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Antonio Castelnou

Introdução
 Denomina-se KITSCH o fenômeno cultural
contemporâneo que se caracteriza por um
mascaramento da informação estética, através
da falsificação de objetivos (distorção e
simplificação de obras de arte originais e
consagradas), visando torná-las acessíveis ao
grande público e, consequentemente, rentáveis.
 Embora faça parte do nosso cotidiano, o KITSCH
tem sua definição complexa, já que pode ser
considerado como uma “tradução” de um código
estético mais amplo para um mais reduzido e para
uma camada social maior (massificação).
 Pode-se conceituar a ATITUDE
KITSCH como uma deturpação
da linguagem oficial (formas
eruditas do repertório vigente
nas camadas superiores da
cultura) para se fazer contato
com um público mais amplo, o
que é conseguido através de
dois meios:

 Adaptando o produto original ao


pobre repertório dessa população e
vendendo-o como a “grande arte”;
 Fazendo referências vagas à
cultura erudita, envaidecendo o
consumidor ansioso por ser culto.

Vênus de Milo (Séc. II a.C.)


Musée du Louvre, Paris – França
Hermes com o
menino Dionísio
(c. 350 a.C.)
Praxíteles

Poseidon
National Archaeological Museum
Atenas – Grécia

ARTE ANTIGA
Catedral de Notre-Dame
(1163-1250, Paris França)

Grande Muralha da China


(c. 210 a.C.)
Gárgulas da Catedral de
Notre-Dame de Paris
Monalisa ou La Gioconda (1603/06)
Leonardo Da Vinci – Musée du Louvre
Paris, França
A Sombrinha (1875)
ARTE Claude Monet
IMPRESSIONISTA

O Beijo (1907/08)
Gustav Klimt
Êxtase de Sta. Teresa
(1647/52, Roma Itália)
Gianlorenzo Bernini

Plutão e Prosérpina
(1623, Roma, Itália)

ARTE
BARROCA
Os Girassóis (1888)
Vincent Van Gogh

No Terraço (1881)
Pierre Auguste Renoir
 Diferenciando-se da
verdadeira arte, que é
uma forma de conhecer a
realidade, o KITSCH é uma
pseudo-arte, disfarçando-a.
 Enquanto o artista
comunica mensagens
mediante um processo
criativo, que enriquece a
Tentação
informação sobre o real e de Santo
permite que cada pessoa Antonio
interprete-as à sua (1946)
maneira, participando; o
KITSCH não estimula idéias, Salvador
não inova nada ou promove Dali
qualquer indagação da
realidade.
Madonna
Sistina
(1513/14)
Rafael
Sanzio

 Baseado na filosofia do “meio-termo”, o KITSCH


reduz os significados da informação estética
(simplificação), voltando-se para a arte das
massas e opondo-se às vanguardas artísticas. Seu
“sentido gastronômico” ou de “doce vício” torna-o
uma arte digestiva e consumível por todos. Logo,
é uma trapaça na forma e não no conteúdo.
Surgimento
 As origens do termo
KITSCH datam por volta
de 1870, em Munique, na
Alemanha, quando se
utilizavam os vocábulos
verkitschen (algo como
“vender gato por lebre”,
isto é, algo de baixa
qualidade como se fosse
de boa) e kitschen (algo
como fazer móveis novos
a partir dos restos de
móveis antigos). David (1501)
Michelangelo
Persistência da Memória (1931)
Salvador Dali

 A partir de então, o
termo foi mudando
de sentido e, após a
Primeira Guerra
Mundial (1914/18),
já designava toda
produção industrial que
procurava reproduzir
ou imitar objetos
exclusivos (criados pelo
artista individual),
visando sua
comercialização e lucro.
Templo Grego
(Séc. V a.C.)

Taj Mahal
(1630/53,
Agra – Índia)
Schloss Neuschwanstein
(1869/92, Bavaria
Alemanha)
Palácio da Alvorada (1951/52, Brasília DF)
Oscar Niemeyer
 A discussão do kitsch nasceu na década de 1930
com as formulações dos críticos Theodor Adorno
(1903-69), Hermann Broch (1886-1951) e
Clement Greenberg (1909 -94), que o definiram
por oposição às pesquisas inovadoras da arte
moderna e da arte de vanguarda.
 Adorno localiza-o no seio da indústria cultural e
da produção de massas (“falsa consciência”).
Broch, por sua vez, coloca-o como oposto à arte
criativa por estar baseado em imitações e
convenções artificiais (“arte da cópia”). E
Greenberg define-o como pseudo-estilo das
sensações falsas e da obediência às regras
acadêmicas. Assim, o kitsch é definido como o
avesso da vanguarda.
Souveniers da
Noite estrelada (1889)
Vincent Van Gogh

 Atualmente, o KITSCH
consiste em uma forma
de entretenimento
fantasiado de arte, que
seria um modo de
simplificar a realidade e
torná-la mais fácil de
digerir, por interesses
econômicos (venda e
lucro), políticos
(manutenção do poder) e
sociais (diferenciação de
classes); ou ainda, por
desinformação cultural.

Pantufa Gadget
O Nascimento de Vênus (1485)
Sandro Botticelli – Galeria Uffizi, Florença

Bibelots

O Jardim das Delícias (1500)


Hieronymus Bosch – Museo del Prado
Souvenirs
Stonehege
(3000-1500 aC, Wiltshire UK)

Tour Eiffel
(1889, Paris França)
 Hoje o KITSCH sobrevive pela brecha criada pelo
industrialismo (“embriaguês do consumo”), na
qual surgem vários objetos vendidos como
utilidades, mas que são completamente inúteis
(gadgets = objetos sem função ou com funções
além da que precisam ter)

Gadgets
O FENÔMENO KITSCH

atingiu amplas esferas
da arte e comunicação,
alcançando a vida e
comportamento das massas,
independente do nível social
e econômico; e banalizando
conceitos estéticos.
 Não pode ser confundido
com mau gosto – em
linguagem chula, brega –
que é um conceito
essencialmente subjetivo,
relacionado com a moda,
o status social e a classe
econômica de quem julga.
Falcão

Imãs de
geladeira

Boneco-
Termômetro
Caneta e
Pantufas eróticas
Características do kitsch
 Dizer que um objeto, obra ou projeto é KITSCH
não significa atribuir-lhe um determinado estilo,
mas sim detectar certas intenções e recursos na
sua produção – nem sempre conscientes – , que
o caracterizam como uma deturpação ou mal
compreensão dos valores estéticos.
 Ele é produto da necessidade urgente da
burguesia adquirir a tradição cultural da
aristocracia, em especial a partir da Revolução
Industrial (1750-1830) e dos processos de
massificação e consumismo atuais. Daí suas
características mais marcantes: o exagero e
a opulência gratuitos, além da inadequação.
Bibelot
romântico

 Como principais propriedades


do KITSCH, podem ser citadas
as seguintes:
 Sentimentalismo:
atitude de valorização das
emoções em detrimento da
razão (exagero decorativo)
 Sensacionalismo: Roupa de
atitude de exagero da resposta passeio
emocional diante dos fatos
(morfologia confusa e
complicada, emaranhado visual)
 Hedonismo:
atitude de busca do máximo de
prazer com o mínimo de esforço
(acumulação de funções)
Capa-de-chuva
p/cachorro
Porta-retrato
“barroco”

Casas de cachorro
com estilo e proposta
Flores de plástico
Pinguins numa jarra

 Alienação:
atitude mental de desvio
ou negação de questões
fundamentais ou pertinentes
ao indivíduo (associações
medíocres e banais)
 Ascetismo:
atitude de desprezo do corpo
e das sensações corporais
(flores e frutos artificiais)
 Presunção:
atitude de aspiração ou
convencimento em relação
ao poder aquisitivo ou pessoal
(cópia de imagens, formas e
símbolos)
Jarra egípcia
 O FUNCIONALISMO consiste no maior inimigo do
Kitsch, pois ele combate todo objeto que não
concilia a estética com padrões funcionais. Do
mesmo modo, a POP ART desmascara o Kitsch,
conferindo-lhe um novo papel: o da denúncia
social, elevando-o à condição de arte maior.
POP
ART
L.H.O.O.Q. (1919)
(Elle a chaud au cul)
Marcel Duchamp
Vênus com gavetas
SURREALISMO (1938)
Telefone-lagosta ou
Telefone afrodisíaco (1936)

Dali
Museum
Guestroom
Mae West Room
(1974, Teatro-Museu Dali, (1980)
Gerona Espanha)
Salvador Dali (1904-89)
Casa-Museu
Portlligat
Fundação Gala
-Salvador Dali
(1980/2, Cadaqués,
Gerona
Espanha)

Torre Galateas Figueras


Museu-Teatro Dali
(1974/80, Figueras
Gerona, Espanha)
Salvador Dali
Face House
(1973, Kyoto, Japão)
Kazumasa
Yamashita Furniture
(1937-) (1964/66)
Allen Jones
(1937-)
PÓS-MODERNISMO

50’s
Marketing
(Los Angeles
Cal.)

Kansas City
Public Library
(2000, Missouri EUA)

Luxor Hotel & Casino


(1990/93, Las Vegas,
Nevada EUA)
Veldon Simpson
(1965-)
Erwin Wurm (1954-)
House Attack Instalation
Museum Ortner & Ortner
(2006, Viena Austria)

Chiat/Day Building
(1991, Los Angeles CA)
Frank Gehry
(1929-)

Hotel Unique
(2003, São Paulo SP)
Ruy Otake (1938-)
Estação Embratel Convention Center
& Shopping (1997/2004, Curitiba PR)
Poltrona
Favela
(2003)

Assentos
Sushi (2007)
Poltronas
Teddy Bear
Humberto (1953-) &
Fernando Campana (1961-)
Leitura Complementar
 APOSTILA – Capítulo 06.

 BERJONNEAU, G. Kitsch. Paris: Du Chene, 2001.


 DORFLES, G. Novos ritos, novos mitos. Lisboa:
Edições 70, Col. Arte & Comunicação, n. 6, 1985.

 HEIMENN, J. Kitchen kitsch. Köln: Taschen, Série


Icon, 2002.
 KIELWAGEN, J. W. Kitsch & design gráfico.
Joinville SC: Jefferson Wille Kielwagen, 2005.
 MOLES, A. O kitsch. 5a. ed. Trad. Sérgio Miceli.
São Paulo: Perspectiva, Col. Debates, n. 68, 2001.

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