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O Utilitarismo de John

Stuart Mill
Uma ética consequencialista
Ideia central do utilitarismo
• A ação moralmente correta é a ação
que maximiza o bem-estar das pessoas
no mundo e contribui, ao mesmo
tempo, para a redução da
dor/sofrimento das mesmas. Devemos
agir de um modo tal que as
consequências dos nossos atos gerem
o melhor estado de coisas possível.
Ideia central do utilitarismo
• De um modo negativo, a ação
moralmente incorreta, segundo o
critério utilitarista, é a ação que
provoca consequências dolorosas,
ou causa mais sofrimento às
pessoas no mundo (a infelicidade
está associada à dor e à privação de
prazer).
Outras noções ligadas ao
utilitarismo
• O utilitarismo é uma ética consequencialista, pois as
ações são avaliadas de acordo com os seus
resultados práticos.
• O critério dessa avaliação é a quantidade e
qualidade de prazer/dor.
• O utilitarismo é uma ética hedonista: o bem e a
felicidade identificam-se com o prazer.
• Existem prazeres superiores (do espírito) e prazeres
inferiores (do corpo). Para Stuart Mill, a qualidade do
prazer é sempre critério superior à sua quantidade.
«Mais vale ser um Sócrates [ser humano] insatisfeito
do que um porco satisfeito».
Outras ideias presentes no
utilitarismo
• O princípio da maior felicidade para o maior número
possível de pessoas supõe uma exigência de tipo
altruísta: o que realmente conta, no raciocínio moral
utilitarista, é a felicidade da humanidade.
• O indivíduo deve sacrificar a sua felicidade pessoal,
desde que esse sacrifício seja sempre útil em prol
(benefício) do bem dos outros.
• Um sacrifício pessoal que não acrescente maior
felicidade no mundo não é aceitável, nem tem valor
moral, para o utilitarismo.
• A promoção imparcial do bem-estar geral pode
limitar a liberdade individual.
Objeções críticas à teoria
utilitarista de John Stuart Mill
• Objeção da exigência excessiva: se o
utilitarismo exige que cada pessoa aja no
sentido de promover o melhor estado de
coisas possível no mundo, então, seríamos
obrigados a dedicar a nossa vida e bens para
promover o máximo bem–estar. Não
teríamos muita oportunidade para
desenvolver os nossos projetos pessoais ou
realizar os nossos desejos privados. Stuart
Mill refutou esta objeção – o autossacrifício
pessoal é indigno, abjeto, desprovido de
valor. O altruísta não é um ‘suicida moral’.
Conclusão da objeção da
exigência excessiva
• A promoção imparcial do bem-estar
geral levaria à ruína de todos os
indivíduos. Deste modo, o utilitarismo é
uma teoria moral demasiado radical,
exige um sacrifício da individualidade
de tal ordem que quase ninguém agiria
moralmente. O altruísta radical é um
suicida. Mill condena esta crítica e
afirma que se deve a uma
incompreensão das suas ideias.
A objeção da individualidade das
pessoas
• Esta objeção segue-se logicamente da
anterior: o utilitarismo é acusado de
desprezar os valores individuais em nome da
procura da realização do ideal da maior
felicidade para o maior número de pessoas.
A felicidade do indivíduo não conta – esta
pode ser sacrificada para obter um melhor
estado de coisas no mundo. Esquece que
Stuart Mill defendeu que a felicidade do
agente e de todas as pessoas são igual e
imparcialmente importantes.
Objeção do «bode expiatório»
• Esta é, provavelmente, a objeção mais forte à teoria
utilitarista. Permite-nos mostrar que é possível
considerar moralmente correto atos como condenar
à prisão (ou à morte) uma pessoa inocente para
prevenir/evitar um pior estado de coisas no mundo.
Acusar um indivíduo como responsável por um
crime que não cometeu poderá servir o objetivo
geral do utilitarismo, mas leva-nos à conclusão de
que cometemos crimes e injustiças em nome do
bem-estar coletivo. Se o utilitarismo legitima estas
soluções, algo de errado existe com a teoria. Uma
forma de Mill escapar a esta acusação: há princípios
secundários, fundados há bastante tempo, que nos
dizem ser moralmente incorreto condenar sem justa
causa uma pessoa inocente. Não vale tudo em nome
do maior bem-estar.
Objeção do «bode expiatório»
• O utilitarismo parece ser uma teoria incompatível
com um critério de justiça. Nesta linha de raciocínio,
um exemplo: para evitar males maiores, a imprensa
britânica e americana não reproduziram as célebres
caricaturas dinamarquesas sobre Maomé, as quais
foram alvo de protestos violentos por parte de
milhares de crentes muçulmanos em todo o mundo,
com prejuízos humanos e materiais significativos.
Mas Mill poderia escapar a esta acusação,
defendendo que há valores morais superiores, como
a liberdade de expressão, que não devem ser
sacrificados em nome do valor da segurança.
Liberdade de expressão ou segurança da sociedade?
A objeção do «bode expiatório»
• Reproduzir as caricaturas teria muito
provavelmente como resultado – e pode ter
ainda esse resultado – que mais pessoas
fossem mortas e mais bens e propriedades
destruídos. Mas, esta opção será justa face à
liberdade de opinião e de crítica que as
sociedades democráticas defendem? É o
medo das consequências que nos deve ditar
o que é moralmente correto? Podemos
limitar a liberdade de outras pessoas e as
suas vidas para alcançar um melhor estado
de coisas no mundo? Os jornalistas do
Charlie Hebdo deviam deixar de publicar?
O utilitarismo é lesivo para as
nossas relações pessoais
• A exigência utilitarista de tratar todas as pessoas
como iguais, segundo um critério de imparcialidade, é
uma ideia incompatível com as relações especiais,
proximais e parciais que mantemos com a nossa
família e amigos mais íntimos. Como os nossos
interesses e objetivos pessoais têm de ser ignorados,
em nome do bem-estar geral, não poderíamos tomar
em consideração as nossas relações afetivas com as
pessoas que fazem parte da nossa vida íntima. Por
exemplo, um médico sacrifica a sua vida pessoal para
operar pessoas num hospital nos seus dias livres, dias
que podia passar com os seus familiares. Fará sentido
sacrificar a sua vida pessoal para tornar pessoas
estranhas mais felizes?
Objeção da «bomba atómica»
• O utilitarismo, na sua versão negativa,
implicaria a destruição de toda a vida
sensível consciente, e autorizaria a utilizar
todo o arsenal atómico existente no mundo
para cumprir esse objetivo. Porquê? A
única forma extrema de eliminar o
sofrimento no mundo seria a de eliminar
toda a vida sensível consciente. Mas, esta
objeção é em si autodestrutiva: num
mundo neutro à dor e ao prazer, o
utilitarismo seria uma teoria absurda.

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