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Contudo, nem todos os teóricos da arte consideram este tipo de abordagem muito promissor.
Para estes autores, dada a natureza dinâmica, criativa e inovadora do fenómeno artístico,
nunca conseguiremos estabelecer de forma segura um conjunto de propriedades intrínsecas
que todas as obras de arte, e apenas elas, possuem em comum. Mas isso não implica
necessariamente que não se pode encontrar qualquer tipo de definição de «obra de arte»,
apenas indica que em vez de nos focarmos nas propriedades intrínsecas dos objetos artísticos
devemos focar-nos nos seus aspetos relacionais, processuais e contextuais, isto e, nas relações
que estes estabelecem, nos processos por que passam e no contexto histórico e social que os
envolve. Uma vez que sustentam que não existe uma espécie de essência comum a todas as
obras de arte, as teorias que se dedicam a encontrar uma definição de arte nestes moldes
ficaram conhecidas como teorias não essencialistas da arte.
Teorias não essencialistas – teorias que defendem a impossibilidade de definir a arte a partir
de um conjunto de propriedades essenciais ou intrínsecas, apresentando definições que
assentam em propriedades extrínsecas e relacionais. TEORIA INSTITUCIONAL DA ARTE e
TEORIA HISTÓRICA DA ARTE /TEORIA HISTORICISTA.
A teoria da arte como imitação teve, entre os seus defensores, os filósofos Platão e Aristóteles.
Platão refere-se a tal problemática em vários dos seus diálogos, considerando que a imitação
é uma mera criação de imagens. Pintando, escrevendo, esculpindo, etc., o artista produz algo
que copia um determinado objeto, o qual, por sua vez, é uma aparência.
Com efeito, visto que a verdadeira essência do objeto se encontra, segundo Platão, no mundo
inteligível – o mundo das Ideias ou Formas –, sendo o objeto, situado no mundo sensível, uma
imitação da sua essência, então, ao imitar a natureza (reproduzindo os objetos), o artista está
a imitar uma imitação.
Esta maneira de encarar a arte levou Platão a ser bastante desfavorável em relação aos
artistas, como já referimos.
Aristóteles também vê na arte uma imitação. As artes poéticas, por exemplo, são modos
de imitação das ações humanas. Além disso, as artes distinguem-se entre si pelos meios
usados para imitar (por exemplo, a cor, o som e as palavras), pelos objetos que imitam (por
exemplo, pessoas ou coisas) e pelo modo de imitação desses objetos (por exemplo, de modo
narrativo ou dramático).
Não só os principais filósofos pensavam que a arte era imitação, como também os artistas
assumiam essa teoria de um modo implícito.
Assim, segundo esta conceção, o propósito da arte é imitar e reproduzir os objetos, as pessoas
e as ações tal como eles existem.
Numa tentativa de melhorar esta teoria, alguns filósofos consideram que a arte, mais do que
imitação, é representação. Ora, se toda a imitação é representação, nem toda a representação
é imitação. Deste modo, no âmbito da teoria representacionista, ou teoria da arte como
representação, o conceito de arte aplica-se a obras que a teoria da imitação exclui.
Mas a teoria da representação está igualmente sujeita a objeções. De facto, também aqui
existem contraexemplos: há diversas obras de arte que não são consideradas representações,
no âmbito da arquitetura, da música (sobretudo da música instrumental), da pintura, da
poesia, da fotografia, etc. Muitas vezes, o objetivo das obras é provocar determinadas
experiências visuais ou auditivas e não representar seja o que for.
Para o crítico de arte Clive Bell, a emoção estética desencadeada no espectador pelas
verdadeiras obras de arte decorre de uma qualidade que tais obras possuem: a forma
significante. É nesta ideia que assenta a teoria formalista da arte.
A referida qualidade, por sua vez, diz respeito à relação existente entre as partes, o que é
sobretudo notório nas artes visuais, embora se aplique a qualquer outro tipo de artes: a
harmonia dos sons, a combinação das cores, a estrutura do romance, a sequência das cenas,
etc.
Importa descobrir a qualidade ou característica comum a todos os objetos suscetíveis de
provocar a emoção estética. Segundo Bell, ou realmente há uma qualidade comum às obras
de arte, ou então não faz sentido falar em “obras de arte”.
A forma significante, em particular nas obras de arte visuais, acaba por ser uma combinação,
em certas relações, de linhas, formas e cores. Isto significa que aquilo que é representado e o
objetivo e/ou função com que a obra foi feita são irrelevantes para a apreciação da obra de
arte.
Em rigor, apesar do que já dissemos sobre ela, esta propriedade das obras de arte (a forma
significante) é indefinível. Ela pode, no entanto, ser reconhecida, de modo intuitivo, pelos
críticos mais sensíveis. Isso não será possível se os críticos forem insensíveis.
Segundo esta teoria, todas as verdadeiras obras de arte são, pois, dotadas de uma forma
significante, o que lhes confere um determinado estatuto.
Embora os defensores desta teoria argumentem que ela permite explicar que uns sejam
melhores críticos do que outros (pois intuem mais facilmente a forma significante), existem,
pelo menos, duas objeções que lhe podem ser dirigidas.
A teoria institucional da arte, defendida por autores como o filósofo contemporâneo George
Dickie, considera que existem dois aspetos comuns a todas as obras de arte. Tais aspetos são
os seguintes:
• Todas as obras de arte são artefactos, isto é, sofreram, em geral, uma manipulação por
parte de alguém. A simples exposição intencional de um qualquer objeto (uma pedra,
um vaso, um sinal de trânsito, uma garrafa, e por aí fora) numa galeria de arte é já um
passo para que esse objeto venha a ser considerado uma obra de arte.
• Todas as obras de arte possuem o estatuto de obras de arte porque este lhes é
conferido por pessoas que, estando ligadas à esfera artística, detêm autoridade
suficiente para o fazer. Essas pessoas, mediante uma ação de batismo, transformam
os objetos e artefactos em obras de arte, através de processos que vão desde a
exibição, a representação e a publicação dessas obras, até ao simples facto de lhes
chamarem arte.
Assim, ser um artefacto é uma condição necessária para que algo seja considerado obra de
arte, embora não suficiente (caso contrário, todo o artefacto seria obra de arte). Só
satisfazendo as condições de artefactualidade e de atribuição de estatuto é que algo pode ser
considerado obra de arte.
Mas afinal de que falamos quando falamos em artefacto?
Deste modo, um simples pedaço de madeira, ao ser colocado em exposição numa galeria,
pode tornar-se um artefacto, sem que tenha havido uma modificação de alguma matéria-
prima por parte do ser humano. É a dimensão institucional que lhe confere valor artístico.
Sendo uma conceção extremamente flexível em relação àquilo que pode ou não ser
considerado arte, a teoria institucional apresenta algumas virtudes, mas é também alvo de
críticas.
Tendo reconhecido algumas das imperfeições da sua teoria inicial, Dickie propôs uma
definição mais elaborada de arte, na qual relaciona os seguintes conceitos: (1) obra de arte,
(2) artista, (3) público, (4) mundo da arte e (5) sistema do mundo da arte.
(1) Uma obra de arte é um artefacto do tipo criado para ser apresentado a um público do
mundo da arte.
(2) Um artista é uma pessoa que participa conscientemente na produção de uma obra de arte.
(3) Um público é um conjunto de pessoas cujos membros têm suficiente preparação para
compreender um objeto que lhes é apresentado.
(4) O mundo da arte é a totalidade de todos os sistemas do mundo da arte.
(5) Um sistema do mundo da arte é um enquadramento para a apresentação de uma obra de
arte por um artista a um público do mundo da arte.
Estas definições acabam por não adiantar muito no tocante ao problema de saber o que é a
arte, mas ajudam-nos a perceber melhor os aspetos associados à teoria institucional da arte,
mostrando que a arte é inseparável de um contexto mais vasto – o mundo da arte – que
envolve correntes, sistemas, movimentos, expressões artísticas diversas, os negociantes de
arte, os artistas, os artefactos que estes produzem, assim como o público que os aprecia.
A teoria institucional chama-nos, assim, a atenção para o carácter decisivo do campo cultural
em que uma obra aparece no que diz respeito à avaliação que dela se faz. Com efeito, se o
artista é influenciado pela sua cultura e contribui igualmente para ela, então a avaliação da
obra de arte está dependente de critérios relacionados com a época histórica em que ela
surgiu e não de qualquer parâmetro intemporal e universal.
Aspetos a favor:
• É incontestável que muitas obras de arte imitam algo: paisagens, pessoas, objetos, etc.
• A teoria dá-nos um critério para classificr aquilo que pode ser considerado arte.
• Dá-nos, igualmente, um critério para valorar as obras de arte. As melhores obras de
arte serão aquelas que melhor imitarem um objeto.
Objeções:
• Se a imitação fosse o critério que separa arte de não arte, a arte ficaria reduzida a um
pequeno número de produções.
• Se o valor estético de uma obra dependesse do seu grau de aproximação à realidade,
o belo artístico seria sempre secundarizado em relação ao belo natural.
• Quanto ao critério de classificação, a teoria falha,pois há obras que são
reconhecidamente arte e não são tidas como tal.
• Há obras de arte que não imitam coisa alguma. Por exemplo a música instrumental.
Neste sentido o seu critério valorativo falha.
• Como saber se uma obra imita ou não realmente o seu objeto? E como saber se acede
realidade original que está na raiz da obra, para se conseguir determinar a fidelidade
da cópia?
Aspetos a favor:
• Pode incluir todo o tipo de obras de arte.
• Tudo o que provoque emoção estética é arte. Esta é a condição necessária e suficiente
para atribuir a designação de arte a um objeto.
Objeções:
• há quem não sinta nenhuma emoção perante obras que são consideradas arte.
• Centra a sua teoria nas artes visuais e extrapola as suas conclusões para todas as
formas de arte.
• Tem dificuldade em explicar de forma convincente o critério de forma significante.
• É uma teoria circular, já que define a forma significante em função da emoção estética
e esta é definida como resultado da forma significante.
• É uma teoria elitista, pois, segundo Bell, nem todos conseguem sentir a emoção
estética que uma obra de arte transmite. Acredita que apenas um pequeno número
de afortunados a poderá sentir.
Objeções:
• Esta teoria não permite distinguir a boa da má arte: dizer que algo é arte é apenas
classificá-lo como tal, sem avançar qualquer apreciação valorativa a respeito do facto
de essa obra ser boa, má ou indiferente.
• Trata-se de uma teoria circular, uma vez que arte é só aquilo que um grupo restrito
decide considerar como tal. Assim, poderíamos ser levados a dizer, por exemplo:
Guernica é uma obra de arte porque há pessoas que pensam desse modo, e essas
pessoas pensam desse modo porque esse quadro é uma obra de arte.
• Ainda que se admita que as pessoas ligadas ao mundo da arte têm o dom de converter
qualquer artefacto numa obra de arte, nesse caso deve haver razões para escolherem
uns artefactos e não outros. Se há razões, então são essas a fixar o que é arte e o que
o não é, tornando-se inútil a teoria institucional. Se não há razões, então a arte pode
ser arbitrária, não possuindo propriamente interesse.
• Não reconhecimento daqueles que criam as suas obras fora dos circuitos institucionais
como artistas.
Objeções:
• É discutível que a condição do direito de propriedade seja uma condição necessária, se
admitirmos, por exemplo, que um artista consagrado pintou um quadro usando uma tela e
tintas que não pagou mas devia ter pagado. Será que não estamos perante uma obra de arte?
• A condição relativa à intenção também pode não ser necessária. Basta pensarmos, por
exemplo, nos artistas que não tiveram a intenção de que as suas obras fossem vistas como
obras de arte, sendo que só após a sua morte elas foram publicadas e consideradas como tal.
• Se admitirmos que o que faz de algo uma obra de arte é a sua relação com a arte anterior,
então levanta-se um problema ao considerar-se a primeira obra de arte a surgir no mundo.
Esta não pode ser arte, por não haver arte anterior. Nesse caso, as obras seguintes também
não o podem ser. Embora Levinson estivesse ciente deste problema, não o solucionou de
modo convincente.
• Esta teoria não responde à questão de saber o que muda no objeto propriamente dito quando
este se transforma em obra de arte, deixando por explicar o que uma obra de arte é em si
mesma.