhor ser Sócrates insatisfeito que um
louco satisfeito. (…) Por debilidade de caráter, os Homens
decidem-se muita vezes pelo bem mais próximo, ainda que
sabendo que é menos valioso; e isto tanto quando a escolha se faz
entre dois prazeres corporais, como quando se faz entre o corporal
e o intelectual.»
John Stuart-Mill, Utilitarismo, Areal Editores, 2005, Porto, pp.47-49
Os animais caracterizam-se por:

Fernando Pessoa • Agir por instinto;


Gato que brincas na rua • A sua ação rege-se pelo instinto, pela inconsciência e
irracionalidade.
Gato que brincas na rua • Vive só por viver, sem saber por que vive, limitando-se
Como se fosse na cama, apenas a sentir.
Invejo a sorte que é tua • Vive de acordo com as leis da natureza.
Porque nem sorte se chama. • Não se questiona, nem reconhece a «sorte que tem».
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes, Os Homens:
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes. • Raciocina, é consciente e pensa;
És feliz porque és assim, • É dominado pela racionalização, em busca permanente de
Todo o nada que és é teu. autoconhecimento;
Eu vejo-me e estou sem mim,
• Tem consciência da felicidade e da dor que sente;
Conheço-me e não sou eu.
• Concretiza a sua natureza humana a partir de inclinações
superiores (traça objetivos, cumpre desejos superiores,
etc).
• Inteligência, instrução, conhecimento, sentimentos são capacidades
superiores dos seres humanos;
• As capacidades superiores são mais importantes do que os instintos;
• Satisfazer os instintos é próprio dos animais;
• Os seres humanos são mais exigentes e são poucos os que se sentem
felizes só com o prazer é próprio dos animais (satisfação de necessidades
básicas);
• Somente a satisfação dos prazeres intelectuais e espirituais proporciona
felicidade aos seres humanos.

Ou seja, Mill defende, a partir do excerto, a ideia de que os prazeres espirituais são
mais valiosos do que os prazeres sensíveis, de tal modo que muito poucas pessoas
consentiriam que as convertessem em alguns dos animais inferiores em troca de um
gozo total de todos os prazeres bestiais.
Stuart-Mill afirma que a felicidade a que o utilitarismo faz referência se
define não apenas em termos de quantidade, mas também de qualidade.

Mill afirma assim o sentido de dignidade humana.

O princípio da «maior felicidade», demarca o agir ético da mera


sensibilidade, isto é, da satisfação imediata dos apetites que o corpo impõe
(prazeres inferiores), visto que no momento de deliberação, o agente deve
elencar as consequências previsíveis da ação tendo em atenção não
apenas a duração e intensidade dos prazeres que se procuram promover (a
sua quantidade), mas também e, sobretudo, a sua qualidade. Assim, as
ações dos agentes não podem implicar cegueira moral ou defesa dos atos
moralmente repugnantes.
Ações moralmente corretas Ações moralmente incorretas

• Respeitam o princípio da utilidade


• Não respeitam o princípio da
ou da maior felicidade;
utilidade ou maior felicidade;
• Têm boas consequências, as
• Trazem más consequências para os
melhores consequências possíveis,
indivíduos, dadas as circunstâncias;
atendendo às circunstâncias;
• Não maximizam a felicidade geral
• Permitem, de uma forma imparcial,
ou até se traduzem nos piores
maximizar o prazer ou a felicidade
resultados;
geral, levando ao maior bem-estar
total; • Levam à infelicidade ou não
beneficiam o maior número
• Beneficiam o maior número
possível de indivíduos.
possível de indivíduos por elas
afetados.
Ex: Mentir para salvar a vida de vinte Ex: Mentir, prejudicando a vida de várias pessoas
pessoas, não prejudicando ninguém. e apenas beneficiando aquele que mente.
Exercícios de Consolidação

4. Mill tem uma conceção quantitativa da felicidade?

5. A ética utilitarista sobrevaloriza a felicidade geral ao


ponto de não atribuir a menor importância à felicidade
individual. Esta afirmação é correta? Justifique.
Deveres Absolutos

Princípios Secundários
Deveres Absolutos
Como vimos anteriormente, Stuart Mill não defende a existência de deveres
absolutos como Kant (não roubar, não matar ou não mentir). No entanto, o
filósofo considera que as normas morais que proíbem o roubo, o assassinato ou
a mentira têm valor, visto que são normas intemporais e justificadas. No entanto,
para o pensador estas normas não são imperativos absolutos pelas quais as
nossas ações se devem basear.

Dizer a verdade é um ato normalmente mais útil que prejudicial e por isso a
norma «não deves mentir» sobreviveu ao teste do tempo. Mas há situações em
que não respeitar absolutamente uma determinada norma moral e seguir o
princípio da utilidade terá melhores consequências do que respeitá-las.
Resolve os conflitos morais entre princípios/máximas morais da ética Kantiana.
Deveres Absolutos
Segundo Mill, em geral, matar, roubar e mentir são ações moralmente incorretas, pois é
mais habitual provocarem infelicidade do que felicidade. Em geral, ajudar quem precisa é uma
ação moralmente correta, na medida em que o mais usual é provocar felicidade e não
infelicidade. Porém, pode haver circunstâncias em que roubar ou mentir provoquem mais
felicidade do que infelicidade e em que ajudar quem precisa provoque mais infelicidade do
que felicidade – e nesse caso roubar ou mentir será moralmente correto.

• Recuperando agora o caso proposto por Kant, para o utilitarismo, se dizer a verdade a uma
assassino acerca do paradeiro de uma pessoa que este persegue trouxer mais infelicidade
do que felicidade para a generalidade dos envolvidos, então é correto mentir.

• Do mesmo modo, se roubar comida, quando não há nenhuma alternativa, permitir


salvar a vida de alguém, então é correto roubar.

Tudo depende das consequências, isto e, da quantidade de felicidade e infelicidade geradas


pelas ações.
O princípio da maior felicidade é um padrão que indica o que torna as ações
moralmente corretas ou incorretas, e não o podemos confundir com um guia
específico na tomada de decisões. Se o tentássemos aplicar constantemente,
seríamos confrontados com dificuldades de cálculo que nos deixariam
praticamente paralisados, o que acabaria por comprometer a promoção da
felicidade geral.

Deste modo, Mill defende que nos devemos guiar, sobretudo, pelas regras da
moralidade comum – por exemplo, não devemos roubar, não devemos torturar
ou não devemos quebrar promessas, mas também a partir de princípios que
denomina de princípios secundários/subordinados, de fácil aplicação, que
normalmente conduzem a boas consequências, promovendo o bem-estar geral,
e que resultaram, em grande medida, da influência do padrão utilitarista ou da
maior felicidade.
Princípios Secundários

Será que um utilitarista tem de fazer todas as escolhas a pensar constantemente


no Princípio da Maior Felicidade, em aumentar a felicidade geral, sem se guiar por
outros princípios?

Mill tem consciência da dificuldade do ser humano em viver guiando-se pelo Princípio da
Maior Felicidade, por um lado não conseguimos estar sempre motivados para promover
a felicidade imparcialmente o bem-estar e, por outro lado, temos uma tendência natural
para dar maior importância à nossa felicidade em prol dos outros. E ainda, a dificuldade
que o ser humano tem em prever as consequências de muitos dos seus atos. Deste
modo, Stuart-Mill argumenta que um utilitarista deverá guiar-se por princípios
secundários.
Princípios Secundários

• Devemos respeitar os compromissos que assumimos;


• Não devemos maltratar inocentes;
• Devemos compensar as pessoas em função do mérito;
• Não devemos tirar aos outros aquilo que lhes pertence.

Estes são bastante fáceis de aplicar, e a experiência mostra que conduzem


geralmente a boas consequências. Contribuiremos mais para a felicidade
geral se seguirmos princípios como estes em vez de tentarmos usar
diretamente o Princípio da Maior Felicidade. Este último serve sobretudo para
identificar os princípios secundários morais/corretos.
Exercícios de Consolidação

1. Para Mill há deveres absolutos?

2. Por que razão o princípio de utilidade é superior às normas morais vigentes?


As normas morais convencionais nada valem?

3. O utilitarismo é uma avaliação meramente quantitativa da moralidade das


ações?

4. Quando confrontado com uma situação em que tem de mentir para salvar a
vida de uma pessoa, como agiria um utilitarista?
Exercícios de Consolidação
Pág. 123

1. Não. Para o utilitarista as ações são moralmente corretas ou incorretas conforme as consequências: se
promovem imparcialmente o bem-estar são boas. Isto quer dizer que não há ações intrinsecamente
boas. Só as consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres
que devam ser respeitados sempre e em todas as circunstâncias. Se, para a ética kantiana, alguns
atos como matar, roubar ou mentir são absolutamente proibidos mesmo que as consequências sejam
boas, para Mill justifica-se, por vezes, não respeitar um dever em prol da felicidade geral.

2. As normas morais comuns estão em vigor em muitas sociedades por alguma razão. Resistiram À prova
do tempo e em muitas situações fazemos bem em segui-las nas nossas decisões. Contudo, não devem
ser seguidas cegamente. Nas nossas decisões morais devemos ser guiados pelo princípio de utilidade
e não pelas normas ou convenções socialmente estabelecidas. Dizer a verdade é um ato normalmente
mais útil do que prejudicial, e por isso a norma «não deves mentir» sobreviveu ao teste do tempo.
Segui-la é respeitar a experiência de séculos da humanidade. Mas há situações como e que não
respeitar absolutamente uma determinada norma moral e seguir o princípio de utilidade terá
melhores consequências globais do que espeitá-la.
Exercícios de Consolidação
Pág. 123

3. Não. Parece que o princípio utilitarista «A maior felicidade par ao maior número» aponta para
essa convicção, no entanto, este princípio da «maior felicidade» embora exija ponderação na
avaliação das melhores consequências, não implica cegueira moral nem a defesa de atos
moralmente repugnantes. A avaliação da moralidade das consequências da ação não é, em Mill,
puramente quantitativa mas também qualitativa, de acordo com a distinção entre prazeres
superiores e prazeres inferiores.

4. O utilitarista resolveria esta situação optando por mentir e provavelmente salvar a vida de uma
pessoa. Mentir e provavelmente salvar a vida de uma pessoa causará menor dor ou sofrimento
(neste caso, para a pessoa em fuga, os seus familiares e amigos) do que dizer a verdade e colocar
em causa a vida dessa pessoa.
De acordo c/ a perspetiva ética de Mill:

Mill considera que existe um poderoso sentimento natural e será este a constituir a força da
moralidade utilitarista, logo que a felicidade geral seja reconhecida como o padrão ético. Este
fundamento firme consiste nos sentimentos sociais da humanidade, no desejo de estar unido
aos semelhantes e em harmonia com eles. Existe, portanto, uma sociabilidade natural dos seres
humanos, um sentimento social natural que nos leva à cooperação mútua. A desejar que os
nossos interesses se encontrem em harmonia com os dos nossos semelhantes. Ter em conta
cada vez mais os interesses dos Outros leva-nos a descobrir que a nossa vida é também
cada vez melhor para nós próprios e que seria prejudicial não ter em conta o bem-estar
geral. Adotar o princípio da maior felicidade implica a escolha racional e imparcial das possíveis
ações que promovem o melhor para todos.

Este sentimento natural – que constitui, segundo a convicção dos mais esclarecidos e
conscientes, um sentimento desejável para todos - pode estar desenvolvido com intensidades
diferentes consoante o grau de desenvolvimento espiritual em que o indivíduo se encontra,
podendo ser reforçado e alargado com os progressos da civilização. Mill acredita que o
progresso do espírito humano é a chave para encontrar a verdadeira felicidade.
Principais críticas à perspetiva ético-moral
de Stuart-Mill
Para o utilitarista, na perspetiva dos seus críticos, uma pessoa
O utilitarismo justifica a pode desrespeitar uma das regras morais básicas, como a
prática de ações imorais. regra de «não roubar» ou a de «não mentir», e, ainda assim,
agir moralmente, desde que essa ação proporcione uma maior
quantidade de felicidade a um número de pessoas maior do
que as pessoas a quem provocou dor ou sofrimento.

À luz do utilitarismo, se, por exemplo, pudermos provar que a


punição de alguém que nada teve a ver com um conflito social
permite pôr fim a esses mesmo conflito, na condição
naturalmente de os seus intervenientes acreditarem ser essa
pessoa a verdadeira culpada, essa punição será uma ação
correta.

Assim, a ideia se sacrificar um inocente, que pode ser


qualquer um de nós, que “passa na hora errada no lugar
errado”, parece repugnar o nosso sentido intuitivo de justiça.
Uma tal opção parece-nos moralmente inaceitável.
O utilitarismo não distingue os familiares e amigos na
O utilitarismo é promoção da felicidade. Torna-se difícil agir em todas as
situações de modo a promover a felicidade sem atender
excessivamente imparcial àquilo que a pessoa é, porque não nos comportamos da
(afeta/fragiliza a dimensão mesma forma em relação aos nossos amigos e familiares
psicológica e social) como com estranhos. Sentimos necessariamente uma maior
afetividade pelos nossos familiares e amigos do que por
estranhos, em parte porque também a nossa responsabilidade
e os nossos deveres em relação aos nossos familiares e
amigos são diferentes.

Neste sentido, Stuart-Mill diz-nos que decidir corretamente


implica atribuir o mesmo peso aos interesses e motivação de
familiares e amigos e aos de estranhos.

Se agirmos sempre de forma imparcial, o mais certo era


acabar por destruir as relações pessoais que mantemos com
quem mais gostamos.
O utilitarismo, por se opor ao egoísmo e prescrever a
imparcialidade, coloca-nos na situação de termos de estar
O utilitarismo exige
permanentemente preocupados com a felicidade geral,
demasiado do agente
moral em que os nossos projetos pessoais e familiares deverão
ser sacrificados para que nos possamos dedicar a tudo
fazer para ajudar os mais necessitados.

Poderemos nós, no entanto, ser felizes, sacrificando


permanentemente aquilo de que gostamos?

• À luz do utilitarismo, teremos de viver a toda a hora com


remorsos, sempre que compramos alguma coisa para
nós e não doamos, por exemplo, o dinheiro usado nessa
compra a uma instituição de solidariedade social?
Outras críticas

• Um dos aspetos mais controversos é o de saber até que ponto


os «fins justificam os meios», isto é, se os direitos
fundamentais do indivíduo, como por exemplo, o direito à vida,
ou à liberdade (mesmo o direito a ter projetos individuais de
realização pessoal), devem ser sacrificados em nome da
maximização do bem estar de muitos.

• Dificuldade em medir as consequências ou a impossibilidade


de prever todas as consequências, bem como definir o
conceito de felicidade;
• O utilitarismo é um consequencialismo porque propõe a utilidade ou as
consequências previsíveis da ação como critério de moralidade;

• O Principio da Utilidade ou da Maior Felicidade é o único critério de


moralidade pois «o prazer e a ausência de dor (a que os utilitaristas
chamam de felicidade) são as únicas coisas desejáveis como fins;

• Uma ação é boa quando contribui para a felicidade do maior n.º de


pessoas, por isso, temos a obrigação moral de agir de modo a produzir os
melhores benefícios para o maior número;
Em síntese…
• O utilitarismo de S. Mill distingue entre prazeres físicos e prazeres
espirituais. Os prazeres espirituais, ligados à inteligência, ao
conhecimento e à consciência são os mais valiosos e, por isso, produzem
mais felicidade;

• A educação deve desenvolver e fortalecer o sentimento de união à


comunidade, levando os indivíduos a adotar como regra orientadora da
sua ação moral a divisa cristã «fazer como querias que fizessem contigo e
amar ao teu próximo como a ti mesmo» (S. Mill), pois esta regra sintetiza
«todo o espírito da ética da utilidade».

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