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Enuncie/formule o problema da definição da arte

O problema de definição da arte é dos mais complexos e controversos da filosofia da arte. Este consiste na
dificuldade em encontrar uma definição precisa e universalmente aceite do que é arte. Esta questão torna-se
evidente quando objetos com uma forma indistinguível das suas contrapartes mundanas são, por vezes,
exibidos, apreciados e comercializados como sendo obras de arte, como o urinol de Marcel Duchamp, por
exemplo. É importante sabermos distinguir as obras de arte dos objetos comuns do dia a dia pois a forma
adequada de nos comportarmos perante uns não se pode confundir com a forma como nos devemos
comportar perante os outros. Perante esta adversidade, também se questiona se existem características
comuns a todas as obras de arte. Há quem pense que não por achar que a arte se trata de um conceito aberto,
ou seja, que se pode sempre aplicar a um novo caso não implicando que este tenha de partilhar uma
característica com todos os seus antecessores. Por outro lado, há filósofos que defendem que há, de facto,
características comuns a todos as obras de arte embora estes divirjam quanto à origem dessa característica:
as teorias essencialistas da arte argumentam que essa propriedade comum a todas as obras de arte é uma
característica intrínseca inerente ao próprio artefacto; já as teorias não-essencialistas da arte advogam que a
propriedade comum a todas as obras de arte está relacionada com os aspetos extrínsecos da obra de arte, por
exemplo o contexto histórico e social na qual esta se insere e os processos por que passa.

Explique a teoria representacionista da arte (e a sua crítica)


A teoria representacionista da arte é uma das teorias essencialistas da arte, ou seja, defende que há uma
característica comum a todas as obras de arte e que essa propriedade é intrínseca, inerente ao próprio
artefacto. Esta teoria é das mais antigas da história e foi desenvolvida como Platão e Aristóteles que
concluíram que aquilo que havia de comum a todas as obras de arte era o facto de todas corresponderem a
uma imitação da realidade. Este argumento é indutivo, isto é, baseia- se num determinado nº de casos
observados e extrai uma conclusão acerca dos casos ainda não observados. De acordo com esta teoria algo é
arte se e só se for uma imitação (teoria mimética da arte). Desta forma, a imitação é algo necessário mas não
suficiente para que algo possa ser considerado arte. Esta definição também tem em conta o sentido
valorativo da arte ao enunciar que uma obra de arte será tanto melhor quanto mais semelhanças houver entre
a obra e aquilo que é retratado, ou seja, o seu valor é medido pela sua fidelidade à realidade. No entanto, esta
é muito criticado por ser demasiado restritiva pois há contraexemplos óbvios como a pintura abstrata que
nada imita. Então, esta vai adotar um sentido mais abrangente: a teoria representacionista da arte que
defende que algo é arte e só se é uma representação. Apesar de esta ser mais lata não está isenta de objeções
pois ainda exclui a arte decorativa, arquitetura e algumas formas de cinema, por exemplo, que não têm
qualquer conteúdo representativo.

Explique a teoria expressivista da arte (e as suas objeções)


A teoria expressivista da arte, defendida principalmente por Robin Collingwood é uma abordagem que
entende a arte como uma expressão das emoções e sentimentos humanos. Segundo esta teoria algo é uma
obra de arte se e só se for a expressão imaginativa de emoções. De acordo com Collingwood, se a arte
tivesse como objetivo encontrar os meios adequados para estimular no auditório certas emoções específicas,
esta seria um mero ofício e os defensores desta teoria defendem que a arte é muito mais que isso. O artista
começa por sentir uma agitação emocional, emoções que este possui mas que não compreende na totalidade,
e recorre à expressão artística para a clarificar e explorar de forma consciente e deliberada e para
compreender os seus sentimentos. Esta abordagem advoga que os verdadeiros artistas só ganham
consciência daquilo que estão a expressar durante esse processo de expressão e ainda dizem que a
componente de exploração pessoal e descoberta são a essência da arte.
As objeções à teoria expressivista da arte prendem se com o facto de esta ser demasiado inclusiva, pois
segundo esta linha de pensamento, a psicoterapia é arte uma vez que também consiste na expressão de
emoções, com o facto de esta ser demasiado restrita pois exclui do conceito de arte formas de arte como a
arte conceptual que não tem como objetivo expressar emoções e com o facto de ficar dependente das
intenções do artista e não sabermos quais eram (incorre na “falácia intencional”.

Explique a teoria formalista da arte e as suas críticas


A teoria formalista da arte (ou teoria da arte como forma significante) é uma abordagem que defende que
algo é arte e só se tem forma significante. A forma significante é conjunto de linhas, cores e formas e o
modo como estas estão organizadas. Segundo Clive Bell, principal defensor desta teoria, a forma
significante desperta no público um tipo específico de emoção chamada “emoção estética”. De acordo com
esta teoria, uma obra de arte é valorizada, principalmente, pelo seu valor estético, pela sua beleza formal e
pelo seu impacto visual, isto é, enfatiza a experiência sensorial e estética como elementos centrais na
apreciação da arte. Bell pressupõe que existe um tipo particular de emoção que todas as pessoas sentem
quando estão perante obras de arte e que a origem dessa emoção é a característica distintiva da arte, aquela
propriedade que todas as obras de arte, e só elas têm em comum. Enquanto quer a teoria representacionista
quer a teoria expressivista tinham em conta elementos extrínsecos às obras de arte como a realidade exterior
representada e a experiência interior do artista, respetivamente, a teoria formalista da arte foca-se
exclusivamente na obra e nas suas propriedades formais.
As críticas a esta abordagem defendem que: esta assenta num falso dilema pois diz que tem de haver uma
propriedade comum a todas as obras de arte ou quando falamos de arte não estamos a fazer sentido mas a
arte pode tratar-se de um conceito aberto. Deste modo, pode fazer sentido falar de arte sem que haja uma
característica comum a todos os artefactos; a argumentação de Bell é viciosamente circular pois define como
forma significante o conjunto de linhas, cores e formas que causam emoção estética e define como emoção
estética o que sentimos quando estamos perante essas linhas, cores e formas; Há obras de arte com formas
de objetos comuns, ou seja, se arte apenas se focar nas propriedades formais, não poderia haver obras de arte
com as mesmas propriedades que objetos comuns e implicaria que falsificações podem ser arte, o que seria
totalmente implausível; O conteúdo pode ser relevante pois em muitas obras o que há de apelativo é o modo
inteligente e cativante como dão corpo a determinados conteúdos- o conteúdo e a forma são muitas vezes,
inseparáveis.

Explique a teoria institucional da arte e as suas críticas


A teoria institucional da arte é uma resposta não-essencialista ao problema da definição da arte. Isto significa
que os defensores desta teoria como George Dickie, acreditam que há uma propriedade comum a todas as
obras de arte e que essa propriedade é extrínseca à obra de arte, ou seja, que depende dos seus aspetos
processuais e contextuais como por exemplo, contexto histórico e social que a envolve e os processos por
que passa. De acordo com esta perspetiva algo é uma obra de arte se e só se for um artefacto com um
conjunto de características ao qual foi atribuído o estatuto de candidato à apreciação por uma ou várias
pessoas que atuam em nome de determinada instituição chamada “mundo da arte”.
O mundo da arte é uma instituição social informal, isto é, não tem papéis ou estatutos bem definidos pois
qualquer tipo de formalismo seria uma barreira à frescura e criatividade características do mundo da arte.
Basta que um dos seus membros atue como representante dessa instituição e atribua o estatuto de candidato
à apreciação a um determinado artefacto- sentido classificativo. No sentido valorativo uma obra de arte é
boa quando chega efetivamente a ser apreciada pelo mundo da arte.
Algumas das críticas a esta visão da arte são: que é viciosamente circular pois sustenta que o estatuto de
obra de arte é atribuído por representantes do mundo da arte e que o mundo da arte é o conjunto daqueles
que têm o poder de fazer essas atribuições; torna a definição de arte inútil pois permite que tudo seja arte
logo não temos boas razões para nos preocuparmos com a distinção entre arte e não-arte; impossibilita a
existência de arte primitiva ou solitária pois não há um fruidor, alguém que exponha a obra ao mundo da
arte, isto significa que é possível que exista arte sem que haja alguém a declará-lo, podem haver obras de
arte à margem do contexto social do mundo da arte.

Explique a teoria histórica da arte e as suas críticas/objeções


Esta teoria defende que algo é uma obra de arte se e só se, um dos seus proprietários tem a intenção séria de
que isso seja encarado como obra de arte, isto é, que seja encarado da mesma forma como foram encaradas
obras de arte anteriores. É preciso ter precedentes históricos; O conteúdo do conceito de arte corresponde
àquilo que a arte tem sido; A arte é aquilo que a tradição dita; tem de haver algum tipo de conexão com
obras de arte anteriores. Levinson advoga que há alguns requisitos para que algo seja uma obra de arte: a
inetnção tem de ser séria, não pode ser momentânea ou passageira, brincadeira ou meramente ilustrativa e o
artista tem de ter direitos de propriedade sobre o objeto em questão. As objeções a esta teoria prendem- se
com o facto de esta não explicar como surgiu a primeira obra de arte e por que razão ela é considerada arte
tornando-se impossível saber a que bons precedentes apelar. Também se diz que é demasiado inclusiva pois
alguém pode ter uma intenção séria de que uma falsificação seja corretamente encarada da mesma maneira
que foram corretamente encaradas as anteriores obras de arte. É demasiado restrita pois os grafitters não têm
propriedade sobre o material no qual expõem as suas obras de arte e esta é considerada arte.

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