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AMOR À CIÊNCIA
ensaios sobre o materialismo darwiniano
ISBN 978-85-396-1313-7
Bibliografia
ISBN 978-85-396-1313-7
17-590s CDD-501
576
576.82
146.3
BISAC SCI075000
PHI031000
Nota do editor, 7
Agradecimentos, 9
Prólogo, 11
Epílogo, 103
Bibliografia, 107
Nota do editor
Agradecimentos
Prólogo
11
1 Sobre o futuro desse método, chamado peer-review, cruciais observações podem ser
encontradas em https://blogs.scientificamerican.com/observations/the-future-of-
peer-review/. Acesso em 14-08-2017.
O que é materialismo
darwiniano
15
Charada
Não demorou para que a importância da seleção lhe
parecesse cabalmente comprovada, mediante observações e
enquetes sobre os procedimentos de domesticação de plantas
e animais. Mas a charada da eventual aplicação desse concei
to a organismos que vivem em estado natural só foi solucio
nada quinze meses depois de ter começado suas anotações.
Em sete dias, de 27 de setembro a 3 de outubro de 1838,
sucedeu-lhe ler – para se distrair – uma obra que quarenta
anos antes fora anonimamente publicada: Um ensaio sobre
o princípio de população.
Deve-se, com certeza, à sexta edição dessa tão malhada
obra do pai da demografia, Thomas Robert Malthus, o estalo
que deu a Darwin um esquema teórico com o qual trabalhar:
a inferência de que, no processo de formação e evolução das
espécies, variações favoráveis à sobrevivência dos organis
mos tendem a ser preservadas, enquanto as desfavoráveis
vão sendo eliminadas.
Essa também parece ter sido a fonte que paralelamen
te iluminou o outro descobridor da seleção natural: Alfred
Russell Wallace. Ele chegou a dizer, em livro publicado
em 1905 como um registro de fatos e opiniões, que não lhe
parecia ter sido outra a leitura mais crucial de sua vida. O
tempo que passara na biblioteca de Leicester, como professor
de uma pequena escola local, teria sido o mais importante de
sua juventude.
Merece muita atenção, portanto, essa conexão entre
a teoria da seleção natural e a desmentida tese de Malthus.
Inclusive porque é motivo de um gigantesco mal-enten
dido, ainda bastante em voga entre marxistas, mas não só.
Pois taxar de malthusiano o núcleo da teoria darwiniana é
um disparate, que no caso de Karl Marx até pode ser atribuí
do ao fato de logo ter se alarmado diante das repercussões
3 Também editada em português com o título A origem do homem. Mesmo que possa
ser duvidosa a tradução de descent como descendência, este é um daqueles casos em
que a emenda fica bem pior que o soneto. Por isso, neste texto, a primeira grande
obra de Darwin é referida como A origem, e a segunda como A descendência.
Outra charada
No entanto, ansioso por evitar preconceitos, primeiro
decidiu não redigir sequer um esboço dessa sua teoria inicial
6 “Important as the struggle for existence has been and even still is, yet as far as the
highest part of man’s nature is concerned there are other agencies more important.
For the moral qualities are advanced, either directly or indirectly, much more through
the effects of habit, the reasoning powers, instruction, religion, etc., than through
natural selection; though to this latter agency the social instincts, which afforded the
basis for the development of the moral sense, may be safely attributed.” (Darwin,
2013 [c. 1871], p. 646).
Antropologia darwiniana
Justiça seja feita, ninguém parece ter se empenhado mais
e melhor em realçar a existência desse princípio fundamental
de uma antropologia darwiniana do que o historiador e teo
rizador das ciências, fundador do Instituto Charles Darwin
Internacional, diretor de um dicionário do darwinismo e da
evolução, e autor de inúmeros trabalhos sobre o tema: o pro
fessor francês Patrick Tort.9
Ele conta que nos anos 1970 começou a se interessar pela
obra de Darwin ao estudar as ideologias do século XVIII sobre
o progresso, o que forçosamente o levou a discutir também
a ideia de evolução. Mas que foi somente em 1980, dando
10 Que pressupõe a controversa seleção de grupo, questão que será abordada nos pró
ximos capítulos.
11 Compare-se, por exemplo, o excelente livro Violence and Social Orders, de 2009,
que teve como principal autor o prêmio Nobel de economia Douglass North, ao
best-seller lançado dois anos depois pelo expoente da psicologia evolucionista
Steven Pinker, Os anjos bons de nossa natureza.
12 “A full account of human behavior would begin by asking how the mind deals
with the process of change. A necessary preliminary is to understand how the brain
interprets signals received by the senses and how the mind structures the result into
coherent beliefs.” (North et al., 2009, p. 251).
Consciência e cérebro
Não procede qualquer analogia entre o cérebro e um
computador, que funciona pelo uso de lógica e aritmética em
curtíssimos intervalos regulados por um relógio, e só recebe
como insumos sinais sem ambiguidade. Os receptores senso
riais do cérebro, bem ao contrário, não são tão organizados e
também lidam com categorias nem um pouco prescritas. Além
disso, ao se desenvolverem, as correntes neurais são marcadas
por variadas experiências individuais, o que torna os cérebros
tão diversos quanto as impressões digitais. São muito diferen
tes, mesmo quando se compara os de dois gêmeos idênticos.
Tamanha variabilidade já poderia, por si só, remeter à
necessidade de que análises sobre o cérebro se servissem de
um pensamento populacional, como o de Darwin. Mas foi um
outro motivo que levou Edelman a esse tipo de abordagem.
Ele havia recebido o prêmio Nobel por resultados obti
dos em pesquisas sobre a estrutura e natureza química dos
anticorpos, para as quais gerou uma mudança de paradigmas.
13 Para isso, Tort se refere aos trabalhos do bioquímico espanhol Faustino Cordón (dis
poníveis em http://faustinocordon.org/. Acesso em 03-08-2017) e organizados e
desenvolvidos, em livro de 2014, por seu discípulo Chomin Cunchillos (que, para
dizer o mínimo, nada tem de didático.)
14 Depois de obter o prêmio Nobel de fisiologia e medicina de 1972, dedicou-se por
mais de trinta anos à relação entre consciência e cérebro. Sua teoria intitulada darwi
nismo neural (ou TNGS: theory of neuronal group selection) começou a ser publica
da em 1978. De todos os seus trabalhos posteriores o mais amigável parece ser o livro
Second Nature: Brain Science and Human Knowledge, de 2006.
15 Neurônios que “fire together” tendem a “wire together” desde o feto. Ou seja, neu
rônios disparados/acionados simultaneamente acabam se conectando fisicamente.
Se seus “firing patterns” estiverem temporariamente correlacionados, dois neurônios
terão conexões sinápticas por mais distantes que possam estar. Esse é o primeiro dos
três “tenets” da teoria de Edelman sobre o cérebro. Os outros dois, que estão sinteti
zados nas páginas 27-28 de Edelman (2006) não parecem indispensáveis para que se
entenda o sentido geral de sua abordagem cerebral.
Genética cerebral
O hormônio neural denominado oxitocina, também
conhecido como hormônio da confiança, é sintetizado no
hipotálamo e dali distribuído tanto para o cérebro quanto
para o restante do corpo, com funções diferentes. No corpo,
a oxitocina é liberada quando uma mulher dá à luz e quando
amamenta. No cérebro, possui uma gama de efeitos sutis que
só agora começam a ser explorados. Mas já se pode afirmar
que foi cooptada no curso da evolução por desempenhar
papel central na coesão social.
Trata-se de um hormônio de afiliação. Amortece a des
confiança que se costuma sentir em relação a estranhos e
promove sentimento de solidariedade. Mas é um fenômeno
Quatro vetores
O materialismo darwiniano é a postura científica que,
além de excluir qualquer influência sobrenatural, entende
a evolução dos seres vivos basicamente como resultante de
Darwinismo e
humanidades
35
Sociobiologia humana
No que se refere mais especificamente à sociobiologia
humana, um ótimo relato de sua ascensão e queda está no
capítulo 18 do livro de Edward O. Wilson (2013, p. 202-213),
A conquista social da Terra. Conta que, em meados dos anos
1960, tanto se entusiasmara com a hipótese de seleção de
parentesco, que lhe dera posição de destaque em três livros
da década seguinte: The Insect Societies (1971), Sociobiology: The
New Synthesis (1975) e Da natureza humana (1978). Porém, mu-
dou inteiramente de posição a partir do início dos anos 1990,
quando evidências contrárias a essa hipótese, assim como
indícios substanciais favoráveis à hipótese de seleção de gru-
po, mostraram-lhe que os “altruístas hereditários formam
grupos (...) cooperativos e bem organizados a fim de superar
grupos não altruístas competitivos” (Wilson 2013, p. 203).
61
1 A perspectiva aqui adotada, que tem por referências essenciais Wagner (2002) e
Laugier (2002), não adere, portanto, à ideia bem mais genérica de epistemologia
como reflexão sobre o conhecimento.
4 Ver Wendt (2015). Na página 293, lemos: “I want to conclude with a bold claim:
whatever their current force as explanatory virtues, the coherence, breadth, and
simplicity of the quantum hypothesis make it too elegant not to be true.” [Quero con-
cluir com uma enfática declaração: sejam quais forem suas virtudes explicativas, a
coerência, o alcance e a simplicidade da hipótese quântica fazem com que ela seja
elegante demais para não ser verdadeira.] Ver também Riche (2012).
5 Ver (Wendt, 2015, p. 31): “Panpsychism takes a known effect at the macroscopic level
– that we are conscious – and scales it downward to the sub-atomic level, meaning
that matter is intrinsically minded. With this principle of Fundamental Mentality
panpsychism opposes not only materialism but also idealism and dualism. […]
Mind and matter constitute a duality, not a dualism, one that I will argue emerges
form an underlying reality that is neither mental or material (a view known as neutral
monism).”
8 “Given the still nascent status of quantum cognition research, it is important to note
that it differs from the approaches which treat (parts of) the brain literally as material
quantum systems or a quantum computer (e.g., Hameroff & Penrose). In contrast,
our approach applies abstract, mathematical principles of quantum theory to inquiries
in cognitive science”. [Dado o estágio ainda incipiente da pesquisa sobre cognição
quântica, é importante notar que ela difere das abordagens que literalmente tratam o
cérebro (ou partes dele) como sistemas quânticos ou como um computador quântico
(Hameroff & Penrose, por exemplo). Em contraste, nossa abordagem aplica princípios
matemáticos abstratos da teoria quântica para investigações em ciência cognitiva.]
(Wang et al., 2013, p. 673).
Aproximação epistemológica
É comum que a principal divisão entre as ciências seja
a que opõe as da natureza às demais. Alguns até exageram
ao considerar que existam apenas ciências exatas e ciências
do homem (Parrochia, 1997). Melhores abordagens costu-
mam distinguir, no interior das “da natureza”, ao menos
os domínios do vivo e da matéria inorgânica, separando as
12 Embora seja farta a literatura sobre essa questão, as principais referências só podem
ser os trabalhos de Jablonka & Lamb (2005 e 2007).
14 Vale lembrar que, a partir de 1908, Veblen foi levado a retirar o termo evolução do
subtítulo de sua Teoria da Classe Ociosa, e que nos anos 1930 seus discípulos lançaram
explícitas rejeições ao darwinismo.
À guisa de conclusão
Esta seção seria até dispensável se este capítulo não con-
tivesse uma ambiguidade que agora pode ser desfeita, e se
não fosse necessário mencionar implicações teóricas que serão
abordadas no quarto ensaio.
A ambiguidade se refere ao uso indistinto das variações
terminológicas materialismo darwiniano e darwinismo, além
15 “.. a heroic triumph of ideological theory over common sense (…) I would be willing
to bet that the present right-thinking consensus will come to seem laughable in a
generation or two” (Nagel, 2012, p. 128).
Dialética, complexidade
e emergência
85
1 Essa foi a conclusão a que chegou, por exemplo, o alemão Wolfgang Röd, em ca-
pítulo de “resumo e perspectivas”, redigido em 1984 para as edições espanhola e
brasileira do livro Filosofia Dialética Moderna (Röd, 1984, p. 371).
2 É quase certo que desista quem resolver começar por algum dos livros desta misce-
lânea: Lukács (2003), Lefebvre (1983), Merleau-Ponty (2006), Prado Jr. (1959), Sartre
(2002), Kosik (1977), Havemann (1967), Mészáros (2006 e 2002), Coutinho (1972),
Guindey (1976), Konder (1981 e 1992), Bruaire (1993), Malagodi (1988), Bhaskar
(1993), Arantes (1992 e 1996), Martins (1996), Ruy Fausto [c. 1997], Oliveira (1999),
Giannotti (2000), Ollman (2003), Oliveira (2004), Brum Torres (2004) e Sampaio &
Frederico (2006).
3 Para ir além do pouco que será dito mais adiante, o leitor poderá optar por uma
outra cesta, quase tão numerosa, e ainda mais heterogênea que a primeira: Foulquié
(1953), Bobbio (1982, 2006), Levins & Lewontin (1985), Balibar (2001), Cirne-Lima
(1996, 2002, 2003 e 2004), Bensaïd (1999), Bitsakis (1997 e 2001), Lewontin (2002),
Sève (1998, 2004 e 2005), Foster (2005), Carandini (2005), Guespin-Michel & Ripoll
(2005), além de Karl Marx (2006), é claro.
A grande diferença
Isso não quer dizer, contudo, que o pensamento dialé-
tico encontrado no âmbito científico possa ser independente
daquele que foi utilizado por Hegel ou Marx. Ideias essenciais
desses dois grandes pensadores são facilmente reconhecidas
nas formulações de cientistas que se interessam pela dialética,
mesmo que por eles desconhecidas.
A grande diferença é a que vem da reflexão sobre resul-
tados de pesquisas – em vez de perfunctórias especulações
filosóficas – a insatisfação desses cientistas com a maneira de
pensar da tradição que mais se opõe à dialética e que costuma
ser qualificada de analítica. Aliás, é até difícil imaginar quais
cientistas poderiam ser atraídos pela filosofia analítica. Sua
principal interrogação é: como uma proposição tem signifi-
cado? Que todo exercício racional consistente deva começar
com uma análise da proposição é uma verdade tão verda-
deira que nem necessita ser provada. O problema só começa,
portanto, quando os pensadores dessa tradição assumem que
toda e qualquer filosofia sólida se encerra na análise da pro-
posição, em vez de por ela apenas começar.4
Pode-se supor, então, que grande parte dos cientistas
levados a se indagar sobre sua própria maneira de racioci-
nar – ou sobre a dobradinha ceticismo/racionalidade exigi-
da por suas práticas de pesquisa – acabam por procurar algo
equivalente ao agnosticismo no tocante à religião. Ou seja,
tendem a preferir uma espécie de terceira via, de radical
4 Essa é uma observação de Bertrand Russell (1968) sobre a tradição analítica, cujos
primeiros expoentes foram o alemão Gottlob Frege (1848-1925), o britânico George
Edward Moore (1873-1958) e o austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Mas
merece destaque o Círculo de Viena – movimento também conhecido como positi-
vismo lógico, ou empirismo lógico – sob a liderança de Moritz Schlick (1882-1936) e
de Rudolf Carnap (1891-1970). Ou mesmo a Escola de Oxford, nome informal de um
grupo de filósofos que, entre os anos 1930-1950, realizaram grande esforço de análise
da linguagem ordinária, mediante esclarecimento de significado. Excelente introdu
ção às concepções de todos esses filósofos pode ser encontrada em Marcondes
(2004). Hoje, um dos mais notórios continuadores dessa tradição é Thomas Nagel
(2004), principal expoente atual de uma humildade analítica, que seria o avesso da
arrogância dialética, segundo Eduardo Giannetti (2004).
5 A expressão materialismo dialético nem sequer foi usada nos rascunhos de Engels,
muito depois reunidos pelos estalinistas sob o título de Dialética da Natureza. O que de
fato pretendia era extrair leis da dialética do que chamou de duas fases do desenvolvi-
mento histórico: a da Natureza (com letra maiúscula) e a da sociedade humana. E tais
leis seriam principalmente três: 1) a da transformação da quantidade em qualidade e
vice-versa; b) a da interpenetração dos contrários; e c) a da negação da negação. Mas
só chegou a ilustrar a primeira, essencialmente com a ideia de que, na natureza, qual-
quer mudança qualitativa exige alterações quantitativas de matéria e/ou energia.
Complexidade e emergência
O que hoje se entende por teoria da complexidade é a
terceira tentativa, em quarenta anos, de trazer fenômenos na-
turais (principalmente biológicos) para o contexto das pro-
priedades altamente genéricas de sistemas que se modificam
com o tempo.
9 Pode-se supor, talvez, que essa seja uma tendência geral que confirmaria o prognós-
tico feito em 1949 pelo não marxista Paul Foulquié.
Piscina
Na teoria do caos costuma ser utilizado um exemplo
prático bastante ilustrativo da dinâmica dos sistemas lineares
e não lineares. Imagine uma pedra atirada numa piscina de
água límpida e extremamente estática. As ondas geradas na
queda da pedra se propagam até as margens de forma orde-
nada e sequencial, refletem nas paredes da borda e retornam,
cruzando-se entre si e, portanto, interagindo, se realimen
tando, ora positivamente, ora negativamente.
As ondas continuam seu trajeto já distorcidas pelas reali-
mentações (em direção às margens opostas), sofrendo ainda
mais e mais interações ocasionadas pelos entrecruzamentos,
que geram mais realimentações. Nesse momento começam a
ocorrer alguns movimentos aparentemente caóticos, mas ain-
da previsíveis, pois são padrões das ondas, o sistema ainda
pode ser dito linear.
Quando a piscina já estiver com bastante movimento em
sua superfície, se mais pedras forem jogadas aleatoriamen-
te, com tamanhos e formas diferentes (quanto mais pedras
diferentes forem atiradas, mais realimentações e reflexões
ocorrerão), mais caótico será o padrão das ondas na super-
fície, e, assim, mais difícil será o reconhecimento de um pa-
drão estático.
11 Ótima referência sobre esse tema é o já citado livro publicado por Lucien Sève (2005),
com um grupo de seis cientistas naturais.
Em suma
Como foi visto acima, o que não faltam são motivos para
que a noção de dialética tenha sido varrida do debate cien-
tífico. No entanto, os fenômenos da emergência correspon-
dem de maneira tão surpreendente ao esquema do Aufhebung
hegeliano, que permitem prever que sua utilidade certamente
poderá voltar a ser reconhecida.16
Além disso, ela está no cerne do materialismo darwinia-
no que, como já foi enfatizado no final do capítulo anterior,
pode ser sintetizado em poucas palavras da seguinte for-
ma: variação aleatória com seleção de unidades de instrução repli
cadas sob pressão do ambiente. Tal princípio (Mayr), algoritmo
(Dennett) ou conjectura (Hodgson) envolve dois momentos
essenciais: 1) contradição entre, de um lado, o caráter aleatório
15 O termo metabolismo (Stoffwechsel) surgiu por volta de 1815, mas só começou a ser
largamente adotado pelos fisiologistas alemães nas décadas de 1830 e 1840, para se
referir primariamente a trocas materiais dentro do organismo, relacionadas com a
respiração. Recebeu uma aplicação mais ampla e corrente ao ser usado por Justus
von Liebig em 1842 na Animal chemistry (a grande obra subsequente à Agricultural
chemistry, de 1840), na qual usou a noção de processo metabólico no contexto da
degradação de tecidos. Mais tarde ela se generalizou como conceito-chave, aplicável
tanto ao nível celular quanto na análise de organismos inteiros. E depois passou a ser
categoria fundamental de muitas teorias científicas.
16 Tal aposta foi muito discretamente reforçada por Patrick Tort em nota de rodapé
(7) de sua introdução ao dificílimo livro de Chomin Cunchillos (2014) que, apesar
do instigante título – As vias da emergência –, só aborda tal tema bem de raspão, na
página 71.
17 Desde os clássicos, como Herbert Spencer, Lewis Henry Morgan e Edward Burnett
Taylor, até modernos como V. Gordon Childe, Leslie White, Julian Steward, Talcot
Parsons, Marshall Sahlins, Elman Service, Robert Carneiro, Gerhard Lenski e Mar-
vin Harris. Foi, aliás, uma cuidadosa revisão de todos esses outros evolucionismos,
publicada pelo sociólogo Stephen Sanderson (1990), que o tornou adepto do mate-
rialismo darwiniano.
103
107
A Alelo, 32-33
Abidjã, 24 Alemanha, 46,
Abordagem biológica da evolução, 73 Algaravia, 64
Abramovay, Ricardo, 9 Algoritmo, 73, 83, 101
Abundância, 43, 93 Alicerce epistemológico, 35, 60
relativa, 43 Alienação, 52
Ação judicial, 17 Alimentares, 20, 55, 77
Acomodação pela existência, 57 Alma, 66, 67
Acusação, 17, 24 Altruísmo, 24, 43, 44, 47, 105
Adaptar, 20, 21, 49, 73 Altruístas, 42, 45
Adepto, 17, 26, 35, 66, 79, 102 Amálgamas, 67, 102
Admirável, 17 Amamenta, 29
Advertência, 17 Ambições futuras, 55, 77
Afirmação, 12, 52, 54, 77 Ambiguidade, 27, 80, 100
Agnosticismo, 16, 88 Ameaças, 51-52
Agnóstico, 17 Amigo, 16
Agregam, 52 Amor, 16, 52, 103, 106
Agressão, 30 Amparo, 20
Agressivos, 30 Análise(s), 27, 35, 78
Agrobiologia, 90 das línguas, 38
Agrupamentos humanos, 23, 105 do mérito, 65
Água, 21, 95, 97, 98 social, 38
Alcance, 65, 73, 104 Analítico, 85, 100
Aleatórias, 54, 76, 93, 98 Analogia animista, 52
Aleatoriedade, 96 Analogias, 35, 48, 65
125
Antropomórficos, 66
B
Anular, 85
Bactéria exótica, 28
Aposta, 65, 67, 81, 101
Bagehot, Walter, 38
Apostasia, 15
Balanço, 67, 84
Aprendizagem, 51
Balcanização, 57
Aproximação epistemológica, 61, 62,
Ball, Philip, 70
74-80, 83, 103
Barlow, Nora, 15
Aptidão inclusiva, 55, 77
Base genética, 54-55, 77
Aptidões vitais, 25
Beagle, 16, 17
Aptos, 20, 21-22, 24
Behavioral and Brain Sciences, 53
Áreas rochosas de altitude, 19
Behavioral Ecology, 45
Argumentos, 11, 13
Beinhocker, 96
Aritmética, 27
Bicicletas, 48
Armadilha, 25
Bifurcação, 99
Armstrong, Louis, 68
Biofobia, 41, 79
Arqueologia, 44
Biogenética, 51
Arrogância, 88-89
Biologia
Artes, 14, 46 evolucionista, 59, 75, 77
Ascensão funcional, 59, 75
a um nível superior, 85 molecular, 36, 54, 76
da humanidade, 44 Biológico, 25, 40, 50-51, 74, 95
Assimilação, 35, 78 Biólogos, 35, 41, 43, 45, 50, 55-56, 74, 75,
Assistência, 24 89-90
Conjectura, 21, 25, 26, 33, 67, 73, 74, 75, 80, Crentes, 15
82-83, 89, 101 Crippen, Timothy, 44
Conotação doutrinária, 82 Cristianismo, 15, 16, 17
Dinâmica E
da evolução darwiniana, 25
Ecletismo teórico, 57-58
natural, 24
Ecodynamics: A new theory of societal
Direito autoral, 17
evolution, 50
Discordância, 22
Ecológica, 46
Discórdia, 52
Ecólogos, 41, 45, 75, 93, 101
Discurso filosófico, 14
Economia, 13, 21, 26, 41, 44, 50, 83, 96, 100
Disparate, 18 da natureza, 21
Dispersão disciplinar, 62 política, 13
Dissertação, 19 Econômica, 13, 41, 46, 48
Dissolução, 85 Ecossistema de altitude, 20
Dissolver, 85 Ecossistema(s), 19, 21, 101
Dissuasão, 52 Edelman, Gerald M., 27, 28-29, 33, 75
Distúrbio dissociativo de identidade, 62 Edimburgo, 16, 17
Divergirem, 21 Educação mútua, 38
Diversidade, 21, 63, 64 Efeito
Diversificação, 52 conservador, 43
Divisão do trabalho, 52, 100 reversivo da evolução, 24
DNA, 32, 54, 76 Efeitos sutis, 29
codificador, 32 Eficiência, 94
Do quântico para o clássico, 69, 72 Ehlers, Eduardo, 9
Dócil, 30 Elegância, 65
Doenças, 62 Elegante, 65
Doente(s), 24, 61 Elétron, 61, 62, 63, 68
Domesticação, 18 Eliminação
Dominância, 52 dos menos aptos, 24
Domínio, 33, 43, 44, 74, 83, 105 inovadora, 83, 100
Dopamina, 30 Eliminadas, 18, 32
Dotação genética, 33 Emaranhamento, 63, 64
Doutrina, 11, 86, 89 Emaranhem, 70
de Estado, 86 Embaracem, 70
Down, 21 Embaraço, 64
Drible, 52 Embaralhem, 70
Dualidade, 66 Embrião, 93
Dualismo, 58, 66, 81 Embrionários, 100
Dunnel, Robert, 44 Émergence, complexité et dialectique, 91
Dureza, 95 Emergência, 66, 73, 78, 83-84, 85-102
Durham, William H., 44 da realidade clássica, 73
Durkheim, Émile, 40 Emergentismo, 83, 94
Espécie(s), 17, 18, 20, 36, 37, 71, 82, Exceções, 35, 78
93, 98 Expedição, 16, 17
humana, 20, 22, 33 Experiências, 27, 28-29, 71
Especulações, 16, 62, 64, 67-68, 88 Experimentos, 21, 30
filosóficas, 88 Explicação, 11, 12, 28, 70, 80, 99
ultraidealistas, 67 Explosão populacional, 20
Especulativa(o), 13, 35, 78, 89 Expurgos, 15
Espírito, 11 Extranatural, 64
Espiritual, 11 Extrapolada, 21
F Formas
de vida, 62
Fagócito, 26
organizacionais, 47
Falecimento, 15
Forte reciprocidade, 45
Fatos
Fótons, 71
sociais, 40
Fractais, 96
verídicos, 19
Franklin, 84
Favareto, Arilson, 9
Fraude, 44, 105
Fé, 16
Freeman, 67
Fehr, Ernst, 45
Freire Jr., 59, 72
Fenômeno(s), 11, 63, 67, 69, 70, 92, 96, 99,
Frequências, 49, 74
101, 104
local, 28-29 Fronteira, 27, 59, 65, 70, 75, 91
Fenótipos, 36, 47 Fuga, 52
Fernández, Juan, 19-20 Fukuyama, Francis, 44, 47
Ferocidade, 30 Função de limpeza, 30
Filosofia, 11, 13, 14, 44, 59, 62, 64, 86, 87, Funcionalismo evolucionário, 39
88, 89, 90, 96 Funcionamento(s)
da ciência, 62 cerebral, 28
sólida, 88 das sociedades, 62
Filtragem, 73 Funções, 29, 94
Finkelman, 53 Fundamento(s)
biológicos, 40
Firmas, 47
metafísico, 58
Física, 12, 58, 63, 65, 67, 69, 70, 71, 96,
Futuro, 13, 61-84
103
das ciências, 61-84
clássica, 58, 65, 70
quântica, 58-59, 63, 67, 69, 103 G
Fisicalismo, 59 Galgos, 19, 20
Físico-química, 74-75 Gás, 71
Fisiologia, 17, 27, 43, 51 Gelo, 95
Fita (ou faixa) de Möbius (ou Moebius), Gêmeos, 27
25 Gene egoísta, O, 42
Fitness, 47, 49, 53, 74 Gene(s), 28, 30-33, 42-43, 45, 47, 50, 51, 53,
Fixação, 32 74, 76, 94
Flatland: Quantum mind and the Generalização, 46, 48, 92
international system as hologram, 59 Genética
Fluxo circular, 48 mendeliana, 36, 90
Foguetes, 48 populacional, 36
Força(s), 20, 25, 37, 43, 44, 105 Geneticamente modificados, 30
extraordinária, 43 Genético(s), 26, 31-32, 33, 43, 47, 51, 54,
físicas, 67 76, 77
Formação, 16, 18, 50, 51, 55, 77, 85 Genomas, 36
Geografia, 44 Hipotálamo, 29
Geometria fractal, 96 Hipótese(s), 42, 56, 59, 61, 63-69, 84
Geração seguinte, 43 da consciência quântica, 59
Gerações, 30, 37, 82 História
Giannetti, Eduardo, 88 da espécie humana, 22
das ciências, 14
Gintis, Herbert, 44-45
das ideias, 14
Gnosis, 16
das relações internacionais, 44
Goethe, 66
pretérita, 55, 77
Gordo e o Magro, O, 56
Hodgson, Geoffrey, 44, 48, 50, 73, 74,
Gradativamente, 17 83, 101
Gradualismo, 36, 37, 82 Hofstadter, Richard, 40
Grama, 72 Holistas, 94
Grande fronteira entre as ciências, 59 Hormônio
Grespan, 91 da confiança, 29
Guardar, 85 de afiliação, 29
Guerra Fria, 56 neural, 29
Guillo, 42 Hull, David L., 44
Guinada quântica, 58 Human Behavior and Evolution Society
(HBES), 45, 75
H Humanidade(s), 21, 26, 35-60, 64, 65, 66,
Hábitos, 22, 25-26, 39, 50, 74 75, 77, 78-79, 80, 100, 106
Hamilton, William David “Bill”, 41 Humildade, 88-89
Haroche, Serge, 71 Huxley, Thomas Henry, 16
Harris, Marvin, 46, 102
I
Harvard, 39
Idealismo, 66, 81
Hediondo crime, 40-41, 79
Ideias morais, 40
Hegel, 85, 88, 100
Identidade, 52, 62
Henrich, Joseph, 45
Ideologias, 14, 21, 23
Herança, 30, 33, 36-39, 49, 54-55, 76, 77
Igualdade, 52
de caracteres adquiridos, 113
não relacionada ao DNA, 54, 76 Ilegitimidade, 52
social, 39 Ilha, 19
Hereditariedade Iluminismo, 39
biológica, 39 Imitação, 39, 42, 49, 55, 77
pela aprendizagem, 51 vocal, 55, 77
Hermetismo, 87 Imoral, 17
Heterodoxos, 13 Implicação(ões), 30, 63, 80
Hidrogênio, 95 causal, 49
Hierarquias naturais, 25 Impressões digitais, 27
Higiene, 24-25 Impulso, 67
Indústrias, 47 Interpretativismo, 58
Infalível, 13 Intervencionismo, 25
Informações Irreversível, 70
adquiridas, 54, 76
J
hereditárias, 32
Jablonka, 53, 55, 76
Inglaterra, 16
Ingleses, 19 Jaskolla, 66
Inóspitas, 20 Jazz, 68
Intencionais, 49 L
Intencionalidade, 69
La Jolla, 28
Interação(ões), 29, 49, 55, 71, 72, 73, 77,
La Nature dans la Pensée Dialectique, 91
94-95, 104
Laboratório, 12, 17, 70
com o ambiente, 72
fisioquímicas, 67 Lagosta, 19
não lineares, 98 Laguna, 98
Interesse, 16, 80, 86, 87 Lamarck, Jean-Baptiste de, 37, 39
Interferência quântica, 71 Lamarckismo, 38, 81
Mutação(ões), 20, 28, 32, 47, 48, 104 Novidades, 32, 54, 77-78
prejudiciais, 32 Nowak, 53, 55, 57, 78
Núcleo tálamo-cortical, 29 P
Número, 25, 43, 94, 105 Padrões evolucionários, 51
Nutrição, 26 Paleontologia, 38, 81
Ocidente, 90 Paradoxo, 24
Reação(ões) Répteis, 28
antievolucionária, 39 Repúdio, 17
químicas, 98 Reputação, 40, 57, 79, 105
Realidade, 11, 12, 58, 73, 85 intelectual, 40, 79
Rebanhos, 19 Resilientes, 20
S Similaridade, 50
Simplicidade, 65
Saberes, 24
Sinais, 27, 30, 31, 64, 94
Sacrifício, 43
imperativos, 31
Saltacional, 37, 82
sinápticos, 64
Salto, 25
Sinfonia, 95
Sanderson, Stephen K., 39, 41, 44, 46, 102
Síntese, 35, 37-39, 41, 53, 76, 78, 81, 85,
Sartenaer, 84 89, 90
Schwartsman, Hélio, 9 moderna (1936-1950), 35, 39, 41, 78
Science, 13, 55 Sistema(s), 11, 28, 48-49, 52, 54, 70-73,
Sciences et Dialectiques de la Nature, 91 76-77, 85, 93, 95, 97-99
Scientific American, 55, 68 de herança genética, 36
dinâmicos, 93, 96
SDNL, 96, 99
dinâmicos não lineares, 96
Seager, 66
hidráulicos, 48
Search, 48
integrativo, 52
Século, 19, 21, 23, 35, 36, 38, 39, 53, 70, populacionais complexos, 49, 104
78, 83, 86-87, 89, 103 socioecológicos, 55
Sedicioso, 17 vivos, 94
Segunda lei da termodinâmica, 51 Sistemática, 38, 81
Segunda revolução darwiniana, 38 Skrbina, 66
Seleção, 18, 22, 24-25, 28, 31-32, 36-37, Sober, Elliot, 44
38, 42-45, 47-49, 53-55, 57, 71, 73-74, Sobrenaturais, 12, 16
76-77, 81-83, 104-105 Sobreposição, 63
cultural e social, 39
Sobrevivência, 18, 20
darwiniana da informação, 73
Sociabilidade, 30, 47, 52
de parentesco, 42-43, 45, 47, 53, 55, 77
natural humana, 47
de unidades de instrução replicadas,
Sociais, 11, 22-26, 40, 44, 46, 48-52, 57, 58-
50, 73, 74, 83, 101
60, 65, 69, 74-75, 78-79, 91, 103, 105
de unidades de instruções replicadas,
49 Social Theory as Cartesian Science, 58
natural multinível, 44 Social Theory of International Politics, 58
purificadora, 32 Sociável, 30
Selkirk, Alexander, 19 Sociedade, 50, 61, 89
Senso comum, 12, 80, 81 Societal Evolution, 39
Sentimento, 24, 29, 52, Sociobiologia humana, 41, 42, 44
Sequência genética, 32 Sociobiology: The New Synthesis, 42
Ser(es) vivo(s), 31, 39, 61, 67, 96, 106 Sociologia, 40-41, 44, 47, 78
Socorro, 24 Teoria(s), 18, 20, 22, 24, 28, 36-39, 41, 46-47,
Solidariedade, 29 49, 51-52, 54, 61-62, 63-69, 70-74, 76, 81,
Solteiro, 16 84, 91-93, 97-98
da catástrofe, 93
Solução determinista, 93
da complexidade, 84, 92-93
Som, 95
da decisão, 69
Sonhos, 16, 61
da dupla hereditariedade, 41, 45
Sorbonne, 40 da seleção natural, 18
Spencer, Herbert, 23, 39, 102 do caos, 93, 97
Status, 46, 69 dos jogos, 52
Steward, Julian, 39, 102 final, 61-62
Teleológica, 23 Tit-for-tat, 56