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Liev Tolstói

Liev Nikoláievich Tolstói, mais conhecido em português como Leon, Leo ou Liev
Tolstói (em russo: Лев Николаевич Толстой; Governorado de Tula, 9 de
setembro de 1828 — Astapovo, 20 de novembro de 1910), foi um escritor russo,
amplamente reconhecido como um dos maiores de todos os tempos.

Nascido em 1828, em uma família aristocrática, Tolstói é conhecido pelos


romances Guerra e Paz (1869) e Anna Karenina (1877), muitas vezes citados como
verdadeiros pináculos da ficção realista. Ele alcançou aclamação literária ainda
jovem, primeiramente com sua trilogia semi-autobiográfica, Infância, Adolescência
e Juventude (1852-1856) e por suas Crônicas de Sebastopol (1855), obra que teve
como base suas experiências na Guerra da Crimeia. A ficção de Tolstói inclui
dezenas de histórias curtas e várias novelas como A Morte de Ivan Ilitch (1886),
Felicidade Conjugal (1859) e Hadji Murad (1912). Ele também escreveu algumas
peças e diversos ensaios filosóficos.

Durante a década de 1870, Tolstói experimentou uma profunda crise moral,


seguida do que ele considerou um despertar espiritual igualmente profundo,
conforme descrito em seu trabalho não-ficcional A Confissão (1882). Sua
interpretação literal dos ensinamentos éticos de Jesus, centrada no Sermão da
Montanha, fez com que ele se tornasse um fervoroso anarquista cristão e pacifista.
As ideias de Tolstói sobre resistência não-violenta, expressadas em obras como O
reino de deus esta em vós (1894), teriam um impacto profundo em figuras centrais
do século 20 como Wittgenstein, William Jennings Bryan e Gandhi. Tolstói também
se tornou um defensor dedicado do Georgismo, filosofia econômica de Henry
George, incorporada em sua obra intelectual, sobretudo em seu último romance
Ressurreição (1899).

Vida e carreira

Tolstói nasceu em Yasnaya Polyana, uma propriedade familiar localizada a 12


quilômetros do sudoeste de Tula e a 200 quilômetros ao sul de Moscou. Os
Tolstoys eram uma família prestigiada pela nobreza da Rússia, pois descendem de
um famoso nobre do Império Lituano chamado Indris. Liev foi o quarto dos cinco
filhos do Conde Nikolai Ilyich Tolstói, um veterano da Invasão francesa da Rússia, e
a Condessa Mariya Tolstaya (Volkonskaya). Os pais de Tolstói morreram quando
ele era jovem, o que levou ele seus irmãos a serem criados por parentes. Em 1844,
os irmãos Tolstoy começaram a estudar direito e línguas orientais na Universidade
de Kazan. Seus professores os descreveram como "incapazes e sem interesse pelo
aprendizado". Tolstói abandonou a Universidade no meio do curso, retornou à
Yasnaya Polyana e passou a maior parte de seu tempo em Moscou e São
Petersburgo. Em 1851, depois de ter acumulado muitas dívidas, ele e seu irmão
mais velho foram para o Cáucaso e se juntaram ao exército. Foi a partir dessa
experiência que ele começou a escrever.

A experiência no exército seguida de duas viagens pela Europa (em 1857 e 1860)
foram muito marcantes para Tolstói, e o transformaram definitivamente em um
anarquista pacifista. Outros que seguiram caminhos análogos foram Alexander
Herzen, Mikhail Bakunin e Peter Kropotkin. Durante sua primeira viagem pela
Europa, Tolstói testemunhou uma execução pública em Paris, experiência que lhe
foi traumática. Numa carta enviada ao seu amigo Vasily Botkin, ele escreveu: "A
verdade é que o Estado é uma conspiração desenhada não somente para explorar,
mas acima de tudo para corromper seus cidadãos... de agora em diante, eu jamais
servirei a nenhum governo em nenhum lugar." O conceito de Tolstói de não-
violência ou Ahimsa foi reforçado quando ele leu uma tradução alemã dos versos
sagrados Tirukkural. Mais tarde, ele sugeriu esse estilo de vida ao jovem Mahatma
Gandhi através de sua Carta ao Hindu. Na época Gandhi procurava conselhos de
Tolstói por meio de correspondências.

Durante sua segunda viagem pela Europa, Tolstói foi influenciado política e
literariamente por Victor Hugo. Essa influência ficou evidente na obra Guerra e Paz
(1865), onde Tolstói descreve as batalhas de maneira semelhante à de Os
Miseráveis, obra-prima de Hugo. A filosofia política de Tolstói também sofreu
influência de uma visita feita em março de 1861 ao libertário Pierre-Joseph
Proudhon, que se encontrava exilado em Bruxelas. Tolstói cedeu a Proudhon o
título de sua magnum opus à obra La Guerre et la Paix, a qual ajudou a revisar.
Sobre a experiência, ele escreveu:

"Proudhon (...) foi o homem que entendeu o significado da educação e da imprensa


de nosso tempo".

Entusiasmado com a experiência, ele retornou à Yasnaya Polyana onde fundou 13


escolas para crianças de camponesas que acabavam de ser emancipadas pela
reforma de 1861. Tolstói descreveu os princípios educacionais em seu ensaio The
School at Yasnaya Polyana (1862). No entanto, suas experiências pedagógicas
duraram pouco por conta do assédio imposto pela polícia secreta czarista. Tolstói
pode ser considerado o percursor da liberdade na educação escolar, além de ser
pioneiro na aplicação teórica da gestão democrática nas escolas.

Vida pessoal

Em 23 de setembro de 1862, Tolstói se casou com Sophia Andreevna Behrs, filha


de um médico da corte. Eles tiveram 13 filhos, oito dos quais chegaram à vida
adulta:

 Conde Sergei Lvovich Tolstói (10 de julho de 1863 - 23 de dezembro de


1947), compositor e etnomusicologista
 Condessa Tatyana Lvovna Tolstaya (4 de outubro de 1864 - 21 de setembro
de 1950), esposa de Mikhail Sergeevich Sukhotin
 Conde Ilya Lvovich Tolstoy (22 de maio de 1866 - 11 de dezembro de
1933), escritor
 Conde Lev Lvovich Tolstói (1 de junho de 1869 - 18 de outubro de 1945),
escritor e escultor
 Condessa Maria Lvovna Tolstaya (1871-1906), esposa de Nikolai
Leonidovich Obolensky
 Conde Pedro Lvovich Tolstói (1872-1873), morreu na infância
 Conde Nikolai Lvovich Tolstói (1874-1875), morreu na infância
 A condessa Varvara Lvovna Tolstaya (1875-1875) morreu na infância
 Conde Andrei Lvovich Tolstói (1877-1916), soldado na Guerra Russo-
Japonesa
 Conde Michael Lvovich Tolstoy (1879-1944)
 Conde Alexei Lvovich Tolstói (1881-1886)
 Condessa Alexandra Lvovna Tolstaya (18 de julho de 1884 - 26 de setembro
de 1979)
 Conde Iván Lvovich Tolstói (1888-1895)

De início, o casamento com Sophia foi marcado pela intensidade sexual e


insensibilidade emocional. Na véspera de seu casamento, Tolstói entregou a sua
noiva seu diário pessoal que detalhava toda sua intensa vida sexual anterior a seu
noivado. Os relatos incluíam o fato de ele ter tido um filho com uma de suas
empregadas. Ainda assim, o casamento foi afortunado e proporcionou a Tolstói
liberdade e estrutura familiar que o ajudaram a escrever as obras Guerra e Paz e
Anna Karenina com Sophia atuando como sua secretária pessoal, editora e gerente
financeira.

No entanto o casamento foi deteriorando à medida que o estilo de vida e as crenças


de Tolstói se tornavam cada vez mais radicais. Por conta de seu estilo de vida, ele
rejeitou sua herança, incluindo os direitos autorais de suas obras.

A família Tolstoy deixou a Rússia após a Revolução Russa de 1905. Os


descendentes de Leo Tolstói vivem hoje espalhados pela Suécia, Alemanha, Reino
Unido, França e Estados Unidos. Entre eles estão a cantora sueca Viktoria Tolstoy,
o empresário sueco Christopher Paus.

Novelas e trabalhos ficcionais

Tolstói é um dos gigantes da literatura russa; entre suas obras se destacam as


novelas Guerra e Paz, Anna Karenina, Hadji Murad e A Morte de Ivan Ilitch. Seus
contemporâneos lhe prestaram diversas homenagens. Fiodor Dostoievski o
classificou como o maior romancista de sua época. Gustave Flaubert, ao ler uma
tradução de Guerra e Paz, exclamou: "Que artista e que psicólogo!" Anton Chekhov,
que muitas vezes visitou Tolstói em sua propriedade rural, escreveu: "Quando a
literatura possui um Tolstói, torna-se fácil e agradável ser escritor, mesmo quando
você sabe que não foi bem sucedido e que continuará fracassando. Isso não soa tão
terrível, pois Tolstói já foi bem-sucedido o suficiente por todos nós”. O poeta e
crítico britânico Matthew Arnold opinou que "um romance de Tolstói não é uma
obra de arte, mas um pedaço de vida".

Críticos e romancistas contemporâneos continuam a desfrutar do legado e da arte


de Tolstói. Virginia Woolf o nomeou como "o maior de todos os romancistas".
James Joyce observou que: "Ele nunca é maçante, estúpido, cansativo, pedante ou
teatral!". Thomas Mann elogiou a arte aparentemente inocente de Tolstói:
"Raramente a arte trabalhou tanto quanto a natureza". Tais sentimentos foram
compartilhados por Proust, Faulkner e Nabokov. O último empilhou superlativos
sobre A Morte de Ivan Ilitch e Anna Karenina; mas questionou, no entanto, a
reputação de Guerra e Paz, e criticou duramente A Ressurreição e A Sonata a
Kreutzer.

As primeiras obras de Tolstói, as novelas autobiográficas Infância , Meninas e


Jovens (1852-1856), narram a história de um filho de um rico proprietário e a sua
lenta percepção do abismo social o separava de seus empregados camponeses.
Embora mais tarde ele tenha rejeitado essas novelas, classificando-as como
sentimental, grande parte da vida de Tolstói é revelada nessas primeiras obras.
Elas se mantêm como contos universais relevantes a respeito do tema crescimento.

Tolstói serviu como segundo tenente em um regimento de artilharia durante a


Guerra da Crimeia, experiência narrada em Crônicas de Sebastopol. As experiências
na batalha ajudaram a fomentar seu pacifismo e lhe deram material para a
descrição realística dos horrores da guerra em trabalhos posteriores.

Seu estilo ficcional tenta sempre transmitir de maneira realista a sociedade russa
na qual ele viveu; Os cossacos (1863) descreve a vida cossaca por da história de um
aristocrata russo apaixonado por uma menina cossaca. Anna Karenina (1877)
conta histórias paralelas de uma mulher adúltera presa pelas convenções e
falsidades da sociedade adúltera, que sai da casa do marido para viver com o
amante, Conde Vronsky, oficial da cavalaria. Tolstói não só exprimiu de suas
próprias experiências, mas também criou personagens à sua imagem, tal como
Pierre Bezukhov, o Príncipe Andrei de Guerra e Paz, Levin de Anna Karenina e até
certo ponto, o príncipe Nekhlyudov de A Ressurreição.

Sua magnum opus Guerra e Paz é majoritariamente reconhecida como a maior obra
de literatura do Século XIX e unanimemente a maior obra da literatura russa.
Escrita entre 1865 e 1869, a novela narra a história de cinco famílias que lutam
durante a invasão da Rússia pelas tropas Napoleônicas. Tolstói criou 580
personagens, algumas históricas, outras ficcionais. A ideia original de Tolstói era
investigar as causas da Revolta Dezembrista, a que se refere apenas nos últimos
capítulos. A novela acabou explorando, no entanto, a teoria da história de Tolstói e,
em particular, a insignificância de indivíduos como Napoleão e Alexandre I da
Rússia. Surpreendentemente, Tolstói não considerou Guerra e a Paz uma novela
(nem considerava que muitas das grandes ficções russas escritas na época eram
romances). Essa visão se torna menos surpreendente se levarmos em conta o fato
de que Tolstói era um romancista da escola realista e, portanto, considerava o
romance como um quadro para o exame de questões sociais e políticas. No entanto
Tolstói passou a considerar Guerra e Paz uma prosa épica, fato que a desqualificou
como análise social. Sendo assim, ele considerou Anna Karenina sua primeira
novela verdadeira.

Depois de Anna Karenina, Tolstói concentrou-se em temas cristãos, e seus


romances posteriores, como A Morte de Ivan Ilitch (1886) e O que deve ser feito?
(1899) desenvolvem uma filosofia anarco cristã radical, fato que levou à sua
excomunhão da Igreja Ortodoxa Russa em 1901. Por toda a comoção ocasionada
em cima de Anna Karenina e Guerra e Paz, Tolstói rejeitou as duas obras mais
tarde, classificando-as como “obras que não retratavam a verdade”.
Em sua última novela A Ressurreição (1899), Tolstói expõe a injustiça das leis feitas
pelo homem e a hipocrisia da igreja institucionalizada. Tolstói também explora e
explica a filosofia econômica do Georgismo, da qual ele se tornou um forte
defensor pelo resto de sua vida.

Filosofia religiosa e política

Depois de ler O Mundo como Vontade e Representação de Arthur Schopenhauer,


Tolstói converteu-se gradualmente à moral ascética. Para ele, esse seria o caminho
espiritual ideal a ser traçado pela alta-classe.

“Estou convencido de que Schopenhauer é o mais genial dos homens. (…) Ao lê-lo
não posso compreender como o seu nome pôde permanecer desconhecido. A única
explicação possível é a que ele mesmo repete tantas vezes, que há quase só idiotas
no mundo.”

No capítulo VI de A Confissão, Tolstói citou o último parágrafo do trabalho de


Schopenhauer. Nele, Schopenhauer explica como o nada que resulta da completa
"negação de si mesmo" é apenas um nada relativo, e, portanto, não deve ser
temido. O romancista ficou impressionado com a descrição da renúncia ascética
cristã, budista e hindu como o caminho da santidade. Depois de ler essas
passagens, que são abundantes nos capítulos éticos de Schopenhauer, o nobre
russo escolheu a pobreza e a negação formal da vontade:

“Já encontramos um caminho para o ascetismo, ou negação do querer


propriamente dito, entendendo eu por tal expressão precisamente aquilo que o
Evangelho chama renunciar a si mesmo e levar a própria cruz (Mateus XVI).
Tal caminho se acentuou sempre mais e deu origem aos penitentes, aos
anacoretas e ao estado monacal, que, puro e santo primeiro, e, portanto, fora
de proporção com a natureza da maior parte dos homens, não podia conduzir
senão à hipocrisia e à abominação, porque abusus optimi, pessimus (torna-se
péssimo o abuso do ótimo). Desenvolvendo-se o cristianismo, vemos este
embrião ascético germinar e atingir o florescimento nos escritos dos santos e
dos místicos cristãos. Estes, além do mais puro amor, pregam a resignação
absoluta, a pobreza voluntária, a verdadeira calma, a completa indiferença
pelas coisas da terra, o dever de morrer para a vontade e de renascer em Deus,
o olvido total da própria pessoa para a absorção na contemplação do Senhor.”
Tolstói

"Assim, Sidarta Gautama nasceu um príncipe, mas voluntariamente passou a


viver como mendigo; e Francisco de Assis, o fundador das ordens mendicantes
que, foi criado numa redoma, e poderia escolher dentre qualquer filha de
qualquer nobre. No entanto, quando lhe fora perguntado 'Agora, Francisco,
você não vai fazer sua escolha agora dessas beldades?' ele: 'Eu fiz uma escolha
muito mais bonita!' 'Qual?' 'La povertà (a pobreza)': depois disso ele
abandonou tudo e perambulou pela terra como um mendicante."

Em 1884, Tolstói escreveu um livro intitulado "No que eu acredito”, onde ele
confessou abertamente suas crenças cristãs. Ele afirmou sua crença nos
ensinamentos de Jesus Cristo e foi particularmente influenciado pelo Sermão da
Montanha. Tolstói interpretou o “Ofereça a outra face” como um 'mandamento de
não-resistência ao mal pela força, configurando assim uma doutrina de pacifismo e
não-violência. Em seu trabalho, O reino de deus esta em vós, ele explica que
considerou equivocada a doutrina da Igreja pois, em sua visão, eles corromperam
os ensinamentos de Cristo. Tolstói também recebeu cartas de quakers americanos
que compartilhavam pensamentos de outros pacifistas americanos, tal como
George Fox e William Penn. Tolstói achava que o pacifismo era uma obrigação
cristão. O pacifismo de Tolstói somado a negação de qualquer Estado fizeram
Tolstói ser considerado um anarquista.

Mais tarde, várias versões da "Bíblia de Tolstói" foram publicadas, indicando as


passagens que Tolstói confiava mais, sobretudo, àquelas que transcreviam as
palavras do próprio Jesus.

Tolstói acreditava que um verdadeiro cristão poderia encontrar a felicidade


duradoura esforçando-se para atingir a auto perfeição interior, seguindo o
mandamento de amar o próximo e a Deus. Ele privilegia a busca pessoal em
detrimento da Igreja ou do Estado. Sua crença na não-resistência quando
enfrentada pelo conflito é outro fundamento baseado nos ensinamentos de Cristo.
Ao influenciar diretamente Mahatma Gandhi com essa ideia através de seu
trabalho O Reino de Deus está dentro de vós, a influência de Tolstói sobre o
movimento de resistência não-violenta ressoa até os dias atuais. Ele acreditava que
a aristocracia era um fardo para os pobres e que a única solução para o problema
social estaria no anarquismo.

Ele também se opôs à propriedade privada e à propriedade de terra, bem como à


instituição do casamento e valorizou os ideais de castidade e abstinência sexual.
Essas ideais foram colocadas em prática pelo jovem Gandhi.

Tolstói teve uma profunda influência no desenvolvimento do pensamento


anarquista cristão. Os Tolstóianos surgiram como um pequeno grupo anarquista,
criado por Vladimir Chertkov, para difundir os ensinamentos religiosos de Tolstói.
O filósofo Peter Kropotkin escreveu no artigo sobre o anarquismo na Enciclopédia
Britânica de 1911:

Sem nomear-se anarquista, Leo Tolstói, assim como seus predecessores dos
movimentos religiosos populares dos séculos XV e XVI, Chojecki, Denk, optou pela
posição anarquista no que diz respeito aos direitos de propriedade em face ao
Estado, deduzindo suas conclusões do espírito geral dos ensinamentos do Cristo.
Com todo o poder de seu talento, ele fez (especialmente em O Reino de Deus em si
mesmo) uma crítica poderosa à igreja, ao estado e às leis, e especialmente às leis
de propriedade. Ele descreveu o estado como a dominação dos ímpios, apoiados
em uma força brutal. Os ladrões, diz ele, são muito menos perigosos do que um
governo bem organizado. Ele fez uma crítica aos benefícios conferidos aos homens
pela igreja, pelo Estado e pela distribuição da propriedade e, a partir dos
ensinamentos do Cristo, ele formulou a regra da não-resistência bem como a
condenação absoluta de todas as guerras. Seus argumentos religiosos são, contudo,
tão bem combinados com argumentos observados a partir dos males de sua época,
que o anarquismo de suas obras atrai a atenção tanto o leitor religioso quanto o
leitor não-religioso.

Durante o Levante dos Boxers na China, Tolstói apoiou os Boxers. Ele fez duras
críticas às atrocidades cometidas pela Aliança das Oito Nações, composta de 20 mil
soldados russos, americanos, britânicos, franceses, japoneses, alemães, do Império
Austro-Húngaro e italianos. Quando soube dos estupros, saques e excessos
cometidos pela tropa que foi enviada para ocupar a sede imperial. Tolstói acusou
os monarcas Nicolau II da Rússia e Guilherme II da Alemanha como responsáveis
diretos pelas atrocidades. Durante essa época, Tolstói se correspondeu com o
intelectual chinês Gu Hongminge e o aconselhou para que China permanecesse
uma nação agrária e advertindo-o contra as reformas, como as que foram
implementadas pelo Japão.

A intervenção russo-americana no Levante dos Boxers foi denunciada por Tolstói,


assim como os conflitos nas Filipinas pela América. Ele usou palavras terríveis para
descrever a injustiça e crueldade impostas pela intervenção czarista. Durante essa
época, ele aproximou-se das obras de Confúcio e Lao Tsé. Ele escreveu uma
epístola para o povo Chinês como parte da crítica à guerra organizada por
intelectuais russos. As operações russas na China capitaneadas por Nicolau II
foram descritas por ele em uma carta aberta em 1902. Gu Hongming, junto de
Toslói, também se opôs à Reforma dos Cem Dias de Kang Youwei. A ideologia da
não-violência modificou o pensamento sociedade chinesa, influenciando nos
estudos futuros do socialismo do país

Tolstói reiterou as críticas anarquistas Ao Estado em centenas de ensaios escritos


nos últimos 20 anos de sua vida. Ele recomendou livros de Kropotkin e Proudhon
aos seus leitores, ao passo que condenou as propagandas pelos atos, de origem
anarquista.. No ensaio de 1900, Sobre o Anarquismo, ele escreveu; "Os anarquistas
estão certos em tudo, na negação da ordem existente e na afirmação de que, sem
autoridade, não poderia haver pior violência do as impostas pelas autoridades
atuais. Contudo eles estão enganados se pensam que a anarquia pode ser instituída
por meio de uma revolução. Ele será instituído apenas quando houver mais e mais
pessoas que não exigem a proteção do poder governamental.... Deve haver apenas
uma revolução permanente – a moral: a regeneração do homem interior ". Apesar
de suas discordâncias em relação à violência anarquista, Tolstói circulou
publicações proibidas de pensadores anarquistas na Rússia, e revisou o texto de
Words of a Rebel, obra de Kropotkin ilegalmente publicada em São Petersburgo no
ano de 1906.

Tolstói entusiasmou-se com o pensamento econômico de Henry George,


incorporando-o em obras posteriores como A Ressurreição (1899), livro que o
levou a ser excomungado. Em 1908, Tolstói escreveu a Carta ao Hindu,
descrevendo sua crença de não-violência como um meio para que a Índia ganhasse
a independência do domínio britânico. Em 1909, Gandhi leu uma cópia da carta se
tornou um ativista. A carta de Tolstói foi impactante para Gandhi, que passou a se
corresponder frequentemente com o autor russo. Gandhi apelidou Tolstói de "o
maior apóstolo da não-violência que a modernidade produziu". A correspondência
entre Tolstói e Gandhi só durou um ano, de outubro de 1909 até a morte de Tolstói,
em novembro de 1910. Esse fato levou Gandhi a batizar sua fazenda na África do
Sul de “Tolstoy”. Além da resistência não-violenta, Gandhi e Tolstói
compartilharam outra crença: o vegetarianismo.

Tolstói também se tornou um grande defensor do movimento esperanto. Tolstói


ficou impressionado com as crenças pacifistas dos Doukhobors e denunciou a
perseguição imposta a ele à comunidade internacional. Ele ajudou os Doukhobors a
migrarem para o Canadá. Em 1904, durante a Guerra Russo-Japonesa, Tolstói
condenou a batalha, escrevendo ao sacerdote budista japonês Soyen Shaku em
uma tentativa fracassada de conciliação. No final de sua vida, Tolstói passou a se
ocupar cada vez mais da teoria econômica e da filosofia social de Henry George, o
Georgismo. Ele também escreveu o prefácio da obra Problemas sociais de George.
Tolstói e George rejeitavam a propriedade privada em formato agrícola bem como
a economia planificada comunista. Alguns autores postulam que esse pensamento
incorporado por Tolstói foi um afastamento de suas visões anarquistas, uma vez
que o georgismo exige alguma administração central. No entanto, versões
anarquistas do Georgismo também foram propostas desde então. O romance de
Tolstói de 1899, A Ressurreição explora seus pensamentos sobre o Georgismo com
mais detalhes e sugere que Tolstói. Na obra ele sugere a possibilidade de pequenas
comunidades como forma de governança local e ainda se faz presentes críticas às
instituições estatais.

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