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JOSÉ ELI DA VEIGA

JOSÉ ELI DA VEIGA


José Eli da Veiga é professor sênior do Instituto A ideia central de Amor à ciência: ensaios sobre Nas últimas quatro décadas, avançou muito a
de Energia e Ambiente da Universidade de São o materialismo darwiniano é que não pode haver validação do materialismo darwiniano como
Paulo (IEE-USP). Por trinta anos (1983-2012), foi alicerce epistemológico que não se restringe às
materialismo científico que não seja, antes de tudo,
docente do departamento de economia da Facul- ciências naturais. Pesquisadores que não che-
dade de Economia, Administração e Contabilidade darwiniano. gam além das analogias se dizem adeptos do
(FEA-USP), na qual obteve o título de professor darwinismo parcial, para tomar distância tanto
Para justificar tal afirmação, a obra apresenta uma
titular em 1996. do darwinismo universal quanto do contraposto
visão panorâmica da crescente utilidade cognitiva darwinismo generalizado. No entanto, mais pro-

AMOR À CIÊNCIA: ensaios sobre o materialismo darwiniano


Tem 25 livros publicados, entre os quais: O im-
bróglio do clima: ciência, política e economia da estrutura conceitual darwiniana em ciências tão gressos do materialismo darwiniano no âmbito
(2014) e Gaia: de mito a ciência (2012), dos quais é diversas quanto a psicologia e a física quântica, científico dependerão dos desenlaces de várias
organizador, e Sustentabilidade: a legitimação de passando por quase todas as ciências sociais. controvérsias, entre as quais se destacam:
um novo valor (2010), do qual é autor. É colunista • Dimensões da evolução: o fato de já estar
do jornal Valor Econômico, da revista Página22 e Este livro é um valioso lançamento do Senac São bem claro que elas vão além da genética e da
da Rádio USP. Paulo para todos aqueles que amam a ciência. epigenética não significa que se resumam tão
Saiba mais em http://www.zeeli.pro.br. somente às categorias comportamental e
simbólica.
• Alcance dos processos seletivos: por mais
que ainda haja resistência, certamente não
demorará muito para que seja amplamente
aceita a ideia de seleção multinível.
• Consciência: a divergência entre os materialis-
tas darwinianos parece começar pelo próprio
sentido que dão à palavra consciência.

AMOR À CIÊNCIA
ensaios sobre o materialismo darwiniano

ISBN 978-85-396-1313-7

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Amor à ciência:
ensaios sobre o materialismo
darwiniano

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Jeane Passos de Souza – CRB 8a/6189)

Veiga, José Eli da


Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano / José
Eli da Veiga. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2017.

Bibliografia
ISBN 978-85-396-1313-7

1. Ciência: Filosofia 2. Ciência: Genética 3. Ciência: Evolução


4. Teorias da Evolução 5. Darwinismo 6. Filosofia: Materialismo
I.Título.

17-590s CDD-501
576
576.82
146.3
BISAC SCI075000
PHI031000

Índice para catálogo sistemático:


1. Filosofia da ciência 501
2. Ciência: Genética e evolução 576
3. Teorias da Evolução: Darwinismo 576.82
4. Filosofia: Materialismo 146.3

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Amor à ciência:
ensaios sobre o materialismo
darwiniano

José Eli da Veiga

editora senac são paulo – são paulo – 2017

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Revisão de Texto: Sandra Regina Fernandes, Karinna A. C. Taddeo
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© Editora Senac São Paulo, 2017

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Sumário

Nota do editor, 7

Agradecimentos, 9

Prólogo, 11

Capítulo 1 – O que é materialismo darwiniano, 15

Capítulo 2 – Darwinismo e humanidades, 35

Capítulo 3 – Duas visões sobre o futuro das ciências, 61

Capítulo 4 – Dialética, complexidade e emergência, 85

Epílogo, 103

Bibliografia, 107

Índice remissivo, 125

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Nota do editor

É interessante que, em um livro sobre o materialismo,


o autor opte por não se embrenhar em terreno filosófico, mas
lide unicamente com aquilo que é histórico em relação ao
materialismo darwiniano: o desenvolvimento das bases lan-
çadas por Darwin e sua crescente apropriação por outras
áreas das ciências, como a psicologia, a física quântica e di-
versas ciências sociais.
Partindo daí, José Eli da Veiga investiga a extrapolação
do pensamento de Darwin para além da dimensão genética
dos processos hereditários, evidenciando que sua contribui-
ção ultrapassa as ciências naturais ou biológicas e concluindo
que todo materialismo científico é, antes de tudo, darwiniano.
Com esta publicação, o Senac São Paulo visa contribuir
para o desenvolvimento do pensamento científico no Brasil e
divulgar informações acuradas sobre o materialismo e, mais
especificamente, o materialismo darwiniano.

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Agradecimentos

O autor registra profunda gratidão pela ajuda que re-


cebeu dos colegas e amigos que leram e comentaram algu-
ma parte deste livro. Muitas passagens melhoraram bastante
graças a reparos e sugestões feitos por Abelardo Blanco,
Ademar Romeiro, Andrei Cechin, Arilson Favareto, Eduardo
Giannetti, Eduardo Ehlers, Eduardo Viola, Flávio Riche, Hélio
Schwartsman, Osvaldo Pessoa Jr., Ricardo Abramovay e
Sonia Barros de Oliveira. Por isso, ao reiterar sua exclusiva
responsabilidade por todo o conteúdo deste livro, o autor
gostaria de encontrar palavras que plenamente expressassem
o reconhecimento de sua dívida pelo tempo que lhe foi dis-
pensado por essa bela dúzia de benfeitores.

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Prólogo

Tem dois sentidos o termo materialismo. Um deles deno­


ta ausência de ideais, decorrente de forte apego a patrimônio,
dinheiro, consumismo e devoção a bens e prazeres. Mas esse
é o sentido que nos dicionários aparece como por extensão.
Quanto ao outro, as definições mais comuns são do tipo “cor-
rente de pensamento que afirma a precedência da matéria
sobre o espírito ou a mente”; “sistema dos que só admitem
matéria, sem nada de espiritual no universo”; ou “doutrina
que identifica, na matéria e em seu movimento, a realidade
fundamental do universo, com a capacidade de explicação
para todos os fenômenos naturais, sociais e mentais”.
Seja corrente, sistema ou doutrina, o materialismo – em
seu sentido original e culto – pertenceria à filosofia. Um des-
ses dicionários até enfatiza que ele “constitui a base de várias
escolas filosóficas, desde os antigos gregos até a época atual”.
Mas, será verdade que materialismo só teria esses dois
sentidos, o vulgar e o filosófico? Se assim fosse, estes ensaios
seriam inúteis. Principalmente porque tem sido extremamente
infrutífero o debate filosófico sobre o tema. Não se altera, por
mais que se sofistique, já que argumentos a favor ou con-
tra mostram-se incapazes de persuadir qualquer dos lados,
mesmo que minimamente.

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12 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Filósofos contrários ao materialismo não flertam neces-


sariamente com crenças sobrenaturais ou religiosas, nem com
espiritualismos, esoterismos, superstições e outros ocultismos
do gênero. Os que mais se destacam são os que adotam uma
variante da metafísica denominada monismo neutro, segun-
do a qual a realidade teria, em última instância, uma única
natureza, que não seria nem física, nem mental. Escudam-se
essencialmente na constatação de que os conhecimentos dis-
poníveis – por mais que possam ser consensuais na comuni-
dade científica – permanecem insuficientes para que a eles se
subordine a incredulidade do senso comum. Além de enfati-
zarem que não há explicação científica para a origem da vida,
descartam que ela possa vir do materialismo, pois não seria
plausível que a vida, como a conhecemos, tenha resultado de
uma mera sequência de acidentes materiais.
Em direção bem diversa, Darwin já preferia dizer, em
1871, que são aqueles que sabem pouco, e não aqueles que sa-
bem muito, que declaram categoricamente que este ou aquele
problema jamais poderá ser resolvido pela ciência. Além disso,
a atual ausência de qualquer explicação consistente e persuasi-
va para a origem da vida não impede que se multipliquem, ex-
ponencialmente, substantivas descobertas científicas. Em nada
dependem de eventuais respostas para questões de ordem cos-
mológica, não interferindo, portanto, na prática quotidiana da
pesquisa. Todo cientista sério tem como regra o célebre chiste
atribuído a Pasteur: antes de entrar no laboratório, jamais es-
queça de deixar todas as suas convicções no vestiário.
É verdade que, ao relatar os resultados obtidos, qualquer
cientista pode voltar a ser tomado por suas convicções. Mas é
justamente para isso que imperam procedimentos de revisão
anônima por especialistas. Se o relato contiver qualquer afir-
mação não ancorada em evidências, só depois de corrigido é
que poderá ser reapresentado para publicação em periódico
científico que se preze.

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Prólogo • 13

Tal rotina está muito longe de ser infalível, é claro, es-


pecialmente nas ciências humanas, mas também, mesmo que
em bem menor medida, nas ciências ditas “duras”. Nas pri-
meiras, é muito comum que um pesquisador só publique em
periódicos editados por colegas que têm as mesmas convic-
ções, evitando ao máximo submeter seus trabalhos às revistas
de outras correntes. Um exemplo é o que ocorre na ciência
econômica, entre os ortodoxos neoclássicos e heterodoxos da
economia política. Nas ciências naturais essa espécie de endo-
gamia é bem menos importante, pois há periódicos que con-
seguiram se colocar acima de qualquer suspeita, como, por
exemplo, os dos grupos Nature ou Science. É claro que tam-
bém pode haver desvio de conduta por parte dos revisores,
mas é muito raro que isso ocorra.1
Também é verdade que ainda é muito especulativa ao
menos uma disciplina considerada científica: a cosmologia.
No fundo, ela se aproxima do âmbito filosófico, no qual os
mesmos procedimentos não funcionam. Ao contrário, qual-
quer convicção pode ser validada, desde que a exposição dos
argumentos pareça aos revisores anônimos ter razoável con-
sistência, coerência e rigor, além, claro, de bom tratamento da
literatura anterior sobre o tema. Daí por que é inevitável que
se pergunte se a filosofia merece mesmo o privilégio que a ela
costuma ser atribuído no que diz respeito à procura do que
pode ser mais verdadeiro, ou do que estaria mais próximo da
“verdade”. Precisa ser enaltecida como incitação permanente
à reflexão racional sobre tudo e mais um pouco, mas essa
não é uma razão suficiente para que seja colocada adiante do
conhecimento científico. Faz muito tempo que isso deixou de
fazer sentido.

1 Sobre o futuro desse método, chamado peer-review, cruciais observações podem ser
encontradas em https://blogs.scientificamerican.com/observations/the-future-of-
peer-review/. Acesso em 14-08-2017.

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14 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

É fundamental, portanto, que fique desde já bem real-


çado que estes ensaios sobre o materialismo darwiniano
tentarão reduzir ao mínimo possível o inevitável discurso
filosófico, procurando restringir-se ao âmbito da história das
ciências. Se conseguirem reduzir um pouquinho a reinante
desinformação sobre o materialismo em geral e o darwiniano
em particular, com certeza sua publicação conjunta neste livro
trará um ganho incomparavelmente maior do que qualquer
eventual aventura no âmbito filosófico, ou mesmo nessa es­
tranha disciplina que tem sido chamada de história das ideias,
como tentativa de amalgamar histórias das artes, ciências,
engenharias, filosofias, ideologias, religiões, etc.

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Capítulo 1

O que é materialismo
darwiniano

O ponto de partida de uma abordagem histórica do


materialismo darwiniano só pode ser o crucial processo que
levou Charles Darwin a rejeitar seu cristianismo unitarista
da infância e juventude. Para isso, a melhor fonte é a sucinta
Autobiografia que quis deixar apenas para seus filhos e netos,
à qual consagrou quase uma hora na maioria das tardes do
verão de 1876, quando, aos 67 anos, suspeitou que a morte
se aproximava. Ela só recebeu pequenos acréscimos nos seis
anos seguintes, antes de seu falecimento, aos 73, em 19 de
abril de 1882.
Por mais de setenta anos, permaneceu desconhecida
a íntegra desse documento. Só veio à luz em 1958, quando
devi­damente restaurado por uma das netas, a botânica Nora
Barlow. Vários expurgos haviam mutilado impressões ante­
riores, cuja primeira surgiu cinco anos após a morte do natu­
ralista, sob a responsabilidade de seu terceiro filho, o eclético
Francis “Frank” Darwin. Censura exigida principalmente
pela mãe e pela irmã mais velha, que sempre foram crentes
bem determinadas a disfarçar a apostasia do marido e pai.
No contexto vitoriano, em que o anglicanismo tinha imenso
poder, sobravam motivos para que Emma e Henrieta (Etty)

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16 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Darwin temessem consequências para toda a família da pe­


cha de ateísmo do progenitor.1
Pela mesma razão, o próprio marido havia evitado assu­
mir publicamente aquilo que diria sobre a religião nesse rela­
to que gostaria que fosse lido apenas por seus descendentes.
Uma fácil saída havia sido encontrada pelo seu mais querido
e devoto amigo, Thomas Henry Huxley, que adorava se apre­
sentar como o seu buldogue. Foi ele o autor do insight que
acabou por se tornar extremamente comum: o agnosticismo.
Não há melhor maneira de declarar neutralidade em polê­
micas sobre as especulações sobrenaturais designadas pelo
coletivo gnosis.
Mas Darwin conta que foi durante as viagens na ex­
pedição do Beagle, entre seus 22 e 27 anos, que começara a
ter dúvidas sobre a veracidade da teologia assimilada prin­
cipalmente nos três anos anteriores, quando estivera em
Cambridge estudando para se tornar pastor (após ter sido
bem comprovada a falta de vocação para a medicina, for­
mação que iniciara em Edimburgo aos 16). Lembrava de ter
tido frequentes sonhos ou devaneios sobre a possibilidade de
algum tipo de conciliação, contexto em que seu amor pela
ciência começou a vencer qualquer outro tipo de interesse.
De volta à Inglaterra, quando morou em Londres, ainda
solteiro, foi então levado a refletir mais intensamente sobre
religião, mais precisamente entre outubro de 1836 e janeiro de
1839, o que indica que perdeu a fé antes de completar 30 anos.
Em sua discreta Autobiografia chegou a dizer, quarenta anos
depois, que o cristianismo é execrável, e que desfazer-se des­
sa crença só pode ser algo tão difícil quanto é para um macaco
livrar-se de seu instintivo medo e ódio das cobras.

1 O texto integral da Autobiografia de Darwin, em inglês, pode ser encontrado em


http://darwin-online.org.uk/content/frameset?viewtype=text&itemID=F1497&pa
geseq=1. Acesso em 01-08-2017.

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O que é materialismo darwiniano • 17

Por isso, nada lhe pareceu mais admirável do que ter se


tornado adepto integral do ceticismo ou racionalismo, ao lon­
go do que teria sido a segunda metade de sua vida. Não se
declarava materialista, certamente porque esse era um termo
extremamente perigoso. Quando ainda bem jovem, estudando
em Edimburgo, viu a edição de um livro de fisiologia ser sus­
pensa por acusação de materialismo. Seu autor, W. Lawrence,
teve que se demitir do posto de professor assistente da univer­
sidade, e ainda perdeu uma ação judicial contra a edição pira­
ta de sua obra, porque nem se reconhecia direito autoral em
caso de texto considerado blasfemo, sedicioso ou imoral.
Considerações sobre o repúdio de Darwin ao cristia­
nismo e sua admiração pelo ceticismo/racionalismo foram
imediatamente seguidas, na Autobiografia, da advertência de
que nunca pretendeu lançar luz sobre os obscuros problemas
que envolvem as crenças. Como o enigma do início de todas
as coisas seria insolúvel, reitera que preferiu se contentar em
permanecer agnóstico.
Também foi no contexto do original laboratório, que lhe
propiciou a expedição do Beagle, que começou a ficar obce­
cado pela suposição de que as espécies gradativamente se
modificam. Por isso, no mesmo período londrino em que
rompeu com o dogma cristão, deu início às suas anotações
evolucionárias. Em julho de 1837, aos 28 anos, organizou suas
reflexões em vários cadernos que comporiam sua primeira
grande obra: A origem das espécies, que só seria publicada
22 anos depois, quando já era cinquentão.2

2 Todas as publicações de Darwin foram posteriores ao seu adeus aos labirintos da


transcendência, com exceção do relatório em coautoria com o comandante do Beagle,
Robert Fitz-Roy, publicado em 1836. Antes de sua primeira grande obra – A origem das
espécies, de 1859 – lançou onze trabalhos empíricos com observações geológicas, botâni­
cas e zoológicas coletadas durante as longas viagens no Beagle. No intervalo entre essa
primeira e sua segunda grande obra – A descendência do homem, de 1871 – publicou mais
duas monografias: uma sobre a fertilização das orquídeas por insetos (1862) e outra
sobre as variações entre as plantas e animais domesticados (1868), tida como a sua
terceira grande obra. Das outras oito publicações até sua morte em 1882, a mais co­
nhecida é certamente a primeira: A expressão das emoções no homem e nos animais (1872).

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18 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Charada
Não demorou para que a importância da seleção lhe
parecesse cabalmente comprovada, mediante observações e
enquetes sobre os procedimentos de domesticação de plantas
e animais. Mas a charada da eventual aplicação desse concei­
to a organismos que vivem em estado natural só foi solucio­
nada quinze meses depois de ter começado suas anotações.
Em sete dias, de 27 de setembro a 3 de outubro de 1838,
sucedeu-lhe ler – para se distrair – uma obra que quarenta
anos antes fora anonimamente publicada: Um ensaio sobre
o princípio de população.
Deve-se, com certeza, à sexta edição dessa tão malhada
obra do pai da demografia, Thomas Robert Malthus, o estalo
que deu a Darwin um esquema teórico com o qual trabalhar:
a inferência de que, no processo de formação e evolução das
espécies, variações favoráveis à sobrevivência dos organis­
mos tendem a ser preservadas, enquanto as desfavoráveis
vão sendo eliminadas.
Essa também parece ter sido a fonte que paralelamen­
te iluminou o outro descobridor da seleção natural: Alfred
Russell Wallace. Ele chegou a dizer, em livro publicado
em 1905 como um registro de fatos e opiniões, que não lhe
parecia ter sido outra a leitura mais crucial de sua vida. O
tempo que passara na biblioteca de Leicester, como professor
de uma pequena escola local, teria sido o mais importante de
sua juventude.
Merece muita atenção, portanto, essa conexão entre
a teoria da seleção natural e a desmentida tese de Malthus.
Inclusive porque é motivo de um gigantesco mal-enten­
dido, ainda bastante em voga entre marxistas, mas não só.
Pois taxar de malthusiano o núcleo da teoria darwiniana é
um disparate, que no caso de Karl Marx até pode ser atribuí­
do ao fato de logo ter se alarmado diante das repercussões

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O que é materialismo darwiniano • 19

político-ideológicas da primeira grande obra de Darwin, sem


que depois tenha lido a segunda, de 1871: A descendência do
homem.3
Por mais incrível que possa parecer, o raciocínio demo­
gráfico do reverendo Malthus resultou diretamente de suas
leituras sobre os fatos verídicos que, quase um século antes,
haviam inspirado o escritor Daniel Defoe a criar Robinson
Crusoé. A ilha em que o marinheiro escocês Alexander Selkirk
permanecera por mais de quatro anos, antes de ser batizada
com o nome do tão célebre personagem de Defoe, foi por mui­
to tempo conhecida pela atual denominação do arquipélago:
Juan Fernández. Localizada a mais de 600 km da costa chilena,
tem ecossistemas endêmicos razoavelmente bem preservados
por estarem em um parque nacional criado em 1935 e declara­
do reserva mundial da biosfera em 1977. Além de ser a maior,
Robinson Crusoé é a única ilha habitada, com cinco ou seis
centenas de pessoas que vivem da pesca da lagosta.
A atenção de Malthus foi suscitada por depoimentos
de navegadores narrados numa dissertação sobre a lei dos
pobres, publicada em 1786 por um outro pastor (metodista)
chamado Joseph Townsend. A exótica introdução de alguns
poucos caprinos por precursores espanhóis provocara super­
população. Mas assim que um casal de galgos foi ali deixado
por viajantes ingleses, não demorou para que se estabelecesse
um equilíbrio dinâmico. Alguns rebanhos de caprinos sobre­
viveram em áreas rochosas de altitude, que chegam a 1.500
metros, enquanto as partes mais baixas passaram a ser super­
povoadas pelos caninos.

3 Também editada em português com o título A origem do homem. Mesmo que possa
ser duvidosa a tradução de descent como descendência, este é um daqueles casos em
que a emenda fica bem pior que o soneto. Por isso, neste texto, a primeira grande
obra de Darwin é referida como A origem, e a segunda como A descendência.

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20 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Nessa concomitante adaptação das duas espécies, houve


óbvia sobrevivência dos indivíduos que se mostravam mais
aptos, numa luta pela vida dependente da competição por
recursos escassos, essencialmente alimentares. Só os caprinos
que se mostraram mais resilientes ao choque provocado pela
chegada dos galgos puderam se adaptar às inóspitas con­
dições do ecossistema de altitude. Os menos capazes foram
eliminados.
Em notável pirueta lógica, Malthus, seguindo Townsend,
fez a transposição para populações humanas de tão exemplar
constatação biológica, a respeito de relações entre espécies
animais e delas com espécies vegetais. Por deixar de lado um
dos principais vetores do processo civilizador, a capacidade
de inovação, foi levado a prognosticar rápida e inevitável
explosão populacional em nações que já se encontravam
densamente povoadas. Por isso deu força aos que há muito
vinham combatendo as políticas britânicas de amparo aos
menos favorecidos. Seria como proteger caprinos que fossem
incapazes de se manter nos mais áridos meios das montanhas
de Juan Fernández.
Se Darwin tivesse concordado com a pirueta malthu­
siana, em vez de tratar exclusivamente de espécies animais e
vegetais em sua primeira grande obra, com certeza nela teria
incluído ao menos um capítulo sobre a espécie humana. No­
tas sobre o tema não lhe faltavam, já que mantinha cadernos
especialmente a ele destinados desde 1838-1839.4

Outra charada
No entanto, ansioso por evitar preconceitos, primeiro
decidiu não redigir sequer um esboço dessa sua teoria inicial

4 Os cadernos M e N, consagrados a questões metafísicas, são simultâneos (1837-


1839) aos dedicados à transmutação das espécies (de B a E) e à geologia (o A). Ver:
http://darwin-online.org.uk/manuscripts.html ou https://philpapers.org/rec/
darcdn. Acesso em 01-08-17.

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O que é materialismo darwiniano • 21

que excluía a humanidade. Em junho de 1842 arriscou um


primeiro resumo de 35 páginas a lápis, ampliado no verão de
1844 para outro de 230 páginas (este carinhosamente guarda­
do). Mas até aí lhe atormentara um outro problema de grande
importância: a tendência de os organismos descendentes de
uma mesma origem divergirem em seu caráter, à medida em
que se modificam.
A solução só lhe surgiu muitos anos depois, numa es­
trada nos arredores da residência campestre de Down, para a
qual se mudara em 1842, no quarto ano de casamento. Nesse
momento deu-se conta de que a prole modificada de todas
as formas dominantes e crescentes tende a se adaptar a uma
imensa diversidade de lugares daquilo que chamou de eco­
nomia da natureza. Ele não dispunha, é claro, do posterior
conceito de ecossistema.
Darwin não precisa a data em que lhe ocorreu essa
epifania, que chega a comparar a um ovo de Colombo, mas
é certeza que concluiu toda a sua conjectura entre o final da
década de 1840 e início da década de 1850. Algo que ainda
precisaria esperar meio século para ser empiricamente de­
monstrado, pois foi só em 1900 que os botânicos acordaram
para os hoje célebres experimentos com ervilhas realizados
várias décadas antes pelo austríaco Gregor Mendel.5
Com o imediato e espetacular sucesso obtido por sua
primeira grande obra (A origem), tornou-se inevitável que
ela fosse indevidamente extrapolada para o caso da humani­
dade, pois isso jogava água no moinho de duas ideologias já
bem estabelecidas e muito em voga: uma radicalmente liberal
e outra conservadora mais autoritária. Se só sobrevivem os
mais aptos, qual poderia ser o sentido de ajudar os pobres,

5 Apesar de ter sido publicada em alemão, a descoberta de Mendel certamente teria


chegado ao conhecimento de Darwin, não fosse por sua incapacidade matemática,
deficiência sobre a qual lamenta bastante em seu depoimento autobiográfico.

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22 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

perguntavam os primeiros, enquanto os outros logo propu­


nham que se ajudasse a natureza eliminando os menos aptos
via eugenia.
A discordância de Darwin sobre tais extrapolações foi
fartamente confirmada com a publicação, em 1871, de sua
segunda grande obra (A descendência). Três afirmações sin­
tetizadas na conclusão são suficientes para que se perceba
que a história da espécie humana o levou bem além da teoria
exposta na primeira, publicada doze anos antes:
1) No que diz respeito à natureza do homem, outros fatores
superaram a luta pela existência, por mais que ela tenha
sido importante e ainda o seja.
2) As qualidades morais avançaram muito mais devido às
consequências dos hábitos, dos poderes de raciocínio, da
instrução, da religião, etc., do que dos efeitos da seleção
natural.
3) Foram instintos sociais que proporcionaram o desenvolvi­
mento moral.
Se alguém ler apenas o último capítulo, consagrado a
um resumo geral conclusivo, não poderá lhe escapar as pou­
cas linhas que sintetizam essas três afirmações.6 Elas são sufi­
cientes para entender que, para Darwin, a parte não humana
da natureza é absolutamente regida pela lei da seleção na­
tural, mas sua parte humana só o é de forma relativa, pois
o processo civilizador generaliza e institucionaliza condutas
que se opõem à livre operação de tal lei.

6 “Important as the struggle for existence has been and even still is, yet as far as the
highest part of man’s nature is concerned there are other agencies more important.
For the moral qualities are advanced, either directly or indirectly, much more through
the effects of habit, the reasoning powers, instruction, religion, etc., than through
natural selection; though to this latter agency the social instincts, which afforded the
basis for the development of the moral sense, may be safely attributed.” (Darwin,
2013 [c. 1871], p. 646).

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O que é materialismo darwiniano • 23

Uma suspeita que costuma surgir quando se evocam


esses três grandes tópicos da antropologia darwiniana é a de
que ela poderia ser teleológica: quanto mais instintos sociais
selecionados, mais sucesso ou progresso. É uma crítica que só
pode decorrer da imensa influência que o engenheiro Herbert
Spencer exerceu sobre cientistas sociais, inclusive os marxis­
tas. Muitos ainda acreditam que seu evolucionismo seria fiel
às ideias de Darwin, o que é um redondo engano.7 De resto, o
fato de só terem se afirmado cinco ou seis processos civiliza­
dores, enquanto milhões de outros agrupamentos humanos
iam sendo eliminados – inclusive por colapso de sociedades
que até chegaram a graus elevados de desenvolvimento –
só pode ser evidência do rigor com que os instintos sociais
foram sendo selecionados.8

Antropologia darwiniana
Justiça seja feita, ninguém parece ter se empenhado mais
e melhor em realçar a existência desse princípio fundamental
de uma antropologia darwiniana do que o historiador e teo­
rizador das ciências, fundador do Instituto Charles Darwin
Internacional, diretor de um dicionário do darwinismo e da
evolução, e autor de inúmeros trabalhos sobre o tema: o pro­
fessor francês Patrick Tort.9
Ele conta que nos anos 1970 começou a se interessar pela
obra de Darwin ao estudar as ideologias do século XVIII sobre
o progresso, o que forçosamente o levou a discutir também
a ideia de evolução. Mas que foi somente em 1980, dando

7 Darwin é muito enfático em sua autobiografia ao dizer que as conclusões de Spencer


nunca o convenceram, por não terem nenhuma utilidade científica.
8 Por mais que possa ser equivocado o marco teórico de Jared Diamond, é incontestá­
vel sua narrativa empírica de 2005 sobre sociedades que colapsaram.
9 Nas referências, constam apenas os livros que foram consultados para a redação
deste ensaio, mas uma lista completa, com mais de 50 títulos, está disponível em
http://www.patrick-tort.org/. Acesso em 02-08-2017.

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24 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

algumas aulas como professor visitante em Abidjã, que se


deu seu primeiro contato com a descabida acusação de que
Darwin teria sido racista. Então, ao procurar em seus escritos
onde poderia estar a causa de tão grave suspeita, ou recrimi­
nação, foi imediatamente fisgado – para o resto da vida – pelo
que logo passou a chamar de efeito reversivo da evolução.
Na passagem da animalidade ao processo civilizador, a
dinâmica natural de eliminação dos menos aptos na luta pela
vida seleciona, entre os humanos, aqueles modos de vida so­
cial que tendem a excluir tais comportamentos eliminatórios
mediante a influência crescente da moral e das instituições.
Com o perdão por inevitáveis pleonasmos, a seleção natural
seleciona a tendência civilizadora que, por sua vez, se opõe à
seleção natural.10
Para entender esse aparente paradoxo, é preciso recor­
rer à própria lógica da teoria seletiva. Não somente variações
orgânicas com vantagens adaptativas são objeto da seleção
natural, mas também instintos. Entre os instintos que se mos­
tram mais favoráveis às adaptações dos humanos estão justa­
mente aqueles que fazem triunfar os modos de vida sociais.
Então, como resultado complexo do avanço da racionalidade,
do aprofundamento também crescente de sentimentos como
a empatia, assim como das diferentes formas de altruísmo,
ocorre uma reversão cada vez mais acentuada dos comporta­
mentos individuais e sociais relativos ao que seria o prosse­
guimento do puro funcionamento seletivo anterior.
Em vez da eliminação dos menos aptos, aparecem no
processo civilizador deveres como os de assistência, de socor­
ro e de reabilitação. Em vez da extinção natural de enfermos,
doentes e portadores de deficiências, eles passam a ser prote­
gidos e tratados graças a avanços de saberes nos âmbitos da

10 Que pressupõe a controversa seleção de grupo, questão que será abordada nos pró­
ximos capítulos.

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O que é materialismo darwiniano • 25

higiene e da medicina, com o objetivo de reduzir ou compen­


sar déficits orgânicos. Em vez da aceitação das consequências
destrutivas das hierarquias naturais decorrentes da força, do
número e de outras aptidões vitais, surge um intervencionis­
mo que se opõe à desqualificação social.
Conforme a segunda grande obra de Darwin (A des-
cendência), foi assim, sem salto nem ruptura, que a seleção
natural selecionou seu contrário: um conjunto de normas e
comportamentos antieliminatórios e, portanto, antisseletivos,
no sentido que o termo seleção foi usado em sua primeira
grande obra, A origem.
Para evitar a suposição de que alguma ruptura teria ma­
gicamente se introduzido entre esses dois livros – algo que
Tort considera uma armadilha – ele não se cansa de enfatizar
a ocorrência de uma operação reversiva. A continuidade evo­
lutiva, mediante o desenvolvimento (ele mesmo selecionado)
de instintos sociais, produz um efeito que decorre da própria
dinâmica da evolução darwiniana. A nova vantagem adap­
tativa deixa de ser de ordem biológica, pois se tornou social.
Com o propósito de tornar ainda mais clara essa sua
proposta conceitual que chama de efeito reversivo, Tort reite­
radamente recorre à imagem da fita (ou faixa) de Möbius (ou
Moebius), conhecido espaço topológico obtido pela colagem
das duas extremidades de uma faixa, após dar-se meia vol­
ta em uma delas. Um recurso muito usado na pedagogia da
matemática, em grande parte por seu caráter inevitavelmente
desconcertante. O que poderia ser mais didático para ilustrar
o quanto uma oposição também pode ser uma continuidade?
É crucial que fique bem realçado, portanto, que a ideia
geral sobre variações selecionadas devido a suas vantagens
adaptativas – cerne do materialismo darwiniano – não cons­
titui uma conjectura só aplicável ao reino orgânico ou bioló­
gico. O próprio Darwin também a aplicou aos instintos, aos
hábitos e aos poderes de raciocínio para explicar a evolução

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26 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

da humanidade. Em sentido mais amplo, pode-se assim ana­


lisar a evolução das instituições, das mais informais às mais
formais. Todavia, é muito comum entre os atuais darwinistas
que a separação se faça entre o que é genético e o que não é,
algo que Darwin sequer imaginava que existisse.
O melhor exemplo talvez esteja no importantíssimo de­
bate sobre a diminuição da violência na história das socieda­
des humanas, no qual nenhuma das mudanças institucionais
surge como resultante de processos seletivos, já que estes só
seriam genéticos. Não é de estranhar que esse tipo de abor­
dagem seja adotado por autores que nem sequer consideram
pertinente a conjectura de Darwin para a análise, mas seria de
esperar que o mesmo não ocorresse com os que, ao con­trário,
lhe atribuem muito valor.11
Mais relevante ainda para os objetivos deste trabalho é
o fato de tal discussão desembocar numa nova agenda para
as ciências sociais, na qual aparece em primeiro lugar o desa­
fio de se entender a consciência.12 Afinal, essa também parece
ser a mais importante das questões sobre as quais discordam
os atuais adeptos do materialismo darwiniano.
O fundador do Instituto Charles Darwin Internacional,
Patrick Tort, tece seríssimas restrições aos atuais avanços
científicos sobre essa intrincada questão. Não apenas recusa
a ideia de que a consciência possa depender estritamente da
anatomia de um cérebro, mas surpreende ao defender a exis­
tência de uma consciência celular. Uma nebulosa espécie de
biopsiquismo que se manifestaria, por exemplo, na atividade
de um fagócito ao encontrar sua nutrição em seu meio trófico

11 Compare-se, por exemplo, o excelente livro Violence and Social Orders, de 2009,
que teve como principal autor o prêmio Nobel de economia Douglass North, ao
best-seller lançado dois anos depois pelo expoente da psicologia evolucionista
Steven Pinker, Os anjos bons de nossa natureza.
12 “A full account of human behavior would begin by asking how the mind deals
with the process of change. A necessary preliminary is to understand how the brain
interprets signals received by the senses and how the mind structures the result into
coherent beliefs.” (North et al., 2009, p. 251).

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O que é materialismo darwiniano • 27

e, em seguida, regular posterior captura em função da com­


paração entre o que esperava obter no primeiro movimento e
o que efetivamente recebeu.13
Como não parece existir tema que seja mais de fronteira
no materialismo darwiniano, é imprescindível saber antes o
que já se consolidou na esfera das neurociências. E não pa­
rece haver melhor fonte do que as publicações de Gerald M.
Edelman.14

Consciência e cérebro
Não procede qualquer analogia entre o cérebro e um
computador, que funciona pelo uso de lógica e aritmética em
curtíssimos intervalos regulados por um relógio, e só recebe
como insumos sinais sem ambiguidade. Os receptores senso­
riais do cérebro, bem ao contrário, não são tão organizados e
também lidam com categorias nem um pouco prescritas. Além
disso, ao se desenvolverem, as correntes neurais são marcadas
por variadas experiências individuais, o que torna os cérebros
tão diversos quanto as impressões digitais. São muito diferen­
tes, mesmo quando se compara os de dois gêmeos idênticos.
Tamanha variabilidade já poderia, por si só, remeter à
necessidade de que análises sobre o cérebro se servissem de
um pensamento populacional, como o de Darwin. Mas foi um
outro motivo que levou Edelman a esse tipo de abordagem.
Ele havia recebido o prêmio Nobel por resultados obti­
dos em pesquisas sobre a estrutura e natureza química dos
anticorpos, para as quais gerou uma mudança de paradigmas.

13 Para isso, Tort se refere aos trabalhos do bioquímico espanhol Faustino Cordón (dis­
poníveis em http://faustinocordon.org/. Acesso em 03-08-2017) e organizados e
desenvolvidos, em livro de 2014, por seu discípulo Chomin Cunchillos (que, para
dizer o mínimo, nada tem de didático.)
14 Depois de obter o prêmio Nobel de fisiologia e medicina de 1972, dedicou-se por
mais de trinta anos à relação entre consciência e cérebro. Sua teoria intitulada darwi­
nismo neural (ou TNGS: theory of neuronal group selection) começou a ser publica­
da em 1978. De todos os seus trabalhos posteriores o mais amigável parece ser o livro
Second Nature: Brain Science and Human Knowledge, de 2006.

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28 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Antes dele, a imunologia tentava entender os linfócitos com


uma teoria instrutiva, na qual o anticorpo se amoldava à
forma da bactéria exótica, ou antígeno. Foi Edelman quem
demonstrou que esse reconhecimento imunitário se dá por
seleção e não por instrução. Dentro de cada linfócito, o gene
para um anticorpo sofre mutações. Isso torna absolutamente
distinta e única a parte da proteína que dá origem ao anti­
corpo que envolverá o antígeno.
Houve, portanto, continuidade quando passou a se dedi­
car ao estudo do cérebro, principalmente no instituto voltado
às neurociências de La Jolla (San Diego, Califórnia), fundado
antes em Nova York. Assim como ocorre com o sistema imu­
nológico, o cérebro também é um sistema de seleção que opera
ao longo da vida de um indivíduo. O desenvolvimento dos
circuitos neurais leva a uma imensa e microscópica variação
anatômica, que resulta em contínuo processo seletivo.15
Talvez nem houvesse controvérsia se as proposições de
Edelman tivessem ficado restritas ao funcionamento cerebral,
sem entrar no labirinto dos debates sobre a consciência. Mas
sua teoria também deu esse passo, não apenas afirmando que
a consciência primária surgiu por volta de 25 milhões de anos
atrás, em eventos evolucionários que ocorreram durante as
transições de répteis a aves, e separadamente aos mamíferos.
Vai bem mais longe ao também arriscar uma explicação para
a complicada questão dos qualia.
Qualia são, por exemplo, a quentura do quente ou a
vermelhidão do vermelho. Mas muitos dos que pesquisam
o tema consideram, como Edelman, que todo o conjunto das

15 Neurônios que “fire together” tendem a “wire together” desde o feto. Ou seja, neu­
rônios disparados/acionados simultaneamente acabam se conectando fisicamente.
Se seus “firing patterns” estiverem temporariamente correlacionados, dois neurônios
terão conexões sinápticas por mais distantes que possam estar. Esse é o primeiro dos
três “tenets” da teoria de Edelman sobre o cérebro. Os outros dois, que estão sinteti­
zados nas páginas 27-28 de Edelman (2006) não parecem indispensáveis para que se
entenda o sentido geral de sua abordagem cerebral.

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O que é materialismo darwiniano • 29

experiências ou estados conscientes deve ser entendido como


tal. A consciência é um processo que consiste em enorme
variedade de qualia: discriminações ligadas à amplamente
distribuída e altamente dinâmica atividade do núcleo tálamo-
-cortical. Nessa atividade, o cérebro fala em grande parte para
si mesmo. Como essa interação entre os vários sistemas no
interior do núcleo é crítica, não se deve atribuir a consciência
a uma região específica.16
Para os objetivos deste trabalho, parece suficiente essa
ideia geral sobre a TNGS, ou darwinismo neural, usada pela
corrente de pesquisadores das neurociências que segue a tri­
lha aberta por Edelman. Afinal, por enquanto, muito pouco se
sabe sobre a base genética do cérebro humano. Mas algumas
descobertas recentes parecem bem promissoras.

Genética cerebral
O hormônio neural denominado oxitocina, também
conhecido como hormônio da confiança, é sintetizado no
hipotálamo e dali distribuído tanto para o cérebro quanto
para o restante do corpo, com funções diferentes. No corpo,
a oxitocina é liberada quando uma mulher dá à luz e quando
amamenta. No cérebro, possui uma gama de efeitos sutis que
só agora começam a ser explorados. Mas já se pode afirmar
que foi cooptada no curso da evolução por desempenhar
papel central na coesão social.
Trata-se de um hormônio de afiliação. Amortece a des­
confiança que se costuma sentir em relação a estranhos e
promove sentimento de solidariedade. Mas é um fenômeno

16 “Consciousness is a process that consists of an enormous variety of so-called qualia:


the discriminations entailed by the widely distributed and highly dynamic activi­
ty of the thalamo-cortical core. In such activity, the brain speaks largely to itself. I
must stress that it is the interaction of the various systems in the core that is critical.
We must therefore be careful to avoid assigning consciousness to a specific region.”
(Edelman, 2006, p. 37).

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30 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

local, que só engendra confiança entre membros do endogru­


po, junto com sentimentos de defesa em relação aos de fora.
Diversos experimentos deixam bem clara essa natureza de
dois gumes da oxitocina.17
As implicações desse hormônio são tão profundas que
atingem um dos aspectos mais básicos da sociabilidade
humana: o reconhecimento dos rostos. Doses de oxitocina au­
mentam o reconhecimento, e variações no gene que especifica
a respectiva proteína receptora estão associadas à sua redu­
ção. Além disso, machos polígamos de certas ratazanas torna­
ram-se monogâmicos depois de geneticamente modificados
para que seus neurônios fossem enchidos com receptores de
um hormônio muito similar: a vasopressina.
Também é muito influenciada pela genética toda a
gama de comportamentos que vão dos mais agressivos aos
mais tímidos. A partir de uma mesma população, duas va­
riantes de ratos cinza da Sibéria puderam ser selecionadas
após muitas gerações de cruzamentos: uma altamente sociá­
vel e dócil, outra fervilhante de agressão e ferocidade. O mais
interessante, contudo, é saber que roedores e humanos usam
muitos dos mesmos genes e das mesmas regiões cerebrais
para controlar a agressão.
Um desses genes – apelidado de MAO-A, porque pro­
duz uma das duas formas de uma enzima chamada monoa­
mina oxidase – desempenha papel central na manutenção
de estados mentais normais por sua função de limpeza. Essa
enzima quebra três das pequenas substâncias neurotransmis­
soras usadas para levar sinais de um neurônio para o outro: a
serotonina, a norepinefrina (ou noradrenalina) e a dopamina.
Depois de realizada a sinalização, elas precisam ser jogadas

17 Abrangente apanhado sobre essa e outras descobertas, apresentadas nos parágrafos


seguintes, estão no excelente livro do jornalista científico Nicholas Wade, Uma heran-
ça incômoda, de 2016.

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O que é materialismo darwiniano • 31

fora, pois caso se acumulem no cérebro vão manter ativos


neurônios que deveriam ter voltado ao repouso.
As pessoas costumam ter de duas a cinco cópias do gene
promotor dessa poderosa enzima, chamada de monoamina
oxidase. As que têm apenas duas mostram um nível de delin­
quência muito mais alto que entre as que têm mais. Homens e
mulheres que tinham apenas dois desses promotores haviam
cometido delitos muito graves nos doze meses anteriores à
aplicação do questionário, respondido por 2.524 jovens nos
Estados Unidos.
É verdade que permanece muito pouco conhecida a
dinâmica genética do cérebro, mas descobertas como as da
oxitocina, da vasopressina, ou da MAO-A tendem a estabele­
cer com meridiana clareza que os genes cerebrais não ficam
numa categoria especial que seria isenta da seleção natural.
Eles sofrem tanta pressão evolutiva quanto qualquer outra
categoria de gene.
Mesmo que não se saiba ainda por qual mecanismo es­
pecífico são controlados os níveis desses hormônios nas pes­
soas, é razoável supor que a confiança não é determinada ex­
clusivamente por tais mecanismos, pois nos comportamentos
humanos a cultura pode ser muito mais importante, cabendo
aos genes apenas empurrões em certas direções. Em outras
palavras, os genes que governam o comportamento humano
raramente emitem sinais imperativos. Antes, criam inclina­
ções ou propensões, e mesmo as mais fortes delas podem ser
sobrepujadas. No que diz respeito ao comportamento, gené­
tico não significa imutável.

Quatro vetores
O materialismo darwiniano é a postura científica que,
além de excluir qualquer influência sobrenatural, entende
a evolução dos seres vivos basicamente como resultante de

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32 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

processos genéticos interativos entre quatro vetores essen­


ciais: mutação, seleção, deriva e migração.
São mutações que geram novidades nas sequências de
unidades de DNA que contêm informações hereditárias. No
fundo são como erros de digitação, ou erros de cópia cometi­
dos por células. Têm pouco efeito quando não alteram signi­
ficativamente o DNA codificador ou regiões próximas a ele,
chamadas de neutras pelos geneticistas. Já entre as que alte­
ram a sequência genética, a maioria degrada ou até destrói a
função da proteína especificada pelo gene. Mas tendem a ser
eliminadas pelo que foi apelidado de seleção purificadora. É
a expressão usada para a seleção natural (segundo vetor) que
tira do genoma as mutações prejudiciais. Só o punhado de
mutações que tem efeito benéfico fica mais comum na popu­
lação a cada geração sucessiva, pois seus felizes proprietários
são os mais capazes de sobreviver e de se reproduzir. O in­
divíduo portador da novidade benéfica passa a possuir um
novo gene – ou melhor, um novo alelo – que é a versão do
antigo gene que embute a mutação.
É por causa das mutações e dos alelos que existe o ter­
ceiro vetor de mudança evolutiva chamado de deriva genéti­
ca, que é uma espécie de loteria porque, segundo a sorte, um
alelo A vai ser transmitido aos filhos com maior frequência
do que um alelo B, ou o contrário. Isso quer dizer que um
determinado alelo passeia aleatoriamente, em termos de fre­
quência, na população. Mas, sempre segundo Nicholas Wade,
tal passeio não poderia continuar para sempre, pois cedo ou
tarde tal frequência atingiria 0% ou 100%. No primeiro caso, o
alelo ficaria permanentemente perdido para a população. E se
atingisse 100%, ele se tornaria a forma permanente do gene,
ao menos até que fosse superado pelo surgimento de outra
mutação. Quando isso ocorre, os geneticistas dizem que ele
se tornou fixo ou que atingiu a fixação.

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O que é materialismo darwiniano • 33

O quarto vetor que molda a herança genética é a migra­


ção. Enquanto uma população permanece junta e se entre­
cruza, todos bebem do mesmo pool genético em que existem
muitos alelos diferentes de um mesmo gene. Mas, na esma­
gadora maioria dos casos, a reprodução sexual faz com que
um indivíduo só possa ser portador de no máximo dois alelos
de cada gene, um de cada progenitor. Assim, se um grupo
de indivíduos se separa da população original, leva consigo
apenas alguns alelos de seu pool geral, perdendo, portanto,
parte da dotação genética disponível.
O que faz desses quatro vetores apenas um bom começo
da definição de materialismo darwiniano são algumas sérias
dúvidas que provocam. Por exemplo, a clara cisão aborda­
da acima, quando se trata de discutir a evolução de algo tão
importante quanto a consciência. É o que leva Patrick Tort
a considerar a existência de duas correntes: uma largamente
majoritária, formada pelos seguidores da linha inaugurada
por Gerald M. Edelman, e outra dos que, como ele próprio,
preferem a abordagem do bem menos conhecido Faustino
Cordón.
Todavia, cabe discutir se o pensamento de Darwin só
se aplica à dimensão genética dos processos hereditários, ou
mesmo apenas à sua dimensão biológica. Os que discordaram
de tal restrição fizeram com que sua conjectura populacio­
nal fosse aplicada a vários outros domínios, que vão desde a
imensa cultura da espécie humana até os infinitesimais quan­
ta, processo que deu origem a ao menos três outras corren­
tes que se intitulam darwinismo parcial, darwinismo universal e
darwinismo generalizado.18 Será justamente a existência de cinco
versões do materialismo darwiniano o tema mais recorrente
dos próximos capítulos.

18 Solenemente ignoradas, aliás, na vastíssima obra de Patrick Tort.

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Capítulo 2

Darwinismo e
humanidades

Este capítulo está organizado em três partes que abor-


dam respectivamente a pré-história da relação entre o darwi-
nismo e as humanidades, sua história das últimas quatro
décadas, e a situação atual.
Por ao menos um século (1871-1971), a assimilação do
darwinismo pelas humanidades foi radicalmente inviabilizada
pelas incipiências e precariedades que caracterizaram os dois
lados. Até a síntese moderna (1936-1950), o darwinismo era
demasiadamente especulativo e, com raríssimas exceções, as
iniciativas de adotá-lo em análises das sociedades humanas
não poderiam ter sido mais desastrosas.
Apesar de tão negativo legado, avançou muito nas últi-
mas quatro décadas a validação do darwinismo como alicerce
epistemológico que não se restringe às ciências naturais.
Pesquisadores que não chegam além das analogias se dizem
adeptos de um darwinismo parcial, para tomar distância
tanto do darwinismo universal quanto do contraposto darwi-
nismo generalizado.
Todavia, infinitamente mais importantes que tais di­
vergências, serão os desfechos de duas controvérsias desen­
cadeadas em 2005 e 2006 por duas duplas de biólogos: a

35

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36 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

contestação de que as possibilidades de cooperação entre


as pessoas dependam direta e exclusivamente de sua pro-
ximidade genealógica; e a proposta de se distinguir quatro
dimensões evolucionárias independentes, pois, além dos tão
celebrados sistemas de herança genética, que concentraram
quase todos os esforços de pesquisa, comprova-se a relevância
de mais três sistemas: os epigenéticos, os comportamentais e
os simbólicos.

Cem anos de confusão (1871-1971)


O princípio da seleção natural foi concebido em meados
do século XIX, simultaneamente pelos naturalistas britânicos
Charles Darwin e Alfred Russel Wallace. Mas só começou
a ser realmente entendido e explicado na primeira metade
do século XX, com a redescoberta da genética mendeliana e
os decorrentes avanços da genética populacional. A síntese
moderna (dita dos anos 1940, que ocorreu entre 1936 e 1950)
continua a receber aportes de diversas disciplinas, particular-
mente da biologia molecular, que tende a explicar de forma
cada vez mais precisa as maneiras pelas quais são alterados
os genomas e os fenótipos que eles engendram.
Foi Wallace o principal responsável pelo fato de tal teo-
ria ser chamada de darwinismo, como comprova o título de
seu livro de 1889, no qual estão reunidas suas conferências
que haviam atualizado as descobertas feitas trinta anos antes
pelos dois. Mais precisamente, uma teoria na qual o conceito
de seleção natural é acompanhado de outros quatro: evolução
propriamente dita, descendência de origem comum, multipli-
cação de espécies e gradualismo.
Tem sido amplamente aceita a consideração de Mayr
(2006, p. 36-37) de que qualquer referência contemporânea ao
darwinismo implica combinação de algumas das seguintes
cinco teorias:

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Darwinismo e humanidades • 37

a) Evolução: o mundo não é imutável, nem foi recentemente


criado, e também não é perpetuamente cíclico; mas um
mundo que está sempre mudando, onde os organismos
se transformam na dimensão tempo;
b) Origem comum: todo grupo de organismos descende de
um ancestral comum, e todos os grupos de organismos,
incluindo animais, vegetais e microrganismos, tiveram
uma única origem na Terra;
c) Multiplicação de espécies: as espécies se multiplicam sepa-
rando-se em espécies filhas, ou, então, florescem pelo esta-
belecimento de populações fundadoras, isoladas geografi-
camente e que, a partir daí, evoluem em novas espécies;
d) Gradualismo: a mudança evolutiva ocorre pela transfor-
mação gradual da população, e não pela produção rápida
(saltacional) de novos indivíduos que representam um
novo tipo;
e) Seleção natural: a mudança evolutiva ocorre pela produção
abundante de variação genética em todas as gerações. Os
poucos indivíduos que sobrevivem, devido a uma combi-
nação particularmente bem adaptada de caracteres here-
ditários, darão origem à próxima geração.
Mayr também conta com o acordo de quase todos os
historiadores da biologia, ao dizer que a moderna teoria da
evolução passou pelos seguintes três estágios:
a) Darwinismo: estabelecimento do princípio da seleção natu-
ral como força motriz da evolução. Todavia, como o pró-
prio Darwin (1859, 1972) aceitou o princípio de Lamarck,
sobre a herança de caracteres adquiridos, como fonte da
variabilidade biológica, também seria possível considerar
que esse período do pensamento evolucionário teve uma
tripla matriz: Lamarck/Darwin/Wallace;
b) Neodarwinismo: nesse estágio, assim batizado por Romanes
(1895), a principal influência foi do zoologista e citologista

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38 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

alemão August Weismann (1891), que acumulou evidências


contra o lamarckismo e postulou que a reprodução sexual
(recombinação) cria a cada nova geração uma nova variação
populacional. A seleção natural atua nessa nova variação,
determinando assim o curso da mudança evolucionária;
c) Teoria sintética: entre 1936 e 1950, a incorporação de resul­
tados de pesquisas em três áreas – genética, sistemática
e paleontologia – operou uma ruptura com o neodarwi-
nismo, que Mayr (2006, p. 132-140) chega a chamar de a
segunda revolução darwiniana, muito embora também
diga que essa síntese não foi propriamente uma revolução
científica, mas sim uma unificação de campos previamente
mal divididos.
O período de síntese não foi um período de grandes
inovações, mas sim de educação mútua. Os naturalistas, por
exemplo, aprenderam dos geneticistas que a herança é sem-
pre rígida, nunca branda. Não há nenhuma influência her-
dável do ambiente, nenhuma herança dos caracteres adquiri-
dos. A principal realização da síntese, então, foi desenvolver
uma visão unificada sobre a natureza da mudança genética.
No entanto, o próprio Darwin afirmou, em The Descent
of Man (1871), que os princípios de variação, seleção e herança
também se mostravam inteiramente operacionais na análise
das línguas. Mais: elogiou a pioneira tentativa de aplicá-los à
evolução política, feita pelo célebre primeiro editor da revista
The Economist, Walter Bagehot (1872), em ensaios publicados
pouco antes, entre 1867 e 1869.
Porém, nessa pioneira importação do darwinismo pela
análise social – assim como em mais de uma dúzia de subse-
quentes esforços similares – indivíduos, grupos e sociedades
apareciam vagamente como objetos e resultantes do processo
de seleção. Uma mudança de foco, para instituições em geral,
só começou a surgir na virada do século, principalmente na

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Darwinismo e humanidades • 39

obra do renegado economista americano Thorstein Veblen


(1899), mas precedida pela do filósofo escocês David George
Ritchie (1896) e sucedida, sem qualquer menção a Veblen,
no livro Societal Evolution, do sociólogo americano Albert
Galloway Keller (1915). É imprescindível realçar que Ritchie
chegou a destacar a transmissão dos hábitos por imitação, e
não por instinto, como a essência do contraste entre herança
social e hereditariedade biológica, a origem mais remota das
instituições como foco do processo de seleção cultural e social.
No entanto, houve sério obstáculo a tais avanços, pois
nessa altura ainda faltava à própria teoria biológica alguma
explicação razoável dos determinantes das variações e da
hereditariedade. Em todo o período anterior à síntese moder­
na (1936-1950) as ideias de Darwin estiveram em franca de-
fensiva, como mostram as mudanças que ele próprio foi
introduzindo nas reedições de A origem das espécies, com
crescentes concessões à anterior teoria do naturalista francês
Jean-Baptiste de Lamarck, segundo a qual ocorreria imedia-
ta transmissão hereditária de caracteres adquiridos: se muito
usados, órgãos, membros e outras características dos seres
vivos acabariam se desenvolvendo e passando de geração
para geração.
Foi nesse contexto que o darwinismo acabou inteiramen-
te eclipsado, tanto na biologia quanto nas humanidades, pelo
evolucionismo clássico, cujas raízes remontam ao Iluminis-
mo, e que teve três expoentes no século XIX: Herbert Spencer,
Lewis Henry Morgan e Edward Burnett Taylor. Seguiu-se
um intervalo de forte reação antievolucionária, liderada pelo
eclético Franz Boas, até que, nos anos 1930, V. Gordon Childe,
Leslie White e Julian Steward promovessem certo renascimen-
to, e que Talcott Parsons (em Harvard, de 1927 até 1973) lan-
çasse seu tão influente funcionalismo evolucionário, também
chamado de neoevolucionismo sociológico” (Sanderson, 1990).

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40 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

É importante destacar que em 1891 o primeiro profes-


sor do departamento de sociologia da LSE (London School
of Economics) – o britânico de origem finlandesa Edward
Westermarck – publicou três volumes claramente darwinistas
sobre a história dos casamentos humanos, seguidos de outros
dois sobre as origens e o desenvolvimento das ideias morais
(1906 e 1908). Contudo, a influência de sua obra foi efême-
ra, porque a abordagem darwinista estava justamente sob o
fogo das mais sofisticadas ideias elaboradas na Sorbonne por
Émile Durkheim, para quem fatos sociais só deveriam ser
explicados por razões sociais, sem interferência dos funda­
mentos biológicos da natureza humana. Apesar de que com-
portamentos sociais biologicamente determinados também
sejam fatos sociais, como lembra a perspicaz descrição ana-
lítica dessa partida desigual (uneven match), proposta por
J. P. Roos (2008).
Então, duas observações parecem cruciais para o enten-
dimento do ziguezague de abordagens evolucionárias nas
humanidades: primeiro, elas pouco ou nada tiveram a ver
com a paralela retomada do darwinismo no âmbito biológico;
segundo, algumas levaram diretamente à posterior demoni-
zação ideológica do darwinismo social, em que teve papel de
destaque, a partir de 1944, o controverso historiador Richard
Hofstadter (Leonard, 2009; Coates, 2013).
Na verdade, houve um período em que o simples empre­
go do termo evolução poderia trazer sério risco à reputação
intelectual do pesquisador social que o balbuciasse. Desde
1908, Veblen foi levado a retirá-lo do subtítulo de sua Teoria
da Classe Ociosa, e nos anos 1930, seus discípulos lançaram
explícitas rejeições ao darwinismo.
Em suma, por ao menos cem anos foram desastrosas qua-
se todas as iniciativas de usar as ideias de Darwin e Wallace
para entender os humanos e suas sociedades. E as mais no-
táveis – que deram origem ao repugnante darwinismo social

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Darwinismo e humanidades • 41

e ao hediondo crime da eugenia – só poderiam ter levado as


humanidades a recusar qualquer convite para que a relação
fosse reavaliada.
Mesmo assim, a biofobia resultante de tão negativo le-
gado não chegou a impedir que, nos anos 1980, o darwinismo
começasse a se legitimar como base epistemológica que não
se restringe às ciências da vida.

Trinta anos de retomada (1975-2005)


Com certa demora, a consolidação da biológica síntese
moderna (1936-1950) acabou gerando movimentos paralelos
e independentes de import-export. Os principais precurso-
res de tal retomada foram, com certeza, o psicólogo Donald
Campbell (1960), o zoólogo Vero Copner Wynne-Edwards
(1962) e o biólogo William David “Bill” Hamilton (1964).
Na sequência, essas contribuições engendraram duas
tentativas bem influentes – mas muito controversas – de
biólogos que se propuseram a exportar o darwinismo para
o entendimento dos comportamentos humanos. Já pelo lado
das humanidades, foram bem mais cuidadosas e prudentes
as importações de princípios darwinistas pela antropologia,
pela psicologia, pela economia e, em bem menor medida,
pela sociologia.
As radicais exportações foram a sociobiologia humana,
de Edward O. Wilson e a memética, de Richard Dawkins. As
mais influentes entre as primeiras importações foram a antro-
pológica – principalmente a proposta pelos ecólogos Robert
Boyd e Peter Richerson, com sua teoria da dupla heredi­
tariedade – e a que foi introduzida na análise da mudança
econômica, por Richard Nelson e Sidney Winter. Na socio-
logia, merece destaque a trajetória intelectual de Stephen K.
Sanderson, muito embora o grande marco do que está sendo
aqui chamado de retomada tenha sido o seminal artigo do

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42 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

psicólogo e biólogo Robert L. Trivers (1971), um dos funda-


dores da sociobiologia.
Quanto à memética, basta dizer que, apesar de alguns
indícios de que ela continue a atrair pesquisadores, o fato é
que não obteve qualquer fundamentação razoável desde que,
em 1976, Dawkins lançou a ideia de meme como unidade
de transmissão cultural, ou de imitação, no último capítulo de
O gene egoísta. Além da excelente crítica de Guillo (2009), o
insucesso dessa empreitada foi largamente confirmado pela
própria trajetória do Journal of Memetics.1
Já a sociobiologia tem se mostrado robusta no tocante
aos animais não humanos, mas de avaliação mais complexa
no âmbito humano.

Sociobiologia humana
No que se refere mais especificamente à sociobiologia
humana, um ótimo relato de sua ascensão e queda está no
capítulo 18 do livro de Edward O. Wilson (2013, p. 202-213),
A conquista social da Terra. Conta que, em meados dos anos
1960, tanto se entusiasmara com a hipótese de seleção de
parentesco, que lhe dera posição de destaque em três livros
da década seguinte: The Insect Societies (1971), Sociobiology: The
New Synthesis (1975) e Da natureza humana (1978). Porém, mu-
dou inteiramente de posição a partir do início dos anos 1990,
quando evidências contrárias a essa hipótese, assim como
indícios substanciais favoráveis à hipótese de seleção de gru-
po, mostraram-lhe que os “altruístas hereditários formam
grupos (...) cooperativos e bem organizados a fim de superar
grupos não altruístas competitivos” (Wilson 2013, p. 203).

1 Ver http://pcp.vub.ac.be/jom-emit/history.html. Acesso em 04-08-2017.

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Darwinismo e humanidades • 43

Entre meados dos anos 1960 e meados dos anos 1990, os


biólogos darwinistas estiveram convencidos de que a força
dinâmica fundamental da evolução da humanidade estava
na seleção de parentesco, isto é, a ideia de que os pais, a pro-
le, seus primos e outros parentes colaterais são unidos pela
coordenação e pela unidade de propósito possibilitadas por
atos desinteressados mútuos. Cada membro do grupo seria
beneficiado por uma espécie de altruísmo porque cada indiví-
duo com essa inclinação compartilha genes, pela descendên-
cia comum, com a maioria dos outros membros de seu grupo.
Devido ao compartilhamento de parentes, seu sacrifício
aumenta a abundância relativa desses genes na geração se-
guinte. Se o aumento for maior que o número médio perdido
pela redução do número de genes transmitidos por meio da
descendência pessoal, o suposto altruísmo seria favorecido.
Hoje, ao contrário, há quem diga que uma parte do có-
digo genético do comportamento social dos seres humanos
modernos prescreve traços que favorecem os indivíduos den-
tro do grupo, e que outra parte prescreve os traços que favo-
recem o sucesso do grupo na competição com outros grupos.
Para Edward O. Wilson (2013, p. 73), a seleção natural no ní-
vel individual, com a evolução de estratégias que contribuem
para a máxima quantidade de prole madura, tem prevalecido
ao longo da história da vida. Ela costuma moldar a fisiologia
e o comportamento dos organismos para que se adaptem a
uma vida solitária ou, no máximo, à participação em grupos
frouxamente organizados.
A origem da eussocialidade, em que os organismos se
comportam de forma oposta, só tem sido rara na história da
vida porque a seleção de grupo precisa de uma força extraor-
dinária para contrabalançar o domínio da seleção individual.
Apenas assim ela consegue modificar o efeito conservador da
seleção individual e introduzir comportamentos altamente
cooperativos na fisiologia e no comportamento dos membros
do grupo.

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44 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Daí a conclusão de que a força dinâmica que explica a


ascensão da humanidade seja a seleção natural multinível.
Por um dos níveis, a competição entre indivíduos engen-
dra comportamentos egoístas; por outro, a competição entre
grupos favorece traços sociais cooperativos. O que marcou o
caminho para a eussocialidade foi, portanto, a tensão entre
a seleção baseada no sucesso relativo dos indivíduos dentro
dos grupos, versus o sucesso relativo entre grupos, num com-
plexo mix de altruísmo, cooperação, competição, domínio,
reciprocidade, deserção e fraude (Wilson, 2013, p. 28).
O fato é que o traumático debate que se seguiu ao es-
boço da sociobiologia humana, lançado em 1975 por Edward
O. Wilson (um curtíssimo capítulo final de uma imensa obra
quase toda dedicada à sociobiologia não-humana), acabou ge-
rando – uns dez anos depois – razoável acolhida do darwinis-
mo em ao menos três disciplinas dedicadas ao entendimento
de comportamentos humanos: psicologia, antropologia e eco-
nomia. Mas também se destacam na literatura científica cru-
ciais contribuições darwinistas provenientes de outras cinco:
arqueologia, ciência política, filosofia, sociologia e história das
relações internacionais.
Os atuais expoentes são:
a) Antropologia: Robert Boyd e Peter J. Richerson; William
H. Durham;
b) Arqueologia: Robert Dunnel;
c) Economia: Richard R. Nelson e Sidney Winter; Geoffrey
Hodgson; Samuel Bowles e Herbert Gintis;
d) Ciência política e história: Francis Fukuyama; George Mo-
delsky; William R. Thompson;
e) Filosofia: Elliot Sober; Daniel Dennet; David L. Hull;
f) Geografia: Ron A. Boschma e Jan G. Lambooy;
g) Psicologia: Steven Pinker; Leda Cosmides e John Tooby;
h) Sociologia: Joseph Lopreato e Timothy Crippen; W. G.
Runciman; Stephen K. Sanderson.

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Darwinismo e humanidades • 45

As três sociedades científicas que mais contribuem para


tirar o darwinismo do gueto das biociências foram criadas na
segunda metade da década de 1980. Psicólogos e antropólo-
gos se juntaram a biólogos para fundar a Human Behavior and
Evolution Society (HBES), que lançou o periódico Evolution &
Human Behavior como sucessor do Ethology & Sociobiology.
Pesquisadores dessas três disciplinas também se associaram
a ecólogos na International Society for Behavioral Ecology (ISBE),
que publica Behavioral Ecology. E economistas fundaram a
International Joseph A. Schumpeter Society (ISS), que edita o
Journal of Evolutionary Economics.
Foi amplamente fundada em analogia a proposta antro-
pológica da dupla hereditariedade, ou da coevolução gene/
cultura, lançada em meados de 1980 – quando a seleção de
parentesco ainda era dominante na biologia (Richerson &
Boyd, 1984; Boyd & Richerson 1985). A lógica da descen-
dência com modificação também funcionaria na cultura, mas
de maneira autônoma. Uma reprodução diferenciada de va-
riantes culturais existentes.
Apesar da falta de trabalhos empíricos suficientes para
que pudesse persuadir os pesquisadores do ramo (Irons,
2009), foi certamente a influência da contribuição de Boyd e
Richerson (1985) que acabou engendrando a atual compreen-
são de que os humanos se comportam simultaneamente como
cooperadores condicionais e castigadores altruístas, isto é, tão pre-
dispostos a cooperar com os outros quanto prontos a punir os
que violarem as normas dessa cooperação, mesmo em circuns-
tâncias nas quais tenham que assumir custos irrecuperáveis.
Ao lado de Robert Boyd, os principais analistas desse padrão
comportamental, batizado de forte reciprocidade, têm sido
os economistas Herbert Gintis, Samuel Bowles e Ernst Fehr,
assim como o psicólogo Joseph Henrich (Gintis et al., 2008).

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46 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Sociólogos organizaram importantes workshops na


Áustria, em 2001, e na Alemanha, em 2006, cujas resultan-
tes coletâneas (Meleghy & Niedenzu, 2001; Niedenzu et al.,
2008) explicam qual tem sido o diálogo dessa disciplina com
o darwinismo: bem descontínuo, além de muito marginal, no
qual o principal destaque é, com certeza, a obra de Stephen K.
Sanderson. Segundo ele, o entendimento da mudança social
permanecerá muito precário se os estudiosos das humanida-
des continuarem a desprezar, ou mesmo subestimar, o peso
relativo da natureza humana, principalmente no que diz res-
peito a um conjunto de 25 questões muito mal enfrentadas
pelas ciências sociais, que vão desde as que se referem à vio-
lência ou ao matrimônio, até temas como religião ou artes,
passando pelas relações entre status e riqueza, poder e polí­
tica, ou, obviamente, raça e etnia.
Sanderson foi tardiamente ganho para o darwinismo, e
em versão bem light. Discorda de eminentes colegas para os
quais o entendimento da evolução social e da evolução bio-
lógica deveria recorrer às mesmíssimas bases teóricas, como
propõe, por exemplo, Walter Garry Runciman, do Trinity
College.
Contra essa generalização darwinista, Sanderson real-
ça até demais o contraste entre os três vetores da evolução
biológica darwiniana – variação genética, seleção e sucesso
reprodutivo – e as quatro condições materiais mais decisi-
vas da evolução social: ecológica, demográfica, tecnológica
e econômica. Várias de suas publicações foram consagradas
à árdua elaboração de uma teoria híbrida que denominou
DCT (Darwinian Conflict Theory), na qual sua leve aborda-
gem darwinista foi conjugada à estratégia teórica do materia-
lismo cultural, proposta no final da década de 1970 por seu
principal inspirador, o então influente antropólogo Marvin
Harris (1927-2001). Porém, a DCT sequer é mencionada em
seu 12o livro, publicado no início de 2014.

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Darwinismo e humanidades • 47

Deve ser ressaltada aqui a persuasiva abordagem de


Francis Fukuyama, muito embora seja um investimento teóri-
co mais de política comparada do que de sociologia. No inte-
ressantíssimo primeiro volume de sua trilogia sobre a história
política desde os tempos pré-humanos, parte do que chama
de “analogia óbvia entre o princípio da seleção natural de
Darwin e a evolução social competitiva humana” (Fukuyama,
2011, p. 70) e ao menos explicita na parte conclusiva, sobre
o rumo de uma teoria do desenvolvimento político, que “as
unidades de seleção são regras e suas incorporações são insti-
tuições” (Fukuyama, 2011, p. 483).
Todavia, Fukuyama permanece prisioneiro da tese que
“a sociabilidade natural humana baseia-se em dois princípios:
seleção de parentesco e altruísmo recíproco” (Fukuyama,
2011, p. 475), o que, para usar palavras de Edward O. Wilson
(2013, p. 69), não passou de uma “bela teoria” que “nunca
funcionou perfeitamente, a agora ruiu”.
A partir de 1982, os economistas Nelson e Winter se va-
leram de inteligente analogia na qual organismos individuais
(fenótipos) correspondem às firmas; populações a mercados
(indústrias); genes (genótipos) às rotinas (regras de decisão)
ou formas organizacionais; mutações às inovações (em sen-
tido amplo); e lucratividade à aptidão (fitness) (Possas, 2008,
p. 287).
Assim, firmas com rotinas mais adequadas à obtenção de
maior lucratividade levam a seu maior crescimento no mer-
cado e, portanto, maior market share. Inovações que tenham
potencial para gerar rotinas indutoras de maior lucratividade
serão selecionadas por terem maior sucesso competitivo. Em
suma, rotinas mais rentáveis tenderão a ser selecionadas em
detrimento das demais, aumentando sua participação no pool
de rotinas da indústria, assim como genes selecionados au-
mentam sua participação no pool genético de uma população.

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48 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Os dois componentes-chave dessa analogia são os me-


canismos de variação (mutação) e de seleção. O primeiro cor-
respondendo à inovação econômica, realizada no âmbito da
firma – só que mediante um processo de busca (search), e não
de forma espontânea. E o segundo relacionado à seleção das
respectivas rotinas, realizada pelo mercado.
Todavia, foi uma grande insatisfação com as limitações
das analogias em geral – as econômicas ou as antropológicas
mencionadas mais acima – que impulsionou os trabalhos do
economista Geoffrey Hodgson, depois sistematizados no livro
Darwin’s Conjecture, em co-autoria com Thorbjorn Knudsen
(2010). Neste caso, a tese é a do darwinismo como metateoria
ou epistemologia para o entendimento da evolução, seja ela
biológica ou social/cultural.
É verdade que a analogia com um pêndulo ajuda muito
na formulação de equações diferenciais que traduzam qual-
quer movimento cíclico. Não menos útil é a analogia com sis-
temas hidráulicos para explicar o fluxo circular da renda no
sistema econômico. Nada de parecido com esses dois exem-
plos, porém, é o que permite afirmar que princípios darwi-
nistas orientam a evolução dos sistemas sociais, e não apenas
dos naturais. Nesse âmbito, o que ocorre é generalização se-
melhante à das leis físicas do movimento, válidas tanto para
planetas e foguetes quanto para bicicletas ou bolas de bilhar,
apesar das tantas e imensas diferenças que as separam.
A pergunta que imediatamente se impõe é se esse ar-
gumento – tão oposto à ideia de analogia e tão favorável à
generalização – não desembocaria na célebre tese do já men-
cionado darwinismo universal, lançada em 1983 por Richard
Dawkins, e à qual aderiram principalmente John Campbell,
Daniel C. Dennet, Susan Blackmore.2

2 Ver www.universaldarwinism.com. Acesso em 07-08-2017.

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Darwinismo e humanidades • 49

Não é a resposta, por ser abusiva a proposição de que


os princípios darwinistas teriam validade universal, já que
só dizem respeito à evolução de sistemas populacionais com­
plexos. Darwinismo é a teoria que permite entender tais siste-
mas mediante seleção de unidades de instruções replicadas.
Baseia-se, portanto, basicamente em três conceitos-chave:
a) Sistemas populacionais complexos: são sistemas naturais e so-
ciais que contêm entidades múltiplas (intencionais e não in-
tencionais) e bem variadas, que interagem com o ambiente
e entre si. Entidades que enfrentam imediata escassez de
recursos e lutam para sobreviver, seja por conflito ou coo-
peração, e entidades que se adaptam e passam informação
para outras mediante replicação ou imitação.
b) Seleção: como um princípio, a seleção pode ser entendida
simplesmente pela ideia de que, em um sistema popula-
cional complexo, algumas entidades tendem a se adaptar
mais do que outras, algumas tendem a sobreviver mais
tempo do que outras, e algumas se mostram mais aptas
do que outras na geração de proles/crias ou de cópias
de si mesmas. Isso implica que todos os componentes do
posterior conjunto de entidades são bastante similares a
uma parte dos componentes do conjunto anterior, e que as
resultantes frequências das entidades posteriores têm não
apenas correlação positiva, mas de causa e efeito com sua
aptidão (fitness) ao contexto ambiental. A transformação
do conjunto anterior no posterior é causada por interação
de entidades em ambiente específico.
c) Replicação/replicadores: replicador é uma estrutura material
abrigada pela entidade que é causalmente envolvida no
processo de replicação e que obtém de uma fonte a infor-
mação que o torna similar a ela. Replicação, sinônimo de
herança, é o processo pelo qual ocorre a cópia de replica-
dores sob três condições: a) Implicação causal: a fonte tem

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50 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

que estar causalmente envolvida na produção da cópia, ao


menos no sentido de que, sem a fonte, essa cópia específica
não teria ocorrido; b) Similaridade: a cópia precisa parecer
com sua fonte em relevantes aspectos, particularmente no
fato de a entidade replicada ter de também ser ou conter
um replicador; c) Transferência de informação: durante sua
criação, a cópia precisa obter a informação de uma fonte
que a torne similar a ela.

Esse esforço de demonstrar que é geral – isto é, válido


tanto para sistemas vitais quanto sociais (darwinismo genera-
lizado) – levou Hodgson e Knudsen (2010) à formulação de
muitas outras noções complementares. Mas, como a essência
do darwinismo é a ideia de seleção de unidades de instru-
ção replicadas, o que parece mais importante é ter em conta
que, para esses dois economistas, os replicadores são: genes e
príons no âmbito biológico; e hábitos, rotinas e costumes no
âmbito social.
Finalmente – mas não menos importante do que os des-
taques já feitos sobre a retomada (1975-2005) – é necessário
lembrar a valiosa contribuição, pioneira no campo das huma-
nidades, de um autor que não deveria ter caído no esqueci-
mento: Kenneth Ewart Boulding (1919-1993), doutor honoris
causa de trinta universidades, em disciplinas como economia
e ciência política, e também por suas contribuições para o
conjunto das humanidades e por suas pesquisas sobre a paz.
Com formação inicial em economia, ele fundou, em 1954 —
com dois biólogos e um matemático — a associação que veio
a se tornar a International Society for the Systems Sciences (ISSS).
Dos trinta livros publicados por Boulding entre 1941
e 1993, o mais relevante para o darwinismo é Ecodynamics:
A new theory of societal evolution, quase todo ele dedicado à
evolução da sociedade, após alguns capítulos sobre os outros

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Darwinismo e humanidades • 51

dois padrões evolucionários: o físico e o biológico. Além da


evolução, diz Boulding, o outro único processo universal é
a segunda lei da termodinâmica, sobre a crescente entropia.
O ponto de partida de sua nova teoria sobre a evolução
societal é a hereditariedade pela aprendizagem, para a qual
criou o neologismo noogenética, que seria até mais relevante
que a biogenética, pois os processos pelos quais cada geração
de seres humanos ensina à seguinte são muito mais impor-
tantes que o processo de transmissão dos genes biológicos.
Também não considera provável que haja sérios obs­
táculos genéticos à aprendizagem, pois são superáveis por
técnicas de ensino. Boulding mostra-se convicto de que os li-
mites biogenéticos ao aprendizado são raramente atingidos;
ao contrário, são os próprios padrões de aprendizagem que
se mostram autolimitadores.
Uma das principais diferenças que podem ser identifica-
das na comparação entre as dinâmicas biológicas e sociais é,
evidentemente, a capacidade de desenvolvimento organiza-
cional. A fisiologia e o ciclo de vida nos ancestrais dos insetos
sociais e dos seres humanos diferiram fundamentalmente nos
caminhos evolutivos seguidos para a formação das socieda-
des avançadas.
Em dinâmicas biológicas não há nada parecido com as
atividades humanas que geram suas organizações, chamadas
por Boulding de organizadores sociais. Poder-se-ia evocar as
enzimas, mas seria uma analogia demasiadamente precária.
Os organizadores sociais são relacionamentos entre dois ou
mais indivíduos que levam à criação de grandes redes de
hierarquia, dependência e reciprocidade. E há três grandes
classes de organizadores sociais, conforme as bases do rela-
cionamento sejam ameaças, trocas ou integração.
O termo ameaça tem dois sentidos, e um deles pode
causar confusão. Quando se diz que há ameaça de algum

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52 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

desastre natural, como algum evento climático extremo, tra-


ta-se de uma falsa analogia animista do sentido real desse
termo. Propriamente dita, a ameaça é uma afirmação explí-
cita ou implícita, feita de um para outro, do tipo “você faz
algo que eu quero ou farei algo que você não quer”. Ou ainda:
“você faz algo que eu perceberei como incremento à minha
condição ou farei algo que você perceberá como detrimento
à sua”. Quatro tipos de reações são possíveis à ameaça: sub-
missão, contestação (desafio, drible, blefe), contra-ameaça
(dissuasão) e fuga. O exemplo mais óbvio de ameaças entre
nações não poderia deixar de ser a corrida armamentista.
Um relacionamento de troca entre duas partes costuma
começar com um convite em vez de um desafio. Esse convite
pode ser do tipo “você faz algo que eu quero e eu farei algo
que você quer”, ou simplesmente o famoso “é dando que se
recebe”. No extremo oposto da ameaça, a troca envolve, é
claro, reciprocidade.
Vale lembrar que a troca de mercadorias está na origem
da divisão do trabalho e de tudo o que esta gerou como di-
versificação dos sistemas econômicos. Por isso, além das in-
ter-relações entre produção, consumo, preços e estoques, a
ilustração escolhida por Boulding para o seu modelo foi a das
inter-relações entre trocas e ameaças, o que o levou a esboçar
alguns esquemas básicos da teoria dos jogos.
Bem menos óbvia é a terceira classe de organizadores
sociais, denominada pelo autor sistema integrativo. A ela
pertencem todos os tipos de relacionamento que agregam ou
desagregam os seres humanos, para além das ameaças e das
trocas. Vão do amor/ódio à identidade/alienação, passando
pela piedade/inveja, sociabilidade/misantropia, consenti-
mento/discórdia, legitimidade/ilegitimidade, dominância/
subordinação, igualdade/desigualdade, etc.

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Darwinismo e humanidades • 53

Duas promissoras controvérsias


(desde 2005/6)
Como se fossem aprofundamentos das teses de Boulding,
duas recentes polêmicas na biologia evolutiva parecem cru-
ciais para as humanidades.
O livro de Jablonka e Lamb (2005), sobre quatro dimen-
sões da evolução, foi objeto, em 2007, de uma síntese seguida
de treze críticas e uma réplica na revista Behavioral and Brain
Sciences (Jablonka & Lamb, 2007). Esse debate foi recentemen-
te retomado no plano filosófico por Pigliucci e Finkelman
(2014).
O artigo de Nowak et al. (2010) sobre os limites da se-
leção de parentesco (inclusive fitness), publicado na Nature,
chamou a atenção para a contribuição de Nowak (2006) e ge-
rou em 2011 um inusitado dossiê com cinco críticas, uma das
quais foi assinada por 103 pesquisadores também publicada
na Nature (Nowak et al., 2011). Ao menos três outras impor-
tantes publicações ilustram o trauma causado por essas ideias
sobre seleção de grupo e seleção multinível: Pinker (2012),
Lehrer (2012), Servigne (2013).
Desde o final do século passado, tem ocorrido um pro-
cesso de mudança no pensamento sobre hereditariedade e
evolução, tão rápido e significativo, que chega a ser consi-
derado revolucionário. Parece o surgimento de uma síntese
bem diferente, que desafia a visão centrada no gene, con­
ceito até pouco absolutamente dominante na biologia. Esse
é o recado central de Jablonka e Lamb (2005, 2007), que di-
zem que as mudanças conceituais em curso se baseiam no
conhecimento proveniente de quase todos os ramos biológi-
cos, mas que as principais constatações são essencialmente
quatro: 1) há mais coisas na hereditariedade do que genes;

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54 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

2) em sua origem, algumas variações hereditárias nada têm


de aleatórias; 3) algumas informações adquiridas são herda-
das; 4) mudanças evolutivas podem resultar de instrução,
assim como de seleção.
Tais assertivas podem parecer pura heresia para quem
tenha como referência a versão mais usual da teoria da evo-
lução de Darwin, como a que foi apresentada mais acima:
sempre focada na adaptação que ocorre por meio de sele-
ção natural de variações genéticas aleatórias. No entanto, a
biologia molecular tende a mostrar o quanto estão erradas
muitas das suposições sobre o sistema genético. Já mostrou,
por exemplo, que as células são capazes de transmitir infor-
mação às células-filhas por herança não relacionada ao DNA
(epigenética), o que significa que todos os organismos têm
ao menos dois sistemas de hereditariedade. Além disso, há
muita informação transmitida entre animais por meios com-
portamentais, o que lhes confere um terceiro sistema de here­
ditariedade. E os humanos têm quatro, pois uma herança
baseada em símbolos – particularmente a linguagem – de-
sempenha papel crucial em sua evolução.
Surge assim uma visão muito diferente do darwinismo
quando se leva em conta esses quatro sistemas de herança e
as interações entre eles, pois mudanças induzidas e adquiri-
das também têm papéis na evolução. As heranças epigenéti-
ca, comportamental e simbólica também fornecem variações
sobre as quais pode atuar a seleção natural. Por isso, não seria
mais possível reduzir hereditariedade e evolução ao sistema
genético.
Já são duas novidades fundamentais para as humanida-
des: primeiro, a afirmação de que a terceira dimensão (com-
portamental) pode ser tratada separadamente da primeira
(genética), pois contraria a forte tendência – talvez ainda do-
minante entre evolucionistas que estudam comportamentos

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Darwinismo e humanidades • 55

humanos – de reduzi-los à sua base genética. A outra é que


a frequência de comportamentos socialmente aprendidos
durante a mudança cultural varia muito por ocorrer em com-
plexos sistemas socioecológicos.
Há interação entre três sistemas de herança comporta-
mentais: por transferência de substâncias, por aprendizado
socialmente mediado pela observação de indivíduos mais
experientes e por imitação. A exemplo, respectivamente: a
formação de preferências alimentares, o processo de aprendi-
zado nos primeiros três dias de vida e a imitação vocal. Mas
a mais radical diferenciação dos humanos ocorreu porque –
sempre conforme Jablonka e Lamb (2010) – outro modo de
transmissão, além desses três sistemas de herança comporta-
mentais, evoluiu e assumiu o controle: a transferência maciça
de informação mediante símbolos. O que mais distingue a
evolução humana é, portanto, a consciência e a capacidade de
comunicar tanto sua história pretérita (mítica ou real) quanto
necessidades e ambições futuras.
Tão ou mais importante que essa tese de Jablonka e
Lamb (2005) sobre as quatro dimensões da evolução, é o fato
de outros biólogos evolutivos passarem a negar que as possi-
bilidades de cooperação entre as pessoas dependeriam direta
e exclusivamente de sua proximidade genealógica. A ideia de
aptidão inclusiva, baseada em seleção de parentesco que, a
partir de 1964, tendera a se tornar unânime no campo darwi-
nista, passou a ser, ao contrário, minimizada, principalmente
pelas simulações computacionais de Martin A. Nowak. Foi o
que levou seu colega Edward O. Wilson à guinada em favor
da seleção multinível baseada em “cinco regras da evolução
da cooperação”, título de artigo de Nowak (2006) na revista
Science, com a ótima versão popular intitulada Why We Help,
na Scientific American de julho de 2012.
No que se refere às sociedades humanas, um grande
avanço havia sido a tese proposta em 1981 pelo cientista

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56 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

político da Universidade de Michigan, Robert Axelrod, que


três anos depois lançou o hoje clássico A Evolução da Coope-
ração. A proeza de Axelrod foi executar inéditas simulações
computacionais que confirmaram hipóteses formuladas na
década anterior por biólogos evolutivos: nepotismo e recipro-
cidade seriam os dois fatores determinantes da cooperação.
Na ausência do primeiro, ela estaria na dependência de um
padrão comportamental em que cada um dos atores repete
o movimento do outro, reagindo positivamente a atitudes
coopera­tivas e negativamente a gestos hostis.
Ainda em plena Guerra Fria, quando o risco de um in-
verno nuclear exigia a cooperação bipolar entre EUA e URSS,
o que poderia fazer mais sucesso do que essa orientação ape-
lidada de tit-for-tat, título de uma das populares comédias
da dupla O Gordo e o Magro? Embora seja traduzida por
olho-por-olho, dente-por-dente, essa expressão está mais próxi-
ma do toma-lá-dá-cá, pois é uma estratégia que exige prévio
arranque cooperativo.
Como sempre ocorre na ciência, boa resposta a uma difí-
cil questão faz com que pipoquem novas dúvidas. Por exem-
plo: se por mera razão acidental um dos atores falhar em fazer
o esperado movimento positivo, isso por si só inviabiliza a
continuidade da cooperação? E o que ocorreria quando o es-
quema de cooperação envolvesse mais do que dois atores?
Foram questões como essas que alavancaram o fulgurante
avanço da biologia matemática nos últimos vinte anos. O pa-
drão toma-lá-dá-cá hoje não passa de uma das três modalida-
des de uma das cinco dinâmicas de cooperação evidenciadas.
O tit-for-tat é manifestação rudimentar do que passou a
ser chamado de reciprocidade direta. Novas simulações in-
dicaram que eventual passo em falso pode engendrar uma
segunda chance, em estratégia apelidada de toma-lá-dá-cá
generoso, a origem evolutiva do perdão. Desdobramentos

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Darwinismo e humanidades • 57

ainda mais sofisticados revelaram a existência de uma ter­


ceira forma de reciprocidade direta, na qual o agente inverte
sua atitude anterior quando nota que as coisas vão mal, mas
logo depois volta a cooperar. Algo que já era bem conhecido
na etologia como o comportamento Win-Stay, Lose-Shift, co-
mum entre pombos, macacos, ratos e camundongos.
O segundo vetor da cooperação, chamado de recipro-
cidade indireta, foi crucial para a evolução da linguagem e
para o próprio desenvolvimento do cérebro humano, pois se
baseia no fenômeno da reputação. Nesse caso, o que condicio-
na as atitudes dos atores são comportamentos anteriores em
relações com terceiros. A cooperação avança quando a proba-
bilidade de um agente se inteirar sobre a reputação do outro
compensa o custo/benefício do ato altruísta.
Os demais determinantes da cooperação são as três
formas em que ocorre a seleção natural, pois, além da já
mencionada nepotista (de parentesco), ela não opera apenas
entre indivíduos, mas também entre grupos (multinível) e nas
redes (espacial). Todavia, as cinco regras de Martin Nowak
parecem se desdobrar em onze mecanismos para a evolu-
ção da cooperação, segundo o recente mapeamento feito por
Zaggl (2014).
Mesmo que tais observações não sejam suficientes para
que se possa ter uma boa ideia das descobertas da biologia
matemática no âmbito da dinâmica evolutiva, elas certamen-
te permitem notar que o darwinismo aponta tanto para a luta
quanto para a acomodação pela existência, o que certamente
deve fazer lembrar a interpretação da obra de Darwin pelo
príncipe russo Piotr Kropotkin (1881).

Epílogo: qual revolução?


A chamada balcanização das ciências sociais faz com
que impere nas humanidades uma opção cada vez mais

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58 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

ampla pelo ecletismo teórico, como se essa fosse a única rea-


ção possível à evidente inutilidade de apego a alguma de suas
muitas tradições e linhagens internas, ou a algum de seus im-
propriamente chamados paradigmas. O que não exclui, con-
tudo, tentativas de ruptura epistemológica, e até ontológica,
como é o caso da notória guinada quântica do renomado cien-
tista político Alexander Wendt (2006), iniciada em 2004 com
a autocrítica Social Theory as Cartesian Science.
Na fase anterior de sua influente produção – cujo núcleo
duro está no livro Social Theory of International Politics (1999) –
Wendt tentara trilhar uma terceira via (via media) entre posi-
tivismo e interpretativismo, mediante combinação da episte-
mologia de um e da ontologia do outro. Mas deixara apenas
implícito que seu fundamento metafísico estava na irredutí-
vel distinção entre mente (isto é, ideias) e matéria, segundo
ele um rump materialism. A principal virtude do dualismo
cartesiano seria a possibilidade de conciliar duas verdades a
seu ver fundamentais: as ideias não podem ser reduzidas a
condições materiais; mas, apesar disso, é possível conseguir
adequado conhecimento do mundo mediante uso do método
científico (Wendt, 2006).
Esse autor alerta que as ciências sociais recusam essa
autonomia ontológica das ideias por terem sido modeladas
pela física clássica. Atitude que costuma ser atribuída apenas
aos positivistas, mas que é partilhada pelos interpretativistas,
já que estes sequer colocam em dúvida o pressuposto clássico
segundo o qual a realidade é, em última instância, puramente
material. Problema que evidentemente não poderia ter sido
evitado antes da revolução quântica na física, mas que, se-
gundo ele, a partir dela já deveria ter sido enfrentado pelas
ciências sociais.
Todavia, essa viragem quântica proposta por Wendt é
uma empreitada das mais duvidosas, pois a relação entre

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Darwinismo e humanidades • 59

física quântica e o fenômeno da consciência – ou seja, a cha-


mada hipótese da consciência quântica – leva à impossibi-
lidade de se formular uma teoria cognitivo-quântica. Essa foi
a principal conclusão da minuciosa avaliação crítica dessa
proposta de virada ontológica e epistemológica das ciências
sociais, feita na tese de doutorado, na UnB, de Flávio Elias
Riche (2012). Ele analisou toda a obra de Wendt, particular-
mente a argumentação do incisivo capítulo de 2010, Flatland:
Quantum mind and the international system as hologram, mas
também esboços de capítulos de sua grande obra lançada
em 2015, assim como vários esclarecimentos obtidos em diá-
logos com Wendt.
Confirmações da tese de Riche (2012) estão na coletânea
Teoria Quântica: estudos históricos e implicações culturais, orga-
nizada por Freire Jr., Pessoa Jr. e Bromberg (2011), particular-
mente no tratamento dado pelo físico e professor de filosofia
da USP, Osvaldo Pessoa Jr., ao fenômeno cultural do misti­
cismo quântico.
No entanto, o problema da proposta de Wendt (2006,
2010) é anterior a qualquer contestação da hipótese da cons-
ciência quântica, pois ambas são tributárias do fisicalismo,
ou monopólio das ciências físicas. Ao contrário do que ain-
da supõem muitos pesquisadores – entre os quais se destaca
Wendt – a ciência política, assim como o conjunto das huma-
nidades, pertence às ciências históricas e não às ciências exa-
tas. Ao contrário das ciências físicas e químicas, suas teorias
se baseiam muito mais em conceitos do que em leis. E o cerne
dessa divisão é ocupado pelas ciências biológicas, pois a bio-
logia funcional é parte das ciências exatas, enquanto a biolo-
gia evolucionista pertence às ciências históricas (Mayr, 2005).
Daí a fragilidade do pressuposto de que a grande fronteira
entre as ciências seja a que separa as da natureza das demais.
Então, admitindo-se que as humanidades precisem, de
fato, superar seu intrínseco mecanicismo newtoniano, não

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60 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

seria para a revolução darwiniana, em vez da quântica, que


deveriam olhar? Não é ela que pode ser seu alicerce episte-
mológico?
Este capítulo procurou mostrar que o desenrolar da re-
lação entre darwinismo e humanidades tende a sugerir que,
por mais que possa demorar, deixará de existir clivagem epis-
temológica entre as ciências da vida e as ciências sociais.

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Capítulo 3

Duas visões sobre o


futuro das ciências

Este capítulo tem um duplo objetivo. Primeiro, rejeitar a


proposição de que a teoria quântica, e mais especificamente
a hipótese da mente quântica, poderiam promover uma uni-
ficação ontológica das ciências. Em seguida, mostrar que o
materialismo darwiniano já está engendrando notável apro-
ximação epistemológica entre algumas ciências, sem que isso
implique o prognóstico de eventual unificação. É indispensá-
vel, portanto, explicitar desde já os sentidos em que os termos
ontologia e epistemologia são aqui empregados.
É relativamente mais simples o esclarecimento sobre a
noção de ontologia. Tem-se uma questão ontológica sempre
que haja indagação sobre o que é isso ou aquilo. Por exemplo,
o que é elétron, o que é ser vivo, o que é sociedade, o que
é estar doente, o que é ser organizado, etc. Cada ciência foi
se construindo, então, para responder a uma imensa hetero-
geneidade de questões ontológicas. Por esse prisma, só faria
sentido pensar em unificação ontológica das ciências se a per-
gunta fosse do tipo “o que é o que existe”? “O que é tudo”?
Neste caso, uma ontologia geral, diferente das ontologias es-
pecíficas a cada ciência, faria parte, mesmo que preliminar, da
metafísica (Varzi, 2010, p. 14), e remeteria aos sonhos de uma

61

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62 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

teoria final, ou a especulações de uma teoria final ou de tudo


(Weinberg, 1993; Deutsch, 1997, 2011).
Já a noção de epistemologia sempre sofreu de uma espé-
cie de distúrbio dissociativo de identidade. A tendência que
prioriza a abordagem histórica na análise das ciências é sobre-
tudo francesa, mesmo que não faltem, claro, autores de outras
tradições que a tenham adotado. Foi, contudo, uma ênfase
muito maior para a lógica que fez com que essa dimensão per-
manecesse quase marginal na tradição anglo-saxã. Ao menos
até o terremoto provocado pela obra de Thomas Kuhn, que,
mesmo assim, não impediu que nessa parte do mundo perma-
neça mais forte uma clara diferenciação entre epistemologia e
filosofia da ciência, que continuam sinônimos para os filósofos
franceses (Wagner, 2002, p. 42; Laugier, 2002, p. 966).
De qualquer forma, uma questão é epistemológica sem-
pre que a pergunta for “como entender ou tentar explicar isso
ou aquilo?”. Por exemplo, os comportamentos dos elétrons, as
formas de vida, os funcionamentos das sociedades, as doen-
ças, as organizações, etc. Como as respostas que podem ser
dadas a tais perguntas pelas ciências sempre serão extrema-
mente heterogêneas, não parece razoável a ideia de eventual
unificação, por mais que ela tenha feito parte de alguns proje-
tos positivistas.1
Nada impede, contudo, que se procure saber se existe
algo em comum nessa dispersão de respostas, isto é, se apesar
dos imprescindíveis reducionismos disciplinares, algumas
formulações poderiam ser partes comuns a todas essas epis-
temologias. Com isso, a dispersão disciplinar e o aumento
das especializações poderiam ser simultâneos a uma aproxi-
mação epistemológica.

1 A perspectiva aqui adotada, que tem por referências essenciais Wagner (2002) e
Laugier (2002), não adere, portanto, à ideia bem mais genérica de epistemologia
como reflexão sobre o conhecimento.

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 63

São suficientes essas considerações preliminares para


introduzir este capítulo, que tem duas seções sobre a teoria
quântica, uma terceira sobre o materialismo darwiniano e um
fecho que realça implicações teóricas.

Teoria quântica e hipótese da


mente quântica
Há duas noções fundamentais da física quântica que
não chegam a ser misteriosas aos leigos, por mais que pos-
sam ser contraintuitivas: a superposição (também chamada
de sobreposição) e o emaranhamento (também chamado de
entrelaçamento).
Uma partícula subatômica não pode estar em dois es-
tados simultaneamente, mas nada impede que esteja numa
combinação – ou superposição – deles, o que produz um ter-
ceiro estado, diferente. Segundo o princípio da superposi-
ção, pode-se preparar um estado que seja a combinação linear
de dois estados anteriores, muito embora o objeto quântico
esteja sempre em um estado único. Por exemplo, um elétron
pode seguir uma ou outra trajetória, permanecendo poten-
cialmente em duas trajetórias distintas até o momento em que
se faça uma medição de sua trajetória.
Já o emaranhamento é um fenômeno que permite que
duas ou mais partículas – mesmo que espacialmente separa-
das por milhões de anos-luz – estejam tão ligadas que uma
delas só possa ser corretamente descrita com a inclusão de
sua contraparte.
Superposição e emaranhamento já são suficientes para
que se entenda duas fatalidades desse campo do conheci­
mento. A primeira é que são fenômenos forçosamente sujeitos
a muitas interpretações (da ordem de uma centena). A segun-
da é que tamanha diversidade interpretativa também abre

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64 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

imenso flanco para elucubrações das mais diversas, mesmo


sobre questões que a ciência talvez jamais possa explicar.2
O mais sério embaraço decorre, contudo, de especula-
ções legitimamente admissíveis no âmbito dessa algaravia de
interpretações. E uma das que parece ter alto impacto sobre
as demais ciências, sobre as humanidades e, inevitavelmente,
sobre a filosofia, é a que pretende explicar a consciência com
recurso à chamada hipótese da mente quântica.
Trata-se de uma tripla suposição. A primeira é a que
desfruta de aceitação geral: no interior dos neurônios exis-
tem estruturas intracelulares com paredes de proteínas (mi-
crotúbulos formados por tubulinas). A segunda também não
está sujeita a muita controvérsia: tais estruturas orientam as
cargas elétricas que são os sinais sinápticos. Já a terceira é bem
problemática: todas essas interligações proteicas não seriam
apenas sistêmicas, mas orquestradas por superposições e
emaranhamentos quânticos. Daí o nome de batismo dessa hi-
pótese combinar três termos – redução objetiva orquestrada –
que lhe renderam o apelido de ORCH OR, algo bem próximo
de seu acrônimo em língua inglesa.3
Essa hipótese, cuja terceira suposição é tão questionável,
já parece complicada demais para leigos, sem dúvida alguma.
Então, cabe perguntar por que poderia ter forte influência so-
bre pesquisadores de outras áreas, em geral tão incapazes de
entendê-la quanto qualquer outro mortal.
Aparentemente, por três razões. Primeiro, porque a
ORCH OR não apela para nada que seja extranatural ou
oculto. Se o fizesse, imediatamente perderia qualquer chance
de ser levada a sério pelo grosso da comunidade científica.

2 Sobre os problemas causados por tamanha diversidade interpretativa, são bem


elucidativos quatro trabalhos do filósofo e físico quântico Osvaldo Pessoa Jr. (1998,
2001, 2008 e 2011).
3 Tal hipótese surgiu nos anos 1980, simultaneamente esboçada na Grã-Bretanha pelo
físico matemático Roger Penrose e nos Estados Unidos pelo anestesiologista Stuart
Hameroff. A partir de 1996 também foram co-autores. Ver Penrose (1989 e 1994),
Hameroff (1994) e Hameroff e Penrose (1996).

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 65

Segundo, porque, abaixo do nível neural, o conhecimento do


cérebro continua a ser objeto de pesquisas de fronteira, mes-
mo que já muito tenha sido descoberto sobre os componentes
das células. E terceiro, porque aparentemente não se avança
muito nesse terreno com as lentes da física clássica.
Some-se a esse trio o crescente desconforto paradigmá-
tico que domina as ciências – principalmente as sociais e o
conjunto das humanidades – para que se entenda a atração
que um intrigante prognóstico quântico sobre a mente pos-
sa exercer sobre quem desconfia que sua própria disciplina
científica permanece bitolada por analogias com a física clás-
sica, em vez de incorporar os avanços da já secular revolução
quântica.
Não é outra a essência do livro ao qual o cientista políti-
co Alexander Wendt, premiado teórico das relações interna-
cionais, acabou por consagrar dez dos seus 58 anos de vida.
Ao apostar que a ORCH OR levará à unificação ontológica
das ciências físicas e sociais, Wendt estranhamente adverte
que, caso suas virtudes esclarecedoras não sejam suficientes,
sua coerência, seu alcance e sua simplicidade mostram que é
elegante demais para não ser verdade, cabendo a seus leitores
descobrir em que consistiria tal elegância.4
Claro, não se pode liminarmente descartar que o fenôme-
no da consciência possa vir a ser entendido mediante recurso
à teoria quântica. Afinal, a consciência continua a ser motivo
de grande indagação em praticamente todos os campos do
conhecimento, principalmente nos das humanidades, para as
quais é um enigma. Mas há ao menos dois motivos para que
a análise do mérito resulte em rejeição da aposta de Wendt, e

4 Ver Wendt (2015). Na página 293, lemos: “I want to conclude with a bold claim:
whatever their current force as explanatory virtues, the coherence, breadth, and
simplicity of the quantum hypothesis make it too elegant not to be true.” [Quero con-
cluir com uma enfática declaração: sejam quais forem suas virtudes explicativas, a
coerência, o alcance e a simplicidade da hipótese quântica fazem com que ela seja
elegante demais para não ser verdadeira.] Ver também Riche (2012).

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66 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

o primeiro é ele ter sido atirado no colo de duas singulares


correntes filosóficas: o pampsiquismo e o vitalismo.
Adeptos da corrente filosófica chamada de pampsi-
quismo sustentam que todas as partes da matéria implicam
algum nível de mentalidade, ou que tudo não seja mais do
que simples véu de um reino infinito de vida mental. Por isso
o mundo deveria ser concebido como um organismo vivo e
animado, que também possuiria alma. A humanidade seria
tão somente uma pequena parte de um cosmo a ser compreen­
dido em termos antropomórficos.
A versão mais atual dessa corrente toma um efeito bem
conhecido em nível macroscópico – que nós somos conscien-
tes – e o expande para baixo, ao nível subatômico, afirmando
que a matéria é intrinsicamente mentalizada. Por isso, para
Wendt, o pampsiquismo se opõe ao materialismo, ao idea-
lismo e também ao dualismo. Mente e matéria constituiriam
uma dualidade – não um dualismo – por emergência de algo
subjacente que nem é mental, nem material.5
No entanto, o próprio Wendt (2015, p. 112) sugere que
os pampsiquistas adotem um adesivo com os dizeres “no
matter without mind, no mind without matter”, lembrando do
livro de Skrbina (2005, p. 114), que assim parafraseou Goethe.
Então, parece duvidosa a tão radical oposição enfatizada
anteriormente ao materialismo, ao idealismo e ao dualismo.
Um exagero que talvez pudesse ter sido evitado caso Wendt
também tivesse examinado outro livro de Skrbina (2009) e,
especialmente, o de Brüntrup e Jaskolla (2016), ou mesmo o
de Seager (2017). Afinal, existem vários materialismos e não
apenas um, como supõe Wendt em todo o seu livro.

5 Ver (Wendt, 2015, p. 31): “Panpsychism takes a known effect at the macroscopic level
– that we are conscious – and scales it downward to the sub-atomic level, meaning
that matter is intrinsically minded. With this principle of Fundamental Mentality
panpsychism opposes not only materialism but also idealism and dualism. […]
Mind and matter constitute a duality, not a dualism, one that I will argue emerges
form an underlying reality that is neither mental or material (a view known as neutral
monism).”

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 67

Mesmo que o pampsiquismo se distinga do vitalismo,


um tende a levar ao outro, pois o segundo propugna a existên-
cia de um impulso, de natureza imaterial, diferente das forças
físicas ou interações fisioquímicas conhecidas, como se fosse o
determinante de todos os fenômenos relativos aos seres vivos.
A rigor, algo tão semelhante à ideia de alma, que torna toda
visão que se sirva de tal palavra necessariamente vitalista.
Mais importante, contudo, é frisar que a decorrente pro-
posta de um vitalismo quântico ilumina um problema bem
mais geral. Pois a adesão a uma conjectura que, em princípio,
é realista e materialista – como é o caso da ORCH OR – empur-
ra um analista do calibre de Alexandre Wendt ao seu inverso.
Ou seja, mesmo fora de amálgamas com ideias espiritualistas
orientais, a física quântica favorece especulações ultraidea­
listas, que ostensivamente flertam com o esoterismo.
Resta saber se o conhecimento científico sobre o fenôme­
no da consciência obteve algum avanço baseado na teoria
quântica, e este é mais um motivo para que a aposta de Wendt
seja descartada. A resposta é completamente negativa se a
referência for a Associação para o Estudo Científico da Cons-
ciência,6 que em junho de 2016 realizou sua 20a reunião anual
em Buenos Aires, ou a imensa coletânea The Future of the
Brain, também recentemente publicada pela editora da Uni-
versidade de Princeton (Marcus & Freeman, 2014).
A irrelevância, não apenas da hipótese da mente quân-
tica, mas da própria teoria quântica, para a pesquisa sobre
a consciência também se confirma em consultas aos perió­
dicos que refletem o estado da arte nesse campo de pesquisa.
O Trends in Cognitive Sciences, por exemplo, publicou em no-
vembro de 2014 um balanço assinado por oito dos principais
expoentes da área, no qual foi enfatizada “a necessidade de se

6 Ver http://www.theassc.org/. Acesso em 08-08-2017.

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68 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

distinguir ideias rigorosas, cientificamente testáveis, de espe-


culações bizarras sobre a natureza da consciência – tais como
a visão de que os elétrons são conscientes – que podem facil-
mente atrair a atenção da mídia, mas que não são baseadas
em pesquisa empírica” (Block et al., 2014).
Claro, não faltarão filósofos para colocar em dúvida que
alguém saiba o que realmente é a experiência consciente. E
não poderia ser mais singelo o argumento dos seus colegas
convictos do inverso: sabe-se o que ela é, porque tê-la é co-
nhecê-la. E para quem mesmo assim insiste em questionar o
que se sabe sobre a consciência, esses pés-no-chão se valem
da resposta de Louis Armstrong a um repórter que lhe per-
guntou o que seria o jazz: “Se você precisa perguntar, você
nunca vai saber.”
Pior: ao enveredar pelo pampsiquismo e pelo que chama
de vitalismo quântico, a démarche de Wendt implica ao menos
mais três sérios problemas.
O primeiro é que esse encadeamento de ideias não en-
contra respaldo no âmbito da comunidade científica que lida
com a teoria quântica. É muito significativo seu efusivo agra-
decimento ao apoio entusiasmado do anestesiologista Stuart
Hameroff, e a omissão sobre a desconfiança do premiado fí-
sico matemático Roger Penrose, um dos dois (talvez o princi-
pal) proponentes da ORCH OR. Como já foi insinuado, essa
especulação faz muito mais sucesso entre os que se inclinam
ao misticismo quântico, na linha de Hameroff.7

7 Ótimo exemplo está na coluna “Quantum Quackery”, de Michael Shermer, na re-


vista Scientific American, reproduzida em seu livro Skeptic; Viewing the World with
a Rational Eye, de 2016. Depois do protesto enviado por Hameroff, o autor acres-
centou: “Nevertheless, since we still do not understand how molecular activity in
neurons translates into consciousness, making the jump from quantum effects at
even the molecular scale into thought processes and mental experience seems to me
to be unwarranted by the data” [Todavia, dado que ainda não se entende como a
atividade molecular nos neurônios se traduz em consciência, fazer com que efeitos
quânticos saltem da escala molecular para processos de pensamento e experiência
mental me parece algo que não tem apoio nos dados disponíveis.]

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 69

O segundo é que o livro enfatiza, desde o início, que


a área mais avançada da aplicação da física moderna à psi-
cologia é a teoria quântica da decisão, pois ela já explicaria
fenômenos normalmente considerados anômalos, como os
estudados pelo célebre psicólogo Daniel Kahneman e seu
parceiro Amos Tversky. Mas essa exitosa teoria da decisão
faz absoluta questão de explicitamente rejeitar a hipótese da
mente quântica.8
Ainda mais estranho, contudo, é o terceiro problema:
o fato de Wendt não ter chegado a explicar, de forma mini-
mamente inteligível, por que uma confirmação da hipótese
ORCH OR teria o dom de unificar as ciências físicas e sociais.
Tamanha extrapolação talvez tivesse sido mais persuasiva se,
ao menos, houvesse no livro alguma abordagem da travessia
do micro para o macro. Isto é, do quântico para o clássico,
cuja solução parcial – quase unanimemente aceita – é a recen-
te teoria da descoerência, tema básico da próxima seção.

Teoria quântica e darwinismo


Há na física quântica uma incógnita que precede qual-
quer tipo de discussão sobre sua possível pertinência para pes-
quisas a respeito do problema mente/corpo, da consciência,
da intencionalidade, etc. Aliás, deve preceder qualquer outra
consideração de suas muitas interpretações e abordagens filo-
sóficas. Além disso, é uma incógnita de fácil entendimento, por
mais complicados, complexos, áridos e obscuros que possam
ser os discursos sobre o assunto.

8 “Given the still nascent status of quantum cognition research, it is important to note
that it differs from the approaches which treat (parts of) the brain literally as material
quantum systems or a quantum computer (e.g., Hameroff & Penrose). In contrast,
our approach applies abstract, mathematical principles of quantum theory to inquiries
in cognitive science”. [Dado o estágio ainda incipiente da pesquisa sobre cognição
quântica, é importante notar que ela difere das abordagens que literalmente tratam o
cérebro (ou partes dele) como sistemas quânticos ou como um computador quântico
(Hameroff & Penrose, por exemplo). Em contraste, nossa abordagem aplica princípios
matemáticos abstratos da teoria quântica para investigações em ciência cognitiva.]
(Wang et al., 2013, p. 673).

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70 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

A todos os fenômenos materiais macroscópicos explica­


dos pela física clássica correspondem outros do substrato
subnanométrico, que por um século tem sido pesquisado
com razoável sucesso. Por isso, é muito esquisito que se possa
dar pouca atenção a essa travessia da fronteira entre o quantum
e o clássico, fenômeno que tem sido chamado de quantum-
-classical transition, muito bem sintetizada na pergunta do
editor da Nature, Philip Ball (2008, p. 22): “como o nosso mun-
do clássico emerge dos contraintuitivos princípios da teoria
quântica”?
Não há como exagerar, portanto, sobre o imenso avan-
ço que representou a explicação hoje amplamente aceita de
descoerência induzida pelo ambiente. A perda de comporta-
mento quântico é causada pelas interações das partículas com
seu ambiente. Os efeitos quânticos, como o comportamento
ondulatório dessas partículas, são de certa forma diluídos
pelas interações entre elas e seu ambiente. Tais interações
fazem com que uma partícula e seu ambiente se enredem, se
embaralhem, se embaracem, ou se emaranhem. As proprie-
dades dessa partícula deixam de ser intrínsecas, pois passam
a depender do seu ambiente.
Isso significa que, para se poder observar qualquer com-
portamento quântico, é necessário impedir a descoerência,
isolando ao máximo possível a coisa de seu ambiente. Não
é por outra razão que fenômenos quânticos só podem ser
obser­vados em laboratório: são muito frágeis e facilmente
destrutíveis pela descoerência, um processo de sentido único,
irreversível. Uma vez que se tenha apagado ou suprimido o
caráter quântico, não há como recuperá-lo, e as taxas de des-
coerência aumentam exponencialmente conforme as partícu-
las do sistema se multiplicam.
É inevitável que se pergunte, portanto, que tamanho po-
deria atingir um sistema quântico antes que a descoerência

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 71

se imponha e ele se torne um sistema clássico. Há moléculas


grandes e simétricas, com sessenta átomos, por exemplo, que
manifestam efeitos de interferência quântica de tipo ondula-
tório, mas que podem ser eliminados, ou extintos, se as mo-
léculas forem forçadas a circular em algum gás para que as
colisões provoquem a descoerência.
Por outro lado, o tempo necessário à descoerência é cur-
tíssimo. Para que ocorra, basta que num sistema haja intera-
ção de algumas moléculas com alguns fótons. Não obstante,
já foi possível fazer com que tal processo fosse capturado,
graças a experiências das mais astuciosas. Com elas a transi-
ção entre os comportamentos quânticos e clássicos deixou de
ser um no man’s land experimental, nas palavras de Étienne
Klein (2004, p. 154).
O principal artífice dessa proeza foi um dos dois agra-
ciados com prêmio Nobel de física de 2012, Serge Haroche,
professor do Collège de France. Segundo ele, realizar esse
tipo de experiência é um desafio divertido e excitante. Um
raro prazer observar in vivo a dança dos átomos e dos fótons
que obedecem de maneira tão perfeita às injunções da teoria
quântica (Haroche, 2003).
Em conferência de 2004 – que infelizmente deixou de es-
tar acessível na rede – Haroche mencionou que suas observa-
ções sobre a descoerência faziam lembrar a teoria darwiniana
da seleção natural, muito embora sem competição por recur-
sos escassos ou reprodução sexual. Mas parece não ter mais
voltado a tal comparação, talvez por ter sido posteriormente
avisado que a teoria darwiniana não se restringe à evolução
de espécies que competem por recursos escassos e se repro-
duzem sexualmente.
Todavia, um ano antes ela já havia começado a intrigar
o físico americano de origem polonesa Wojciech H. Zurek, do
Los Alamos National Laboratory, autor de um dos pioneiros

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72 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

artigos sobre a descoerência (Zurek, 1991).9 Desde 2003 é ele


quem vem se dedicando a uma interpretação explicitamente
darwiniana da transição do quântico para o clássico (Zurek
2003, 2004, 2007 e 2009). E não se trata de mera analogia, mas
sim de uma abordagem que já deixou de ser apenas teóri-
ca. Trabalhos recentes com colegas de sua equipe relatam os
avanços de testes experimentais (Zwolak et al., 2009, 2016).
E ao menos uma boa dezena de artigos de outros grupos de
pesquisa sobre essa tese do darwinismo quântico foi publi­
cada em periódicos científicos.
O que é, então, esse darwinismo quântico abordado
nesses trabalhos?
Nas interpretações quânticas mais tradicionais, só a
mensuração conduzida por um observador humano provoca
o fim da chamada superposição. A partir daí ele se mostra em
um único estado, e a grande dificuldade é conseguir isolá-lo,
mesmo que por segundos, para tentar observar essa transição
a um único estado. Em condições normais de temperatura e
densidade, bastam poucos segundos para que um grama de
matéria realize essa transição. Um lapso que diminui com o
aumento da magnitude do sistema.
Todavia, desde que foi amplamente aceita a teoria da
descoerência, considera-se que não é apenas a observação hu-
mana que desencadeia o fenômeno, mas sim as circunstâncias
que costumam ser descritas, em geral, como a interação com
o ambiente. Pois bem, após a interação do sistema quântico
com seu ambiente, descrito de maneira quântica, aplica-se
um traço parcial para eliminar as variáveis da descrição do
sistema, e o resultado é uma mistura estatística de estados

9 Mas a avaliação sobre pioneirismo nessa questão é suficientemente complicada para


que a passagem exija o plural. Duas ótimas abordagens históricas sobre as origens
da teoria da descoerência estão na coletânea editada por Freire Jr. et al. (2011). A
primeira, nas páginas 35-66, por Freire Jr. (2011); e a segunda, nas páginas 67-78, por
Freitas (2011).

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 73

de ponteiro (pointer states). A transição para um único des-


ses estados de ponteiro é ainda uma questão em aberto, mas
Zurek considera que acompanhar a seleção darwiniana da
informação, deixada por esses estados no ambiente, pode
contribuir para uma solução desse problema da medição.
A primeira contribuição original de Zurek e colegas foi
a constatação de que um estado incerto, posterior ao estado
quântico, pode ser decomposto numa mistura de simples
estados de ponteiro, e que, na interação do sistema com o
ambiente, as superposições desses estados de ponteiro se ex-
tinguem para dar lugar a apenas puros estados de ponteiro.
Ou seja, partindo de suas origens quânticas, a emergên-
cia da realidade clássica ocorre por uma espécie de filtragem
dos estranhos estados quânticos, e só uma minoria deles se
mostra capaz de transitar para a realidade clássica. Tudo
como se essa fosse a minoria mais apta, capaz de evoluir.
É claro que isso tem muito pouco – talvez quase nada – a
ver com a abordagem biológica da evolução. Todavia, mes-
mo que a imensa contribuição de Darwin tenha resultado da
observação empírica e da reflexão sobre a vida, o esquema
que ele acabou revelando pode ter um alcance muito maior.
Um princípio filosófico que, conforme Ernst Mayr (1988, 2005,
2006), pode ter uma simples definição: variação aleatória com
seleção de unidades de instrução replicadas sob pressão do
ambiente. Ou ainda, como prefere o filósofo Daniel Dennett
(1995): teria faltado a Darwin o termo preciso para descrever
seu achado, pois havia descoberto o poder de um algoritmo.
Parece bem melhor, contudo, enfatizar que se trata de
uma conjectura, como fazem Hodgson e Knudsen (2010).
Para eles, seleção significa que, em um sistema populacional
complexo, algumas entidades tendem a se adaptar mais do
que outras, algumas tendem a sobreviver mais tempo do que
outras, e algumas se mostram mais aptas do que outras na
geração de proles/crias ou de cópias de si mesmas.

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74 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Isso implica que todos os componentes do posterior


conjunto de entidades são bastante similares a uma parte dos
componentes do conjunto anterior. Mais ainda: que as resul-
tantes frequências das entidades posteriores têm relação de
causa e efeito com a aptidão (fitness) das anteriores ao con­
texto ambiental.
Em persuasivo esforço demonstrativo de que a conjec-
tura darwiniana é válida tanto para sistemas vitais quanto
sociais, Hodgson e Knudsen formularam muitas outras no-
ções complementares. Mas, como a essência do darwinismo é
a ideia de seleção de unidades de instrução replicadas, o que
parece mais importante é saber que para eles os replicadores
são: genes e príons no âmbito biológico; e hábitos, rotinas e
costumes no âmbito social.10
Porém, as ideias de Darwin continuam a ser classifica-
das como algo que pertence exclusivamente às biociências.
Como os próprios biólogos nem sempre as conhecem o su-
ficiente, o que dizer de físicos diante da abordagem Zurek?

Aproximação epistemológica
É comum que a principal divisão entre as ciências seja
a que opõe as da natureza às demais. Alguns até exageram
ao considerar que existam apenas ciências exatas e ciências
do homem (Parrochia, 1997). Melhores abordagens costu-
mam distinguir, no interior das “da natureza”, ao menos
os domínios do vivo e da matéria inorgânica, separando as

10 Tratar de forma abrangente os conceitos de variação, seleção e hereditariedade tem


sido o projeto comum de quatro abordagens: metafísica darwinista, teoria da sele-
ção universal, darwinismo generalizado e darwinismo universal. (Aliás, confusamente
misturadas na página da Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Universal_
Darwinism). Faz parte do movimento darwinismo universal o pesquisador inde-
pendente John Campbell, que em 2015 lançou o livro Darwin Does Physics, no qual,
além das contribuições de Zurek, destaca as do holandês Gerardus ‘t Hooft, prêmio
Nobel de 1999, por interações eletrofracas, e do americano Lee Smolin, por gravi-
dade quântica. (ver http://www.universaldarwinism.com/. Acesso em 09-08-2017)

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 75

ciências em três “ordens”: a físico-química, a da vida e a hu-


mana (Andler et al., 2002).
Contudo, para os objetivos desta reflexão, é incompa-
ravelmente mais pertinente e esclarecedora a visão de Mayr
sobre a crucial fronteira entre as exatas e as históricas, já que,
ao contrário do que ocorre nas ciências físicas e químicas, as
teorias das humanidades se baseiam muito mais em concei-
tos do que em leis. E o cerne dessa clivagem está no interior
das biociências, pois a biologia funcional é parte das ciências
exatas, enquanto a biologia evolucionista pertence às ciên-
cias históricas.
Como não poderia deixar de ser, uma aproximação
epistemológica entre as ciências tem muito mais chance de
ocorrer primeiro em cada um desses dois grandes subcon-
juntos apontados por Mayr, do que entre eles. E, de fato,
foi do lado das ciências históricas que tal aproximação mais
avançou, desde que passou a ser conscientemente organi-
zada por pesquisadores influenciados pelo poder heurístico
da conjectura darwiniana, principalmente, mas não só, entre
os de disciplinas biológicas e sociais, como mostram três so-
ciedades científicas criadas em meados da década de 1980.11
Porém, talvez seja tão ou mais significativo o que vem
ocorrendo nas ciências cognitivas, particularmente nas neuro­
ciências. Depois de ter recebido o prêmio Nobel de medicina,
em 1972, Gerald M. Edelman consagrou uma série de livros
a explicações sobre o neural darwinism (Edelman, 1987, 1992,
2004 e 2006).
Paralelamente, também há no interior da biologia evo-
lucionária um processo de mudança no pensamento sobre

11 Psicólogos e antropólogos se juntaram a biólogos para fundar a Human Behavior


and Evolution Society (HBES), que lançou o periódico Evolution & Human Behavior
como sucessor do Ethology & Sociobiology. Pesquisadores dessas três disciplinas tam-
bém se associaram a ecólogos na International Society for Behavioral Ecology (ISBE),
que publica o Behavioral Ecology. E economistas fundaram a International Joseph A.
Schumpeter Society (ISS), que edita o Journal of Evolutionary Economics.

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76 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

hereditariedade, tão rápido e significativo que chega a ser


considerado revolucionário. Parece prenunciar o surgimento
de uma nova síntese, que desafia a visão centrada no gene, até
há pouco absolutamente dominante. Como já foi dito em ca-
pítulo anterior, e é pertinente enfatizar a informação aqui, as
principais constatações são essencialmente quatro: a) há mais
coisas na hereditariedade do que genes; b) em sua origem,
certas variações hereditárias não são aleatórias; c) algumas in-
formações adquiridas são herdadas; d) mudanças evolutivas
podem resultar de instrução, assim como de seleção.12
Tais assertivas parecem pura heresia para quem tenha
como referência a versão mais vulgar da teoria da evolução
de Darwin, sempre reduzida à adaptação que ocorre por meio
de seleção natural de variações genéticas aleatórias. No en-
tanto, a biologia molecular tende a mostrar que estão erradas
muitas das suposições sobre o sistema genético. Já mostrou,
por exemplo, que as células são capazes de transmitir infor-
mação às células-filhas por herança não relacionada ao DNA
(epigenética).
Tudo parece indicar que os organismos têm ao menos
esses dois sistemas de hereditariedade. Além disso, há muita
informação transmitida entre animais por meio de compor-
tamentos, o que lhes confere um terceiro sistema. E os huma-
nos teriam quatro, pois uma herança baseada em símbolos –
particularmente a linguagem – desempenha papel crucial em
sua evolução.
Surge, portanto, uma visão muito diferente do materia-
lismo darwiniano quando se leva em conta esses quatro sis-
temas de herança e as interações entre eles, pois mudanças
induzidas e adquiridas também têm papéis na evolução. As
heranças epigenética, comportamental e simbólica também

12 Embora seja farta a literatura sobre essa questão, as principais referências só podem
ser os trabalhos de Jablonka & Lamb (2005 e 2007).

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 77

fornecem variações sobre as quais pode atuar a seleção na-


tural. Por isso, não é mais possível reduzir hereditariedade e
evolução ao sistema genético.
São duas novidades fundamentais para as humanida-
des. Primeiro, a afirmação de que a terceira dimensão – com-
portamental – pode ser tratada separadamente da primeira
(genética), pois contraria a forte tendência - talvez ainda do-
minante entre evolucionistas que estudam comportamentos
humanos – de tentar reduzi-los à sua base genética. A outra
é que a frequência de comportamentos socialmente aprendi-
dos durante a mudança cultural varia muito por ocorrer em
complexos sistemas socioambientais.
Há interação entre três tipos de herança no sistema
comportamental: por transferência de substâncias, por
aprendizado socialmente mediado pela observação de in-
divíduos mais experientes e por imitação. Exemplos desses
três tipos de herança são, respectivamente: a formação de
preferências alimentares, o processo de aprendizado nos
primeiros dias de vida e a imitação vocal. Mas a mais radi-
cal diferenciação dos humanos ocorreu porque outro modo
de transmissão, além desses três tipos de herança comporta-
mental, evoluiu e assumiu o controle: a transferência maciça
de informação mediante símbolos. O que mais distingue a
evolução humana é, portanto, a consciência e capacidade de
comunicar tanto sua história pretérita (mítica ou real) como
necessidades e ambições futuras.
Por outro lado, passou-se a negar, também, que as pos-
sibilidades de cooperação entre as pessoas dependam direta
e exclusivamente de sua proximidade genealógica. Deve ser
minimizada a ideia de aptidão inclusiva, baseada em seleção
de parentesco, que desde 1964 se tornara monopolizadora
no campo da biologia evolucionista voltada a essa questão.
Como também já vimos, o derivado padrão toma-lá-dá-cá
é apenas uma das três modalidades de cinco dinâmicas de

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78 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

cooperação evidenciadas. Esse padrão é a manifestação rudi-


mentar do que passou a ser chamado de reciprocidade direta.
Mas eventual passo em falso pode engendrar uma segunda
chance, em estratégia apelidada de toma-lá-dá-cá generoso,
a origem evolutiva do perdão. E desdobramentos ainda mais
sofisticados revelaram a existência de uma terceira forma de
reciprocidade direta, na qual o agente inverte sua atitude an-
terior quando nota que as coisas vão mal, mas logo depois
volta a cooperar.13
Todas essas novidades teóricas sobre os determinantes
da hereditariedade e da cooperação certamente contribuirão
para o avanço do processo de aproximação epistemológica
que teve início nos anos 1980, tanto pela emergência de uma
nova síntese, muito mais abrangente que a moderna, como
testemunha a coletânea editada pelos teóricos Pigliucci e
Müller (2010), quanto pela expansão da epistemologia evo­
lutiva, como mostra o historiador Adam Timmins (2016).
Todavia, há ao menos duas grandes forças contrárias
que, com certeza, funcionarão como sérios freios: uma histo-
ricamente justificada resistência nas ciências sociais (especial-
mente na sociologia) e uma salutar dúvida no plano filosófico.
Por ao menos um século (1871-1971), a assimilação do
darwinismo pelas humanidades foi radicalmente inviabiliza-
da pelas incipiências e precariedades que caracterizaram os
dois lados. Até a síntese moderna (1936-1950), o darwinismo
era demasiadamente especulativo e, com raríssimas exceções,
as iniciativas de adotá-lo em análises das sociedades huma-
nas não poderiam ter sido mais funestas.
Algumas dessas iniciativas contribuíram muito para
a posterior demonização ideológica do darwinismo social.

13 Aqui as referências fundamentais só podem ser os trabalhos de Nowak (2006, 2011


e 2012). E também, é claro, seu contestadíssimo artigo com Corina Tarnita e Edward
O. Wilson (Nowak et al., 2010).

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 79

Houve mesmo um período em que o simples emprego do


termo evolução poderia trazer sério risco à reputação intelec-
tual do pesquisador social que o balbuciasse.14
Ou seja, por ao menos cem anos foram desastrosas
quase todas as iniciativas de usar as ideias de Darwin e Wallace
para entender os humanos e suas sociedades. E as mais notá-
veis – que deram origem ao repugnante darwinismo social
e ao hediondo crime da eugenia – só poderiam ter levado as
humanidades a recusar qualquer convite para que a relação
fosse reavaliada. Nesse sentido, é até surpreendente que a
resultante biofobia não tenha impedido que nos anos 1980
algumas noções darwinianas começassem a ser vistas como
algo que não se restringe às biociências.
Ainda mais pertinente que essa lamentável (mesmo que
compreensível) resistência biofóbica entre os cientistas so-
ciais, parece ser, contudo, a dúvida sobre o poder heurístico
do materialismo darwiniano, debatida por alguns dos melho-
res filósofos contemporâneos, especialmente na atual e com-
plicada discussão que opõe Thomas Nagel (2012) a Sharon
Street (2006, 2009).
Para Street, o darwinismo está tão consolidado no âm-
bito científico, que deveriam ser descartadas abordagens filo-
sóficas a ele incompatíveis, especialmente o realismo moral.
Já Nagel, também adepto do monismo neutro, como Wendt,
não vê como se poderia acreditar na concepção materialista
neodarwiniana para a origem e para a evolução da vida. Não
é plausível, enfatiza, que a vida como a conhecemos resulte
de uma sequência de acidentes físicos e de um mecanismo de
seleção natural.

14 Vale lembrar que, a partir de 1908, Veblen foi levado a retirar o termo evolução do
subtítulo de sua Teoria da Classe Ociosa, e que nos anos 1930 seus discípulos lançaram
explícitas rejeições ao darwinismo.

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80 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

O ceticismo de Nagel em relação ao materialismo darwi-


niano não se baseia em alguma crença religiosa, ou em con-
vicção sobre qualquer outra alternativa. Apenas na constata-
ção de que as evidências disponíveis – mesmo que sejam ou
tendam a ser consensuais na comunidade científica – não são
suficientes para que a elas se subordine a incredulidade do
senso comum. E isso é principalmente verdade no que se re-
fere à origem da vida.
Para o escopo deste capítulo, seria uma grande digres-
são ir além na explicação dessa divergência. Principalmente
porque a razoável dúvida levantada por Nagel sobre a capaci-
dade de o materialismo darwiniano explicar origens (da vida,
da mente ou do cosmo) não impede que venha a se generali-
zar sua conjectura central, que tende a aproximar biociências
e humanidades, já que ela não pretende explicar origens.
Aliás, o próprio Nagel começa sua argumentação pelo
reconhecimento de que substantivas descobertas científicas
não dependem de respostas para as questões cosmológicas
que o preocupam, pois estas se referem muito mais à “visão
de mundo” do que à prática da pesquisa. Ou seja, perceber o
interesse teórico da epistemologia evolucionária do materia-
lismo darwiniano não obriga a supor que já tenha surgido, ou
venha a surgir, explicações robustas para as origens da vida,
da mente e do cosmo. Por isso, a “posição” de Street é certa-
mente bem melhor que a de Nagel.

À guisa de conclusão
Esta seção seria até dispensável se este capítulo não con-
tivesse uma ambiguidade que agora pode ser desfeita, e se
não fosse necessário mencionar implicações teóricas que serão
abordadas no quarto ensaio.
A ambiguidade se refere ao uso indistinto das variações
terminológicas materialismo darwiniano e darwinismo, além

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 81

de uma menção ao que seria, segundo Thomas Nagel, uma


concepção materialista neodarwiniana.
Para limpar o terreno, é melhor que o esclarecimento
comece por essa questão do prefixo “neo”. Neodarwinismo
foi a etapa anterior à síntese moderna, batizada pelo biólogo
George John Romanes (1848-1894) e, essencialmente, marca-
da pela influência do zoologista e citologista alemão August
Weismann (1834-1914). Como acumulara evidências contrá-
rias ao lamarckismo, postulou que a reprodução sexual (re-
combinação) cria a cada nova geração uma nova variação po-
pulacional. A seleção natural atuaria nessa nova variação,
determinando assim o curso da mudança evolucionária.
Houve, contudo, completa ruptura com esse esquema no
período 1936-1950, pela incorporação de resultados de pes-
quisas em três áreas – genética, sistemática e paleontologia –
que Mayr chega a chamar de a segunda revolução darwi-
niana, embora também diga que tal síntese não foi propria-
mente uma revolução científica e sim uma fusão de campos
previamente mal divididos.
Esse é um importante fato histórico que escapou ao bri-
lhante filósofo Thomas Nagel quando optou por empregar
no subtítulo e em diversas passagens de seu livro a fórmula
concepção materialista neodarwiniana, para no final apostar
que esse heroico triunfo de teoria ideológica sobre o senso
comum parecerá risível dentro de algumas décadas.15
Mesmo que no exato avesso de tal aposta, é preciso res-
saltar aqui um grande mérito da fórmula de Nagel: ela realça
que se trata de uma concepção materialista, que exclui, por-
tanto, qualquer inclinação por alguma variedade de idealis-
mo, dualismo e monismo neutro. A etiqueta darwinismo não

15 “.. a heroic triumph of ideological theory over common sense (…) I would be willing
to bet that the present right-thinking consensus will come to seem laughable in a
generation or two” (Nagel, 2012, p. 128).

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82 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

tem essa virtude, além de sempre ter carregado forte conota-


ção doutrinária. A contribuição de Darwin se tornou o darwi-
nismo a partir de 1889, com a publicação de livro com esse
título por Alfred Russel Wallace, no qual foram reunidas suas
conferências que atualizaram as descobertas feitas trinta anos
antes pelos dois.
Tem sido amplamente aceita a consideração de Mayr de
que qualquer referência contemporânea ao darwinismo impli-
ca combinação de algumas das seguintes cinco teorias: (a) evo-
lução: o mundo não é imutável, nem foi recentemente criado,
e também não é perpetuamente cíclico; mas um mundo que
está sempre mudando, onde os organismos se transformam
na dimensão tempo; (b) origem comum: todo grupo de orga-
nismos descende de um ancestral comum, e todos os grupos
de organismos, incluindo animais, vegetais e micror­ganismos,
tiveram uma única origem na Terra; (c) multiplicação de espécies:
as espécies se multiplicam separando-se em espécies filhas,
ou, então, florescem pelo estabelecimento de populações
fundadoras, isoladas geograficamente, e que a partir daí evo-
luem em novas espécies; (d) gradualismo: a mudança evolu-
tiva ocorre pela transformação gradual da população, e não
pela produção rápida (saltacional) de novos indivíduos que
representam um novo tipo; (e) seleção natural: a mudança evo-
lutiva ocorre pela produção abundante de variação genética
em todas as gerações. Os poucos indivíduos que sobrevivem,
devido a uma combinação particularmente bem adaptada de
caracteres hereditários, darão origem à próxima geração.
Todavia, combinações de algumas dessas cinco teorias
que não incluam o mais importante – e que nessa listagem só
aparece por último – seriam versões demasiadamente diluídas
do pensamento de Darwin, pois excluiriam a conjectura que
justamente o distingue de outras concepções evolucionárias
gradualistas que também admitem origem comum e multi-
plicação de espécies.

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Duas visões sobre o futuro das ciências • 83

Evidentemente não é esse tipo de diluição do darwinis-


mo que poderia estar engendrando uma aproximação epis-
temológica entre ciências tão distantes quanto antropologia,
biologia, ecologia, economia, neurociências e psicologia, para
só mencionar as principais. O que as avizinha é um materia-
lismo que identifica o poder transversal daquilo que, vale re-
petir, é um princípio filosófico para Ernst Mayr, um algoritmo
para Daniel Dennett, e uma genial conjectura para Geoffrey
Hodgson: variação aleatória com seleção de unidades de ins-
trução replicadas sob pressão do ambiente.
É importante notar que tal princípio, algoritmo ou con-
jectura envolve dois momentos essenciais: 1) contradição en-
tre, de um lado, o caráter aleatório da variação e, de outro, o
caráter determinístico da pressão ambiental; e 2) surgimento
das resultantes unidades de instrução. Um enunciado que re-
mete a outras duas importantes noções, uma quase ausente
das discussões filosóficas contemporâneas – a dialética – e
outra, ao contrário, abusada pelo modismo: a emergência.
Dialética não diz respeito apenas a antagonismos, como
pretenderam no século passado diversas correntes filosóficas
marxistas. Se os contrários estiverem em posição lógica de si-
metria, não há eliminação inovadora de um deles, muito menos
superação sintética dos dois. Em vez disso, ocorre uma espécie
de reprodução cíclica, ou ondulatória, da oposição básica.
Emergência se refere essencialmente “a um estado de
coisas no qual as propriedades de um certo domínio não se
reduzem completamente às propriedades de outro domínio
(seriam ‘autônomos’), apesar de serem, em algum sentido,
produzidos por este outro domínio (ou serem ‘dependentes’
deste)” (Pessoa Jr., 2013, pp. 22-26).
Ocorre que, nas últimas décadas, as discussões sobre
o tema têm sido a tal ponto frenéticas, que o fenômeno pas-
sou a ser tratado de emergentismo e até ironizado como a
reemergência da emergência. Assim, o entendimento de seus

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84 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

possíveis sentidos agora exige, ao menos, uma gigantesca


taxonomia, como mostra o recente balanço proposto por
Sartenaer (2016, pp. 79-103). De resto, emergência é um con-
ceito central da ainda mais intrincada teoria da complexi-
dade (Christen e Franklin, 2002, p. 4).
Dialética e emergência/complexidade são, portanto,
dois outros desafios teóricos da visão materialista darwinia-
na sobre o futuro das ciências apresentada neste capítulo que
serão objeto do próximo capítulo.
De qualquer forma, a falta desse duplo desdobramento
não impede que as proposições centrais deste capítulo sejam
aqui veementemente reafirmadas:
a) se houvesse alguma chance de unificação ontológica das
ciências, com certeza ela não seria engendrada pela hipó-
tese da mente quântica;
b) é o materialismo darwiniano que está promovendo uma
significativa aproximação entre as ciências, mas tão so-
mente epistemológica.

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Capítulo 4

Dialética, complexidade
e emergência

No que se entende por dialética, o primeiro momento


da reflexão é analítico, mas necessariamente seguido de outro
que, de forma muito grosseira, costuma ser chamado de sín-
tese, certamente pela influência de Hegel. O termo que ele
mais utilizou foi aufgehoben, que tem triplo sentido: a) dissol-
ver, desfazer, anular; b) guardar; c) pôr em lugar mais alto,
colocar em cima.
São os três sentidos que ocorrem na formação da dita
síntese. No primeiro, a oposição dos polos, que constitui uma
contradição, é superada e anulada, e o caráter excludente
que existia entre tese e antítese é dissolvido e desaparece. No
segundo sentido, os polos são conservados e guardados em
tudo o que tinham de positivo, apesar da dissolução havi-
da. E no terceiro, vai-se a um plano mais alto: na unidade há
ascensão a um nível superior.
Mas, como Hegel foi um filósofo idealista, é natural que
se pergunte se a dialética não seria indissociável de seu siste-
ma e, como tal, incompatível com o materialismo. Foi o que
concluiu, por exemplo, Lucio Coletti, fecundo pensador mar-
xista italiano, que por isso lançou perturbadoras indagações.
“Como fazer uma análise adequada da realidade, se o método

85

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86 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

(dialético) era inadequado? E, por consequência, manter uma


análise inadequada não seria colocar-se à margem do conhe-
cimento científico, em favor de convicções puramente ideoló-
gicas?” (Tambosi, 1999, pp. 11-12).
Esse é um exemplo, entre muitos, dos percalços que
explicam por que o pensamento dialético deixou de despertar
o interesse que alcançou no século passado, até o ponto de
pessoas muito cultas e inteligentes afirmarem que ele sim-
plesmente não existe.
São bem conhecidas as razões dessa decadência da
dialética. A primeira, e mais óbvia, foi a gravíssima involução
do marxismo, que começou muito antes da queda do Muro
de Berlim, com a influência de Lenin e Trotsky, ou mesmo em
rascunhos de Engels manipulados pelo bolchevismo. Como
os marxistas passaram a ser as principais referências do pen-
samento dialético, foi impossível evitar que, no século passa-
do, qualquer criança fosse sacrificada nos dejetos do banho.
Entre outras razões, por ter virado doutrina de Estado, em
vez de permanecer onde deveria ter continuado: nos âmbitos
da ciência e da filosofia.
Mas há uma outra razão, talvez ainda mais séria. Os
mais conhecidos pensadores dialéticos do século passado
foram tão infelizes que conseguiram simplesmente queimar o
filme, como se diz na gíria. A amplitude tomada pelas obscuri-
dades, pelos mal-entendidos e pelos erros que frequentemen-
te afetam alusões à dialética (não só entre seus adversários,
mas também, e talvez ainda mais, entre seus defensores) teria
forçado uma volta a seus pressupostos primários, para pos-
sibilitar uma clara compreensão de sua peculiaridade, assim
como uma avaliação correta de suas pretensões.1

1 Essa foi a conclusão a que chegou, por exemplo, o alemão Wolfgang Röd, em ca-
pítulo de “resumo e perspectivas”, redigido em 1984 para as edições espanhola e
brasileira do livro Filosofia Dialética Moderna (Röd, 1984, p. 371).

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Dialética, complexidade e emergência • 87

Esse desgaste da dialética não poderia ficar mais patente


do que em obras do século passado que pretenderam expli-
cá-la, ou criticá-la, em exercícios estritamente filosóficos. Ra-
ramente conseguiram que tais pretensões fossem entendidas
sequer por seus exímios colegas, profissionais da área. Por
isso, o mais provável é que fique a ver navios o incauto que
quiser entender o que poderia ser dialética, ou pensamento
dialético, pela leitura de alguma dessas obras.2
Isso não quer dizer que tantos trabalhos sobre a dialética
sejam todos ruins ou desaconselháveis. Ao contrário, muitos
até podem continuar a ser muito interessantes e úteis, mas pa-
decem de um defeito bem comum: o amplamente majoritário
hermetismo estilístico entre filósofos (que pode até transmitir
a impressão, talvez falsa, de que o assunto não estava sufi-
cientemente claro para o próprio autor).
Felizmente, nem todas as exposições disponíveis sobre
o pensamento dialético são assim tão confusas ou obscuras,
mesmo quando escritas por filósofos.3 O que muda é a im-
portância relativa dada ao pensamento científico. Por isso, a
dialética que continua a ter mais interesse é frequentemente
a de cientistas que também se preocupam com a filosofia de
sua ciência.

2 É quase certo que desista quem resolver começar por algum dos livros desta misce-
lânea: Lukács (2003), Lefebvre (1983), Merleau-Ponty (2006), Prado Jr. (1959), Sartre
(2002), Kosik (1977), Havemann (1967), Mészáros (2006 e 2002), Coutinho (1972),
Guindey (1976), Konder (1981 e 1992), Bruaire (1993), Malagodi (1988), Bhaskar
(1993), Arantes (1992 e 1996), Martins (1996), Ruy Fausto [c. 1997], Oliveira (1999),
Giannotti (2000), Ollman (2003), Oliveira (2004), Brum Torres (2004) e Sampaio &
Frederico (2006).
3 Para ir além do pouco que será dito mais adiante, o leitor poderá optar por uma
outra cesta, quase tão numerosa, e ainda mais heterogênea que a primeira: Foulquié
(1953), Bobbio (1982, 2006), Levins & Lewontin (1985), Balibar (2001), Cirne-Lima
(1996, 2002, 2003 e 2004), Bensaïd (1999), Bitsakis (1997 e 2001), Lewontin (2002),
Sève (1998, 2004 e 2005), Foster (2005), Carandini (2005), Guespin-Michel & Ripoll
(2005), além de Karl Marx (2006), é claro.

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88 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

A grande diferença
Isso não quer dizer, contudo, que o pensamento dialé-
tico encontrado no âmbito científico possa ser independente
daquele que foi utilizado por Hegel ou Marx. Ideias essenciais
desses dois grandes pensadores são facilmente reconhecidas
nas formulações de cientistas que se interessam pela dialética,
mesmo que por eles desconhecidas.
A grande diferença é a que vem da reflexão sobre resul-
tados de pesquisas – em vez de perfunctórias especulações
filosóficas – a insatisfação desses cientistas com a maneira de
pensar da tradição que mais se opõe à dialética e que costuma
ser qualificada de analítica. Aliás, é até difícil imaginar quais
cientistas poderiam ser atraídos pela filosofia analítica. Sua
principal interrogação é: como uma proposição tem signifi-
cado? Que todo exercício racional consistente deva começar
com uma análise da proposição é uma verdade tão verda-
deira que nem necessita ser provada. O problema só começa,
portanto, quando os pensadores dessa tradição assumem que
toda e qualquer filosofia sólida se encerra na análise da pro-
posição, em vez de por ela apenas começar.4
Pode-se supor, então, que grande parte dos cientistas
levados a se indagar sobre sua própria maneira de racioci-
nar – ou sobre a dobradinha ceticismo/racionalidade exigi-
da por suas práticas de pesquisa – acabam por procurar algo
equivalente ao agnosticismo no tocante à religião. Ou seja,
tendem a preferir uma espécie de terceira via, de radical

4 Essa é uma observação de Bertrand Russell (1968) sobre a tradição analítica, cujos
primeiros expoentes foram o alemão Gottlob Frege (1848-1925), o britânico George
Edward Moore (1873-1958) e o austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Mas
merece destaque o Círculo de Viena – movimento também conhecido como positi-
vismo lógico, ou empirismo lógico – sob a liderança de Moritz Schlick (1882-1936) e
de Rudolf Carnap (1891-1970). Ou mesmo a Escola de Oxford, nome informal de um
grupo de filósofos que, entre os anos 1930-1950, realizaram grande esforço de análise
da linguagem ordinária, mediante esclarecimento de significado. Excelente introdu­
ção às concepções de todos esses filósofos pode ser encontrada em Marcondes
(2004). Hoje, um dos mais notórios continuadores dessa tradição é Thomas Nagel
(2004), principal expoente atual de uma humildade analítica, que seria o avesso da
arrogância dialética, segundo Eduardo Giannetti (2004).

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Dialética, complexidade e emergência • 89

neutralidade, diante do confronto que existiria entre uma


suposta humil­dade da tradição analítica e a conhecida arro-
gância do filo­sofar dialético dos dois últimos séculos.
A alta importância dada às ciências por Marx e Engels,
ao procurarem acompanhar e entender as descobertas de sua
época, com certeza não serviu de exemplo para a maioria dos
que depois se pretenderam marxistas. Só que a própria insigne
dupla de revolucionários de meados do século XIX não che-
gou a digerir a revolução científica anunciada pela obra de
Darwin. Primeiro, por causa da confusão ideológica que se
seguiu à publicação de A origem, em 1859. Segundo, porque
(certamente por essa razão) nem deram atenção à segunda
grande obra, A descendência, de 1871 (pode ser que Engels a
tenha lido muitos anos depois, mas Marx com certeza nem to-
mou conhecimento da abordagem antropológica de Darwin).
E terceiro, mas não menos importante, porque ainda foram
necessários quase cem anos para que isso realmente pudesse
ocorrer, como tanto enfatiza o grande biólogo Ernest Mayr.
Antes da chamada síntese moderna dos anos 1936-1950, a
conjectura de Darwin permaneceu altamente especulativa.
É impossível saber o que Marx e Engels teriam achado
do materialismo darwiniano da segunda metade do século XX,
mas sabe-se muito bem como os seus principais seguidores
conseguiram violentá-lo ao se lançarem em escandalosas fal-
sificações derivadas da doutrina estatal intitulada materia-
lismo dialético, das quais a mais dramática foi certamente a
sanha dos estalinistas em submeter os biólogos soviéticos aos
ditames de uma filosofia oficial calcada em esboços rascunha-
dos por Engels entre 1872 e 1882.5

5 A expressão materialismo dialético nem sequer foi usada nos rascunhos de Engels,
muito depois reunidos pelos estalinistas sob o título de Dialética da Natureza. O que de
fato pretendia era extrair leis da dialética do que chamou de duas fases do desenvolvi-
mento histórico: a da Natureza (com letra maiúscula) e a da sociedade humana. E tais
leis seriam principalmente três: 1) a da transformação da quantidade em qualidade e
vice-versa; b) a da interpenetração dos contrários; e c) a da negação da negação. Mas
só chegou a ilustrar a primeira, essencialmente com a ideia de que, na natureza, qual-
quer mudança qualitativa exige alterações quantitativas de matéria e/ou energia.

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90 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Sob o bolchevismo, a União Soviética simplesmente


perdeu o trem da síntese moderna que avançou no Ocidente
entre 1936 e 1950, por ter ditatorialmente banido a genética
mendeliana, que chamava de genética clássica, perseguindo
e fuzilando os seus biólogos que se recusavam a renegá-la.
Uma história macabra, que continuou no reino de Nikita
Khrushchov e que teve como personagem central um medío-
cre selecionador ucraniano de variedades de cereais chamado
Trofim Denissovitch Lyssenko. Esse dito biólogo-e-agrônomo
(na verdade só tinha um curso de agronomia por correspon-
dência!), que presidiu o Instituto de Genética da Academia
de Ciências da URSS entre 1940 e 1965, nunca precisou pres-
tar contas pelos danos que infligiu à ciência e às agriculturas
dos países do bloco soviético e de suas zonas de influência.
Porém, deixou um documento exemplar sobre a aplicação da
filosofia chamada de materialismo dialético à genética: seu
livro intitulado Agrobiologia.6
Eventuais origens dessa filosofia estalinista intitulada
materialismo dialético – cuja pretensão básica foi opor uma
ciência proletária à ciência burguesa – talvez até possam ser
encontradas em escritos Engels, o que já é duvidoso. Mas,
com certeza, não em Marx, que sempre fez questão de deno-
minar sua concepção materialismo histórico e, inicialmente,
na virada para 1861, claramente identificou suas raízes natu-
ralistas na primeira grande obra de Darwin, A origem, livro
no qual encontrara o fundamento histórico-natural de sua
própria concepção, disse em carta a Engels de 19 de dezem-
bro de 1860. Pouco depois foi ainda mais explícito, em carta
de 16 de janeiro de 1861 ao expoente da socialdemocracia

6 Minuciosa análise do caso Lissenko e de suas repercussões na França está no longo


capítulo 22 de Tort (2016, pp. 621-830). Repercussões no Brasil foram recentemente
abordadas em Loreto et al. (2014), com várias referências a outros países.

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Dialética, complexidade e emergência • 91

alemã Fernand Lassalle: “O livro de Darwin é muito impor-


tante e me convém como base da luta histórica das classes”.7
Quanto à dialética, Marx talvez nunca tenha sido tão
claro quanto em sua análise dos dois componentes essen-
ciais da mercadoria: valor de uso e valor de troca. Não são
simplesmente diferentes, são opostos. Definem-se numa re-
lação de confronto, excluem-se reciprocamente, negam-se e,
assim, se afirmam. E, atenção: não se trataria apenas de um
movimento de conceitos, pois “o movimento dos conceitos
só reconstitui um movimento real, existente nas trocas e na
produção, isto é, no fazer dos agentes sociais”, como ressalta
Grespan (2006, p. 10).
Pode estar justamente aí a fronteira com a interpretação
puramente filosófica da dialética e – de forma bem mais radi-
cal e profunda – com a tradição analítica. “Assim como existe
uma dialética entre os organismos e seus ambientes, em que
cada um conforma o outro, também há uma dialética entre o
método e a problemática da ciência”.8
Obra crucial sobre essa questão surgiu em 1998, com
contribuições de um grupo de cientistas naturais estimuladas
pelo filósofo marxista Lucien Sève: Sciences et Dialectiques de
la Nature. Três anos depois, foi a vez do físico e filósofo grego
Etfichios Bitsakis, também marxista, lançar La Nature dans la
Pensée Dialectique. E em 2005 aparecia a contribuição de outro
grupo reunido em torno de Sève, com a instigante coletânea
Émergence, complexité et dialectique.

7 A carta de Marx a Lassalle está disponível na íntegra em https://www.marxists.org/


archive/marx/works/1861/letters/61_01_16-abs.htm. Acesso em 15-08-2017.
8 É o que diz Richard Lewontin (2002, p. 131) na conclusão do livro A tripla hélice. As
raízes dessa vertente científica remontam à obra de grande impacto La nouvelle alliance,
publicada em 1979 por Ilya Prigogine (Prêmio Nobel de Química em 1977) e sua jovem
colega Isabelle Stengers, assim como nas frequentes referências na vasta obra do pale-
ontólogo Stephen Jay Gould, que desde o início dos anos 1970 foi coautor da teoria do
equilíbrio pontuado (ou intermitente) com Niles Eldredge. E foram bem adiante seus
colegas Richard Levins e Richard Lewontin, no livro The Dialectical Biologist, de 1985,
resultado de discussões no âmbito do Dialectics of Biology Group, criado em 1981.

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92 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Tão importante quanto – mesmo que aqui apareça por


último – é notar que movimento bem semelhante, com maior
ênfase na dialética da pesquisa científica do que na sua dimen-
são filosófica, também ocorria no Brasil entre filósofos não
marxistas, como mostram os livros escritos ou organizados
pelo gaúcho Carlos Roberto Cirne-Lima, desde o início dos
anos 1990.9
Entretanto, parece estar principalmente no desenvolvi-
mento da teoria da complexidade – e particularmente nas dis-
cussões sobre a ideia de emergência – uma nova abordagem
da dialética que não confirma a impossibilidade de genera-
lização, enfatizada por tantos pensadores desde que Lukács
(c. 1923) atirou a primeira pedra. Infelizmente, esse debate
sobre a possível generalização da dialética ficou prisioneiro
às fragmentárias anotações que Engels não concluiu, não pu-
blicou e nem chamou de dialética da natureza, mas que foram
transformados em cartilha pelos estalinistas. Como reação,
passou a prevalecer a equivocada ideia de que a dialética,
caso exista, não faça parte de nenhum fenômeno objetivo. No
entanto, são as mesmas interrogações – que Engels provavel-
mente não teria conseguido responder, caso não lhe tivesse
faltado tempo – que voltam à baila em reflexões recentes de
cientistas naturais.

Complexidade e emergência
O que hoje se entende por teoria da complexidade é a
terceira tentativa, em quarenta anos, de trazer fenômenos na-
turais (principalmente biológicos) para o contexto das pro-
priedades altamente genéricas de sistemas que se modificam
com o tempo.

9 Pode-se supor, talvez, que essa seja uma tendência geral que confirmaria o prognós-
tico feito em 1949 pelo não marxista Paul Foulquié.

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Dialética, complexidade e emergência • 93

A primeira foi a teoria da catástrofe, lançada nos anos


1960 pelo matemático francês René Thom, que demonstrou
que as alterações observadas em alguns sistemas que mudam
no tempo de acordo com leis matemáticas muito simples po-
dem ser deformações contínuas e graduais do estado imedia-
tamente anterior, mas que, em um ponto crítico, toda a forma
do sistema sofre uma mudança catastrófica e prossegue em
seu desenvolvimento por um caminho totalmente novo.
O exemplo clássico dessa teoria é a onda que se quebra
na praia: uma ondulação, por meio de um processo contínuo
de deformação, transforma-se em uma curva convexa pro-
funda, cuja tubularidade é subitamente perdida em um ponto
crítico, quando então a onda estoura. Um análogo biológico
seria a complexa mudança de forma que ocorre durante o
desenvolvimento de um embrião.10
Os desdobramentos seguintes foram a já célebre teo-
ria do caos, e a própria teoria da complexidade. A primeira
surgiu na década de 1980, na meteorologia, e mostrou que
alguns sistemas dinâmicos muito simples podem alcançar o
equilíbrio ou sofrer oscilações regulares em um determinado
conjunto de parâmetros, mas podem, em outros conjuntos de
parâmetros, sofrer transformações de estado de maneiras que
parecem ser totalmente aleatórias. Contudo, essas mudanças
de estado aparentemente aleatórias podem ser previstas com
precisão pelas equações simples do movimento do sistema.
Assim, o que pareceria ser um mundo diverso e incerto reve-
la-se a solução determinista de uma equação simples e trivial.
Ecólogos desenvolveram modelos simples de crescimento
populacional que mostram comportamento caótico no tempo
como forma de explicar as mudanças aparentemente aleató-
rias que ocorrem na abundância das espécies.

10 Ver Lewontin (2002, pp. 113-114).

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94 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

A terceira e mais recente tentativa reside na esperança de


que os sistemas complexos obedeçam a leis especiais que têm
origem na multiplicidade de interações entre muitas partes,
as leis da própria complexidade. Essas leis dos todos com-
plexos decorreriam não de novas formas de interação entre
os elementos dos sistemas vivos, em contraste com as rela-
ções físicas inorgânicas, mas simplesmente do número eleva-
do das partes elementares em interação. Assim, se há muitos
genes relevantes para o desenvolvimento de alguma caracte-
rística de um organismo, e se a transcrição desses genes está
conectada por uma rede de vias múltiplas de sinais simples
do tipo liga/desliga, algum tipo de lei de desenvolvimento
acaba emergindo.
Foi a noção de emergência que adquiriu imenso relevo
nesses debates sobre complexidade e auto-organização. Se-
gundo Mayr (2005, p. 91-92) “em sistemas complexos, amiú-
de emergem propriedades que não são explicitadas por (nem
podem ser previstas a partir de) um conhecimento sobre os
componentes desses sistemas. [...] A atitude com relação à
emergência é a diferença mais decisiva entre reducionistas e
não reducionistas (= holistas). Para reducionistas, o todo não
é mais que a soma aditiva de suas partes; não tem proprieda-
des emergentes. Para o holista, as propriedades e os modos de
ação em um nível superior de integração não são exaustiva-
mente explicáveis pela acumulação de propriedades e modos
de ação de seus componentes tomados de modo isolado”.
Uma das mais comuns objeções a esse emergentismo é
que nada de novo é produzido. O que, de fato, é meia verda-
de, pois não surge qualquer substância nova. Um martelo é
composto pelas substâncias que estão em seus dois compo-
nentes, cabo e cabeça. Mesmo assim, algo de novo surgiu da
interação. Por si só, nenhum dos dois pode executar, com um
mínimo de eficiência, as funções de um martelo. Mas de sua

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Dialética, complexidade e emergência • 95

união emergem as propriedades do martelo, “e essa intera-


ção recém-acrescida é a propriedade crucial de todo o sistema
emergido, do nível molecular para cima” (Mayr, 2005, p. 93).
A emergência se origina por meio das novas relações (in-
terações) dos componentes previamente desconectados. A co-
nexão entre a cabeça do martelo e seu cabo não existe até que
os dois sejam reunidos. “O mesmo é verdadeiro para todas as
interações em um sistema biológico complexo. Tratar com os
componentes separados nada nos diz sobre suas interações.
E, como essas interações no mundo vivo são únicas para cada
indivíduo existente (exceto os clones assexuados), seu caráter
único refuta as alegações dos reducionistas” (Mayr, 2005, p. 93).
Como alguma coisa pode ser mais do que a soma de
suas partes? Ou ainda melhor: Por que mais é diferente?, na
feliz e enxuta fórmula do físico Phil Anderson (1972). Mesmo
que esse novo e mais científico uso do vocábulo emergência
possa parecer misterioso, trata-se de algo que qualquer pes-
soa experimenta no quotidiano.
Um ótimo exemplo é dado por uma molécula de água,
com dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, que não
dará a ninguém a sensação de umidade (assumindo é claro,
que se possa sentir uma única molécula). Todavia, alguns
bilhões de moléculas de água em qualquer pequeno recipien-
te farão com que qualquer um experimente a sensação do
úmido. Isso acontece porque a umidade é uma propriedade
coletiva de manhosas interações entre moléculas de água em
determinado intervalo de temperaturas. Se a temperatura da
água é baixada, as moléculas interagem de outra forma, for-
mando a estrutura cristalina do gelo, perdendo a emergente
característica da umidade e ganhando a característica da du-
reza. De forma similar, “o que chamamos de sinfonia é um
padrão de som que emerge da execução de instrumentos in-
dividuais, e o que chamamos de rim é um padrão de células

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96 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

trabalhando em conjunto para garantir uma função de alto


nível que nenhuma das células poderia realizar por conta
própria” (Beinhocker, 2006, p. 167).
Da mesma forma que inúmeros fenômenos emergentes
são vivenciados por qualquer pessoa em sua vida quotidiana,
a prática da pesquisa científica, principalmente em sua di-
mensão empírica, pode fazer com que sequer sejam notados
pelos pesquisadores. Mas, quando são percebidos, tendem
a revelar a necessidade de rompimento com a profunda in-
fluência da filosofia de tradição analítica.

Dinâmicas não lineares


Nos debates científicos contemporâneos o termo emer-
gência tem uma acepção bem diferente das que podem ser en-
contradas em dicionários. Particularmente no campo da física
e da matemática, assim como no da química e da biologia, no
qual vem se consolidando um entendimento mais restrito da
complexidade, mas que tem sido objeto de muita pesquisa: os
sistemas dinâmicos não lineares (SDNL).
Os sistemas dinâmicos não lineares podem ser exem-
plificados como ambientes ecológicos, movimentações e ro-
tas momentâneas de seres vivos (peixes, insetos, aves, por
exemplo, todos ao acaso), movimentos da economia mundial,
movimentos atmosféricos, ou meteorológicos, por exemplo.
A característica principal dos sistemas dinâmicos não lineares
é a aleatoriedade, ou o movimento ou comportamento alea-
tório, ou caótico.
Um exemplo típico é a geometria fractal que inicialmen-
te foi desenvolvida como ferramenta matemática para uso es-
tatístico na economia. Após certo tempo, houve pesquisas que
relacionaram os fractais às complexidades. Estas, por sua vez,
comprovaram que os sistemas econômicos são dinâmicos,

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Dialética, complexidade e emergência • 97

e que sua evolução leva a previsão ser extremamente depen-


dente de aspectos desconhecidos do passado, e, portanto,
não linear.
O comportamento não linear, pelo fato de ser dinâmico,
evolui no tempo através de realimentações que vão sendo in-
seridas à medida que avança o sistema e, ao avançar, é influí-
do por realimentações, positivas ou negativas, que por sua vez
redundam em novas realimentações que influem no sistema,
regulando-o ora construtivamente, ora destrutivamente.

Piscina
Na teoria do caos costuma ser utilizado um exemplo
prático bastante ilustrativo da dinâmica dos sistemas lineares
e não lineares. Imagine uma pedra atirada numa piscina de
água límpida e extremamente estática. As ondas geradas na
queda da pedra se propagam até as margens de forma orde-
nada e sequencial, refletem nas paredes da borda e retornam,
cruzando-se entre si e, portanto, interagindo, se realimen­
tando, ora positivamente, ora negativamente.
As ondas continuam seu trajeto já distorcidas pelas reali-
mentações (em direção às margens opostas), sofrendo ainda
mais e mais interações ocasionadas pelos entrecruzamentos,
que geram mais realimentações. Nesse momento começam a
ocorrer alguns movimentos aparentemente caóticos, mas ain-
da previsíveis, pois são padrões das ondas, o sistema ainda
pode ser dito linear.
Quando a piscina já estiver com bastante movimento em
sua superfície, se mais pedras forem jogadas aleatoriamen-
te, com tamanhos e formas diferentes (quanto mais pedras
diferentes forem atiradas, mais realimentações e reflexões
ocorrerão), mais caótico será o padrão das ondas na super­-
fície, e, assim, mais difícil será o reconhecimento de um pa-
drão estático.

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98 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Imagine que no fundo dessa piscina exista uma camada


de areia finíssima (a exemplo de uma laguna). Apesar dos
movimentos aleatórios na superfície da piscina, no fundo
have­rá determinados padrões nessa areia, caóticos sim, mas
que seguirão sempre um padrão de ondas de diversas for-
mas, tamanhos, alturas, etc. Estas mudarão à medida em que
o corrugamento da superfície muda. Porém, apesar de todo o
caos dos movimentos na parte superior, é reconhecido um pa-
drão naquela areia no fundo, ocasionado pelos movimentos
da água. Esse padrão é a resultante das inserções aleatórias no
movimento que redundam num sistema dinâmico não linear.
A teoria pretende descrever mudanças espaço-tempo-
rais no âmbito dos sistemas, em função das causas dessas
mudanças. Tais sistemas podem ser conjuntos de molécu-
las, ou conjuntos de espécies vivas que formam populações,
sempre que estejam interagindo. E são caracterizados como
não lineares sempre que nas interações entre seus compo-
nentes inexista proporcionalidade entre as causas e os efei-
tos (mudanças). Quando existem interações não lineares em
algum sistema dinâmico, seu comportamento adquire pro-
priedades novas, às vezes estranhas, frequentemente não
previsíveis, e geralmente contra-intuitivas, além de incô­mo­
das para qualquer tipo de interpretação ou abordagem habi-
tuada à linearidade.11
Sistemas complexos raramente atingem o equilíbrio. Em
geral estão numa condição estacionária de não equilíbrio. Por
exemplo, concentrações de diferentes substâncias químicas
em determinado volume podem perfeitamente continuar
constantes enquanto inúmeras reações químicas as conso-
mem ou as produzem. Na condição estacionária de não equilí-
brio todos esses processos se compensam. Mas se for alterado

11 Ótima referência sobre esse tema é o já citado livro publicado por Lucien Sève (2005),
com um grupo de seis cientistas naturais.

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Dialética, complexidade e emergência • 99

algum dos parâmetros pertinentes do sistema, mesmo que


pouco, a condição estacionária também muda.
Em sistemas não lineares pode ocorrer um fenômeno
novo, a partir de um valor do parâmetro que é considerado
crítico. A anterior solução estacionária deixa de ser estável,
e o sistema evolui na direção de uma (ou várias) outra(s)
solução(ões) que pode(m) ser bem diferente(s). É o que os
teóricos dos SDNL chamam de bifurcação. Existem vários
tipos de bifurcação que refletem a riqueza do comportamen-
to qualitativo dos SDNL, e a importância dessas bifurcações
em dinâmicas não lineares reside na renovação que trazem à
explicação dos fenômenos emergentes.
Enfim, o termo emergência sempre esteve relacionado
ao fato de que um todo não é igual à soma de suas partes.
Chama-se agora de emergência a existência – e não apenas o
surgimento visto como processo temporal, como é sugerido
pelo vocábulo – de qualidades singulares de um sistema que
só podem existir em certas condições, em geral, se durante
suas variações, um parâmetro que regula a intensidade das in-
terações ultrapassa um patamar crítico. Assim, a emergência
é um processo pontuado e crítico de bifurcação, isto é, um
processo que faz um sistema passar de um conjunto possível
de qualidades a um outro. São casos em que os vetores con-
tinuam os mesmos, mas sua organização espaço-temporal é
bem diferente antes e depois da bifurcação. Mas, atenção: an-
tes e depois não indica aqui, necessariamente, uma diferença
temporal, pois se trata de um patamar quantitativo do parâ-
metro, tanto que antes e depois poderia ser substituído por
aquém e além do patamar crítico.

Três tipos de contradições


É interessante perceber que a emergência pode resultar
de pelo menos três tipos de contradições, como será mais bem
explicado a seguir. Isso não coincide com a inclinação mais

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100 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

comum entre os vários tipos de marxismo, de interpretar


contradições de caráter histórico exclusivamente como anta-
gonismos.12 Não resta dúvida de que a origem dessa maneira
de interpretá-las está presente na própria obra de Marx, prin-
cipalmente nos escritos que mais revelam o predomínio do
aguerrido revolucionário sobre o cientista social.13 Ocorre, en-
tretanto, que outros dois tipos de contradição também fazem
parte de seu projeto filosófico.
Ao aprofundar seus estudos sobre o funcionamento da
economia capitalista, Marx também detectou oposições não
antagônicas, nas quais os contrários estão em posição lógica
de simetria. Nesses casos, não ocorre eliminação inovadora de
um deles, nem superação sintética dos dois, mas sim uma es-
pécie de reprodução cíclica, ou ondulatória, da oposição bási-
ca. Também detectou outra, na qual a oposição dos contrários
engendra algo essencialmente novo. Ou seja, identificou ao
menos três tipos de oposição que podem ser entendidas sim-
plesmente como determinantes de processos revolucionários,
ondulatórios e embrionários.14
De resto, Marx também identificou um metabolismo na
relação da humanidade com a natureza. Uma noção que capta
aspectos fundamentais da existência dos seres humanos como
seres naturais e físicos, que incluem as trocas energéticas e
materiais que ocorrem entre os seres humanos e seu meio
ambiente natural. Tal metabolismo é regulado, tanto por leis
naturais que governam os vários processos físicos envolvidos
quanto por normas institucionalizadas que governam a divi-
são do trabalho, a distribuição da riqueza, etc.

12 É o que se pode concluir da comparação entre a contribuição das cientistas naturais


Janine Guespin-Michel e Camille Ripoll (2005) e o subsequente ensaio filosófico de
Lucien Sève (2005).
13 Como mostraram Gorender (2000) e Carandini (2005).
14 Nada pode impedir, contudo, que os analíticos identifiquem apenas dubiedade em
tais considerações. Segundo Popper, “Hegel aproveita a ambiguidade da palavra
alemã ‘aufgehoben’, empregando-a no sentido de reduzida a componentes, cancelada,
preservada e elevada”. Popper (1982, p. 345, nota 5).

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Dialética, complexidade e emergência • 101

Em sua origem, o termo metabolismo capta o complexo


processo bioquímico mediante o qual um organismo, ou
uma célula, se serve dos materiais e da energia de seu meio
ambiente e os converte em unidades constituintes do cresci-
mento.15 Além disso, a noção de metabolismo é usada para se
referir aos processos específicos de regulação que governam
essa complexa troca entre organismos e meio ambiente. É
hoje largamente empregado pelos ecólogos para se referir ao
conjunto dos níveis biológicos, da célula ao ecossistema.

Em suma
Como foi visto acima, o que não faltam são motivos para
que a noção de dialética tenha sido varrida do debate cien-
tífico. No entanto, os fenômenos da emergência correspon-
dem de maneira tão surpreendente ao esquema do Aufhebung
hege­liano, que permitem prever que sua utilidade certamente
poderá voltar a ser reconhecida.16
Além disso, ela está no cerne do materialismo darwinia-
no que, como já foi enfatizado no final do capítulo anterior,
pode ser sintetizado em poucas palavras da seguinte for-
ma: variação aleatória com seleção de unidades de instrução repli­
cadas sob pressão do ambiente. Tal princípio (Mayr), algoritmo
(Dennett) ou conjectura (Hodgson) envolve dois momentos
essenciais: 1) contradição entre, de um lado, o caráter aleatório

15 O termo metabolismo (Stoffwechsel) surgiu por volta de 1815, mas só começou a ser
largamente adotado pelos fisiologistas alemães nas décadas de 1830 e 1840, para se
referir primariamente a trocas materiais dentro do organismo, relacionadas com a
respiração. Recebeu uma aplicação mais ampla e corrente ao ser usado por Justus
von Liebig em 1842 na Animal chemistry (a grande obra subsequente à Agricultural
chemistry, de 1840), na qual usou a noção de processo metabólico no contexto da
degradação de tecidos. Mais tarde ela se generalizou como conceito-chave, aplicável
tanto ao nível celular quanto na análise de organismos inteiros. E depois passou a ser
categoria fundamental de muitas teorias científicas.
16 Tal aposta foi muito discretamente reforçada por Patrick Tort em nota de rodapé
(7) de sua introdução ao dificílimo livro de Chomin Cunchillos (2014) que, apesar
do instigante título – As vias da emergência –, só aborda tal tema bem de raspão, na
página 71.

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102 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

da variação e, de outro, o caráter determinístico da pressão


ambiental; e 2) surgimento das resultantes unidades de ins-
trução. Exatamente o que separa o materialismo darwiniano
dos diversos amálgamas genéricos sobre evolucionistas ou
evolucionários.17

17 Desde os clássicos, como Herbert Spencer, Lewis Henry Morgan e Edward Burnett
Taylor, até modernos como V. Gordon Childe, Leslie White, Julian Steward, Talcot
Parsons, Marshall Sahlins, Elman Service, Robert Carneiro, Gerhard Lenski e Mar-
vin Harris. Foi, aliás, uma cuidadosa revisão de todos esses outros evolucionismos,
publicada pelo sociólogo Stephen Sanderson (1990), que o tornou adepto do mate-
rialismo darwiniano.

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Epílogo

Em sua autobiografia, Darwin menciona uma vez seu


amor à esposa e uma outra à família, sem deixar de lembrar
do amor aos cães, que nutriu em sua mais tenra infância. Mas
em nenhuma dessas três referências chega perto de ser tão
enfático quanto nas quatro passagens em que faz declarações
de amor à ciência. Mais: em várias outras, nas quais não usa
necessariamente o termo amor, insiste que sua vida adulta foi
essencialmente movida pelo prazer de investigar e pelo dese-
jo de acrescentar algo à ciência natural. Na Terra do Fogo, per-
cebeu que não haveria melhor maneira de utilizar sua vida do
que esse: acrescentar alguma coisa à ciência natural.
Porém, as contribuições de Darwin não se limitaram à
ciência natural, mesmo que depois de quase um século e meio
ainda prevaleça a suposição oposta, de que seu materialismo
só tenha serventia no âmbito das biociências. Essa é a conclu­
são mais geral que decorre dos quatro ensaios que compõem
este livro. No mínimo dão uma visão razoavelmente pano-
râmica de sua crescente utilidade cognitiva em ciências tão
diversas quanto a psicologia e a física quântica, passando
por quase todas as ciências sociais, por mais que ainda possa
ser hipotética a concomitante aproximação epistemológica,
conforme proposição esboçada no terceiro capítulo.

103

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104 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Desencadeado no início dos anos 1980, esse amplo avan-


ço do materialismo darwiniano no âmbito científico esteve
bem longe de ser homogêneo, gerando, ao contrário, varia-
ções que ainda não puderam ser selecionadas, o que só poderá
começar a ocorrer quando forem superadas ao menos algu-
mas das fortes controvérsias que foram apresentadas nos
quatro ensaios precedentes.
A primeira diz respeito ao próprio conjunto dos fenô­
menos que evoluem pela interação dos quatro vetores desta-
cados no final do primeiro capítulo: mutação, seleção, deriva
e migração. Tudo indica que estão mais certos os pesquisado-
res que restringem tal conjunto aos sistemas populacionais
complexos, do que os que, ao contrário, o universalizariam.
Afinal, parece impossível que a replicação de variações se-
lecionadas por suas aptidões possa ocorrer em fenômenos
de outra ordem. Nesse sentido, o materialismo darwiniano
provavelmente seguirá pela trilha do que tem sido chamado
de darwinismo generalizado, contrário à proposta de um darwi-
nismo universal.
A segunda tem a ver com as chamadas dimensões da
evolução. O fato de já estar bem claro que vão muito além
da genética e da epigenética não quer dizer que a melhor
forma de classificar as demais se resuma, tão somente, às
categorias comportamental e simbólica, pois elas são insufi-
cientes para dar conta de todas as manifestações da evolução
no âmbito antropológico/sociológico, por exemplo. A menos
que isso tudo caiba na chamada dimensão comportamental,
o que seria bem exagerado. No fundo, as dimensões da evo-
lução darwiniana são tão numerosas quanto o são as ciências,
pois, como foi visto, ajudam a entender desde fenômenos
quânticos até políticos, passando pelos neurais.
A terceira só pode ser sobre o alcance dos processos se-
letivos. Por mais que ainda haja resistência, certamente não
demorará muito para que seja amplamente aceita a tese da

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Epílogo • 105

seleção multinível. É essa a força dinâmica que explica os pou-


cos processos civilizadores que vingaram, assim como a resis-
tência e a resiliência de muitas sociedades que permaneceram
primitivas, enquanto um incalculável número de outros agru-
pamentos humanos foi sendo inexoravelmente eliminado.
Por um dos níveis, a competição entre indivíduos en-
gendra comportamentos egoístas; por outro, a competição
entre grupos favorece traços sociais cooperativos. O que mar-
cou o caminho para a eussocialidade foi, portanto, a tensão
entre a seleção baseada no sucesso relativo dos indivíduos
dentro dos grupos, versus o sucesso relativo entre grupos, em
complexo mix de altruísmo, cooperação, competição, domí-
nio, reciprocidade, deserção e fraude.
A decorrente quarta controvérsia, reside justamente no
entendimento do fenômeno de superação dos numerosos ti-
pos de conflitos sociais mediante cooperação. Além de formas
bem estabelecidas de reciprocidade direta, a biologia mate-
mática tem revelado o quanto a indireta pode ter sido crucial
para a evolução da linguagem e para o próprio desenvolvi-
mento do cérebro humano, pois se baseia no fenômeno da
reputação. A cooperação também avança quando a probabi-
lidade de um agente se inteirar sobre a reputação do outro
compensa o custo/benefício do ato altruísta.
Em quinto lugar, a controvérsia, que hoje certamente é
a mais importante de todas, se desenvolve em torno do que
chamamos de consciência. Nesse caso, por enquanto, nem é
possível avaliar qual será seu desdobramento, pois a diver-
gência entre os materialistas darwinianos parece começar
pelo próprio sentido que dão à palavra consciência. Como foi
visto, alguns a associam a um cérebro, por mais simples que
possa ser (o de um polvo, por exemplo). O foco das pesquisas
dessa corrente está na evolução dos neurônios, que se daria
por seleção de grupo.

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106 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Outros só não identificam consciência no primeiro ní-


vel dos seres vivos, formado por proteínas globulares, logo
acima das moléculas. Afirmam que existe consciência em to-
dos os níveis superiores, a começar pelo das células. E nem
se pode descartar, claro, a possível existência de outras con-
cepções sobre a consciência que não colidam com o materia­
lismo darwiniano.
Pode-se até supor que o próprio Darwin poderia ter mais
simpatia por essa segunda corrente, pois em seu último livro,
The formation of vegetable mould, publicado em 1881, faz várias
observações sobre as qualidades mentais das minhocas, entre
as quais uma inteligência e uma atenção que indicaria a pre-
sença de algum tipo de mente (Darwin, 1881, p. 34). Mas é
claro que pode haver aqui um sério problema semântico, pois
é difícil supor que o grande naturalista aceitasse a ideia de
que vermes têm alguma consciência que realmente se asse-
melhe à de muitos outros animais mais complexos, entre os
quais se destacam os humanos.
Por último, mas não menos importante, uma contro­
vérsia que não é interna ao materialismo darwiniano, mas
que diz respeito à concorrência de outros possíveis materia-
lismos, dentre os quais se destaca o materialismo histórico.
Há quem suponha que a história social da humanidade não
esteja inserida na história natural do conjunto dos organis-
mos vivos, ou ainda que um materialismo naturalista não
seja necessariamente o substrato no qual se enraíza qualquer
materialismo histórico.
Sobre tal controvérsia, o que pode ser dito aqui é que o
amor à ciência também levou Darwin a lançar princípios para
uma antropologia básica de qualquer materialismo histórico.
Daí o principal desdobramento sugerido pelo conjunto de
quatro ensaios que compõem este livro: não poderá haver ma-
terialismo científico que não seja, antes de tudo, darwiniano.

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Book_Amor a Ciencia.indb 124 07/08/18 13:55


Índice remissivo

A Alelo, 32-33
Abidjã, 24 Alemanha, 46,
Abordagem biológica da evolução, 73 Algaravia, 64
Abramovay, Ricardo, 9 Algoritmo, 73, 83, 101
Abundância, 43, 93 Alicerce epistemológico, 35, 60
relativa, 43 Alienação, 52
Ação judicial, 17 Alimentares, 20, 55, 77
Acomodação pela existência, 57 Alma, 66, 67
Acusação, 17, 24 Altruísmo, 24, 43, 44, 47, 105
Adaptar, 20, 21, 49, 73 Altruístas, 42, 45
Adepto, 17, 26, 35, 66, 79, 102 Amálgamas, 67, 102
Admirável, 17 Amamenta, 29
Advertência, 17 Ambições futuras, 55, 77
Afirmação, 12, 52, 54, 77 Ambiguidade, 27, 80, 100
Agnosticismo, 16, 88 Ameaças, 51-52
Agnóstico, 17 Amigo, 16
Agregam, 52 Amor, 16, 52, 103, 106
Agressão, 30 Amparo, 20
Agressivos, 30 Análise(s), 27, 35, 78
Agrobiologia, 90 das línguas, 38
Agrupamentos humanos, 23, 105 do mérito, 65
Água, 21, 95, 97, 98 social, 38
Alcance, 65, 73, 104 Analítico, 85, 100
Aleatórias, 54, 76, 93, 98 Analogia animista, 52
Aleatoriedade, 96 Analogias, 35, 48, 65

125

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126 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Anatomia, 26 Associação para o Estudo Científico da


Anderson, Phil, 95 Consciência, 67
Andler, 75 Ateísmo, 16
Anglicanismo, 15 Atenção, 18, 19, 53, 68, 70, 89, 91, 99, 106
Animais, 17, 18, 20, 37, 42, 54, 76, 82, Átomos, 71, 95
106 Atos desinteressados mútuos, 43
Animais não humanos, 42 Aufgehoben, 85, 100
Animalidade, 24 Áustria, 46
Anos-luz, 63 Autobiografia, 15, 16, 17
Anotações evolucionárias, 17 Autolimitadores, 51
Antagonismos, 83, 100 Auto-organização, 94
Anticorpo, 27-28 Avanço da racionalidade, 24
Antígeno, 28 Avanços, 24, 26, 36, 39, 65, 72

Antigos gregos, 11 Aventura, 14

Antisseletivos, 25 Aves, 28, 96

Antropologia darwiniana, 23-27 Axelrod, Robert, 56

Antropomórficos, 66
B
Anular, 85
Bactéria exótica, 28
Aposta, 65, 67, 81, 101
Bagehot, Walter, 38
Apostasia, 15
Balanço, 67, 84
Aprendizagem, 51
Balcanização, 57
Aproximação epistemológica, 61, 62,
Ball, Philip, 70
74-80, 83, 103
Barlow, Nora, 15
Aptidão inclusiva, 55, 77
Base genética, 54-55, 77
Aptidões vitais, 25
Beagle, 16, 17
Aptos, 20, 21-22, 24
Behavioral and Brain Sciences, 53
Áreas rochosas de altitude, 19
Behavioral Ecology, 45
Argumentos, 11, 13
Beinhocker, 96
Aritmética, 27
Bicicletas, 48
Armadilha, 25
Bifurcação, 99
Armstrong, Louis, 68
Biofobia, 41, 79
Arqueologia, 44
Biogenética, 51
Arrogância, 88-89
Biologia
Artes, 14, 46 evolucionista, 59, 75, 77
Ascensão funcional, 59, 75
a um nível superior, 85 molecular, 36, 54, 76
da humanidade, 44 Biológico, 25, 40, 50-51, 74, 95
Assimilação, 35, 78 Biólogos, 35, 41, 43, 45, 50, 55-56, 74, 75,
Assistência, 24 89-90

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Índice remissivo • 127

Biopsiquismo, 26 Cargas elétricas, 64


Bitsakis, Eftichios, 87, 91 Cartilha, 92
Blackmore, Susan, 48 Casamento, 21, 40
Blanco, Abelardo, 9 Castigadores altruístas, 45
Blasfemo, 17 Categorias, 27, 104
Blefe, 52 Causa e efeito, 49, 74
Block, 68 Cechin, Andrei, 9
Bloco soviético, 90 Células, 32, 54, 65, 76, 95-96, 106
Boas, Franz, 39
Cérebro, 26, 27-29, 31, 57, 65, 69, 105
Bolas de bilhar, 48
Cerne, 25, 59, 75, 101
Bolchevismo, 86, 90
Ceticismo, 17, 80, 88,
Boschma, Ron A., 44
Childe, V. Gordon, 39, 102
Botânicos, 21
Choque, 20
Boulding, Kenneth Ewart, 50
Christen, 84
Bowles, Samuel, 44-45
Ciência, 12, 13, 16, 44, 50, 56, 59, 61, 62,
Boyd, Robert, 41, 44-45
64, 86, 87, 90, 91, 103, 106
Bromberg, 59
burguesa, 90
Brüntrup, 66
econômica, 13
Buldogue, 16 natural, 103
política, 44, 50, 59
C
proletária, 90
Cabeça, 94, 95
Ciências, 13, 14, 23, 26, 35, 41, 46, 57, 58,
Cabo, 94, 95
59, 60, 61-84, 89, 103, 104
Cães, 103
biológicas, 59
Camada de areia, 98 cognitivas, 75
Cambridge, 16 do homem, 74
Campbell, Donald, 41 exatas, 59, 74, 75
Campbell, John, 41, 48, 74 históricas, 59, 75
Camundongos, 57 humanas, 13
Caninos, 19 naturais, 13, 35
Capacidade Cientistas sociais, 23, 79
de desenvolvimento organizacional, Cinco dinâmicas de cooperação, 56
51 Cinco regras da evolução da cooperação,
de inovação, 20 55
Caprinos, 19, 20 Circuitos neurais, 28
Captura, 27
Cirne-Lima, Carlos Roberto, 87, 92
Caracteres hereditários, 37, 82
Citologista, 37, 81
Caráter, 21, 25, 70, 83, 85, 95, 100,
Clivagem epistemológica, 60
101-102
Clones assexuados, 95
aleatório, 83, 101-102
determinístico, 83, 102 Coates, 40
quântico, 70 Cobras, 16

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128 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Coerência, 13, 65 Conquista social da Terra, A, 42


Coesão social, 29 Consciência, 26, 27-29, 33, 55, 59, 64, 65,
Coevolução gene/cultura, 45 67-68, 69, 77, 105, 106
Coletti, Lucio, 85 celular, 26
primária, 28
Colisões, 71
Consentimento, 52
Combinação, 36, 37, 38, 58, 63, 82
Conservadora, 21
Comparação, 27, 51, 71, 100
Conservados e guardados, 85
Competição, 20, 43, 44, 71, 105
Consistência, 13
Complexidade, 84, 85-102
Constatação biológica, 20
Componentes essenciais da mercadoria,
91 Consumo, 52

Comportamentais, 36, 54, 55 Contestação, 35-36, 52, 59

Comportamento(s) Contexto vitoriano, 15


antieliminatórios, 25 Continuidade, 25, 28, 56
egoístas, 44, 105 evolutiva, 25
eliminatórios, 24 Contra-ameaça, 52
individuais e sociais, 24 Contradição, 83, 85, 100, 101
ondulatório, 70
Controvérsia, 28, 35, 53-57, 64, 104, 105,
quântico, 70
106
Win-Stay, Lose-Shift, 57
Convicção(ões), 12-13, 80,86
Computador, 27, 69
Convite, 41, 52, 79
Comunidade científica, 12, 64, 68, 80
Cooperação, 36, 44, 45, 49, 55-57, 77-78,
Conceito(s), 18, 21, 36, 53, 59, 74, 75,
105
84, 91
bipolar, 56
Concepção materialista neodarwiniana,
Cooperadores condicionais, 45
81
Coordenação, 43
Concessões, 39
Correlação positiva, 49
Conciliação, 16
Corrente, 11, 29, 66, 101, 105, 106
Conclusão, 22, 44, 59, 80-84, 86, 91, 103
Correntes neurais, 27
Condição
Corrida armamentista, 52
estacionária, 98, 99
estacionária de não equilíbrio, 98 Corrugamento, 98

Condições materiais, 46, 58 Cosmides, Leda, 44

Condutas, 22 Cosmo, 66, 80

Conexão, 18, 95 Cosmologia, 13

Confusão, 36-41, 51, 89 Cosmológica, 12, 80

Conhecimento(s), 12 Costumes, 50, 74

científico, 13, 67, 86 Crença(s), 12, 16, 17, 80

Conjectura, 21, 25, 26, 33, 67, 73, 74, 75, 80, Crentes, 15
82-83, 89, 101 Crippen, Timothy, 44
Conotação doutrinária, 82 Cristianismo, 15, 16, 17

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Índice remissivo • 129

Crusoé, Robinson, 19 Dennet, Daniel, 44, 73, 83


Cruzamentos, 30 Densamente povoadas, 20
Cultura, 31, 33, 45 Dente-por-dente, 56
da espécie humana, 33 Depoimentos, 19
Curva convexa profunda, 93 Deriva, 32, 104
Custo/benefício do ato altruísta, 57, 105 genética, 32
Custos irrecuperáveis, 45 Desafio, 26, 52, 71
Desafios teóricos, 84
D
Desagregam, 52
Dá à luz, 29
Desastre natural, 51-52
Da natureza humana, 42
Descabida acusação, 24
Da vida, 12, 24, 28, 41, 43, 60, 75, 79, 80
Descendentes, 16, 21
Dança, 71
Descobertas, 12, 29, 30, 31, 36, 57, 80,
Darwin, Charles, 12, 15-27, 33, 36, 37, 39,
82, 89
40, 47, 54, 57, 73, 74, 76, 79, 82, 89, 90,
Descoerência, 69, 70-72
91, 103, 106
Desconcertante, 25
Darwin, Emma, 15
Desconfiança, 29, 68
Darwin, Francis “Frank”, 15
Desconforto paradigmático, 65
Darwin, Henrieta (Etty), 15-16
Descontínuo, 46
Darwin’s Conjecture, 48
Desenvolvimento moral, 22
Darwinismo, 23, 27, 29, 33, 35-60, 69-74,
78-79, 80, 81-83, 104 Deserção, 44, 105
generalizado, 33, 35, 50, 74, 104 Desfazer, 85
parcial, 33, 35 Desfechos, 35
social, 40-41, 78, 79 Desigualdade, 52
universal, 33, 35, 74, 104 Desinformação, 14
Dawkins, Richard, 41, 48 Desprezar, 46
DCT (Darwinian Conflict Theory), 46 Desqualificação social, 25
Debate, 11, 26, 28, 44, 53, 92, 94, 96, 101 Devaneios, 16
Década, 21, 35, 42, 45, 46, 56, 75, 83, 93, 101 Deveres, 24
Decadência da dialética, 86 Dialética, 83, 84, 85-102
Defensiva, 39 Diálogo, 46, 59
Defesa, 30 Dicionário do darwinismo e da evolução,
Déficits orgânicos, 25 23
Defoe, Daniel, 19 Didático, 25, 27
Delitos, 31 Diluição, 83
Demitir, 17 Dimensão
Demografia, 18 biológica, 33
Demográfica, 46 genética dos processos hereditários, 33
Demonização ideológica, 40, 78 Dimensões da evolução darwiniana, 104

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130 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Dinâmica E
da evolução darwiniana, 25
Ecletismo teórico, 57-58
natural, 24
Ecodynamics: A new theory of societal
Direito autoral, 17
evolution, 50
Discordância, 22
Ecológica, 46
Discórdia, 52
Ecólogos, 41, 45, 75, 93, 101
Discurso filosófico, 14
Economia, 13, 21, 26, 41, 44, 50, 83, 96, 100
Disparate, 18 da natureza, 21
Dispersão disciplinar, 62 política, 13
Dissertação, 19 Econômica, 13, 41, 46, 48
Dissolução, 85 Ecossistema de altitude, 20
Dissolver, 85 Ecossistema(s), 19, 21, 101
Dissuasão, 52 Edelman, Gerald M., 27, 28-29, 33, 75
Distúrbio dissociativo de identidade, 62 Edimburgo, 16, 17
Divergirem, 21 Educação mútua, 38
Diversidade, 21, 63, 64 Efeito
Diversificação, 52 conservador, 43
Divisão do trabalho, 52, 100 reversivo da evolução, 24
DNA, 32, 54, 76 Efeitos sutis, 29
codificador, 32 Eficiência, 94
Do quântico para o clássico, 69, 72 Ehlers, Eduardo, 9
Dócil, 30 Elegância, 65
Doenças, 62 Elegante, 65
Doente(s), 24, 61 Elétron, 61, 62, 63, 68
Domesticação, 18 Eliminação
Dominância, 52 dos menos aptos, 24
Domínio, 33, 43, 44, 74, 83, 105 inovadora, 83, 100
Dopamina, 30 Eliminadas, 18, 32
Dotação genética, 33 Emaranhamento, 63, 64
Doutrina, 11, 86, 89 Emaranhem, 70
de Estado, 86 Embaracem, 70
Down, 21 Embaraço, 64
Drible, 52 Embaralhem, 70
Dualidade, 66 Embrião, 93
Dualismo, 58, 66, 81 Embrionários, 100
Dunnel, Robert, 44 Émergence, complexité et dialectique, 91
Dureza, 95 Emergência, 66, 73, 78, 83-84, 85-102
Durham, William H., 44 da realidade clássica, 73
Durkheim, Émile, 40 Emergentismo, 83, 94

Dúvidas, 16, 33, 56 Empatia, 24

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Índice remissivo • 131

Empiricamente demonstrado, 21 Espiritualismos, 12


Empurrões, 31 Esquema teórico, 18
Endogamia, 13 Essência, 39, 50, 65, 74
Endogrupo, 29-30 do darwinismo, 50, 74
Enfermos, 24 Estado(s)
Engels, 86, 89, 90, 92 conscientes, 29
de ponteiro, 73
Enigma, 17, 65
incerto, 73
Enredem, 70
mentais, 30
Entrecruza, 33
Estágios, 37
Entrecruzamentos, 97
Estalinistas, 89, 92
Entrelaçamento, 63
Estalo, 18
Entropia, 51
Estoques, 52
Enzima, 30-31, 51
Estrutura, 27, 49, 95
Epifania, 21
Estruturas intracelulares, 64
Epigenéticos, 36 Ethology & Sociobiology, 45, 75
Epistemologia evolucionária, 80 Etnia, 46
Epistemologia, 48, 58, 61, 62, 78, 80 Etologia, 57
Época atual, 11 EUA, 56
Equações, 48, 93 Eugenia, 22, 41, 79
diferenciais, 48
Eussocialidade, 43, 44, 105
Equilíbrio, 19, 91, 93, 98
Evento climático extremo, 52
dinâmico, 19
Evidências, 12, 38, 42, 80, 81
Erros, 32, 86
Evolução da Cooperação, A, 56
Ervilhas, 21
Evolução, 18, 23, 24, 25-26, 29, 31-33, 36,
Escolas filosóficas, 11 37, 38, 40, 43, 46, 47, 48, 49, 50-51, 53, 54,
Esoterismo(s), 12, 67 55-56, 57, 71, 73, 76-77, 79, 97, 104, 105
Espaço topológico, 25 política, 38
Espanhóis, 19 Evolucionismo, 23, 39, 102
Especialistas, 12 clássico, 39

Especializações, 62 Evolution & Human Behavior, 45, 75

Espécie(s), 17, 18, 20, 36, 37, 71, 82, Exceções, 35, 78
93, 98 Expedição, 16, 17
humana, 20, 22, 33 Experiências, 27, 28-29, 71
Especulações, 16, 62, 64, 67-68, 88 Experimentos, 21, 30
filosóficas, 88 Explicação, 11, 12, 28, 70, 80, 99
ultraidealistas, 67 Explosão populacional, 20
Especulativa(o), 13, 35, 78, 89 Expurgos, 15
Espírito, 11 Extranatural, 64
Espiritual, 11 Extrapolada, 21

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132 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

F Formas
de vida, 62
Fagócito, 26
organizacionais, 47
Falecimento, 15
Forte reciprocidade, 45
Fatos
Fótons, 71
sociais, 40
Fractais, 96
verídicos, 19
Franklin, 84
Favareto, Arilson, 9
Fraude, 44, 105
Fé, 16
Freeman, 67
Fehr, Ernst, 45
Freire Jr., 59, 72
Fenômeno(s), 11, 63, 67, 69, 70, 92, 96, 99,
Frequências, 49, 74
101, 104
local, 28-29 Fronteira, 27, 59, 65, 70, 75, 91
Fenótipos, 36, 47 Fuga, 52
Fernández, Juan, 19-20 Fukuyama, Francis, 44, 47
Ferocidade, 30 Função de limpeza, 30

Filosofia, 11, 13, 14, 44, 59, 62, 64, 86, 87, Funcionalismo evolucionário, 39
88, 89, 90, 96 Funcionamento(s)
da ciência, 62 cerebral, 28
sólida, 88 das sociedades, 62
Filtragem, 73 Funções, 29, 94

Finkelman, 53 Fundamento(s)
biológicos, 40
Firmas, 47
metafísico, 58
Física, 12, 58, 63, 65, 67, 69, 70, 71, 96,
Futuro, 13, 61-84
103
das ciências, 61-84
clássica, 58, 65, 70
quântica, 58-59, 63, 67, 69, 103 G
Fisicalismo, 59 Galgos, 19, 20
Físico-química, 74-75 Gás, 71
Fisiologia, 17, 27, 43, 51 Gelo, 95
Fita (ou faixa) de Möbius (ou Moebius), Gêmeos, 27
25 Gene egoísta, O, 42
Fitness, 47, 49, 53, 74 Gene(s), 28, 30-33, 42-43, 45, 47, 50, 51, 53,
Fixação, 32 74, 76, 94
Flatland: Quantum mind and the Generalização, 46, 48, 92
international system as hologram, 59 Genética
Fluxo circular, 48 mendeliana, 36, 90
Foguetes, 48 populacional, 36
Força(s), 20, 25, 37, 43, 44, 105 Geneticamente modificados, 30
extraordinária, 43 Genético(s), 26, 31-32, 33, 43, 47, 51, 54,
físicas, 67 76, 77
Formação, 16, 18, 50, 51, 55, 77, 85 Genomas, 36

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Índice remissivo • 133

Geografia, 44 Hipotálamo, 29
Geometria fractal, 96 Hipótese(s), 42, 56, 59, 61, 63-69, 84
Geração seguinte, 43 da consciência quântica, 59
Gerações, 30, 37, 82 História
Giannetti, Eduardo, 88 da espécie humana, 22
das ciências, 14
Gintis, Herbert, 44-45
das ideias, 14
Gnosis, 16
das relações internacionais, 44
Goethe, 66
pretérita, 55, 77
Gordo e o Magro, O, 56
Hodgson, Geoffrey, 44, 48, 50, 73, 74,
Gradativamente, 17 83, 101
Gradualismo, 36, 37, 82 Hofstadter, Richard, 40
Grama, 72 Holistas, 94
Grande fronteira entre as ciências, 59 Hormônio
Grespan, 91 da confiança, 29
Guardar, 85 de afiliação, 29
Guerra Fria, 56 neural, 29
Guillo, 42 Hull, David L., 44
Guinada quântica, 58 Human Behavior and Evolution Society
(HBES), 45, 75
H Humanidade(s), 21, 26, 35-60, 64, 65, 66,
Hábitos, 22, 25-26, 39, 50, 74 75, 77, 78-79, 80, 100, 106
Hamilton, William David “Bill”, 41 Humildade, 88-89
Haroche, Serge, 71 Huxley, Thomas Henry, 16
Harris, Marvin, 46, 102
I
Harvard, 39
Idealismo, 66, 81
Hediondo crime, 40-41, 79
Ideias morais, 40
Hegel, 85, 88, 100
Identidade, 52, 62
Henrich, Joseph, 45
Ideologias, 14, 21, 23
Herança, 30, 33, 36-39, 49, 54-55, 76, 77
Igualdade, 52
de caracteres adquiridos, 113
não relacionada ao DNA, 54, 76 Ilegitimidade, 52
social, 39 Ilha, 19
Hereditariedade Iluminismo, 39
biológica, 39 Imitação, 39, 42, 49, 55, 77
pela aprendizagem, 51 vocal, 55, 77
Hermetismo, 87 Imoral, 17
Heterodoxos, 13 Implicação(ões), 30, 63, 80
Hidrogênio, 95 causal, 49
Hierarquias naturais, 25 Impressões digitais, 27
Higiene, 24-25 Impulso, 67

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134 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Imunologia, 28 Interligações proteicas, 64


Imutável, 31, 37, 82 International Joseph A. Schumpeter Society
Incipiências, 35, 78 (ISS), 45, 75
Inclinações, 31 International Society for Behavioral Ecology
Inclusive fitness, 53 (ISBE), 45, 75
Incógnita, 69 International Society for the Systems Sciences
Incorporações, 47 (ISSS), 50

Incredulidade, 12, 80 Interpretações, 63, 64, 69, 72

Indústrias, 47 Interpretativismo, 58

Infalível, 13 Intervencionismo, 25

Infância, 15, 103 Inveja, 52

Inferência, 18 Inverno nuclear, 56

Infinitesimais quanta, 33 Involução do marxismo, 86

Influência herdável, 38 Irons, 45

Informações Irreversível, 70
adquiridas, 54, 76
J
hereditárias, 32
Jablonka, 53, 55, 76
Inglaterra, 16
Ingleses, 19 Jaskolla, 66

Inóspitas, 20 Jazz, 68

Inserções aleatórias, 98 Journal of Evolutionary Economics, 45, 75

Insight, 16 Journal of Memetics, 42

Instintivo, 16 Juventude, 15, 18

Instintos sociais, 22, 23, 25 K


Instituto Charles Darwin Internacional,
Kahneman, Daniel, 69
23, 26
Keller, Albert Galloway, 39
Instituto de Genética da Academia de
Khrushchov, Nikita, 90
Ciências da URSS, 90
Klein, Étienne, 71
Instrução, 22, 28, 50, 54, 73, 74, 76, 83, 102
Knudsen, Thorbjorn, 48
Insumos, 27
Kropotkin, Piotr, 57
Integração, 51, 94
Inteligência, 106 Kuhn, Thomas, 62

Intencionais, 49 L
Intencionalidade, 69
La Jolla, 28
Interação(ões), 29, 49, 55, 71, 72, 73, 77,
La Nature dans la Pensée Dialectique, 91
94-95, 104
Laboratório, 12, 17, 70
com o ambiente, 72
fisioquímicas, 67 Lagosta, 19
não lineares, 98 Laguna, 98
Interesse, 16, 80, 86, 87 Lamarck, Jean-Baptiste de, 37, 39
Interferência quântica, 71 Lamarckismo, 38, 81

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Índice remissivo • 135

Lamb, 53, 55, 76 M


Lambooy, Jan G., 44 Macaco(s), 16, 57
Lapso, 72 Machos polígamos, 30
Lassalle, Fernand, 90-91 Magnitude, 72
Laugier, 62 Mal-entendido, 18, 86
Lawrence, W., 17 Malthus, Thomas Robert, 18
Legado, 35, 41 Malthusiano, 18
Legitimidade, 52 Mamíferos, 28
Lehrer, 53 Manhosas interações, 95
Lei MAO-A, 30, 31
da seleção natural, 22 Marcus, 67
dos pobres, 19 Marginal, 46, 62
Leicester, 18 Market share, 47
Leis, 48, 59, 75, 89, 93, 94, 100 Martelo, 94-95
matemáticas, 93 Marx, Karl, 18, 87-92, 100
Leitura, 18, 19, 87 Marxistas, 23, 83, 86, 89, 92
Lenin, 86 Matemática, 21, 25, 56, 57, 96, 105
Leonard, 40 Matéria, 11, 58, 66, 72, 74
Liberal, 21 inorgânica, 74
Limites biogenéticos, 51 Materialismo
Linear, 63, 97 cultural, 46
darwiniano, 14-15, 25-27, 31, 33, 61, 63,
Linfócitos, 28
76, 79, 80, 84, 89, 101-102, 104, 106
Linguagem, 54, 57, 76, 88, 105 dialético, 89-90
Literatura anterior, 13 Matrimônio, 46
Lógica Mayr, Ernst, 36-38, 59, 73, 75, 81, 83, 89,
da descendência com modificação, 45 94-95, 101
da teoria seletiva, 24 Mecanicismo newtoniano, 59-60
Londres, 16 Medição, 63, 73
Londrino, 17 Medicina, 16, 24-25, 27, 75
Lopreato, Joseph, 44 Medo, 16
Los Alamos National Laboratory, 71 Meia verdade, 94
Loteria, 32 Meio trófico, 26-27
LSE (London School of Economics), 40 Meleghy, 46
Lucratividade, 47 Membros, 30, 39, 43
Lugares, 21 Memética, 41, 42
Lukács, 87, 92 Mendel, Gregor, 21
Luta Menos
pela existência, 22 capazes, 20
pela vida, 20, 24 favorecidos, 20
Lyssenko, Trofim Denissovitch, 90 Mental(is), 11, 12, 30, 66, 106

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136 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Mente, 11, 58, 63-69, 80, 106 N


quântica, 61, 63-69, 84
Nagel, Thomas, 79, 81, 88
Mercados, 47
Não linear, 97, 98
Metabolismo, 100, 101
Não previsíveis, 98
Metafísica, 12, 20, 61, 74
Não intencionais, 49
Metateoria, 48
Naturais, 13, 25, 35, 48, 49, 91, 92, 98, 100
Meteorologia, 93
Naturalista, 15, 36, 38, 39, 90, 106
Metodista, 19
Nature, 13, 53, 70
Método, 13, 58, 85-86, 91
Natureza, 12, 21-22, 27, 30, 38, 59, 68, 74,
Microrganismos, 37, 82
92, 100
Microtúbulos, 64 do homem, 22
Migração, 32-33, 104 humana, 40, 46
Minhocas, 106 imaterial, 67
Minoria mais apta, 73 química dos anticorpos, 27
Misantropia, 52 Necessidades, 55, 77
Misticismo quântico, 59, 68 Nelson, Richard, 41
Mistura estatística, 72 Neoclássicos, 13
Mix, 44, 105 Neodarwinismo, 37-38, 81
Modelsky, George, 44 Neoevolucionismo sociológico, 39
Modificam, 17, 21, 92 Neologismo, 51
Modos de vida sociais, 24 Nepotismo, 56
Moléculas, 71, 95, 98, 106 Neurociências, 27-29, 75, 83
de água, 95 Neurônios, 28, 30-31, 64, 68, 105
Monismo, 12, 79, 81 Neutralidade, 16, 88-89
Monoamina oxidase, 30-31 Niedenzu, 46
Monogâmicos, 30 Nível
Morgan, Lewis Henry, 39, 102 de mentalidade, 66
Morte, 15, 17 neural, 65
Movimento, 27, 41, 48, 56, 74, 88, 91-93, subatômico, 66
96-98 No man’s land experimental, 71
cíclico, 48 Noogenética, 51
Mudança(s) Noradrenalina, 30
catastrófica, 93
Norepinefrina, 30
conceituais, 53
Normas, 25, 45, 100
cultural, 55, 77
de foco, 38 Nova
de paradigmas, 27 agenda, 26
econômica, 41 vantagem adaptativa, 25

Multiplicação de espécies, 36, 37, 82 Nova York, 28

Mutação(ões), 20, 28, 32, 47, 48, 104 Novidades, 32, 54, 77-78
prejudiciais, 32 Nowak, 53, 55, 57, 78

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Índice remissivo • 137

Núcleo tálamo-cortical, 29 P
Número, 25, 43, 94, 105 Padrões evolucionários, 51
Nutrição, 26 Paleontologia, 38, 81

O Pampsiquismo, 66, 67, 68

Obcecado, 17 Paradigmas, 27, 58

Ocidente, 90 Paradoxo, 24

Ocultismos, 12 Paredes de proteínas, 64

Oculto, 64 Parentes colaterais, 43

Ódio, 16, 52 Parque nacional, 19


Olho-por-olho, 56 Parrochia, 74
Oliveira, Sonia Barros de, 9 Parsons, Talcott, 39
Onda(s), 93, 97-98 Parte não humana da natureza, 22
Ondulatória, 83, 100 Partícula subatômica, 63
Ondulatórios, 100 Pasteur, 12
Ontologia(s), 58, 61 Pastor, 16, 19
específicas, 61 Patamar, 99
geral, 61 crítico, 99
Ontológica, 58-59, 61, 65, 84 Paz, 50
Operação reversiva, 25 Peculiaridade, 86
Oposição(ões), 25, 49, 61, 66, 83, 100 Pedagogia, 25
básica, 83, 100 Pêndulo, 48
dos polos, 85
Pensadores dialéticos, 86
não antagônicas, 100
Pensamento, 11, 27, 33, 37, 53, 68, 75, 82,
ORCH OR, 64-65, 67-69
86, 87, 88
Organismo(s), 18, 21, 37, 43, 47, 54, 76,
populacional, 27
82, 91, 101, 106
sobre hereditariedade e evolução, 53
vivo e animado, 66
Percalços, 86
Organizações, 51, 62
Perigoso, 17
Organizadores sociais, 51-52
Periódico científico, 12
Órgãos, 39
Pesca, 19
Origem
comum, 36-37, 82 Pesquisa(s), 12, 36, 38, 50, 65, 67, 68, 69,
da vida, 12, 80 72, 80, 81, 88, 92, 96, 105
evolutiva do perdão, 56, 78 de fronteira, 65
Origem das espécies, A, 17, 39 Pessoa Jr., Osvaldo, 9, 59, 64, 83
Orquestradas, 64 Piedade, 52
Ortodoxos, 13 Pigliucci, 53, 78
Oscilações, 93 Pinker, Steven, 26, 44, 53
Ovo de Colombo, 21 Pirueta lógica, 20
Oxigênio, 95 Piscina, 97-99
Oxitocina, 29-30, 31 Planetas, 48

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138 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Plantas, 17, 18 Processo(s)


Plausível, 12, 79 civilizador(es), 20, 22, 23, 24, 105
Pleonasmos, 24 de busca, 48
seletivos, 26, 104
Poder, 15, 46, 73, 75, 79, 83
universal, 51
heurístico, 75, 79
transversal, 83 Produção, 37-38, 50, 52, 58, 82, 83, 91
rápida, 37, 82
Pointer states, 72-73
Professor, 17, 18, 23-24, 40, 59, 71
Polêmicas, 16, 53
visitante, 23-24
Política, 13, 20, 38, 44, 46, 47, 50, 59
Progenitor, 16, 33
comparada, 47
Progresso, 23
Polvo, 105
Projetos positivistas, 62
Pombos, 57
Prole, 21, 43, 49, 73
Pool
de rotinas, 47 Propensões, 31

genético, 33, 47 Proporcionalidade, 98

Populações humanas, 20 Propriedades novas, 98

Portadores de deficiências, 24 Protegidos, 24

Posição lógica de simetria, 83, 100 Proteína(s), 28, 30, 32


globulares, 106
Positivismo, 58, 88
Proximidade genealógica, 36, 55, 77
Possas, 47
Psicologia, 26, 41, 44, 69, 103
Prazer de investigar, 103
Punir, 45
Precariedades, 35, 78
Preconceitos, 20 Q
Preços, 52 Qualia, 28-29
Preferências alimentares, 55, 77
Qualidades
Prêmio Nobel, 26, 27, 71, 74, 75, 91 mentais, 106
Preservadas, 18 morais, 22
Pressão Quantum-classical transition, 70
ambiental, 83, 102 Quatro dimensões evolucionárias
evolutiva, 31 independentes, 36
Pressupostos primários, 86 Queda do Muro de Berlim, 86
Pretensões, 86, 87 Quente, 28
Prévio arranque cooperativo, 56 Quentura, 28
Primos, 43 Questões cosmológicas, 80
Príons, 50, 74
Privilégio, 13
R
Problema Raça, 46
mente/corpo, 69 Raciocínio, 19, 22, 25
semântico, 106 Racionalismo, 17
Problemática da ciência, 91 Racista, 24

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Índice remissivo • 139

Raízes naturalistas, 90 Religião, 16, 22, 46, 88


Ratazanas, 30 Relógio, 27
Ratos, 30, 57 Repercussões, 18-19, 90
cinza da Sibéria, 30 Reprodução
Razão, 13, 16, 56, 70, 86, 89 cíclica, 83, 100
Reabilitação, 24 sexual, 33, 38, 71, 81

Reação(ões) Répteis, 28
antievolucionária, 39 Repúdio, 17
químicas, 98 Reputação, 40, 57, 79, 105
Realidade, 11, 12, 58, 73, 85 intelectual, 40, 79

Realismo moral, 79 Reserva mundial da biosfera, 19

Rebanhos, 19 Resilientes, 20

Receptores sensoriais, 27 Resistência, 78, 79, 104-105


biofóbica, 79
Reciprocidade, 44, 45, 51, 52, 56-57, 78,
105 Restrições, 26

direta, 56-57 Resultado(s), 12, 38, 81, 88


indireta, 57 complexo, 24

Recombinação, 38, 81 Resumo, 21, 22, 86

Reconhecimento, 28, 30, 80, 97 Reversão, 24


imunitário, 28 Revisão anônima, 12
Recriminação, 24 Revisores, 13
Recursos escassos, 20, 71 anônimos, 13
Revolução científica, 38, 81, 89
Redes, 51, 57
de hierarquia, dependência e Revolução quântica, 58, 65
reciprocidade, 51 na física, 58

Redução objetiva orquestrada, 64 Revolucionários, 89, 100

Reducionismos disciplinares, 62 Riche, Flávio Elias, 59

Reducionistas, 94 Richerson, Peter, 41

Reedições, 39 Rigor, 13, 23, 67


Rim, 95-96
Reemergência da emergência, 83
Riqueza, 46, 99, 100
Reflexão
racional, 13 Risco, 40, 56, 79
sobre a vida, 73 Risível, 81
Região, 29 Ritchie, David George, 39
Regras, 47, 55, 57 Roedores, 30
de decisão, 47 Romanes, 37, 81
Reino orgânico, 25 Romeiro, Ademar, 9
Rejeição(ões), 65 Roos, J. P., 40
ao darwinismo, 40, 79 Rostos, 30
Relações físicas inorgânicas, 94 Rotina(s), 13, 47, 48, 50, 74

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140 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Rump materialism, 58 Serotonina, 30


Runciman, W. G., 44, 46 Servigne, 53
Ruptura, 25, 38, 58, 81 Sève, Lucien, 87, 91, 98, 100
epistemológica, 58 Simbólicos, 36

S Similaridade, 50
Simplicidade, 65
Saberes, 24
Sinais, 27, 30, 31, 64, 94
Sacrifício, 43
imperativos, 31
Saltacional, 37, 82
sinápticos, 64
Salto, 25
Sinfonia, 95
Sanderson, Stephen K., 39, 41, 44, 46, 102
Síntese, 35, 37-39, 41, 53, 76, 78, 81, 85,
Sartenaer, 84 89, 90
Schwartsman, Hélio, 9 moderna (1936-1950), 35, 39, 41, 78
Science, 13, 55 Sistema(s), 11, 28, 48-49, 52, 54, 70-73,
Sciences et Dialectiques de la Nature, 91 76-77, 85, 93, 95, 97-99
Scientific American, 55, 68 de herança genética, 36
dinâmicos, 93, 96
SDNL, 96, 99
dinâmicos não lineares, 96
Seager, 66
hidráulicos, 48
Search, 48
integrativo, 52
Século, 19, 21, 23, 35, 36, 38, 39, 53, 70, populacionais complexos, 49, 104
78, 83, 86-87, 89, 103 socioecológicos, 55
Sedicioso, 17 vivos, 94
Segunda lei da termodinâmica, 51 Sistemática, 38, 81
Segunda revolução darwiniana, 38 Skrbina, 66
Seleção, 18, 22, 24-25, 28, 31-32, 36-37, Sober, Elliot, 44
38, 42-45, 47-49, 53-55, 57, 71, 73-74, Sobrenaturais, 12, 16
76-77, 81-83, 104-105 Sobreposição, 63
cultural e social, 39
Sobrevivência, 18, 20
darwiniana da informação, 73
Sociabilidade, 30, 47, 52
de parentesco, 42-43, 45, 47, 53, 55, 77
natural humana, 47
de unidades de instrução replicadas,
Sociais, 11, 22-26, 40, 44, 46, 48-52, 57, 58-
50, 73, 74, 83, 101
60, 65, 69, 74-75, 78-79, 91, 103, 105
de unidades de instruções replicadas,
49 Social Theory as Cartesian Science, 58
natural multinível, 44 Social Theory of International Politics, 58
purificadora, 32 Sociável, 30
Selkirk, Alexander, 19 Sociedade, 50, 61, 89
Senso comum, 12, 80, 81 Societal Evolution, 39
Sentimento, 24, 29, 52, Sociobiologia humana, 41, 42, 44
Sequência genética, 32 Sociobiology: The New Synthesis, 42
Ser(es) vivo(s), 31, 39, 61, 67, 96, 106 Sociologia, 40-41, 44, 47, 78

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Índice remissivo • 141

Socorro, 24 Teoria(s), 18, 20, 22, 24, 28, 36-39, 41, 46-47,
Solidariedade, 29 49, 51-52, 54, 61-62, 63-69, 70-74, 76, 81,
Solteiro, 16 84, 91-93, 97-98
da catástrofe, 93
Solução determinista, 93
da complexidade, 84, 92-93
Som, 95
da decisão, 69
Sonhos, 16, 61
da dupla hereditariedade, 41, 45
Sorbonne, 40 da seleção natural, 18
Spencer, Herbert, 23, 39, 102 do caos, 93, 97
Status, 46, 69 dos jogos, 52
Steward, Julian, 39, 102 final, 61-62

Street, Sharon, 79 híbrida, 46


ideológica, 81
Subestimar, 46
instrutiva, 28
Submissão, 52
quântica, 61, 63, 65, 67-71
Subordinação, 52 quântica da decisão, 69
Substâncias Teoria da Classe Ociosa, 40, 79
neurotransmissoras, 30
Teoria Quântica: estudos históricos e
químicas, 98
implicações culturais, 59
Substrato subnanométrico, 70
Teorizador das ciências, 23
Sucesso, 21, 23, 43-44, 46-47, 56, 68, 70, 105
Terceira via, 58, 88
do grupo, 43
Terceiro vetor, 32
Superação sintética, 83, 100
Terra, 37, 82
Superpopulação, 19
do Fogo, 103
Superposição, 63, 72
Tese e antítese, 85
Superpovoadas, 19
Testes experimentais, 72
Superstições, 12
The Economist, 38
Suposição, 17, 25, 64, 103
The formation of vegetable mould, 106
Suspeita, 13, 23, 24
The Future of the Brain, 67
T The Insect Societies, 42

Tambosi, 86 Thom, René, 93

Taxonomia, 84 Thompson, William R., 44

Taylor, Edward Burnett, 39, 102 Tímidos, 30

Tecnológica, 46 Timmins, Adam, 78

Teleológica, 23 Tit-for-tat, 56

Temperaturas, 95 Toma-lá-dá-cá, 56, 77, 78,


generoso, 56, 78
Tendência, 21, 24, 54, 62, 77, 92
Tooby, John, 44
Tensão, 105
Tort, Patrick, 23, 26, 33, 101
Teologia, 16
Townsend, Joseph, 19-20
Teoria cognitivo-quântica, 59

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142 • Amor à ciência: ensaios sobre o materialismo darwiniano

Traço(s), 43-44, 105 V


parcial, 72
Validação, 35
sociais cooperativos, 44, 105
Valor
Tradição
de troca, 91
analítica, 88-89, 91, 96
de uso, 91
anglo-saxã, 62
Vantagens adaptativas, 24, 25
Trajetória, 41-42, 63
Transferência de informação, 50 Variação
anatômica, 28
Transformações de estado, 93
genética, 37, 46, 82
Transmissão dos hábitos, 39
Variações, 17-18, 24-25, 30, 39, 54, 76-77,
Transposição, 20
80-81, 99, 104
Travessia do micro para o macro, 69
orgânicas, 24
Trends in Cognitive Sciences, 67 selecionadas, 25, 104
Trilha, 29, 104 Variáveis da descrição, 72
Trilogia, 47
Vasopressina, 30-31
Trinity College, 46
Veblen, Thorstein, 39
Tripla matriz, 37
Verão, 15, 21
Triunfar, 24
Verdade, 11-13, 31, 40, 48, 58, 65, 80, 94
Trivers, Robert L., 42
Verdadeiro, 13, 95
Trocas, 51-52, 91, 100-101
Vermelhidão, 28
energéticas, 100
Vermelho, 28
Trotsky, 86
Vermes, 106
Tubularidade, 93
Vetores, 7-8, 20, 31-33, 46, 99, 104
Tubulinas, 64
Viagens, 16-17
Tversky, Amos, 69
Vida
U mental, 66
Um ensaio sobre o princípio de população, 18 quotidiana, 96
Umidade, 95 Viola, Eduardo, 9
Úmido, 95 Violência, 26, 46
União Soviética, 90 Virada ontológica e epistemológica, 59
União, 94-95 Visão
Unidade de mundo, 80
de instrução, 50, 73-74, 83, 102 unificada, 38
de propósito, 43 Vitalismo, 66-68
de seleção, 47 quântico, 67-68
Unificação, 38, 61-62, 65, 84 Vivo, 61, 66, 74, 95
ontológica, 61, 65, 84 Vocação, 16
Universidade, 17, 50, 56
de Princeton, 67 W
Universo, 11 Wagner, 62
URSS, 56, 90 Wallace, Alfred Russel, 36, 37, 40, 79, 82

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Índice remissivo • 143

Weismann, August, 38, 81 Winter, Sidney, 41, 44


Wendt, Alexander, 58-59, 65-69, 79 Wynne-Edwards, Vero Copner, 41
Westermarck, Edward, 40
Z
White, Leslie, 39, 102
Zaggl, 57
Why We Help, 55
Zoologista, 37, 81
Wilson, Edward O., 41, 42, 43, 44, 47,
55, 78 Zurek, Wojciech H., 71

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