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A DIALÉTICA
principais fundamentos. conhecimento humano ao longo de milênios, porém, por Richard Levins (1930-2016)
Em contraposição a uma su- outro, é um produto cada vez mais mercantilizado da in- foi professor na Cornell Uni-
DA BIOLOGIA
A DIALÉTICA DA BIOLOGIA
posta neutralidade científica – dústria capitalista do conhecimento. O resultado é um versity, na Columbia Univer-
defendida por aqueles que tra- desenvolvimento peculiarmente desigual: crescente so- sity e na Harvard T. H. Chan
balham para manter a ordem e fisticação ao nível do laboratório e de projetos de pes- School of Public Health e de-
pelos seus financiadores – eles quisa, ao lado de uma também crescente irracionalidade
senvolveu contribuições nas
demonstram como a relação do empreendimento científico em seu conjunto. [...] Ensaios marxistas sobre ecologia,
áreas de ecologia, genética de
entre ciência e sociedade e a agricultura e saúde
Isso significa que temos que nos envolver em duas fren- populações, biomatemática e
crítica ao modo de produção tes de luta: 1) na oposição à anticiência obscurantista [...] filosofia da ciência, além de
capitalista é fundamental para também na rejeição ao cientificismo, a noção segundo a ser um crítico do agronegócio
se compreender os desequi- qual as ideias dos outros povos seriam superstição, en- e promotor da agroecologia;
líbrios na natureza e as suas quanto as nossas estão amplamente apoiadas em co- Richard Lewontin (1929-
consequências como as mu- nhecimento objetivo confirmado por números. 2021) ocupava a cátedra Ale-
danças climáticas, a infestação xander Agassiz de Zoologia na
de pragas em lavouras, o sur- Richard Levins e Richard Lewontin Harvard University e se des-
gimento de novas doenças etc. tacou por sua crítica bastante
Este livro, que inaugura a fundamentada a muitas pro-
série Ecologia Marxista da posições científicas de cunho
Expressão Popular, é de fun- racista. Eles desenvolveram
damental importância para pesquisas sobre diversidade
o conjunto de estudantes, das populações humanas e
cientista e docentes da área teoria evolutiva que se tor-
das Ciências Naturais e para naram clássicos nessa área.
todos aqueles preocupados 9 786558 910749 Além disso, foram militan-
em compreender a catástrofe tes nos movimentos Science
ambiental que o capitalismo for the People [Ciência para
produziu e empenhados em o Povo], Science for Vietnam
preservar a vida. [Ciência para o Vietnã], New
DIALÉTICA DA
BIOLOGIA
Ensaios marxistas sobre
ecologia, agricultura e saúde
DIALÉTICA DA
BIOLOGIA
Ensaios marxistas sobre
ecologia, agricultura e saúde
Tr a dução
Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento
e Ritmos Biológicos da Universidade de São Paulo
1ª edição
EXPRESSÃO POPULAR
EXPRESSÃO POPULAR
Rua Abolição, 197 – Bela Vista
CEP 01319-010 – São Paulo – SP
Tel: (11) 3112-0941 / 3105-9500
livraria@expressaopopular.com.br
www.expressaopopular.com.br
ed.expressaopopular
editoraexpressaopopular
PARTE I
O fim da História Natural?.................................................................................... 21
O retorno de velhas doenças e o aparecimento das novas....................................... 27
Falsas dicotomias................................................................................................... 35
Acaso e necessidade................................................................................................ 41
Organismo e ambiente........................................................................................... 47
O biológico e o social............................................................................................. 53
Quão diferentes são as ciências naturais e sociais?.................................................. 59
Alguma coisa nova já aconteceu?............................................................................ 65
A vida em outros mundos...................................................................................... 71
Nós somos programados?.......................................................................................77
Psicologia evolutiva................................................................................................ 85
Deixe os números falarem...................................................................................... 91
A política das médias.............................................................................................99
A Lei de Schmalhausen........................................................................................ 105
Um programa para a Biologia.............................................................................. 113
PARTE DOIS
Dez proposições sobre ciência e anticiência.......................................................... 123
Dialética e Teoria de Sistemas.............................................................................. 139
Aspectos das totalidades e das partes em Biologia das Populações....................... 169
PARTE TRÊS
Greypeace............................................................................................................ 283
Genes, ambiente e organismos............................................................................. 285
O sonho do genoma humano............................................................................... 303
A cultura evolui?.................................................................................................. 341
O capitalismo é uma doença? A crise na saúde pública dos EUA......................... 379
Ciência e progresso: sete mitos desenvolvimentistas na agricultura......................407
Amadurecimento da agricultura capitalista: o agricultor como proletário............ 417
Como Cuba aderiu à ecologia.............................................................................. 433
Vivendo a 11ª tese................................................................................................ 459
Referências........................................................................................................... 471
1
Quando o livro foi originalmente publicado, em 2007, foi dedicado aos “cinco heróis
cubanos”: membros dos serviços de inteligência de Cuba que foram presos enquanto
monitoravam, na comunidade cubano-estadunidense em Miami, atividades de grupos
terroristas contrarrevolucionários, responsáveis por colocar bombas em aviões e hotéis.
Todos já foram liberados e retornaram a Cuba. Em 2020 a Netflix lançou um filme – “Redes
de espiões” (Wasp Network) – sobre a história dos cinco cubanos, estrelado por Wagner
Moura, Penelope Cruz e Gael Garcia Bernal. (N.E.)
Rosario Morales, no início dos anos 1950, depois de ser “listado” por
atividades antiamericanas, ainda quando estudante na Cornell, para se
transformar num ecologista, geneticista de populações, biomatemático
e filósofo da ciência.
Os dois Richards, Lewontin e Levins, desenvolveram pesquisas na
área da diversidade das populações humanas e teoria evolutiva, publican-
do trabalhos seminais, hoje transformados em clássicos, e de referência
constante. Importante destacar que ao lado da sua atuação política, foram
acadêmicos também atuantes, Levins na Cornell University (na área da
agricultura e matemática), Columbia University e, até o seu falecimento,
na Harvard School of Public Health; Lewontin na Columbia University,
University of Chicago e na Harvard University, onde ocupou a cátedra
Alexander Agassiz Professor of Zoology and Biology, até 1998.
Os seus trabalhos acadêmicos percorreram os campos da genética
de populações, diversidade da genética humana, biologia e modelagem e
muito em implicações sociais da biologia. As suas críticas, de Lewontin
e Levins, giram em torno da biologia evolutiva, sociobiologia, psicologia
evolutiva e sobre as questões econômicas e sociais do agronegócio. Mui-
tos de seus trabalhos foram reunidos nos dois livros de coleção temática
de ensaios: The Dialectical Biologyst, publicado em 1985, pela Harvard
University Press e no Biology Under the Influence, publicado pela Monthly
Review Press, em 2007, e que agora, você leitor, tem essa obra em portu-
guês, publicada pela Expressão Popular.
Como demonstração clara de seu envolvimento crítico com os afa-
zeres acadêmicos e sociais, há um aspecto pouco conhecido de ambos,
que é a publicação sob o pseudônimo de Isadore Nabi, de uma série de
trabalhos satíricos criticando a sociobiologia, a modelagem de sistemas
em ecologia e muitos outros tópicos.
Todos os responsáveis por esta tradução em português – coordena-
dores, colaboradores e editores – externam aqui o seu sentimento de
pesar e constrição.
1
Maíra T. Mendes é bióloga formada pela USP, com mestrado e doutorado em Educação.
É docente do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de
Santa Cruz (UESC) e cofundadora da Rede Emancipa. Victor Marques é formado em
Ciências Biológicas pela USP, professor de filosofia da ciência na Universidade Federal do
ABC (UFABC) e diretor editorial da revista Jacobin Brasil.
1
Tradução: Luiz Menna-Barreto.
lações diretas das agências EPA e FDA2 pelo governo e o exagero nas
campanhas da indústria farmacêutica, até o criacionismo e a mistifica-
ção do caos matemático; mas 2) também na rejeição ao cientificismo,
a noção segundo a qual as ideias dos outros povos seriam superstição,
enquanto as nossas estão amplamente apoiadas em conhecimento ob-
jetivo confirmado por números. Rejeitamos a visão pós-moderna que,
ainda atordoada pela descoberta da falibilidade da ciência, passa a negar
a validade do conhecimento, ou, ainda, entusiasmada com os detalhes
das particularidades, recusa-se a admitir padrões mesmo nas singularida-
des. O cientificismo se foca sobretudo nos últimos estágios da pesquisa,
ou seja, o teste de hipóteses, ignorando assim a questão das origens das
hipóteses a serem testadas e das fontes das regras de validação dessas
hipóteses. Nós desafiamos tanto o holismo místico que vê tudo como
uma mesma “totalidade”, feito um borrão sem partes, e o reducionismo,
que reivindica que as verdades mais fundamentais se encontram nas
menores partes das coisas. Mostramos como essas visões aparecem na
agricultura, saúde, ecologia e evolução. A partir daí damos um passo
atrás para analisar os processos de abstração e construção de modelos,
e retornamos para os obstáculos da atualidade propondo uma visão de
mundo integral, complexa e dinâmica.
Chegamos a este projeto como observadores e participantes. Ambos
estivemos ativos em áreas sobrepostas, mas algo distintas, da genética
populacional, ecologia, evolução, biogeografia e modelagem matemática.
Como participantes, estivemos engajados nas engrenagens das nossas
ciências, nos nossos laboratórios, no campo e nos computadores. Em
nosso trabalho científico, tentamos aplicar as intuições do materialismo
dialético que enfatizam a totalidade, a conectividade, a contingência
histórica, a integração entre níveis de análise e a natureza dinâmica das
“coisas”, como retratos instantâneos de processos. Embora tenhamos
trabalhado com enzimas, moscas das frutas, milho, formigas, frequências
genéticas e laranjeiras, nossos pontos de vista sempre foram influenciados
pelo modo de vermos o mundo enquanto um todo.
2
Evironmental Protection Agency e Food and Drug Administration, agências de proteção
ambiental e de alimentos e drogas do governo estadunidense. (N. T.)