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Resenha de parte do livro "Teorias da Arte", de Anne Cauquelin

A filósofa Anne Cauquelin abre uma discussão sobre o termo “Teorias da arte”,
titulo de seu livro que, diga-se de passagem, é bem interessante. Na introdução ela trata
do significado do termo no singular e no plural, definindo-o no singular como uma junção
das análises de diversas pessoas e no plural como uma classificação das diferentes artes,
agrupando-as de acordo com algumas semelhanças, sejam de estilo, ideologia, época,
localização ou outras. Faz ainda uma reflexão sobre a necessidade e possibilidade de
haver uma Teoria para a Arte : “trata-se de teorias científicas?”, “A arte é ou não
compatível com um tratamento científico?”, “Há necessidade de saber alguma coisa sobre
essas teorias ou é melhor ignorá-las para nos dedicarmos ao deleite, ao prazer que a
teorização irá colocar distância?”
O significado da palavra Teoria é bem esclarecido no texto, definida como uma
procissão organizada que visa a um objeto que ela constrói ou sustenta e que mesmo não
sendo necessariamente lideres, tem uma ação determinante sobre o objeto visado. É a
partir desta definição que o termo Teoria(s) da arte passa a ter sua significação mais
compreendida.
Um outro ponto que Anne trás para a discussão é a Estética, proposta inicialmente
no séc. XVIII para abarcar diferentes tarefas que trabalhassem com a noção do belo
através de uma tentativa de junção sobre a mesma marca de discursos que tratam mais ou
menos do mesmo objeto. A Estética, tratada por Anne, é responsável por designar a área
de significação que se desenvolve em torno da arte e proporciona a compreensão de coisas
diversas quanto ao seu gênero, papel e sentido, mas ainda tem um uso muito confuso. É
dividida em adjetiva e substantiva onde a primeira – adjetiva - é abstrata e subjetiva, são
as teorias, que trazem o conforto por virem de uma convenção social, uma beleza comum
que o proporcionam, compartilhada por todos; já a segunda – substantiva – é a estética de
um grupo que se define por características semelhantes, como a estética barroca,
romântica e renascentista, por exemplo.
De acordo com o terceiro tópico do primeiro capítulo, o livro se empenhará em
definir a Teoria ou o Teórico da Arte como atividade que constrói, transforma ou modela
o campo da arte. “Se em geral a relação da teoria com a prática justifica sua existência, é
justo essa relação que, em um domínio como a arte, enfatiza o valor de uma teoria”.
Quanto à ação fundadora da discussão, a Filosofia, Anne ressalta que foi Platão
quem trouxe a “semeou os grãos da teoria” ao mencionar a arte apenas episodicamente,
no encontro da arte e seu conceito – o belo – formando um horizonte Teórico. Outra ação
de fundação tratada no texto é o estabelecimento de regras que uma vez seguidas dão
fruto à obra de arte ou que ainda proporcionam um julgamento adequado a respeito da
arte e do belo, gênero denominado por Teorias Injuntivas e ilustrado por Aristóteles,
Kant e Adorno.
E nada disso seria completo e compreensível se não fosse pelo acompanhamento,
sem ele as fundações estariam fadadas ao esquecimento, sem a continuidade, sem os
comentários de autores. O acompanhamento é responsável por elucidar o processo
artístico ou as próprias obras, a edificar um sistema de leitura, de decifração através de
instrumentos conceituais como a lingüística, a semiologia e a história. Denominado de
Teorizações Secundárias que modelam a própria prática, assim os artistas se dedicam à
uma prática teorizada, nutrida de comentários oriundos de todos esses horizontes. Da
mesma maneira que os artistas, o público não chega ingenuamente até a obra, ele também
é submetido a pré-noções, a idéia do que é e deve ser a arte. Essa opinião, tanto dos que
acompanham a arte, como dos artistas e do público é o meio que modela indiretamente a
maneira de produzir e pensar arte.
No fim do trecho analisado, a autora conclui que as teorias não podem ser
consideradas ‘adendos’ que podem ser dispensados, pelo contrário, são o meio
indispensável para a vida das obras, dentro do qual a arte se desenvolve e se consuma. E
ainda diz que “a obra em si não existe realmente, ela se diz obra por meio e com a
condição de ser posta em determinada forma, em um determinado sítio. Pois nenhuma
atividade pode ser exercida fora de um sítio que lhe dê seus limites, determine os critérios
de validade e regule os julgamentos que serão tecidos a seu respeito”.

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