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O problema da definição de arte

1. Esclarecer o problema da definição da obra de arte


Formulação do problema- O que é a arte? O que distingue a arte da não arte?
A resposta a este problema implica encontrar uma definição explícita de arte, ou seja,
estabelecer as condições necessárias e suficientes para que algo possa ser considerado
arte.

2. Distinguir as teorias essencialistas das teorias não essencialistas.


Teorias que respondem ao problema:
Teorias essencialistas: Definem a arte a partir da sua essência, ou seja, consideram que
existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e exclusivas delas. Como
tal, a definição que apresentam centra-se nas características internas/propriedades
intrínsecas dos objetos artísticos.
Teorias não essencialistas:Negam a ideia de que há uma essência de arte e consideram
que o que nos permite definir a arte não são características observáveis nos objetos, mas
sim o contexto social em que esses objetos estão inseridos e o modo como adquirem o
estatuto de arte. A definição que apresentam baseia-se em características
externas/extrínsecas aos objetos artísticos.

3. Compreender as principais teses das teorias essencialistas e, os argumentos e


objeções.

A TEORIA DA ARTE COMO REPRESENTAÇÃO/ TEORIA REPRESENTACIONISTA

Numa tentativa de melhorar a teoria da imitação, alguns filósofos consideram que


a arte, mais do que imitação, é representação.

Tese:
se uma coisa é arte, então representa algo.

Aspetos positivos:
O conceito de arte aplica-se a obras que a teoria da imitação exclui (se toda a
imitação é representação, nem toda a representação é imitação).

Objeções:
O que representa? A arte abstrata parece constituir um bom contraexemplo a esta teoria.
Existem obras de arte que não representam seja o que for. A representação como critério
de classificação do que é arte falha, pois há inúmeros objetos que representam algo e não
são arte.

TEORIA EXPRESSIVISTA:
Tese:
Uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e emoções do artista.
Origem:
A teoria tem origem no movimento artístico designado por Romantismo
(século XIX). Há vários defensores desta teoria, mas um dos mais conhecidos é Liev
Tolstói, romancista russo que viveu entre 1828-1910.

Ideias chave:
Segundo Tolstói, só há arte se houver expressão de emoções e sentimentos por parte do
artista e se este conseguir contagiar o público com as mesmas emoções e sentimentos que
presidiram à produção da obra de arte.
O grau de contágio é tanto maior quanto:
-maior for a individualidade do sentimento transmitido;
-a clareza com que é transmitido;
-a sinceridade do artista.

Collingwood (1889-1943), concorda com Tolstói acerca da função


da arte, que considera ser expressão de sentimentos, mas discorda quanto
à ideia de que a intenção do artista é comunicar sentimentos de modo a
que o público se sinta contagiado.
Para este autor, o que o artista faz é expressar sentimentos, que ele
próprio começa por nem sequer compreender, de modo a clarificá-los.

Aspetos positivos:
- São muitos os artistas que reconhecem a importância das emoções para
a criação artística.
- Oferece um critério objetivo de classificação, mais abrangente do que o
da teoria anterior (permite classificar como arte, obras que não imitam ou
reproduzem nada).
- Oferece um critério valorativo: uma obra é tanto melhor quanto melhor
conseguir exprimir os sentimentos do artista que a criou.

Objeções:
-Há obras que não exprimem qualquer emoção ou sentimento, portanto a definição que esta
teoria apresenta não permite classificar como arte todas as obras que são consideradas
como tal.
- O artista tem que sentir sempre o que a obra de arte exprime? O facto de o artista ter de
sentir sempre o que a obra de arte exprime é uma exigência injusta e irrealista, dado que
muitos artistas têm uma rotina de trabalho que é incompatível com esta tese.
- Nem sempre uma obra de arte se reduz aquilo que esteve na mente do artista no
momento da criação. Será que a qualidade de uma obra de arte depende apenas da
capacidade de gerar no público a emoção que o artista queria transmitir?

TEORIA FORMALISTA DA ARTE:


Tese:
Uma obra é arte se, e só se, tem uma forma significante.
Origem:
Teoria do século XX.
Principal defensor: Clive Bell (1881-1964), filósofo e crítico de arte inglês.
Segundo Clive Bell
- As verdadeiras obras de arte desencadeiam uma emoção estética no espetador, que
decorre de uma qualidade que tais obras possuem: a forma significante.
- A forma significante diz respeito à relação existente entre as partes do objeto artístico: a
harmonia dos sons, a combinação das cores / formas /linhas, a estrutura do romance, a
sequência das cenas, etc. A forma significante é particularmente visível nas obras de arte
visuais.
- Se aquilo que permite identificar um objeto artístico é a sua forma significante, então o
objetivo e/ou função com que a obra foi feita são irrelevantes para a apreciação da obra de
arte.
Aspetos positivos:
Ultrapassa alguns problemas das teorias anteriores, na medida em que independentemente
de imitar/reproduzir ou expressar sentimentos, os objetos são classificados como arte em
função de características formais. Assim sendo, permite considerar como arte, objetos que
as anteriores teorias excluíam.

Objeções:
Esta teoria parece apoiar-se num argumento circular: descobrimos a forma significante
numa obra de arte mediante a emoção estética que ela provoca. E a emoção estética é o
que sentimos na presença da forma significante.
- Esta teoria não pode ser refutada, porque uma das respostas de Bell ao facto de algumas
pessoas não sentirem emoção estética perante objetos classificados como artísticos é a de
que lhes faltaria sensibilidade estética.
- O conceito de forma significante é vago.
- Forma e conteúdo são inseparáveis: ignorar a relação dos aspetos formais com os
aspetos materiais (sentido e referência a algo) não nos permite perceber plenamente a obra
de arte, nem o prazer estético resulta exclusivamente de aspetos formais.

Teoria institucional da arte:


A teoria institucional da arte é uma teoria não essencialista.
Tese:
Uma obra é arte se, e só se, 1) é um artefacto e 2) alguém, em nome do mundo arte, lhe
conferiu o estatuto de candidato a apreciação.
Origem:
Teoria dos séculos XX / XXI.
Principal defensor: George Dickie
Segundo George Dickie
- Todas as obras de arte são artefactos, isto é, sofreram, em geral, uma manipulação por
parte de alguém. A simples exposição intencional de um qualquer objeto (uma pedra, um
vaso, um sinal de trânsito, etc.) numa galeria de arte é já um passo para que esse objeto
venha a ser considerado uma obra de arte.
- Todas as obras de arte possuem o estatuto de obras de arte porque este lhes é conferido
por pessoas que, estando ligadas ao mundo da arte, detêm autoridade suficiente para o
fazer. Essas pessoas, mediante uma “ação de batismo”, transformam os objetos e
artefactos em obras de arte, através de processos que vão desde a exibição, a
representação e a publicação dessas obras, até ao simples facto de lhes chamarem arte.

Objeções:
A definição é demasiado abrangente, correndo o risco de trivializar aquilo que se considera
arte e não permitir distinguir a boa da má arte.
- Como é que a atribuição de estatuto é feita? Se a atribuição de estatuto estiver vinculada a
determinadas razões, então se as razões fossem explicitadas iriam constituir uma teoria
sobre a arte diferente da teoria institucional. Se a concessão de estatuto for arbitrária não se
compreende por que razão a arte assume um papel tão importante para a humanidade.
- Apresenta uma definição circular. Os conceitos de «obra artística» e «mundo da arte» são
definidos com base um no outro. Uma obra artística é um artefacto a que o mundo da arte
conferiu estatuto; e o mundo da arte é um conjunto de pessoas que têm o poder de conferir
o estatuto de obra artística.
- Exclui os artistas que criam fora do circuito institucional.

Teoria histórica da arte


A teoria histórica da arte é uma teoria não essencialista.
Tese:
Uma obra é arte se, e só se, há, da parte do titular dessa obra, a intenção duradoura de que
ela seja encarada como as obras de arte preexistentes foram corretamente encaradas.
Origem:
Teoria dos séculos XX / XXI.
Principal defensor: Jerrold Levinson
Segundo Jerrold Levinson
As condições necessárias e suficientes para que algo seja considerado uma obra de arte
são:
- O direito de propriedade sobre o objeto – o objeto é nosso ou temos o direito de o usar
como tal.
- A intenção séria e duradoura, por parte do artista, de que o objeto seja visto ou
perspetivado como uma obra de arte, isto é, que seja visto como foram ou são vistas as
obras de arte do passado.
Assim, as obras de arte são marcadas pela historicidade, as práticas do presente têm uma
relação especial com as práticas do passado.

Objeções:
É discutível que o direito de propriedade seja uma condição necessária. Se admitirmos, por
exemplo, que um artista consagrado pintou um quadro, usando uma tela e tintas que não
pagou, mas que devia ter pago, será que isso justifica a afirmação de que não estamos
perante uma obra de arte?
- A condição relativa à intenção também pode não ser necessária.
Veja-se, por exemplo, o caso dos artistas que não tiveram a intenção de que as suas obras
fossem vistas como obras de arte, sendo que só após a sua morte elas foram publicadas e
consideradas como tal.
- Por outro lado, se admitirmos que o que faz de algo uma obra de arte é a sua relação com
a arte anterior, então levanta-se um problema ao considerar-se a primeira obra de arte a
surgir no mundo. Esta não pode ser arte, por não haver arte anterior.

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