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Definição de Conceitos
Palavra Estética
A palavra estética vem do étimo grego aisthésis, que significa sensibilidade.
Esta palavra remete, porém, tanto para a competência cognitiva, a capacidade
humana de percecionar objetos através dos orgãos dos sentidos, como para uma
competência afetiva, a capacidade de o sujeito humano se emocionar (ser invadido por
sensações fortes como alegria, tristeza, medo, espanto, etc.) face a determinadas
caraterísticas daqueles objetos.
Na experiência estética estas duas vertentes da sensibilidade humana
associam-se e fundem-se, uma vez que ela implica tanto a apreensõa sensorial dos
objetos estéticos como, e simultaneamente, que esta se faça acompanhar de
vivências interiores de natureza emotiva.
Objetos Estéticos
Objetos estéticos são todas as coisas, e não apenas as obras de arte, a que
atribuímos ou às quais reconhecemos propriedades estéticas (positivas, como a
beleza, a elegância, a graciosidade, a harmonia, ou negativas, como a fealdade, a
melancolia o caráter sombrio, etc.). Por exemplo, se a uma cadeira ou a uma colher
atribuirmos propriedades como as de serem elegantes ou graciosas, elas são
objetos estéticos. Do mesmo modo, se julgarmos como deslumbrantes ou majestosos
um pôr-do-sol ou uma montanha, também eles são objetos estéticos.
As obras de arte incluem-se entre os objetos estéticos.
Experiência Estética
A experiência estética, que envolve a capacidade de o sujeito humano se
emocionar, isto é, de ser invadido por sensações fortes como a alegria, a tristeza, o
medo ou o espanto, é a experiência vivida pelo sujeito quando, face a determinados
objetos, os objetos estéticos, numa atitude contemplativa (o sujeito limita-se a
“olhar” o objeto e a fruir o prazer que este lhe suscita) e desinteressasda (olha o objeto
como se ele não tivesse nenhuma utilidade, não esperando retirar dele qualquer
beneficio), experimenta uma sensação agradável e gratificante de bem-estar, de
prazer ou de melancolia que o faz alher-se do que o cerca e de si próprio, sentindo-
se transportado pela imaginação para além de si mesmo, para outras dimensões,
para outros mundos, para o espaço da fantasia e do sonho.
Juízos Estéticos
Juízos estéticos são enunciados valorativos em que o sujeito, expressando um
sentimento de agrado ou desagrado face a um objeto, lhe atribui ou reconhece uma
dada propriedade estética. Ex.: Esta paisagem é muito bonita; aquele quadro é
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muito belo; aquela saia é muito elegante, etc.; o fado é, muitas vezes, uma canção
melancólica, etc.
Estética Filosófica
Estética filosófica é a disciplina filosófica que se ocupa do estudo dos
problemas referentes aos objetos estéticos e à relação que estabelecemos com eles,
formulando, entre outras, questões sobre a especificidade da experiência estética,
sobre a natureza da beleza e de outras propriedades estéticas, bem como sobre a
natureza dos juízos e dos valores estéticos.
De uma maneira geral, até finais do século XIX, nem os artistas nem o
público sentia grande dificuldade em distinguir o que era do que não era arte.
A partir dessa altura tudo começa a mudar, uma vez que, num contexto em
que o aparecimento da máquina fotográfica dispensa a arte da tarefa de
representar a realidade, passam a ser criadas obras sem as caraterísticas
tradicionalmente associadas à arte:
- Obras sem beleza;
- Sem representação;
- Sem o recurso a técnicas especializadas;
- Sem diferenças visíveis face aos objetos comuns.
Se bem que, como se verá com o estudo das diferentes teorias estéticas, não
haja consenso relativamente à matéria, há quem considere que para que um dado
objeto possa ser considerado obra de arte, é preciso que estejam reunidas
condições como as seguintes:
a) Ser produzido pelo homem (condição que exclui objetos naturais e produções
animais);
b) Ser fonte de prazer sensível (para quem o produz e para quem o contempla);
c) Apresentar uma forma estética satisfatória (de modo a conter algum indício
de harmonia);
d) Ser acessível a um público (para que possa ser contemplada e proporcionar
prazer estético);
e) Ser aberta (permitir interpretações diversas);
f) Ter algo de original e único (para que não seja confundível com qualquer outra
obra).
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Teorias Estéticas: Teorias Essencialistas e Teorias Não
Essencialistas
Para responder à pergunta “o que é uma obra de arte?”, têm sido
elaboradas diferentes teorias estéticas, que têm proposto diversas definições
explicitas do conceito de obra de arte, isto é, definições que indicam
simultaneamente as condições necessárias (caraterísticas comuns a todas as obras de
arte, mas não exclusivamente a elas. Ex., serem produzidas por artistas; serem
acessíveis a um público) e as condições suficientes (caraterísticas que todas as obras de
arte, mas só elas, possuem) que um objeto deve ter para ser considerado obra de
arte.
De uma maneira geral essas definições podem dividir-se em dois grandes
grupos: teorias essencialistas e teorias não essencialistas.
Teorias essencialistas são aquelas que defendem a existência de uma essência
da arte, isto é, de certas propriedades essenciais que são comuns a todas as obras
de arte e só nelas existem. Tais propriedades, intrínsecas às obras de arte, permitem
distinguir arte de todas as outras coisas que não são arte.
Para as teorias não essencialistas, face à dificuldade em encontrar uma
caraterística comum a todas as obras de arte, que as distinga dos objetos comuns que
não são arte, o estatuto de obra de arte não decorre de caraterísticas intrínsecas aos
objetos, mas de condições relativas ao contexto social em que estão inseridas e ao
modo como adquirem aquele estatuto, que é atribuído por pessoas ligadas ao
mundo da arte.
a) A teoria da arte como imitação, para a qual, uma obra só é obra de arte se
for produzida por um artista e imitar algo;
b) A teoria da arte como expressão, que defende que, uma obra só é obra de
arte se for produzida por um artista e expressar as suas emoções e
sentimentos;
c) A teoria formalista da arte, segundo a qual, uma obra só é obra de arte se
for produzida por um artista e possuir uma forma significante capaz de
provocar emoção estética em quem a contempla.
Como se verifica, para cada uma destas teorias, a arte tem uma função
determinada: representar a realidade, para a primeira, expressar sentimentos, a
segunda, e proporcionar satisfação estética, a terceira.
O modo melhor ou pior como estas funções forem desempenhadas constitui
o critério que permite distinguir a boa da má arte. Assim, para a teoria da arte
como imitação, uma obra será tanto melhor quanto mais fielmente retratar aquilo
que está a ser representado, o mesmo acontecendo com as duas outras teorias, de
acordo com o melhor ou pior cumprimento das respetivas funções.
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a) A Teoria institucional da arte, segundo a qual uma obra só é obra de arte se
alguém, em nome da instituição “mundo da arte”, lhe atribui o estatuto de
artefacto “candidato a apreciação”.
b) A teoria histórica da arte, para a qual uma obra só é obra de arte se alguém,
com direito de propriedade sobre ela, manifesta a intenção séria e não
passageira de que seja vista como o foram as obras de arte do passado.
Tanto para uma como para outra destas teorias, a arte pode ter funções muito
diversas, como, por exemplo, representar a realidade, expressar emoções, divertir,
proporcionar prazer, comunicar ideias, criticar a sociedade, transformar o mundo, etc.,
podendo até a mesma obra desempenhar diferentes funções, consoante o contexto
em que é produzida e apreciada ou utilizada. Por essa razão estas teorias são
meramente classificativas, uma vez que procuram apenas classificar corretamente
certos objetos como arte, distinguindo-os dos objetos comuns que não são arte, sem
qualquer preocupação de caráter valorativo, tendo em vista diferenciar a boa da má
arte.
Para esta teoria, a arte é imitação da realidade, isto é, uma obra só é obra de
arte se for produzida pelo homem e imitar algo, objetos físicos ou, em artes como
como o teatro, ações ou comportamentos humanos.
Uma obra de arte é tanto melhor quanto mais fielmente imita a realidade. A
obra perfeita seria, idealmente, aquela que de tão próxima da realidade se
confundisse com ela.
Esta teoria apresenta duas vantagens: oferece, um critério claro para
distinguir arte daquilo que não é arte e proporciona um critério de valoração das
obras de arte, considerando que uma obra de arte é tanto melhor quanto mais se
assemelhar ao objeto imitado.
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b) Existem artes que não são imitativas, como é o caso da música ou da
arquitetura;
c) A grande maioria das obras-primas da arte contemporânea,
especialmente na pintura abstrata, não são, nem os seus autores pretendem
que sejam imitação de alguma coisa;
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e) A mesma obra gera sentimentos diferentes em diferentes pessoas, pelo que
não é fácil saber qual corresponde ao que levou o artista a produzir a
obra, especialmente se este já tiver morrido ou se a obra for anónima.
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b) A existência de alguém, uma ou mais pessoas, que, agindo em nome de
uma certa instituição (o mundo da arte), atribui ao objeto o estatuto de
“candidato a apreciação”.
Assim, de acordo com Dickie e a teoria institucional da arte, obra de arte é “um
artefacto com um conjunto de aspetos que fez com que lhe fosse conferido o
estatuto de candidato à apreciação por parte de alguma pessoa ou pessoas, agindo
em nome de uma certa instituição social (o mundo da arte) ”.
A compreensão desta definição resulta facilitada se se tiverem presentes
aspetos como:
a) Subjacente ao conceito de “candidato a apreciação”, presente na definição de
obra de arte, está a distinção entre ser apreciável (no sentido de ser suscetível
de apreciação) e ser apreciado (em sentido qualitativamente positivo, como
quando se diz que se aprecia um quadro, porque é muito belo). Para que tenha
o estatuto de obra e arte, um artefacto tem de ser apreciável, podendo não
ser apreciado.
c) Uma vez que o estatuto de arte é atribuído por agentes ligados ao mundo da arte,
e com autoridade para falar em nome daquela instituição, esta teoria acentua a
importância da comunidade de conhecedores/peritos na definição e
ampliação daquilo que pode ser designado por arte.
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caraterística comum que, presente nas obras, ligue criações tão diversas como A
Fonte, de Marcel Duchamp, Isto não é um Cachimbo, de René Magritte, A Compressão,
de César Baldaccini, o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, a Arte Fratal,
de Julius Horsthuis A Mensagem, de Fernando Pessoa, a música dos Beatles ou o
minimalismo de Philip Glass.
Face a esta dificuldade, Levinson é de opinião que a essência da arte não está
em caraterísticas intrínsecas e visíveis das obras, mas no seu caráter histórico ou
retrospetivo.
Partindo deste princípio, Levinson considera que um objeto é obra de arte se
e só se é um objeto sobre o qual uma pessoa ou pessoas, possuindo direito de
propriedade, tem a intenção séria e não passageira de que este seja encarado como
uma obra de arte, isto é, seja visto como o foram as obras de arte anteriores.
Para o autor, portanto, toda a arte resulta da atividade de alguém que tem a
intenção de que a obra que cria seja apreciada como o foram as obras de arte do
passado. Trata-se de uma definição explícita de arte, uma vez que, sem qualquer
preocupação valorativa, no sentido de diferenciar a boa da má arte, apenas indica
as condições necessárias e suficientes para que algo seja arte, proporcionando-nos
um critério que permite classificar certos objetos como arte, distinguindo-os dos objetos
comuns que não são arte.
Deve notar-se que, tomadas separadamente, cada uma daquelas três
caraterísticas (direito de propriedade; intenção; historicidade) é condição
necessária para haver obra de arte. Porém, tomadas no seu conjunto, são condição
suficiente para que tal aconteça em qualquer circunstância possível.
A primeira condição necessária para que haja arte é a existência do direito de
propriedade. Significa isto, que o artista não pode transformar em obras de arte
objetos que lhe não pertençam ou em relação aos quais não esteja devidamente
autorizado pelos seus legítimos proprietários (esta condição justifica, por exemplo, a
condenação do grafiti, ilegal e selvagem, praticado sobre parede de monumentos e de
propriedades particulares). Desta forma, a teoria histórica reduz o limite daquilo que
pode ser considerado arte, afastando-se da imagem, tantas vezes caricatural, do
artista que cria arte pela simples nomeação como tal de um qualquer objeto que,
por essa razão, passaria a ser detentor desse estatuto.
A segunda condição para haver arte prende.se com a existência de uma
intenção persistente ou duradoura (e não de um capricho momentâneo) que
relaciona a arte do presente com a arte do passado. Esta intenção, dado que é um
estado psicológico, interior, do artista, pode não ser conhecida diretamente, mas
inferida, de forma indireta, a partir de indícios inerentes ao contexto de criação, ao
género a que pertence a obra, ou a aspetos concretos presentes na própria obra.
A terceira condição presente na definição de Levinson é a historicidade, de
acordo com a qual o artista pretende que a sua obra seja vista como o foram as
obras de arte do passado, seja como genericamente aquelas foram vistas, sem
referência a períodos, correntes ou obras de arte em concreto, seja como foi vista
certa obra ou classe de obras em particular, procurando, assim situá-la na linha de
uma determinada conceção estética, movimento artístico, corrente estilística (por
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exemplo, realismo, romantismo, impressionismo, expressionismo, formalismo,
cubismo, surrealismo, etc.). É com esta segunda intenção que são criadas as obras
mais convencionais, que se inserem numa dada tradição artística. Caso o artista não
queira ter em vista a história da arte ou desconheça essa mesma história, a
intenção poderá ser a de relacionar a nova obra com perspetivas que casualmente
já foram as das obras de arte do passado, uma vez que estas foram sempre vistas de
certa forma e a uma certa luz, tendo em atenção aspetos muito diversos como, no
caso da pintura, a cor, o detalhe, caraterísticas estilísticas, capacidade de
representação da realidade, efeitos expressivos, estrutura formal, objetivos
religiosos (relação ao divino), ideológicos, políticos, etc.
Caso o artista crie um objeto com a intenção de que ele seja visto à luz de
alguma destas perspetivas, ele terá, nesse caso, criado uma obra de arte.
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A teoria histórica não resolve o problema do estatuto das obras de arte
primordiais. Com efeito, se for verdade que para o ser, toda a obra de arte
tem de se relacionar com a história da arte, então as obras primordiais não
podem ser arte, uma vez que antes delas não há outras com que se possam
relacionar. Mas se essas primeiras obras não são arte, as que se lhe seguem
também não podem ser arte (consciente deste problema, Levinson admite que
o estatuto artístico das primeiras obras de arte seja obtido de forma diferente, por
um processo de estipulação).
Como acontece com a teoria institucional, também a teoria histórica deixa
por resolver a questão de saber o que muda no objeto aquando da sua
transformação em obra de arte. Pode dizer-se que passa a existir uma
relação entre o objeto e a história da arte, mas isso não explica o que é que
em si mesma uma obra de arte. No fundo, se a teoria explica como é criada
uma obra de arte (um objeto passa a ser arte quando alguém forma sobre ele
uma intenção que o relaciona com a história da arte), mas nada diz sobre a
questão ontológica, isto é, sobre a natureza do objeto após a sua
transformação em obra de arte pela intenção do artista.
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