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Introdução
Lucia Santaella
As questões relativas à estética, no Ocidente, tiveram sua origem no mundo grego, mais
especialmente no pensamento de Platão, em cuja obra encontram-se as primeiras reflexões para uma
teoria da arte e do belo. Entretanto, a utilização sistemática da palavra “estética”, derivada do grego
aisthesis, significando sentir, só surgiu com Alexander Gottlieb Baumgarten, em 1735, no texto
denominado Reflexões Filosóficas sobre algumas questões pertencentes à Poesia, no qual ela foi
definida como a ciência da percepção em geral. Antes de Baumgarten, na obra de vários pensadores,
a estética esteve entrelaçada a outras questões filosóficas. Foi Baumgarten quem deu a ela o estatuto
de uma disciplina filosófica dotada de certa autonomia, na sua obra posterior, Aesthetica, em 2
volumes (1750-1758), escrita em latim, na qual a ciência da percepção foi tomada como sinônimo
de conhecimento através dos sentidos, ou seja, ciência do modo sensível de conhecer, dos tipos de
conhecimento que a sensação, a percepção sensível, a rede de percepções físicas nos trazem.
É na beleza que o despertar das sensações perceptivas encontra um de seus estímulos mais
privilegiados. Embora o conceito de belo e o julgamento do que seja belo varie histórica e
culturalmente, a estética ficou atada à beleza encarnada, justamente pela irresistível atração que esta
exerce sobre os sentidos. Já em Baumgarten, a perfeição da cognição sensitiva encontra na beleza o
seu objeto próprio. Esse mesmo princípio norteou a grande obra a dar forma e conteúdo à estética
filosófica, a terceira crítica de Immanuel Kant, a Crítica do Julgamento, de 1790, mais
especificamente na sua primeira parte, “Crítica do Julgamento Estético”.
Com seu conceito de “finalidade sem fim”, Kant deu expressão ao belo como aquilo que
captura os sentidos em razão de ser o que é em si mesmo.
Mais do que o abandono das cidades pelas tecnologias do ciberespaço, o que estamos vendo
são novas práticas de uso do espaço urbano pelo deslocamento com artefatos digitais e processos de
localização por redes sem fio. A mobilidade informacional permite vivências e formas de
apropriação do urbano similares à prática do “andar como arte” da segunda metade do século XX.
Andar com dispositivos móveis permite leituras e escritas do espaço com informação digital muito
próximas da arte do andar dos situacionistas, dadaístas e surrealistas. As mídias locativas e os
territórios informacionais atualizam formas de deriva pelo espaço urbano.
Desde o início do século XX, de modo cada vez mais intenso, o corpo humano foi sendo
colocado sob interrogação. São muitas as razões para isso: os avanços da biologia, da engenharia
genética, da medicina, as máquinas exploratórias para diagnóstico médico, as simbioses cada vez
mais íntimas do corpo com as tecnologias. Agindo conjuntamente, todos esses fatores constituem
uma força pertubadora que problematiza os significados do corpo e o transformam em um nó de
múltiplos investimentos e inquietações. Por isso mesmo, o corpo está em todos os lugares,
comentado, pesquisado, dissecado, transfigurado. Ciborgue, hibridização homem-máquina,
manipulação genética, digitalização do corpo, ampliação-extensão do corpo, telepresença têm sido
alguns dos desafios colocados nas extremidades das complexidades tecnológicas.
As alianças entre a moda e a tecnologia também se estreitam cada vez mais. Pesquisas de
ponta estão se endereçando para o desenvolvimento de peles protéticas. Da função de proteção para
a de uma prótese e, agora, entendida como interface, a vestimenta passa a compor um cenário
híbrido entre o humano e o maquínico, de corpo biológico e tecnologias digitais. Assim, a
vestimenta reposiciona o corpo, desterritorializando-o e rompendo suas fronteiras.
Nesse cenário, os games aparecem como catalizadores das transmutação vivenciadas pelo
corpóreo nas sociedades contemporâneas. O compartilhamento de corpos mediados por avatares nos
jogos massivos do ciberespaço esfacela a noção de identidade, multiplicando e expandindo a
experiência para além do corpo biológico.
Não são poucos e não podem passar despercebidos os desafios éticos e políticos no vórtice
das mudanças tecnológicas, especialmente para os que se situam nas periferias do turbocapitalismo,
onde as contradições se fazem mais agudas. Com a palavra os artistas, que não separam sua
produção da crítica, da mordacidade e das feridas abertas pela angústia.
Referências bibliográficas