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FICHÁRIO
DISCIPLINA AUTOR
ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE LEDA MIRANDA HUHNE (1934-)
OBRA
HUHNE, Leda Miranda. Curso de Estética. Rio de Janeiro: UAPÊ, 2006.
própria à experiência estética. Mas a identificação da intelectuais, sem a intenção e a intervenção de um sujeito.
experiência estética à beleza reduz a riqueza do fenômeno 36
estético. 33
[Processo de imaginação]
[Experiência Sensível e Experiência Estética] A imaginação não acrescenta algo de fantasioso ao real. Ela
Como transformar uma experiência sensível em experiência tem o poder de ampliar o real, até o ponto de modifica-lo e
estética? Ao transformarmos a experiência sensível, fruto unifica-lo a outras experiências. Para isso acontecer, ela
de uma percepção imediata do objeto, em experiência deixa o sujeito ficar presente plenamente ao objeto do seu
sentida, compreendida, recriada. E de tal modo, que a perceber. 37
experiência seja não só de fruição de beleza ou sentimentos
afins, como também de revelação do sentido originário da CAPÍTULO 2 – ESTÉTICA E ARTE
dimensão criativa da obra e do meu poder criativo.
O processo da experiência estética não é [DICIONÁRIO]
intelectual, no sentido de ser norteado por abstrações, nem ARTE é um conjunto de regras para dizer ou fazer com
produto de um saber. É uma experiência corporal onde o acerto alguma coisa; execução prática de uma ideia;
sujeito se enlaça totalmente ao objeto, numa relação de complexo de regras e processos para a produção de um
tanta intimidade a ponto de provocar a recriação do efeito estético determinado. (Dicionário da língua
fenômeno. Para muitos, produto de uma intuição, uma visão portuguesa, Mirrador). 40
gratificante de um objeto. Mas isso só pode acontecer
graças a um ato intencional do sujeito que o faz sair de si a [Problematização]
partir de uma gama de sentimentos, e dirigir-se àquele Hoje é possível distinguir o que é artístico do que não é
objeto determinado, sentindo sua presença, muitas vezes artístico? 40
contemplando-o ou nele concentrando suas forças, e
reunindo-as a ponto de descobrir aí novos sentidos. 33 [Na ARTE EM QUESTÃO
experiência estética não há somente uma observação
passiva de um objeto, mas existe uma potente recriação [ARTE - ARS]
do mesmo. Acreditar-se contemplar somente formas é Somos acossados e provocados pela presença de obras.
o que chamamos de objetivação; enquanto saber Fazemos nós necessariamente experiências estéticas com
partícipe da recriação estética do objeto chamamos essas obras que se dizem obras de arte? Serão de arte?
objetividade] Algumas questões nos batem, a nós, contempladores,
fruidores, consumidores. O que é arte: diversão,
[O processo da experiência estética] mercadoria, coisa valiosa, qualquer coisa? Quem pode
A experiência estética não se limita à impressão de beleza. dizer o que é Arte? Quem estabelece sua função e pode
Ela se caracteriza por ser uma experiência que envolve um julgar a sua medida? O discurso competente? De quem? De
conjunto de experiências decorrente de uma posição que estética? Que critérios? 41
intencional de apreensão estética do objeto: a) do corpo Na origem etimológica da palavra arte, em latim
enquanto sensibilidade capaz de suportar e se abrir para o ars, arte significa articulação, isto é, ação que estabelece
espaço real; b) da percepção enquanto ato intencional da junturas entre as partes de um todo. Assim fazer arte requer
consciência voltada para algo que parece como objeto do o trabalho de ordenar, reunir, o que se acha solto, separado,
seu interesse e desejo; c) da imaginação (esquematizadora) desconectado, sem sentido. É uma operação realizada por
enquanto poder de selecionar e ordenar o que a memória aquele que é capaz de estruturar o que se acha desconexo,
guarda em vistas de uma imagem, projeto de um futuro que tornando-o visível o sentido da reunião. 41-42
interliga o presente Às experiências passadas, e da
imaginação (criadora) enquanto poder de formação de nova [Arte e Técnica: Cópia da realidade]
imagem a partir do inter-relacionamento temporal; d) da Na antiguidade grega a palavra arte indica a sábia execução
linguagem enquanto estruturação, mostração e nomeação de uma obra de arte (bela), assim como do artesanato
daquilo que foi criado; e) do corpo enquanto sensualidade, (ofício). Os artistas viam a arte como um fazer, um ofício,
experimentando sentimentos de fruição que acompanha técnica de artesão ou obra de arte. Arte como téchne
todo o processo da experiência estética. 34 consistia na capacidade de fabricar ou fazer alguma coisa
com correta compreensão dos princípios estéticos
O PAPEL DA PERCEÇÃO E DA IMAGINAÇÃO NO envolvidos, ritmo, harmonia, e elementos materiais, sonos,
PROCESSO ESTÉTICO cores. Não bastava fazer, mas era preciso saber fazer, o
artista era um artesão, dominava o seu ofício. 42
[Percepção e experiência estética]
A percepção estética se dá no modo do homem olhar algo [Arte como técnica: Artes Liberais e Artes Servis]
com intensidade, sentindo emoções, descobrindo e O artista se caracteriza pela sua capacidade de mostrar a
saboreando possíveis significações. Enquanto na realidade a partir de uma operação técnica, produtiva e
percepção ordinária o sujeito fica no plano imediato ou inteligente capaz de imitar com perfeição a realidade, na
passa para o plano reflexivo procurando a verdade do objeto confecção de trabalhos manuais ou obras de arte. Ainda na
através de conceitos, no ângulo estético o sujeito se abre e Roma imperial o poder estabeleceu diferenças hierárquicas
se entrega ao objeto num espaço experimental. 35 entre as artes liberais (arte nobre) e as artes servis
(funcionais). As primeiras desprovidas de utilidade (teatro,
[Definição de percepção estética] poesia, música) e as outras voltadas para o uso. 42
[...] Desse modo, a percepção estética acontece enquanto
experiência da negação da realidade como campo de coisas [Arte como técnica: Correção da realidade]
isoladas, afirmando novas possibilidades de articulação, A tradição prendeu-se mais a arte como obra bem-feita,
graças ao trabalho imagístico que se dá no processo de baseada na cópia fiel das aparências reais. Ela foi perdendo
percepção da obra. o sentido de uma operação imitadora, mas também
A experiência estética nega a obra como realidade transformadora porque corrigia o real. Na idade média, a
pronta; incapaz de ser apreendida através de conceitos arte foi compreendida como ofício, capaz de apresentar a
realidade como bela, verdadeira, espelhando o divino.
Principalmente, seguindo regras pautadas na teoria das recursos linguísticos, técnicos, estéticos. Senão ele não fez
ideias eternas e divinas de Platão, seguidas pelos padres poema, extravasou sentimentos. 47
da igreja na idade medieval como Santo Agostinho. 42-43
Na modernidade, com o capitalismo e o movimento [Sentimentos convertidos em arte]
liberal, acirrara-se a distinção entre trabalho manual e [...] Só que o vigor que irrompe no trabalho artístico, decorre
intelectual [...]. 43 da canalização dos sentimentos do artista, que no fazer foi
alcançado a forma significativa, devido ao seu poder
[Arte como não-técnica: arte pela arte] técnico, senso estético e criativo. Um grito não é
No fim do século XX a arte no ritmo da modernidade se necessariamente um ato poético, embora seja um som
bifurcava em alguns movimentos. Uns lutavam pela sua expressivo. Um grito exprime vigor, força poética, dramática
autonomia, procuram desvinculá-la das suas funções no para chegar ao nível artístico. O grito do artista plástico E.
mundo social e apregoavam a arte pela arte. Outros Munch, o que revela e expressa, além de desespero. 48
procuravam inseri-la ao mundo da vida, criando um
cotidiano estético. Outros procuraram integrá-la ao mundo [Singularidade da linguagem poética]
tecnológico. O resultado é o surgimento de novas artes, A obra de arte tem o poder de revelar ou de tornar inteligível
como fotografia e cinema, onde arte e técnica estão aquilo que não o consegue nenhum pensamento
intimamente ligadas. 43 especulativo, ela é linguagem de estruturação. Nesse
sentido, a arte não é uma ilusão, não é o campo do irreal,
[Arte hoje] mas desvela o real segundo a colocação da verdade que
A arte está presente em obras de arte, no campo cultural, ela ajuda a engendrar. Esta construção do sentido do
de modo múltiplo e diversificado. O seu significado não é mundo presente à obra de arte se dá pela linguagem
mais evidente. Exige interpretação que se manifesta em poética. Toda arte é poética por destinação. A poesia
diferentes enfoques assim como variam as linguagens e nomeia o existente, o desvela, o deixa presente na obra. 48
classificações. A visão da arte hoje não é a harmonia das
formas que unificavam todos os artistas, ontem, [Linguagem originária]
expressando o modo de viver de toda a sociedade, tal a A arte é linguagem originária enquanto expressa o sentido
antiguidade grega ou idade medieval. Vivemos num clima do mundo. E a essência da linguagem primeira é a poesia e
de morte da arte. A arte morreu ou morreu um tipo de a poesia é a arte-raiz. Assim, todo artista é poeta, à sua
concepção de arte? 44 maneira de intuir e estruturar a linguagem da criação 48
[...] De qualquer modo, a história nos mostra que
arte é uma forma do homem testemunhar sua presença no UM MODO DE FAZER: TEMPO
mundo da cultura, através da criação de obras que vão
oferecer interpretações diferentes da realidade e de si [Temporalidade própria da arte]
mesmo. 45 A arte é tempo unitário porque exige um jogo do tempo que
brinca entre a permanência e a transformação da realidade
AS DIMENSÕES DA ARTE até chegar à obra criativa. As coisas que se acham soltas,
sem sentido, são processadas pela imaginação, e
UM MODO DE DIZER: LINGUAGEM aparecem em obra de arte, unificadas e transfiguradas, por
força do poder da linguagem de inter-relacionar as
[Arte como linguagem originária (Heidegger)] instâncias temporais, ocasionando o campo da construção
A arte é linguagem originária, revela através de tantos de novas obras. 49
sinais, uma disposição para o dizer inaugural. É,
fundamentalmente, jogo de linguagem que se manifesta UM MODO DE CONHECER: VERDADE
numa obra significativa. [...] 46
A arte enquanto modo original de dizer se constitui [Definição heideggeriana]
como produto do diálogo do artista consigo mesmo, com A arte é um jogo, a mostrar e esconder a verdade dos entes
seu mundo e ao se expressar poeticamente enriquece a no mundo. A arte faz conhecer em obra a realidade de um
língua convencional. Ela consegue expressar, de modo ente visto numa totalidade, mas causa estranhamento ao
simbólico, o que as línguas comuns ou científicas não apresenta-la de modo imaginário e criativo. Muitas vezes,
conseguem atingir. Ela exprime potencialidades do artista falar de verdade no campo da arte, provoca celeuma. No
num trabalho artesanal que exige habilidades ou nível do senso comum, a arte aparece como fantasia,
capacidades criativas para dar forma à materialidade até o beleza, sem compromisso algum com a verdade,
ponto dela conseguir se transformar e se conformar. Seja desconectada do mundo real. É voz corrente: ela se quer
cor, seja som, seja luz, seja palavra, o que for. [...] O artista, fingimento, produto de evasão ou de simulação, embora
dotado de uma força de criação, estrutura formas capazes vista como algo belo, a provocar emoção, prazer, sem
de revelar o que foi percebido com novos sentidos, de modo compromisso com a verdade. 52-53
metafórico. Ele não se baseia nos processos formais da
razão, nem se limita a jorrar sentimentos, mas tenciona [Arte Linguagem simbólica]
criativamente formas e conteúdos, meios e conceitos, em A obra de arte, em linguagem simbólica, passa verdade,
busca da medida artística ou o que ele acha que seja a erro, farsa, mentira. Tudo pode estar presente à obra,
medida artística. 46-47 porque ela coloca o que acontece na relação homem/mundo
de modo simbólico, diferente de outros modos de conhecer.
[Expressão Artística] [...] 53
Qualquer expressão é expressão artística? De modo algum,
um “poeta” que confesse seus sentimentos, [Arte e Linguagem metafórica]
necessariamente, não está fazendo poesia, talvez uma Sempre no campo metafórico, a arte não mostra, nem
catarse. Se o seu sentimento não chegou a um nível lírico pretende demonstrar, o sentido do real através de ideia e de
formal, ele não empreendeu uma obra de arte. Para ordenar formulas matemáticas como o conhecimento científico,
o que está disperso, no jogo da consciência com o embora na história da civilização ocidental tenha se servido
inconsciente, no jogo com o mundo, o poeta necessita de de recursos lógicos para suas construções. [...] 53
ITENS FUNDAMENTAIS DA ESTRUTURAÇÃO DA OBRA força da própria ciência, não há mais rígida distinção entre
DE ARTE matéria e energia. [...] 68-69
se incorporando O que é feio? O que é bonito? Tudo homens ponderaram, especularam, tiveram as suas
depende da interpretação e a questão foi se deslocando do convicções acerca da natureza da arte, do porquê e do para
assunto para a força da representação e até para a quê da atividade artística, muito antes do século XVIII. As
negação. 74-75 diferentes épocas e culturas tinham um ponto de vista
Devido à morte da hierarquia de valores se tem a diferente sobre esses assuntos, manifestado não só no que
impressão que não existe valor. Assistimos no campo da os artistas diligenciavam fazer ou no que se esperava que
avaliação da arte, dos críticos, hoje, embaralhamentos de eles fizessem, mas também nos critérios pelos quais se
julgamentos. Na balança, ora subjetivos como projeções avaliavam as suas obras. Por essa razão, as observações
românticas e sentimentais, ora científicos com base de de um artista, de um moralista ou de um eclesiástico são,
objetividade. Ou julgamentos conservadores, que ainda se às vezes, tão significativas no revelar as implícitas
pretendem ao ideal eterno de beleza e regras de arte. Ou suposições estéticas de uma época quanto as mais
ainda, a absoluta ausência de julgamento. Difícil é julgar. poderosas e abstrusas formulações dos filósofos – o que
Quem tem autoridade para dizer que algo é não quer dizer que estas últimas posam ser
verdadeiramente obra de arte? Quais os critérios para negligenciadas.” 151-152
afirmar que esta obra de arte é bela e ver dadeira? 75
[Dicionário]
[Interrogações sobre valor] HISTÓRIA: Os fatos do passado da humanidade
De qualquer forma, questões ficam no ar? Que medida registrados cronologicamente. Narração ordenada, escrita,
adotar para estabelecer o valor da obra? Como julgar a obra dos acontecimentos e atividades humanas ocorridas no
de arte? A qualidade, o processo de criação, a passado. Ramo de ciência que se ocupa de registrar
espontaneidade criativa? Quem pode estabelecer a cronologicamente, apreciar e explicar os fatos do passado
linguagem da arte? Por que tem de ser a tela e não o objeto da humanidade em geral, e das diversas nações, países e
que fala de modo criativo no campo da pintura? Por que o localidades em particular. (Dicionário da língua portuguesa,
ritmo e não a rima não deve ser o essencial no poema? Por Mirrador). 152
que a experiência estética tem que se dar à luz de uma
experiência figurativa no campo da tensão fundo-forma? [Problematização]
Por que cada arte não pode ter sua própria linguagem de PROBLEMATIZAÇÃO: Por que hoje, mais do que nunca, se
criação? Que valores estão presentes à obra de arte? 76- torna impossível investigar as questões estéticas sem
77 recorrer à história geral, da arte e da filosofia? 152
[Valores estéticos da obra de arte] [Adorno: estudo da Estética como algo antiquado]
A obra de arte se caracteriza pela presença de valores, “O Conceito de estética filosófica tem algo de antiquado
estéticos sempre em relação a outros valores como como de sistema ou de moral. Este sentimento não se limita
técnicos, decorativos, religiosos, mas de imediato ela de modo algum a práxis artística e a indiferença pública
parece provocar valores estéticos de agradabilidade ou perante a teoria estética. Desde há dezenas de anos,
desagradabilidade, isto é, prazer estético ou não. Há uma mesmo nos meios acadêmicos as publicações relativas a
gama de valores estéticos que são atribuídos às artes como este tema regridem de maneira surpreendente. Um
beleza, sublimidade, êxtase, fascinação. [...] 77 dicionário filosófico recente sublinha a propósito:
dificilmente, existe uma outra disciplina filosófica, que como
[Heidegger e os Valores] a estética, se baseie em pressupostos tão inseguros Tal
Criticando a super-valorização dos valores, vistos em si como um cata-vento gira a cada pé de vento filosófico,
mesmos, Heidegger diz: 78 cultural, teórico-científico, voltando-se ora para metafísica,
“Porque se fala contra os “valores” surge uma ora para o empirismo, normativa um dia e descritiva outro,
indignação em face de uma filosofia – assim se retende – vista agora a partir do artista, e logo a partir do amador.
se atreve a desprezar os bens mais elevados da Hoje, ela se vê o centro da estética na arte para o qual o
humanidade, pois, o que é mais lógico que isso: um belo natural se deve interpretar apenas como um primeiro
pensamento que nega os valores terá necessariamente grau e amanhã encontra no belo artístico unicamente um
declarar tudo sem valor?” (HEIDEGGER, M. Sobre o belo natural de segunda mão. O dilema da estética, assim
humanismo, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967). 78 descrito por Moritz Giger, caracteriza a situação desde
meados do século XIX. A razão deste pluralismo de teorias
CAPÍTULO 3 – ESTÉTICA E CULTURA estéticas, que muitas vezes não são elaboradas
completamente, é dupla: reside, por um lado na dificuldade
principal e até na impossibilidade de tratar a arte em geral
CAPÍTULO 4 – ESTÉTICA E CRIATIVIDADE por meio de um sistema de categorias filosóficas; por outro
lado na dependência tradicional das proposições estéticas,
a respeito de posições teórico-cognitivas, que lhe servem de
pressupostos. 153-154
CAPÍTULO 5 – ESTÉTICA E HISTÓRIA
[Pontos importantes para Adorno]
[Herold Osborne, Introdução sobre a Estética na Adorno deixa nesse texto um conjunto de temas que
História] merecem considerações:
“A Estética formal, como a conhecemos, é uma recém-
chegada na história do pensamento humano. Mas os
1. O conceito estético e a sua relação com a ao estudo da arte, mas deveria se tornar a ciência que se
metafísica; volta para o que se processa no campo do conhecimento
2. O pluralismo das teorias estéticas e a crise da sensível: belo, gosto, fruição e criação da obra. 156
metafísica;
3. A impossibilidade de tratar a arte somente à luz da [WUNDT, FECHNER, TAINE e a Estética Experimental]
filosofia; Pois na época de cientificismos, com novas experiências
4. A tradicional dependência dos pressupostos sociais, artísticas e científicas, há tentativa para constituí-la
estéticos às posições teóricos-cognitivas. 154 como ciência. Nessa linha, alguns pensadores procuraram
transformar a estética numa ciência experimental, nos
[1] O CONCEITO DE ESTÉTICA E SUA RELAÇÃO COM moldes metodológicos: Wundt, Fechner e Taine. Outros
A METAFÍSICA tentam lhe dar uma nova fundamentação filosófica como
(O caráter metafísico da estética tradicional) Hegel, Schiller e Nietzsche, numa linha mais
fenomenológica, ao nível da história e da cultura. 157
[Estética Metafísica (Antiguidade) e Estética Crítica
(Modernidade)] [Crise da Estética: Cientificismo Estético e Esteticismo]
É comum escutarmos: a arte está mora, consequentemente No final do século XIX e primórdios do XX, a sociedade
a estética também. No meio cultural resta, todavia, um ranço sofre, através da revolução industrial, profunda influência da
de normatividade. De que se trata? Para compreender em ciência e da tecnologia, se fazendo notar uma crise na
que sentido o conceito de estética filosófica tem algo de estética através de dois movimentos: o cientificismo estético
antiquado é necessário didaticamente ver a história da e o esteticismo. O primeiro reforçando a aproximação da
estética em duas grandes vertentes: metafísica e crítica, ou estética ao mundo novo, da ciência e tecnologia. O segundo
em tradicional e moderna. A primeira constitui a filosofia da expressando o repúdio aos cânones da estética clássica.
arte que surge na antiguidade grega e se mantém até o Ora, embatem filósofos, sociólogos, psicólogos, artistas,
começo da idade moderna. A segunda irrompe com força literatos questionando a autoridade da estética com a
no século XIX, época da crise da metafísica que coincide pretensão de fundar uma “teoria geral da arte”. Ora, um
com o cientificismo por força do desenvolvimento das grupo de artistas pretende fazer da estética a diretriz da
ciências particulares e a tentativa de fazer da estética uma própria vida, de tal modo que a ela, todos os outros campos
ciência. 154 culturais se sujeitassem. E seduzidos por um certo
irracionalismo se insurgem contra a ortodoxia da arte que
[Fim da metafísica] estabelecia norma para o fazer. 157
No século XX, na fase pós-moderna, surgem debates sobre
a morte da arte e da metafísica, e se discute: ainda existe [Estética na contemporaneidade]
arte, existe metafísica? Todas as formas de arte sejam de Hoje, entre a banalização e o endeusamento, se encontra a
caráter subjetivo, objetivo, interativo, não serão todas obra de arte – circula como mercadoria –, e passa a ser
válidas, desde que sejam significativas? 155 negada como obra valiosa. E a estética deixa de ser alvo de
debates e estudos significativos. [...]. 157
[A estética está ligada a uma metafísica Clássica]
O que caracteriza a estética filosófica é o seu A IMPOSSIBILIDADE DE TRATAR A ARTE SOMENTE À
comprometimento com a metafísica clássica, isto é, com LUZ DA FILOSOFIA
uma interpretação da arte à luz de pressupostos lógicos e
metafísicos que procuram definir sua essência de modo [Estética e Semiótica]
imutável: “A arte é a imitação da verdadeira natureza” [...]. Mas a estética não tem mais vez? Caiu sua validade
Toda realidade explicada à luz do mesmo princípio divino, enquanto saber? Muitos estudiosos da linguagem insistem
além do homem e do mundo, do mesmo princípio na substituição da estética pela semiótica. Alegam que não
transcendente. 155 se trata mais de qualificar o belo, mas de apreender a ler
através de signos a informação sobre o real artístico, onde
[2] O PLURALISMO DAS TEORIAS ESTÉTICAS E A o belo é mero pretexto. 158-159
CRISE DA METAFÍSICA
(A crise da metafísica tradicional e a Estética Moderna) [Crítica de Adorno]
A crítica que Adorno faz à estética metafísica como
[KANT e a crise da Metafísica] anacrônica e à confusão reinante de seus conceitos (tão
A reviravolta que se processa no campo da estética não plurais e incompletos) decorre, portanto, de uma dupla
surgiu hoje. Apenas leva adiante a posição de Kant, razão: da impossibilidade da arte em se limitar às categorias
pensador alemão do século XVIII, que ao criticar os filosóficas e também da tradicional dependência dos
fundamentos do conhecimento, tendo por modelo o pressupostos estéticos às posições teórico-cognitivas. Elas
conhecimento (metódico) da ciência, coloca em cheque a não só permeiam as suas representações formais como
metafísica. Demonstra que este saber tornando-se também têm lhes servido de instrumento à investigação do
hipotético já não mais se sustenta como coluna da filosofia objeto estético. 159-160
universal, não pode dar garantias às verdades primeiras e
absolutas por não ter condições de comprová-las. Kant no A TRADICIONAL DEPENDÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS
livro Crítica da Faculdade dos Juízos (1790) encerra a ESTÉTICOS ÀS POSIÇÕES TEÓRICO-COGNITIVAS
estética como estudo independente dos princípios
metafísicos, uma dimensão que une a vida intelectual à vida [Gnoseologia e Ontologia]
sensível, mediatizada pela imaginação.156 Sem autonomia, a filosofia da arte era apenas uma simples
vertente da poderosa metafísica, determinada pela diretriz
[BAUMGARTEN e a crise da Metafísica/Estética] de conhecimento e pela visão de mundo dos sistemas
Mas quem iniciou, neste século, a releitura da arte e beleza filosóficos tradicionais. 160
foi Baumgarten, que nomeou como estética aquilo que tem Assim, as posições estéticas enquanto
por objeto e análise “o que é perceptível aos sentidos”. proposições de conhecimento do fenômeno estético e
Procurando com a desvalorização da vida sensível no artístico têm dependido dos pressupostos filosóficos,
campo da filosofia, afirma que a estética não devia se limitar principalmente gnoseológicos e ontológicos. Da
interpretação da linha de Parmênides [Ser] que defende o Problemas Estéticos: Arte e Realidade (Platão) / Arte e
princípio da identidade, “pensar e ser são o mesmo”. Beleza (Aristóteles)
Interpretada pelos grandes socráticos gregos, Platão e
Aristóteles como um modo de excluir a diferença e a [Hauser e a naturalidade Clássica]
contradição, eles deram, por sua vez, os fundamentos para “De fato, na arte clássica grega, o naturalismo e a
a filosofia de cunho racional. [Medievo] Ela fundamentou a estilização combinam-se inesperadamente em quase todos
filosofia cristã. [Modernidade] Mas a metafísica contestada os casos, ainda que nem sempre tão equilibradamente,
pelas teorias científicas, nos séculos XVII e XVIII, discutida como por exemplo, no Banquete dos Deuses, do Partenon,
e negada pela filosofia Kantiana deixa vir à tona um ou para citar uma obra menos ambiciosa, em Luto por
punhado de questões que tinham sido deixadas de lado. Atenas, do Museu de Acrópole. Fora da arte clássica seria
Qual a relação da razão com a imaginação? Da lógica com difícil encontrar tanto como nela, tão completo, à-vontade,
a estética? E questões de juízo de beleza e do gosto vêm à combinado com tão completa contensão, tão grande
tona e se inicia a fase crítica da estética instigada pelos supressão de todo o vestígio de esforço, tensão ou excesso,
problemas que as ciências e as artes colocam. 169-170 uma impressão tão perfeita de liberdade e leveza, de
Mas ainda se dá o choque de posições entre a equilíbrio e serenidade.” (HAUSER, A História social da
estética crítica e a estética metafísica porque a visão de literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1982).
Hegel recoloca a metafísica clássica no apogeu e se volta
à discussão das questões da arte à luz de conceitos O NATURALISMO
universais. Embora nascido no século anterior ele atuou,
com muita repercussão, no século XIX. Deixou a grave [Os gregos e a Natureza]
sentença: a arte é para nós enquanto a destinação No antigo mundo grego – rico de manifestações artísticas –
suprema, coisa do passado. Em outras palavras, o caos e o cosmos se embatem. No seu período áureo,
preconizou a morte da arte como forma cultural que já todavia, se sobressaiu o naturalismo, expressando uma
alcançou sentido na arte e será superada por outras formas determinada cosmovisão: o mundo é naturalmente
espirituais. Hegel exalta a arte clássica como a mais perfeita ordenado e cada coisa tem o seu lugar certo. O naturalismo
expressão que o artista criou na história. Preconiza, todavia é uma corrente que não admite nada que seja exterior à
que a arte como forma representativa será necessariamente natureza, reduzindo a realidade ao campo natural,
ultrapassada pela filosofia enquanto autoconsciência da apreendido pela nossa experiência. O que vai se revelar na
verdade o Espírito Absoluto. 170 arte naturalista que se caracteriza pela simetria, harmonia,
[...] [Romantismo] A ênfase no racional será ordem e perfeição das formas.177
contestada pela desmedida do Romantismo que vai
propiciar uma virada no campo das artes e da beleza. Ela [Concepção de mundo: Cosmos]
se volta para as forças da expressão individual em oposição O homem grego, cidadão da polis, não pode deixar de se
ao cultivo do belo ideal e do impersonalismo próprio ao pautar na natureza e fazer cultura, a não ser a partir da visão
movimento neoclássico. E como legado da cultura europeia reinante: o cosmos é ordem e harmonia e o fim do cidadão
fica a música alemã, Beethoven e Wagner, a herança da é a aretê, a perfeição de sua natureza. Ele cresce
literatura francesa, Chateaubriand e Victor Hugo [...]. impregnado de obras poéticas, participa das tragédias, e se
Artistas que vão preparar terreno para novas correntes mede nos templos gregos com suas colunas abertas ao
como o Impressionismo e o Expressionismo que vão dar vigor da natureza. E o sol, a terra, os ventos, a lua e as
golpes mortais nas poéticas e nas regras das academias e estrelas revelam o jogo do mundo onde está naturalmente
forjar condições para o corte com a tradição. 170-171. presente o próprio deus. Esse povo aprecia os valores
espirituais unidos à justa medida da beleza e do vigor físico.
De tendência mais lógica que mística, conceberam uma
PARTE 2 – OS PROBLEMAS ESTÉTCOS NA HISTÓRIA mitologia de caráter antropológico, um Olimpo onde os
DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL deuses são projeções humanas, com seus defeitos e
qualidades. 178
[Apresentação]
Na civilização ocidental, aparecem interpretações filosóficas ARTE NATURALISTA
do mundo que foram surgindo no pensar e no agir criativo,
revelando uma diretriz preponderante de pensamento, o [A Arte copia a natureza divina]
que não acontece nos dias atuais, quando não predomina Neste mundo onde a natureza espelha o divino, a vida tem
uma linha de pensamento, de certo modo, dificultando os sentido nesta ligação, os artistas amadurecidos no clima
posicionamentos sobre arte e estética. 173 racional, começam a se preocupar com a aparência da
realidade sensível e querem expressar o modelo perfeito.
[Recorte] Os pintores lutam para chegar na matéria bruta à perfeição
Fizemos um corte na história geral, ao nos fixarmos na da imagem do real natural. Os escultores buscam a
civilização ocidental porque consideramos que os fidelidade anatômica como podemos ainda ver na harmonia
problemas estéticos atuais só podem ser compreendidos a dos corpos nus. 178-179
parte do seu começo na Grécia e nos desdobramentos que
ficaram como momentos históricos significativos manifestos [A arte corrige a natureza]
nas obras de arte. 173-174 O que pretendia a arte naturalista: criar imitações ilusórias
da natureza? Os artistas não eram copistas, usavam a
técnica exatamente para criar a mais adequada aparência
CAPÍTULO 1 – ANTIGUIDADE GREGA
do real verdadeiro. É nesse clima que artistas e filósofos se
desenvolvem, diante de um mundo cultural rico de obras
Período: Século VI a.C ao III a.C monumentais como o Acrópole e o Partenon. 179
Regime: Escravocrata (Senhor/Escravo)
Formas de Arte: Arte mítica / Arte Clássica
Filosofia da Arte: Pré-Socrática: Heráclito e Parmênides /
Socrática: Sócrates; Platão e Aristóteles
HERÁCLITO (535-473, a.C.), Éfeso – Escola Jônica verdadeira realidade (mito da caverna). Assim a obra de arte
verdadeira revela a ideia plena de beleza, de acordo com a
[Devir] ideia exemplar que se achano mundo das ideias perfeitas e
Apresenta a realidade como um jogo de contradições, onde eternas. E as obras que se limitam às cópias do mundo
a mola é a mudança, o vir-a-ser. Diz no seu aforismo: “Tudo sensível são apenas meras imitações. 188
se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais
bela harmonia” e nos faz pensar dizendo: “Quem se poderá [ERRADO: por imitar a realidade sensível o artista
esconder da luz que nunca se deita?”. 186 inexoravelmente estará fadado a produzir simulacros.
Não é, portanto, por falta de educação ou entendimento]
PARMÊNIDES (530-477, a.C.), Elea – Escola eleática Platão, na obra “República”, critica os artistas que fazem
obra de arte sem saber a que ideia algo corresponde
[Ser] plenamente. Artistas que vivem no mundo das cópias
Um pensador poeta que estabelece a íntima relação entre (meras aparências) sem se esforçarem para chegar ao
pensar, ser e dizer. A linguagem poética é a grande mundo verdadeiro e belo (mundo das verdades eternas e
articuladora do sentido das coisas, ela chega àquilo que é. espirituais). Admite que eles não são educados para pensar
“Os cavalos que me conduzem levaram-me tão longe naquilo que faze fielmente falseiam as ideias nas suas obras
quanto meu coração poderia desejar, pois as deusas à medida de que se limitam às falsas reproduções dos
guiaram-me através das cidades, pelo caminho famoso que exemplares. Fazem cópias das cópias. Simulacros. Assim,
conduz o homem que sabe”. 186 no livro “República”, sua grande utopia, voltada para a
Justiça social, os artistas são banidos por viverem no mundo
FASE SOCRÁTICA da imaginação. Devem ser excluídos deste estado ideal que
tem por objetivo conduzir o homem para o seu verdadeiro
[Arte: imitação da natureza] fim (mundo espiritual das ideias) através da sabedoria,
Os socráticos consideram a arte como imitação da virtude, amor e beleza. 188
verdadeira realidade. Sócrates, pensador racional,
condena a arte instintiva e afirma que a arte bela se
identifica ao bem. Platão, filósofo das ideias, encara a arte REALISMO ARISTOTÉLICO
como imitação da ideia plena de beleza (mundo das ideias).
Aristóteles, mais realistas, analisa a arte como perfeita ARISTÓTELES (384-322, a.C.), Estagira
imitação [ou seria correção?] da natureza (mimesis). 187
[Teoria da imitação / Representação do Universal]
SÓCRATES (479-399, a.C.), Atenas O pensador, discípulo de Platão, mantém do mestre a teoria
da imitação (mimesis) mas lhe dá um novo sentido. De fato,
[Postura] a arte não deve imitar o individual e contingente, nem
Pensador que se notabilizou historicamente como homem mesmo a ideia plena e eterna de belo, mas o essencial, a
ético, viva na pólis, em querela com os sofistas sempre forma universal, eterna, que se atualiza em cada indivíduo
argumentando, mas em muitos aspectos se assemelhavam. do mundo real. Ele não escreveu um tratado sobre o belo,
A diferença, segundo seus discípulos, estava que os mas na sua obra “Poética” refere-se ao belo como uma
sofistas tinham por preocupação ensinar a retórica, sem forma de ordenação da obra em sua forma mais perfeita, de
preocupação com a verdade absoluta. [...] Critica toda arte acordo, com a forma natural que expressa a sua essência.
que não está fundamentada nos princípios da razão e 189
princípios da moralidade, chama atenção dos poetas e entra
em choque com os dramaturgos. 187 [Arte como correção da Natureza]
Portanto, em Aristóteles, a mimesis tem o sentido da
[Crítica de Nietzsche e a Arte Trágica] imitação da forma perfeita que não se encontra na natureza,
No século XIX, Nietzsche analisa a posição socrática como de modo pleno, mas que pode se realizar na obra de arte.
aquela que traçou o caminho da racionalidade para a O que acontece? A natureza, sempre em processo, coloca
civilização ocidental determinando a morte da arte trágica, em ato a perfeição do ser, mas imediatamente o ser deixa
verdadeiramente humana e consequentemente, debilitando de ser ato e passa a ser potência para ser outro ser, de
a qualidade de vida. 187 acordo com a ordem divina estabelecida para o mundo
“Mas a palavra mais penetrante, desse culto novo físico, sujeito à mudança. Assim um ser individual está em
e inaudito ao saber a ao entendimento, foi Sócrates quem a ato, em estado de perfeição, mas em potência para ser
disse, quando constatou ser o único que confessava nada outra coisa. E quem capta este ser no seu estado de beleza
saber enquanto em sua perambulação crítica por Atenas, é o artista, não o deturpa, procura se adequar à casualidade
visitando os grandes estadistas, oradores, poetas e artistas, do real e ao plano da sua obra. Isto significa que a perfeição
encontrava por toda parte a fantasia do saber.” da natureza é sempre efêmera, mas na arte, duradoura.
(NIETZSCHE, F. O Nascimento da tragédia no espírito da Assim o artista ao imitar a natureza deixa na obra de arte,
música. São Paulo: Abril, 1974.) 187-188 em repouso, o que muda no real sensível. O verdadeiro
artista ao imitar e aperfeiçoar a natureza eterniza a forma
IDEALISMO PLATÔNICO que na arte permanece como expressão de beleza. 190
[Motivo ou Tema: representação dos Santos] ARTE GÓTICA (DERIVADA DA ARTE ROMÂNICA)
Desde os primeiros movimentos de propagação da nova fé,
os cristãos defrontaram-se com o problema de criar uma [Apresentação]
realidade imaginária, isto é, representar Deus, Cristo, Arte das catedrais, uso de ogivas, vitrais, retábulos. Ex.:
Virgem Maria e cenas da Escrituras Sagradas, Catedral de Notre Dame de Paris; Chartres, Colônia. 208
fundamentando-se em verdades e dogmas da fé. 205
existência de Deus. Ele é fonte de todos transcendentais – às coisas. Mas a obra bela feita pelo homem não estando
a verdade, a bondade e a beleza – presentes em todo ser necessariamente comprometida com a verdade, diferencia
criado. Tudo o que existe é uno, verdadeiro, bom e belo, das obras lógicas que tem por fim clarear a Inteligência, ela
marcado pelo seu criador. O artista não pode deixar de pode passar falsidades. Neste sentido é preciso ficar atento
imitar o criador e ao criar deixa presente a sua marca, à contemplação das obras belas que agradam e provocam
principalmente de beleza e de bondade. A beleza não é só prazer. Ciente que nem todo prazer é beatificante, só aquele
propriedade da obra de arte, é um dos aspectos do bem. É que eleva a alma a Deus. 214-215
o que deleita no belo natural e nas boas ações, ajuda o
homem naturalmente a se aperfeiçoar. Mas o santo padre SUMA TEOLÓGICA
não estabelece identificação entre arte e beleza, já que as
artes, na sua época, tinham papel unitário. E a beleza, por O PRAZER É DIFERENTE DA ALEGRIA?
sua procedência divina, tinha uma extensão mais ampla que (Distinção entre alegria e prazer) 215
a arte. Mas a obra de arte era uma ocasião de
contemplação, agradável até ao conhecimento, ao mesmo Dificuldades:
tempo um meio de elevar o espírito até a beleza do Criador. I) As paixões da alma diferem em função de
Portanto, a arte como expressão da beleza divina, sendo seus objetos. Ora a alegria e o prazer têm o
vista, agrada, eleva o espírito. 212-213 mesmo objeto, a saber o bem possuído/ eis
que a alegria se confunde exatamente com o
PROBLEMAS ESTÉTICOS prazer;
II) Um mesmo movimento não chega a dois
BELEZA E ESPIRITUALIDADE termos; ora é o mesmo movimento do desejo
que se encontra na alegria e no prazer. Não
(Em que sentido a arte, ao representar a beleza, pode há, pois, nada a distinguir entre a alegria e o
elevar o espírito?) 213 prazer;
III) Se a alegria é diferente do prazer, parece que,
SANTO AGOSTINHO pela mesma razão, a alegria a exultação
significa igualmente outra coisa que o prazer
“O belo transcende a beleza da obra criada que se que teríamos então paixões diversas: o que é
manifesta na arte Ele expressa a perfeição de Deus que se inadmissível; não distinguirá, pois, alegria e
revela na sua bondade e sabedoria infinitas. O belo provoca prazer. 215
deleite no contemplador e antecipa o estado de felicidade
da vida eterna. Nesta concepção, a realidade sensível, ARTIGO 4: O prazer está no apetite intelectual?
embora bela por ser reflexo da beleza do criador, sendo
efêmera, não deve ser valorizada. [Plotino] A teoria da [Contradições]
imitação que o artista segue, embora voltada para o Dificuldades: Aristóteles escreveu: O prazer é um certo
verdadeiro e belo modelo divino é limitada, e muitas vezes movimento sensível; ora o movimento sensível não está no
chega a ser perigosa. [Platão] Leva o artista à atração das apetite intelectual?
coisas mundanas, as cores, as formas, os sons, o brilho que - O prazer é uma paixão e toda paixão se encontra no
podem “acorrentar a alma”. 213 apetite sensível;
- O prazer é comum aos homens e aos animais – É a parte
CONFISSÕES – LIVRO IV que nós temos em comum com eles.
(Deus é a fonte de toda a beleza) 214 Entretanto, está dito no salmo? Toma teu prazer no Senhor?
Ora o apetite sensível não é capaz de alcançar a Deus, só
Por esse tempo ignorava estas verdades e amava as o apetite intelectual. O prazer pode, pois, se encontrar
belezas terrenas. Caminhava para o abismo e dizia a meus nesse último apetite”. (AQUINO, São Tomás. Suma
amigos: amamos nós alguma coisa que não seja o belo? Teológica. Paris: ed. De la revue des jeunes, 1932). 214-
Que é o belo, por conseguinte? Que é a beleza? Que é que 215
nos atrai a afeiçoa aos objetos que amamos? Se não
houvesse neles certo ornato e formosura não nos atrairiam. CAPÍTULO 3 – RENASCENÇA
214
Eu notara e via que em nós mesmos os corpos se Período: Século XV ao XVI
deviam distinguir beleza proveniente da união das suas Regime Social e Econômico: Capitalismo, ascensão da
partes: o todo é resultante da sua apta acomodação a burguesia e transformações sociais
alcuma coisa, como, por exemplo, a parte dum corpo ao seu Formas de Arte: Arte Clássica / Arte Maneirista
todo, ou o calçado ao pé, e outras semelhantes. Escrevi por Filosofia da Arte – Estética de Transição: Leonardo da
isso os tratados de Pulchro e Apto, eu creio que em dois ou Vinci
três livros, vós sabeis meu Deus. [...] Que só criais
maravilhas, ainda não via na vossa arte o fulcro de tão [A. Hauser]
grandes obras; o meu espírito errava pelas formas “A Renascença não foi uma civilização de pequenos lojistas
corpóreas. (AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril e artesãos, nem de uma classe média à altura, rica e semi-
Cultural, 1973). 214 educada, mas antes, patrimônio ciosamente guardado de
uma elite erudita e latinizada. Esta consistia principalmente
BELEZA E PRAZER nessas classes de sociedade que estavam associadas com
(Quais as relações entre beleza e prazer estético?) 214 o movimento humanista e neoplatônico – uma intelligentsia
uniforme e no todo de espírito semelhante, tal como, por
SÃO TOMÁS DE AQUINO exemplo, nunca o foi o clero tomado na sua totalidade. As
importantes obras de arte eram destinadas a este círculo.
O belo é aquilo que sendo visto agrada, neste sentido, o que As massas mais vastas, ou não tinham conhecimento
é bonito para os olhos, o que é bem feito, agrada enquanto absolutamente nenhum delas, ou apreciavam-nas
expressa a beleza infinita que é Deus. Necessariamente o inadequadamente e de um ponto de vista não artístico,
belo não é provocado pela arte, é uma qualidade imanente encontrando o seu próprio prazer estético em produções de
qualidade inferior. Foi esta a origem daquele abismo sem entre 1400 e 1500, surge na Itália, tendo Florença como
ponte, entre a minoria educada e a maioria não educada, centro dominante, com irradiação para a Alta Itália. A
que antes nunca se verificara em tão elevado grau, e que Europa acelera o processo de superação da economia
devia ser um fator tão decisivo em todo o futuro agrária, artesanal e urbana da Idade Média, ingressa na
desenvolvimento da arte”. (HAUSER, A. História Social da economia manufatureira, mercantilista e nacional da idade
literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1962). 217-218 moderna com o novo estilo. 220-221
[2/Roma] O segundo, a Renascença Romana,
O ANTROPOCENTRISMO entre 1500 e 1550, corresponde ao apogeu, esplendor dos
papas, embora coincidindo com o cataclismo religioso da
[Nada acima do homem e nenhum homem acima do Reforma. [3/Roma] A última compreende ainda Roma, fase
outro] que assinala o início do barroco, e que Leonardo da Vinci,
Se, durante o longo período da história medieval, Deus foi o através das suas obras, faz um rastreamento minucioso da
ponto das atenções de toda a cultura, das artes, em realidade demonstrando domínio de conhecimento sobre
particular, já na fase da Renascença se desloca o eixo, e o anatomia, ótica, teoria das cores. 221
homem é visto como centro de todo o universo – para ele [1500-1600] Finalmente, a Renascença que se
tudo converge e a ele tudo se subordina. O desenvolve no período de 1500 a 1600, impõe-se como
antropocentrismo defende a tese: “o homem é a medida de movimento da renovação cultural e artística, das estruturas
todas as coisas”. Nesse clima onde impera o humanismo, sociais, políticas e econômicas, transformando o panorama
se impõe a Renascença. Irrompe uma plêiade de cultural e artístico europeu. Época caracterizada pela
intelectuais que vão dar o tom da grande virada: Copérnico, presença de Maquiavel em Florença, no tempo dos Médici,
Lutero, Calvino, Rabelais, Montaigne, Shakespeare, pregando a secularização da política, em moldes diferentes
Cervantes e Leonardo da Vinci. 219 da política utópica dos gregos, voltada para o modo do
homem agir de fato. 221
[Nome Renascença]
O nome Renascença indica um novo momento histórico que [Naturalismo e desenvolvimento técnico]
passou na história como um curto período, embora No Renascimento, todavia, o naturalismo não morre, passa
culturalmente rico e revolucionário. E apresentou duas a assumir outra feição, à medida que os artistas buscam no
tendências fundamentais que aparentemente se opõe: ideia conhecimento científico um modo mais perfeito de
de renascer (despertar) e a de restaurar (impor novamente representar a beleza do mundo natural e social. Através da
ideias velhas). 219 descoberta das leis científicas, noções de perspectiva, de
proporcionalidade matemática, consegue criar a ilusão da
[Mudança Científica] terceira dimensão. 221
Por que renascer? O homem sai do limbo, acorda e se
descobre no ritmo do cosmos. Humildemente, porque FORMAS DE ARTE
descobre que não é mais o centro significativo da terra, que
por sua vez, nem é mais o centro dos planetas. Cientistas ARTE CLÁSSICA
como Galileu, Giordano Bruno e outros temestes da
Inquisição provam e defendem a teoria heliocêntrica. A terra [Modelo Grécia-Roma]
se move. Ela se move em volta do sol. A grande revolução Volta ao modelo greco-romano. Imitação. Regularidade de
repercute no campo cultural e em especial, das artes. 219- formas. Sujeição às normas da razão. Ex,: Monalisa. Uma
220 plêiade de pintores: Rafael, Ticiano, Dürer. 222
[Uso da ciência na sua arte] versus uma aristocracia decadente que se acha dilacerada
Por que a arte e ciência se opõe? Qual a relação entre entre protestantes e católicos, a razão e a liberdade nem
Beleza e Natureza? Para Leonardo da Vinci, a natureza sempre se encontram de braços dados como revelam as
pode ser imitada, cada vez mais com precisão e rigor à obras culturais e os fatos históricos. 222-223
medida que o artista domina as leis e alcança tecnicamente
os meios de fazer arte. Ele mostra que a beleza artística [Literatura]
decorre da beleza natural desde que o artista saiba E como reagem os literatos? Os franceses, embora
transplantá-la para a arte. A obra de arte enquanto burgueses, Racine, La Fontaine, Boileau junto ao duque
elaborada à luz dos conhecimentos científicos alcança um de La Rouchefoucault, mostram-se dignos representantes
nível mais intenso de beleza. A aplicação da sua teoria pode da época de Louis XIV e fazem uma literatura palaciana, de
ser visualizada através das noções de perspectiva e de estilo. Com exceção, todavia, de Moliére que mantém
anatomia usadas nas suas obras. 227 relação com a poesia popular. Voltaire e Montaigne,
grandes observadores da psicologia humana, iniciam um
CAPÍTULO 4 – IDADE MODERNA processo de crítica ao modo frívolo e farsante da classe
burguesa usufruir a vida, nos luxuosos salões de festa. 223
Período: Século XVII
Regime Social e Econômico: Liberalismo, capitalismo, [Música]
mercantilismo A música clássica também se bifurca, em músicas de salão
Formas de Arte: Arte Barroca / Arte Rococó; e músicas sacras, embora surjam grandes compositores
Filosofia da Arte: Descarte, Bacon, Locke (Voltados para como J. S. Bach. 223
questões científicas e políticas, deram novos rumos à
cultura e às artes). FORMAS DA ARTE
Problemas Estéticos:
ARTE BARROCA
[HAUSER]
“Por volta do final do século XVI, dá-se uma mudança [Estilo e Artistas]
impressionante na história da arte italiana. Um maneirismo Arte Barroca: Contraste violento entre luz e sombra. Linhas
frio, complicado e intelectualista cede o lugar a um estilo curvas. Dobras. O barroco assumiu variedade de formas,
sensual, emocional e universalmente compreensível – o difícil de ser reduzido a um denominador comum. Pintores:
barroco. É a reação de uma concepção de arte, em parte Rubens, Rembrandt, Velásquez. No Brasil colonial,
intrinsicamente popular, em parte, apoiada pela classe Aleijadinho. 234
cultural dirigente, mas com consideração pelas massas,
contra o exclusivismo intelectual do período precedente. O [Datação e Nome]
naturalismo de Caravaggio e o emocionalismo de Carracci O barroco é o estilo artístico predominante na arte europeia,
representam as duas orientações”. (HAUSER, A. História da 2ª metade do século XVII e início do século XVIII. Ele
social da literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1982). tem este nome – pérola de formato irregular – com sentido
229 pejorativo. O termo foi usado pelos neoclassicistas, a fim de
depreciar a arte do período anterior, que se mostra
[Contexto Social: Economia e Religião] exuberante e livre, diferindo dos novos padrões clássicos.
As novas liberdades são forçadas no bojo de grandes 234
transformações sociais, políticas e econômicas, com a
afirmação da classe burguesa, desenvolvimento do [Origem Italiana, Renascimento e Igreja]
comércio e manufatura, conquistas de navegação, Originário da Itália, o Barroco com seu apelo à liberdade de
descobertas científicas, conflitos religiosos de grande porte expressão e de novas formas artísticas, espalhou-se pela
como Reforma e Contra-Reforma. O que sucede no século França, Inglaterra, Espanha e acabou sendo adotado em
XVII senão um choque entre posições sociais, intelectuais e todos os países ocidentais. Com muita força se difunde o
artísticas? Enfim a promessa de um mundo novo, livre da barroco devido ao poder político, os choques religiosos e o
autoridade eclesial, livre da subserviência à corte clima liberal. O concílio de Trento dita normas para a arte
absolutista. A formação de uma cultura que vai lutando pela religiosa, substituindo o humanismo renascentista pelos
autonomia política, social e econômica através da afirmação valores sobrenaturais e religiosos que precisam ser bem
do liberalismo, do laicismo e do capitalismo nos grandes expressivos. Os jesuítas são os principais divulgadores do
centros europeus. 222 novo estilo, engajado nos movimentos reformatórios da
igreja. 234
[Surgimento do Barroco da Itália e Catolicismo]
Na Itália, o barroco irrompe como uma nova forma de O BARROCO ITALIANO
concepção de arte e se impõe ao mundo. Estranhamente, [Artistas]
por força da igreja romana, que pretendeu através da arte Tintoretto é o precursor do novo estilo em pleno
religiosa, reconquistar as glórias do passado. Por ter Renascimento. Mas cabe a Caravaggio (1573-1610) ser o
perdido espaço no mundo cultural, devido à reforma primeiro pintor barroco que se consagra pela forma de tratar
protestante, apela para a arte monumental, capaz de refletir a luz, violentas sombras que contrastam com a cor mais
o esplendor da fé. Mas a arte barroca atende também a uma luminosa, colocando em obras dramas profundamente
necessidade dos artistas de ampliar os espaços, de fazer humanos. [...] 234
novas experiências estéticas, fugindo ao formalismo das Destaca-se também Andrea del Pozzo (1642-
regras formas clássicas. 232 1709) na decoração de tetos, com pinturas ilusionistas. E.
Cortona, Reni, Caracciolo e outros pintores surgem em
ARTE BURGUESA vários centros artísticos, como Roma, Veneza, Nápolis,
Gênova. 234-235
[Variedade de Barrocos]
Nesta variedade da arte barroca [barroco religioso (católico [Arquitetura]
e protestante) e profano (burguês: jardins, palácios, etc.)] Na arquitetura, Gian Lorenzo Bernini (1568-1680) é
surgida no jogo do mundo burguês, capitalista, liberal, considerado expoente máximo do Barroco Italiano,
influenciado pela ciência de Newton, mas ciente da arte da civilização ocidental à medida que os problemas da arte
palaciana de Frederico o Grande, rei-flautista que convida são analisados criticamente através de novas leituras da
Bach para seus saraus. Sem nunca viajar para grandes razão e da verdade. Kant já encontra os legados de
centros artísticos, viveu em ricas circunstâncias culturais. Winckelmann, de A. Baumgarten e faz análises que
246 possibilitam novos estudos para Schiller. 249
Se o objeto belo agrada a todos igualmente sem - A condição da necessidade a que pretende um juízo de
conceito, é porque algo provoca e espera confirmação. Esta gosto é a ideia de um senso comum. 256
se dá mediante satisfação estética que se acha no nível da
subjetividade. O belo é uma ocasião de prazer para um EXPLICAÇÃO DO BELO, INFERIDA NO SEGUNDO
sujeito. De tal modo que não está no objeto, a ele atribuímos MOMENTO
uma quantidade que não é dele, mas uma atitude nossa de
satisfação, desinteressada e contemplativa, apreendida Belo, é aquilo que, sem conceito, apraz universalmente.
simplesmente por intuição. Todas as pessoas vendo aquele Não pode haver nenhum conceito regra de gosto que
objeto podem a ele atribuir propriedades estéticas, embora determine por conceito o que é belo! Pois todo juízo desta
sintam e expressem estados afetivos diferentes. Não fonte é estético. E, o sentimento do sujeito e não o conceito
havendo, portanto, um consenso conceitual, somente um de um objeto é um fundamento de determinação. Procurar
encontro entre todos pelo fato dele proporcionar prazer. um princípio do gosto, que fornecesse o critério universal
Olhando para uma pintura de Rafael sinto prazer, por conceitos determinados, é um empenho inútil, porque o
não porque estou impregnada de conhecimento da sua que é procurada é impossível e em si mesmo contraditório.
pintura, nem da vida, nem da sua obra. Eu experimento a Portanto, somente sob a pressuposição de que
beleza através do quadro, aprecio-o como um objeto belo haja um senso comum pelo que, porém, não entendemos
que me provoca sentimentos, me agrada. Isso não precisa nenhum sentido externo mas o efeito do livre jogo de nossos
de conceito universal, nem de juízo, mas todos, vendo poderes de conhecimento somente sob a pressuposição
aquele quadro, experimentam prazer. 254-255 digo eu, de um tal senso comum, pode o juízo de gosto ser
emitido. (KANT, I. Crítica da Faculdade do juízo. Rio de
ANALÍTICA DO BELO (PARTE 1) Janeiro: Forense Universitária, 2002). 257
(Como explicar o gosto à luz da preferência ou de um
juízo?) [SCHILLER]
EDUCAÇÃO, ARTE E LIBERDADE
Primeiro momento – Do juízo de gosto, segundo a (Como deve ser a educação da humanidade?)
qualidade.
I - O Juízo do gosto é estético J. F. SCHILLER
Para distinguir se algo é belo ou não, referimos a
representação não pelo entendimento ao objeto, para o CARTA I
conhecimento, mas pela imaginação (talvez vinculada com Para o poeta-pensador o jovem ao ter consciência do
o entendimento) ao sujeito e ao seu sentimento de prazer impulso estético, eminentemente gratificante, desenvolve-
ou desprazer. O juízo de gosto não é pois um juízo de se espiritualmente, aprende a não ser um joguete da
conhecimento, portanto não é lógico, mas estético, pelo que natureza, procura assumir-se como um ser criador. Ele
se entende aquele juízo cujo fundamento de determinação assume a atitude de um artista que conforma a matéria em
não pode ser ou que é subjetivo Toda a referência das obra de arte, tornando-se capaz de impregnar de beleza a
representações, mesmo a das sensações, porém, pode ser sua vida, todavia, com uma condição, que tenha
objetiva (e significa então que é real em uma representação conquistado a liberdade. Mas dificilmente o homem
empírica): Só não o pode ser a referência ao sentimento de consegue chegar a este estado estético. Precisa de um
prazer e desprazer, pela qual absolutamente nada é trabalho educacional, capaz de elevar a imaginação, à
designada no objeto, mas em que o sujeito, assim como é tarefas criativas capazes de reconciliar inteligência e
afetado pela representação sente a si mesmo (...). 255 sensibilidade. E somente, assim, consegue descobrir o
poder de se desprender da natureza, à medida que é capaz
Segundo momento – Do juízo de gosto, ou seja, segundo de desenvolver a forma vigorosa do impulso lúdico capaz de
sua quantidade. 256 reconciliar a sensibilidade com a inteligência. 257
sobretudo verdadeiro, deve ser concreto, também se esplendorosa será, de tal modo que a beleza constitui a
reclama da arte igual concretude porque o universal aparição sensível da ideia plena de beleza, como na arte
abstrato em si mesmo não possui determinações para grega. 284
expandir-se em particularidades e manifestações e em sua
própria unidade. 281-282 ARTE SIMBÓLICA
Para que uma forma ou figura sensível
corresponda ao conteúdo verdadeiro e, portanto, concreto, “A primeira forma de arte é, portanto, a simples busca de
é preciso uma terceira condição: que esta figura ou forma imaginificação (tornar imagem) como uma aptidão de
seja igualmente individual e plenamente concreta e única. representação verdadeira; a ideia não encontrou ainda, em
Pois, na verdade: o concreto que advém dos dois aspectos si mesma, a forma; fica assim somente a expressão vaga
da arte, do conteúdo e da representação (Darstellung) é de tendência. Geralmente, tal forma artística pode chamar-
precisamente o ponto em que ambos podem confluir e se simbólica. A ideia abstrata apropria-se, na arte simbólica,
corresponder-se como, por exemplo, a forma natural do de formas naturais sensíveis, que não lhe são adaptadas.
corpo humano é um concreto sensível capaz de representar Esta apropriação de forma inadequada tem todas as
o espírito concreto e revelar-se em consonância. [...] 282 aparências de violência: para que a forma seja apropriada a
[...] Graças a isso, esse concreto sensível, no qual uma ideia, que não se lhe ajusta, é preciso que a forma seja
se exprime a essência do conteúdo espiritual (geistiger amolgada e triturada (caráter do panteísmo artístico do
Gehalt), fala também essencialmente para o íntimo; e a Oriente).” 284
exterioridade da forma, pela qual o conteúdo se revela e se
representa, não tem senão, o fim de despertar ressonância ARTE CLÁSSICA
em nosso sentimento e nosso espírito. Só por causa desse
fundamento, interpenetram-se conteúdo e realização “Na segunda forma de arte, que desejamos caracterizar
artística. O que é apenas concreto e sensível, à natureza aqui como clássica, é abolido o duplo efeito da arte
exterior como tal não existe unicamente à vista desse fim. A simbólica A forma simbólica é imperfeita porque, de um
plumagem variada e colorida dos pássaros brilha mesmo lado, a ideia entra na consciência somente como
quando não vista, seu canto ressoa, mesmo não escutando; determinação abstrata ou indeterminação, e, de outro lado,
há flores que vivem apenas o espaço de uma noite e a congruência entre “sentido” e “forma” deve permanecer
estiolam-se sem terem sido admiradas, nas florestas sempre defectiva e portanto abstrata. Essa dupla falha
virgens do sul; e estas selvas investidas das mais belas e desaparece na arte clássica, onde se depara a livre e
luxiriantes vegetações, de aromas capitosos e flagrantes; adequada assimilação da ideia e da forma, que é
perecem e por vezes desaparecem sem jamais terem sido congruente ao seu próprio conceito. Daí resulta o perfeito
conhecidas”. (HEGEL. Estética. São Paulo: Abril Cultural, acordo entre sentido e expressão. Destarte, a arte clássica
1974). 283 dá-nos a primeira criação e intuição do ideal completo,
apresenta-o como realidade. (...) O corpo humano, na forma
[TRÊS PERÍODOS: SIMBOLISMO, CLASSICISMO, em que se apresenta na arte clássica, não é simplesmente
ROMANTISMO] representado em sua mera existência sensível, mas
também como existência e forma natural do espírito deve,
Os três grandes momentos da arte: Simbolismo, portanto, ser despido de todas as exigências peculiares
Classicismo, Romantismo sensível e à finitude contingente da aparência.” 284-285
estética. Confessa que nesse livro há duas inovações conceito, não mais importa a habilidade técnica nem a
decisivas, primeiro o entendimento do fenômeno Dionísio criação. 291
entre os gregos a revelar a psicologia e arte deste povo. E
a denúncia do papel do Socratismo, enquanto corrente de [Final do naturalismo]
pensamento que acentua o valor da lógica formal, Em clima de desmantelamentos e de sobras, o que ficou da
desprestigiando o vigor dos instintos. 286 história da arte? A ruptura absoluta do modernismo com o
naturalismo parece ter significado, de fato, o corte com a
[Grécia Dionísio e Apolo] mimesis, enquanto imitação da realidade, afinal morreu a
[...] Na criação da mitologia e das tragédias instauradas em figuração. 291
linguagem poética, o povo grego faz da arte uma forma
capaz de harmonizar as formas do homem: apolínea [Dadaísmo e surrealismo]
(medida-razão) e dionisíaca (transbordamento-paixão). 286 Aconteceu em 1914 a primeira grande guerra e, em 1916,
surgiu com garra e ímpeto de destruição, o Dadaísmo. Em
O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA NO ESPÍRITO DA seguida, se afirma o Surrealismo, mais aberto à novas
MÚSICA concepções de homem e de mundo, colocando à prova a
Psicanálise. E num pulsar ininterrupto de experimentações
ASSIM FALOU ZARATUSTRA vão se alastrando novas correntes com surpreendentes
mostras e concepções de arte. 292
[...] Os que amam foram sempre, e os que criam, os que
criaram bem e mal. Fogo do amor arte nos nomes de todas [Entrada no contemporâneo]
as virtudes, e fogo a ira. 288 No início e no desenrolar do século, cada vanguarda luta
por inovação e ruptura com os cânones do passado. Numa
CAPÍTULO 7 – IDADE CONTEMPORÂNEA efervescência que revela as mudanças que se processam
no mundo cultural, às avessas. A arte morreu. Viva a arte.
Período: Século XX e XXI Neste clima, muitas vezes, de desorientação, as
Regime Social e Econômico: Revolução tecnológica, experiências estéticas e artísticas de grande intensidade
rompimento com a tradição exigiram novas ordenações e descobertas e experimentos
Formas de Arte: Arte modernista, Fauvismo, Cubismo, até a náusea. E chegamos à década de 70 onde artistas e
Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Abstracionismo, Neo- filósofos denunciam e proclamam: afinal, o que vale? Nada
construtivismo, Bauhaus, Concretismo, Arte conceitual, Arte vale? Por que o passado tem de ser destruído? É verdade
cinética, Pop-art, Minimalismo, Arte cibernética, Happening que chegamos ao atual desgaste e saturação do moderno,
e Arte pós-moderna. apesar dos processos de criação passarem pelo carimbo
Filosofia da Arte: Pluralismo estético, várias correntes em tecnológico e virtual. Mas ingressamos no mundo pós-
choque moderno sem grande esperança e com “muita suspeita” do
Problemas Estéticos: a obra de arte e a beleza, a origem que vem do moderno. 292
da obra de arte.
[Construção e desconstrução]
[Gerd Bornheim] [...] O que passa um artista não é a paisagem, não é o
(...) No passado, a arte vivia de respostas. E, eu completo retrato, não é uma mancha, nem pontos, nem linhas, é um
que havia uma resposta em cada período. Hoje, ela vive do trabalho inventivo, imagístico, que exige construção a partir
problema e existem milhares de problemas no nosso tempo. de uma desconstrução que apresenta sempre novas
Quer dizer que há essa fantástica diversidade essa riqueza possibilidades de criação. 293
enorme de arte e se quer sempre um problema. [...] Quer
dizer, essa criatividade quase que não tem limites. Ela é a [Cotidiano]
experiência originária da arte do nosso tempo, a ausência Se o artista do século passado ainda se volta para as cenas
total de norma... Então aquele problema que se refere mundo cotidiano e para noções como beleza e
Hegel está longe de ser a morte da arte. É claro que em expressividade, o que vai marcar o nosso século é a
função desse excesso, a partir desse excesso, pode haver desrealização, a desmaterialização, a desconstrução. 294
desmedidas de toda ordem. Mas muitas vezes, como diz
Duchamps, a desmedida mesmo é uma espécie de Escola de Frankfurt
interesse fatal para a evolução da arte. Quer dizer que, de No campo da filosofia há muitas interpretações do novo
fato, a morte não se verifica, o que se verifica é essa mundo, movido pelos fios da tecnologia. Nenhum pensador
perplexidade que deriva de um excesso de riqueza, que pode negar a sua força, nem Habermas, nem M. Foucault,
deriva todo ele, não mais de uma resposta pré-dada, mas mas muitos criticam o lixo que a indústria cultural produz. A
da criatividade da condição humana. (BORNHEIM, GERD. escola de Frankfurt, com Adorno e Horkheimer, levantara
“Hegel e a morte da arte”. In: a morte da arte. Rio de Janeiro: ao extremo essa crítica ao consumismo no campo da arte.
UERJ, 1995). 289-290 Embora da mesma escola, Marcuse prega à volta a
natureza como meio de romper com o nefasto princípio de
DA MODERNIDADE À PÓS-MODERNIDADE desempenho que cria necessidades supérfluas. 294
[Poesia] HEIDEGGER
Em “A origem da obra de arte” Heidegger apresenta a (Qual a origem da obra de arte?)
Poesia como Dichtung, ação de fundamentar, diferente da
Poesia como gênero literário que nela se fundamenta. [Níveis de Realidade]
Poesia como Dichtung é a poesia-raiz que, como forma de Procurando analisar a relação arte e realidade fala de três
pensar inaugural, ilumina o que está presente, oculto no níveis de realidade: coisa, útil e obra de arte. A simples
nível ordinário e nomeia-o ao lhe dar sentido e ele irrompe coisa carece de finalidade prática, o útil é o que está
de modo extraordinário, no esplendor da obra de arte. Seja disponível para o serviço. 315
uma tragédia, um poema, uma canção, uma escultura. [Obra de arte] Mas o que caracteriza a obra de
Nesse enfoque, a Poesia não somente é a essência da arte é um pôr-se em obra da verdade Tanto o objeto útil
linguagem, mas de qualquer arte, porque sendo poder de quanto a obra são produções, mas a confecção do útil não
reunir, possibilita a instauração da unidade concreta da obra cria nenhuma obra, mas a produção da obra de arte cria,
de arte, onde se instala belamente a verdade do ser. 311- “faz pro-vir o ente por sua aparência à presença”. A obra de
312 arte é uma criação no sentido que no seu processo de
produção faz algo vir à presença, processo que se dá numa
PROBLEMAS ESTÉTICOS luta entre velamento e desvelamento. Ela se singulariza por
ser a produção de algo que não se repete, antes não era e
OBRA DE ARTE E BELEZA posteriormente nunca voltará a ser. [...] 315
Que função tem a obra de arte hoje, se já não tem de criar
beleza na sua dimensão duradoura? 312 [Instauração do Mundo]
Para Heidegger a obra de arte é sustentada por duas
W. BENJAMIN estruturas fundamentais: pela materialidade e pelo sentido,
fazendo a terra vir à presença e instaurando um mundo. O
[Perda da Aura] confronto acontece na obra de arte e os dois reunidos
W. Benjamin, ao constatar que a arte perdeu a sua “aura”, permanecem, em jogo de cores, de formas e palavras. 315
não faz apelas para que se volte a posições passadas, [...] Segundo M Heidegger, na obra de arte a
apenas constata que estamos vivendo uma nova fase de verdade do ente se coloca em obra. Sem ela não se diria o
civilização tecnológica, fase em que o objeto real e artístico advento da verdade do mundo porque o mundo não é um
são reproduzidos em série e como tal estão mais próximos conjunto de coisas externas, mas é a forma instauradora de
do povo que quando eram obras-primas exemplares inteligibilidade que possibilita que as coisas apareçam com
inacessíveis e únicas. 312 sentido. De tal modo que a obra de arte não espelha o real,
desvela-o na sua subsistência íntima, na sua presença em
[O Valor da Arte sem a Aura] repouso. 316
Segundo este pensador, temos de entender as grandes
mudanças históricas para redefinir o sentido da obra de arte [Ocultamento e desocultamento]
que afinal perdeu a sua aura. Se da Grécia até o século XIX, Para Heidegger a essência da obra de arte é, portanto, o
a obra de arte era considerada obra original, autêntica, pôr-se em obra da verdade. A obra é o modo como a
exemplar de única aparição, aparição única de uma verdade fica presente como desocultamento. Para tornar
realidade longínqua, divina; hoje, na época das técnicas da clara esta questão da verdade em obra, analisa as obras:
reprodução em série e do império da difusão das imagens, um par de botas de Van Gogh e um templo grego. 317
a obra de arte não se impõe mais como obra que exige
contemplação, nem valor de culto. A obra de arte não se [Desocultamento e estar-aí]
esconde no véu divino, nem aponta o mistério das origens, Como desvelar a obra de arte senão surpreendendo-a no
não parece ser mais fonte de inesgotável significado. O que seu estar-aí que significa no seu repouso revelando o jogo
ela vale? Valor de uso? De troca? Valor do trabalho do das tensões e das inter-relações? Ao analisar o par de
artista? Ele responde: o valor de exposição, de recreação, votas, não fala da cópia do real porque não se trata de uma
acessível à massa. O cinema, a fotografia estão aí para fotografia a indicar o desgaste das botas, lançadas à terra.
contestar definições passadas. 312 No jogo de cores, onde predomina a cor escura, a obra
remete à tensão homem/terra, homem/mundo, a natureza e
[W. BENJAMIN] a cultura, a tensão e o jogo espetacular da terra, céu,
A OBRA DE ARTE NA ÉPOCA DA REPRODUTIBILIDADE imortais e mortais. A terra pisada espelha o labor e as
TÉCNICA oferendas e a espera de alimentos dados pela terra. Em
outras palavras, um par de botas não mostra somente as
A obra de arte, por princípio, foi sempre suscetível de botas, mostra pela circularidade dos elementos, a situação
reprodução. O que alguns homens fizeram podia ser refeito do camponês a trabalhar, a caminhar, a habitar a terra, a
por outros. [...] Com ela [isto é, a fotografia], pela primeira existir na provisoriedade. O quadro não deixa de ser um
vez, no tocante à reprodução de imagens, a mão encontrou- modo de reconstruir um mundo onde o tempo revela seu
se demitida das tarefas artísticas essenciais que, daí em jogo com a terra até à morte. 317-318.
diante, foram reservadas ao olho fixo sobre a objetiva. [...]
No fim do século passado, atacava-se o problema pela [Obra de arte: pôr-se em obra de verdade]
reprodução dos sons. Todos esses esforços convergentes Para Heidegger, a essência da obra de arte, um pôr-se em
facultavam prever uma situação assim caracterizada por obra da verdade, significa a revelação de algo que e dá
Valéry: “Tal como água, o gás e a corrente elétrica vêm de devido a uma rede de relações onde sobeja o sentido de
longe para as nossas casas, atender à nossa necessidade uma totalidade única, que não é toda a totalidade. A obra,
por meio de um esforço quase nulo, assim seremos ao liberar possibilidades do que é o mundo das relações do
alimentados de imagens visuais e auditivas, passíveis de homem no tempo histórico instaura a verdade da aparição.
surgir e desaparecer ao menor gesto, quase que a um Aí, a beleza se mostra como vigor da verdade que se
sinal”. (BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na época da sua desoculta. 319
reprodutibilidade técnica”. In: Obras escolhidas. São Paulo:
Brasiliense, 1985). 313-314
[Arte e Verdade]
Segundo Heidegger a essência da obra de arte é o
desvelamento da verdade e não da coisa, de tal modo que
nas botas pintadas de Van Gogh ou no templo grego não
se esgota a objetividade da bota ou do templo, mas deixa
emergir o existente em sua totalidade. Aí, juntos se acham
o mais longe e o mais perto, o mais e o menos profundo, o
ocultamento e o desvelamento do jogo da terra e mundo,
em recíproca iluminação, que nada mais é que o vigor da
verdade que se mostra na beleza, efêmera beleza de um
raio. 321