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Introdução a Estética

A palavra estética deriva do grego “aisthesis”, significando faculdade de sentir


ou compreensão pelos sentidos, ou ainda percepção totalizante.

Neste sentido, a estética é o ramo da filosofia que se ocupa da interpretação


simbólica do mundo, simultaneamente é uma ciência autônoma que tem por
objeto o juízo de apreciação que distingue o belo e o feio.

No entanto, a área é ainda mais ampla, pois possui subdivisões, como a


estética teórica, a qual procura características comuns na percepção do objeto,
o que o torna, por exemplo, universalmente agradável.

A estética estuda também a arte, estabelecendo uma critica a estrutura e


construção do objeto, dentro do âmbito da estética prática ou particular.

Pensando assim, podemos afirmar que a estética discuti o gosto, um conceito


ligado ao julgamento dos objetos pela sensibilidade, conhecimento e
reconhecimento.

Concepções categorizadas pelo senso comum como preferência, mas que


depende de valores, contextos, momentos históricos; estando subordinada
igualmente à política e ideologia.

O gosto, por sua vez, remete a questão da definição de belo, uma discussão
filosófica que se arrasta desde a antiguidade
A versão portuguesa da Introdução à Estética de George Dickie,
originalmente publicada em 1997, tem muitos méritos e um defeito importante.
O seu autor, professor emérito da Universidade de Illinois, é uma das
referências incontornáveis da Estética praticada pelos filósofos analíticos, nas
últimas três décadas, a par de nomes como Nelson Goodman, Arthur Danto e
Maurice Mandelbaum.
Deve-se a ele a mais notória defesa da teoria institucional da arte, ou seja,
da tese segundo a qual é arte o que assim for reconhecido pela instituição
mundo da arte. Mas, além de representar um olhar que surge de dentro da
investigação contemporânea no domínio, Dickie revela-se, neste livro, um
proficiente divulgador, luminoso, sucinto e rigoroso. Aliás, a propósito do seu
rigor, não é possível deixar passar em claro o enorme esquecimento da edição
portuguesa, em todos os outros aspectos impecável, ao permitir que caísse o
subtítulo da edição original (“An analitic approach”), tanto mais quanto é o
próprio autor, no prefácio da obra, que faz questão de justificar a sua decisão
de introduzir o subtítulo com estas palavras: “Este título mais restrito descreve
com maior rigor o conteúdo deste livro em relação à presente situação da
estética”.

É pena que a edição portuguesa não tenha atendido a esta preocupação


explícita do autor. É que de outro modo seria bizarro, no contexto de uma
apresentação das teorias da arte e da estética do século XX, a inexistência de
quaisquer referências a Merleau-Ponty, Walter Benjamin, Giorgio Agamben,
Mario Perniola, já para não falar de escola formalista russa e de toda uma série
de outros movimentos que, para todos os efeitos, tiveram enorme repercussão
na estética contemporânea, na teoria da arte e, não menos importante, na
própria criação artística. Será um pormenor, mas é um pormenor a que George
Dickie não se mostrou insensível e que não faz justiça à muito boa tradução de
Vítor Guerreiro, ao cuidado posto no índice remissivo e à entrega da revisão
científica a Desidério Murcho. Fica o reparo. Mas qual é, então, para George
Dickie, o conteúdo teórico da estética analítica? Ele mesmo clarifica, de forma
explícita, o que está em jogo: “O tema da estética analítica do século XX será
aqui apresentado e dividido em três áreas: 1) a filosofia do estético, que no
século XIX substituiu a filosofia da beleza, 2) a filosofia da arte e 3) a filosofia
da crítica ou metacrítica”. Destas três “áreas”, a terceira é a mais recente,
tendo sido, logo na sua origem, muito influenciada pela filosofia analítica,
enquanto análise da linguagem e dos conceitos empregues pelo discurso
crítico.
Condensando os méritos deste livro num só, merece destaque o
excepcional talento com que Dickie progride de uma breve introdução histórica
(com realce para o século XVIII) para a pormenorização das principais opções
que caracterizaram a filosofia da arte de pendor analítico no século XX e que
ainda hoje são temas capitais de debate entre especialistas. Obtém-se assim
uma perspectiva ampla, que do sobrevoo inicial por tendências históricas (por
exemplo, a tendência que foi da atenção ao belo à atenção ao gosto e ao
sublime e, por fim, ao estético) vai dando lugar a uma familiarização com
tópicos de discussão teórica actuais em cada uma das três áreas da estética
analítica. Por esta razão, este livro não oferece apenas uma valiosa introdução
no sentido de uma desempoeirada divulgação do que seja a filosofia analítica.
Também introduz o leitor às questões em aberto, atualmente em debate,
convite, pois, ao envolvimento na discussão. As vantagens pedagógicas de
uma obra assim são irrecusáveis.

Sob esta perspectiva, ao mesmo tempo informativa e questionante, Dickie


apresenta e discute diversos problemas de estética contemporânea. Por
exemplo, o problema de saber se a intenção do autor de uma obra de arte, seja
ela de que espécie for, tem, ou não, relevância para a crítica; designadamente,
se precisamos de conhecer a intenção do autor para compreender a sua obra e
se ao avaliá-la está, ou não, em causa avaliar tal intenção. Ou, também, os
problemas em torno das condições necessárias e suficientes para que um
artefacto seja reconhecido como uma obra de arte ou, pelo menos, para que se
possa responder à pergunta “quando é arte?”, (como propôs Nelson
Goodman), ou ainda, mais basicamente, interrogando que espécie de conceito
é exemplificado pelo conceito de obra de arte e se é sequer um conceito
definível (Morris Weitz).

Por outro lado, diferente da pergunta “por que é arte?” é a pergunta “por
que é boa arte?”, cujas respostas podem ser agregadas em diferentes teorias
da avaliação, consoante o tipo de razões que os filósofos da crítica defendam
estarem na base dos juízos valorativos da crítica. Estes são alguns exemplos
dos problemas que a Estética analítica explora e que George Dickie aflora
neste livro com indiscutível mestria.
O desenvolvimento da Estética.

Não é possível falar em estética antes do século VI a.C, uma vez que, nas
sociedades tribais, embora houvesse manifestações artísticas e parâmetros
apara definir o belo, não existia uma preocupação em discutir de forma
sistematizada as chamadas questões estéticas.

Na pré-história, antes da invenção da escrita, os objetos que poderíamos


classificar como dentro da amplitude da estética eram produzidos com uma
função puramente pragmática, tentando reproduzir a realidade, referenciando a
transmissão do conhecimento e, ao mesmo tempo, significando uma visão
particular.

É quando esta representação da realidade assumiu um significado religioso,


espiritual, que os objetos estéticos transcenderam ao mitológico, misturando
razão e tentativas de explicação do mundo através do simbólico e não
concreto.

No mesmo momento em que a passagem do mítico para o racional foi iniciada


pela filosofia, o teatro grego conduziu a estética para a racionalidade, a
despeito do termo estética ainda nem existir.

No século VI a.C, a tragédia começou a retratar a saga dos heróis, discutindo


os mitos, colocando em primeiro plano a questão envolta do que é a arte e de
sua relação com o real, fomentando discussões estéticas.

Seguindo esta tendência, os pré-socráticos iniciaram a sistematização das


discussões estéticas, estabelecendo um questionamento de ordem lógica e
especulativa, investigando, por exemplo, a natureza do belo e a definição de
arte.
Para Heráclito; dentro da concepção de fluxo constante, onde nada persiste,
transformando-se; o belo estaria na harmonia, a qual é alcançada através dos
opostos.

O filosofo afirma que “o contrário é convergente e dos divergentes nasce


à harmonia”.

Enquanto para Demócrito, criador do atomismo, a arte se origina da tendência


humana de imitar a natureza, ou seja, é pura “mimesis”, palavra que me grego
significa representação ou imitação.

Um conceito retomado por Platão, para quem a arte, sendo mimesis do


mundo sensível, visto o inteligível ser o real, não passa de cópia da cópia.

Portanto, a arte seria desprovida de valor, menos digna de figurar como


problema do que a ética ou a metafísica, pois representaria uma ilusão.

Visão oposta a de Aristóteles, que trata da estética na obra Poética, onde a


arte é definida como “poésis”, palavra que pode ser traduzida do grego como
disposição para produzir.

Segundo Aristóteles, embora a arte seja mimesis, imitação do que é


possível por probabilidade, ela vai além da imitação, cria o que a natureza não
foi capaz de criar.

Neste sentido, determinadas artes, como a tragédia, possuem uma finalidade


elevada: a “catarse”, a purificação dos excessos emocionais, instaurando a
harmonia.

A catarse; termo que em grego significa purificação, evacuação ou


purgação; corresponderia a uma descarga emocional provocada pela mimesis,
libertando o homem de substâncias estranhas à sua essência racional,
purificando esta essência dos elementos que corrompem a racionalidade, tal
como o sentimento de medo ou piedade.

Ao viver através do outro, assistindo uma representação teatral, o homem


viveria sentimentos nocivos a razão, aprendendo a lidar com eles, fazendo uma
catarse, expulsando-os de seu ser.
No período romano, obviamente, a valorização da arte da retórica
conduziu a inúmeras discussões estéticas, com implicações que explicam o
surgimento da palavra latina arte.

Nesta época passou a existir uma grande valorização da poesia, além


de um resgate de concepções gregas ligadas à arquitetura e escultura,
compondo um padrão de enaltecimento do belo como reafirmação da
dominação política da Roma sobre o mundo dito civilizado.

A discussão fomentada por esta tendência foi colocada de lado na Idade


Média, quando a visão platônica da arte foi absorvida pela Igreja Católica.

Porém, a questão do belo ganhou uma concepção religiosa, revelada


pelo simbolismo da atribuição da beleza divina, suprema, a Deus.

Em outras palavras, o belo passou a ser aquilo que fosse capaz de aproximar
de Deus, falar ou significar à espiritualidade.

A arte passou a servir a esta concepção enaltecendo o culto a Deus


através da perfeição das proporções e medidas, da busca pela luminosidade,
da solidez expressando o eterno.

É a época das catedrais e do estilo gótico, carregado de luz e cores, revelando


um simbolismo espiritual.

As discussões estéticas, por isto mesmo, ficaram mescladas à metafísica,


servindo à exegese, decifração dos textos sagrados.

A questão central passa a ser como representar entre os homens a beleza


divina dos céus e de Deus.

Uma visão que só começou a mudar com o Renascimento, no século XIV,


quando o progresso da ciência conduziu ao humanismo, deslocando o centro
estético de Deus para o homem, marcado pelo princípio de resgate dos valores
da antiguidade e a tentativa de alcançar a perfeição ao imitar a natureza por
meio da arte.
Este princípio fez ressurgir a discussão sobre o belo, considerado fruto
da harmonia numérica entre o todo e as partes e com a natureza.

Uma tendência que ganhou prosseguimento no século XVI, influenciada pelo


racionalismo cartesiano, inaugurando um novo período.

O classicismo adotou critérios da razão para discutir a estética, ainda chamada


de poética, momento em que os elementos irracionais presentes nas artes
começaram a ser questionados como parte da separação entre fé e ciência.

A palavra estética só surgiu no século XVIII, foi empregada pela primeira vez
em 1750 por Alexander Baumgarten, como sinônimo do estudo da arte e do
belo, construída a partir da palavra grega “aisthesis”.

O alemão Baumgarten foi aluno de Christian Wolff, o sistematizador da filosofia


de Leibniz, sendo influenciado pela idéia de que existiriam três faculdades da
alma: razão, vontade e sentidos.

Embora a discussão estética existisse desde a antiguidade, nomeada como


poética, somente neste momento surgiu como ramo especifico da filosofia.

Antes a estética estava dentro da metafísica, da ética, da moral, da política e


da lógica; a partir do século XVIII, passou a estudar os objetos da faculdade de
sentir, enquanto a razão ficou restrita a lógica e a vontade circunscrita a ética.

Portanto, a estética se constituiu como parte especifica da filosofia e,


gradualmente, tornou-se uma ciência autônoma e independente.

A estética como ciência.

Através da conceituação de Baumgarten, a estética foi se constituindo como


ciência, tendo por objeto a contemplação da beleza, efetuada plenamente na
criação de obras de arte.

No entanto, Baumgarten considera a estética como gnosiologia inferior,


composta por imagens confusas em comparação a gnosiologia superior,
circunscrita a lógica.
Foi Kant que notou que a estética vai além da faculdade de julgar ou sentir,
possibilitando um juízo reflexivo, levando o homem a repensar conceitos
através da transformação de objetos.

Portanto, as obras de arte, além de estarem voltados para o prazer,


questionam o mundo e propõem ao observador um repensar a si mesmo e tudo
que o cerca.

Embora não aparente, o juízo estético reflete sobre tempo e espaço,


adentrando a capacidade criativa e o desenvolvimento matemático contido no
domínio da técnica, repleta de relações de quantidade e proporção.

Conceito complementado pelas idéias do holandês Baruch Espinosa, por meio


da transposição de seu pensamento por Goethe, segundo o qual a arte imita a
natureza, mas também cria o novo.

Neste sentido, a estética pode ser definida como ciência, pois sistematiza o
conhecimento criado a partir do entendimento da realidade contida na arte e
em discussões conceituais inerentes ao juízo dos sentidos.

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