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http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000100013
Maritza MONTERO1
Resumo
Nesta conferência são apresentadas as bases analíticas dos modos de produzir na práxis mudanças conducentes à
consciencialização: isto é, à transformação da consciência em termos de formas consideradas como modos únicos e
quotidianos de produzir a vida social. Nesse sentido, são definidos e analisados quatro modos que fazem parte do
cotidiano: a habituação e a naturalização, bem como a ideologização e a alienação, cujas bases são afirmadas nos
primeiros modos mencionados. Da mesma forma, são apresentadas as características do método analítico construído na
práxis, indicando a possibilidade de aplicação da ação a outras formas de interpretar a vida cotidiana, igualmente alienantes.
Palavras-chave: Alienação; Habituação; Ideologia; Psicologia comunitária.
Abstrato
Nesta conferência, apresentamos os métodos analíticos das formas de produzir, na práxis, mudanças contundentes na
consciência: isto é, a transformação do consciente no que diz respeito, por exemplo, às maneiras únicas e cotidianas de
produzir situações sociais. Nesse sentido, são definidas e analisadas quatro formas, cada uma parte da vida cotidiana:
habituação e naturalização, bem como ideologização e alienação, cuja base é afirmada nas primeiras formas acima
mencionadas. Ao mesmo tempo, são apresentadas as características do método analítico, construído na práxis, indicando
a possibilidade de aplicação das ações a outras formas de interpretar a vida cotidiana, igualmente alienantes.
Palavras-chave: Alienação; Habituação; Ideologia; Psicologia comunitária. ALTERIDADE, PRÁXE LIBERTADORA E CONSCIÊNCIA
Entre a Psicologia Comunitária (CP) e a teve muitos psicólogos, com ambos os ramos da
Psicologia da Libertação (PL) existe uma relação Psicologia, mas também porque, na América Latina,
de construção de teoria e práticas que até agora a PC começou a desenvolver-se tardiamente (se
tem sido muito benéfica. A CP foi talvez o primeiro compararmos com o Canadá ou os Estados Unidos
ramo da Psicologia a abraçar ideias libertadoras, da América na segunda metade da década de 60).
não só pela relação que a América Latina tem No nosso caso isso não aconteceu como
ÿÿÿÿÿ
1 Universidade Central da Venezuela, Faculdade de Ciências Humanas e Educação, Conselho Acadêmico do Doutorado em Psicologia.
Av. Los Ilustres, Cidade Universitária, CEP 1051, Los Chaguaramos, Caracas, Venezuela. E-mail: <mmonteroster@gmail.com>. 141
um acto espelhado de imitação ou de seguimento - não como o as ações de transformação que partem desse Outro e de sua
que se fazia naquelas regiões do mundo, mas como uma necessidade. Ações que vão desde a palavra que ele pronuncia
reacção crítica
-, à psicologia social praticada nos nossos países até as ações faladas.
que, como já referi muitas vezes, não permitia trabalhar com
aqueles que eram os que mais necessitavam de serviços
O que é a Alteridade, quem é o Outro?
psicossociais e os que menos os recebiam. Os resultados
obtidos pela nossa ciência não chegaram às classes mais
Isso nos leva a definir quem é o Outro e o que é a
pobres e necessitadas, e a sua divulgação apenas ocorreu em
Alteridade, aquele lugar e sentido que se considera típico do
algumas revistas científicas cujos leitores não eram
Outro e que Levinas (1970/1995, p.60) definiu como: “A
particularmente abundantes.
alteridade, a heterogeneidade radical do Outro”. O Outro só é
possível se o Outro for outro em relação a um termo cuja
Psicologia Comunitária baseada na participação, que trabalha
essência é permanecer como no ponto de partida.
não com sujeitos de pesquisa, mas com pessoas com nome e sobrenome,
No processo de construção de uma LP, o PC não só Não nascemos como indivíduos autoconscientes e capazes;
foi pioneiro como também contribuiu para a criação de métodos Somos seres de relações num mundo de relações (como já dizia
desenvolvidos a partir das ideias de Dussel, bem como de ideias Paulo Freire na década de 1960): ninguém pode ser se não
desenvolvidas na prática participativa. A problematização e a houver outros que, para o bem ou para o mal, estejam com cada
conscientização (ideias freireanas) são um exemplo. Na CP não pessoa.
se trata apenas de palavras, mas de formas de práxis, ou seja,
prática que gera teoria e teoria que gera prática. O que a CP Isto significa que o ser da ontologia não é um Um, como tem
busca é produzir transformações realizadas na comunidade por sido tradicionalmente considerado, mas uma díade. Um está
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aqueles que dela fazem parte e por psicólogos que trabalham junto com os outros e não pode estar se não houver outro.
em conjunto com essas pessoas. Trata-se de fazer, de Levinas acrescenta a esta condição sine qua non outra de
transformar com o Outro, incluindo natureza ética: a responsabilidade que todos temos a priori, pelo
outro (Levinas, 1974), e que faz parte da racionalidade da razão.
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Esta inclusão do outro dá origem ao conceito de A alteridade é exterioridade. Uma exterioridade que
alteridade (o conceito mais importante na psicologia da libertação está fora da totalidade dos detentores do poder. Dussel propõe
e em toda a psicologia), fundamental em qualquer serviço social, então ampliar a totalidade dialética, que vem de Aristóteles e
e que também faz parte da condição humana. Tanto é que tudo que Hegel definiu como o produto de um triângulo: aquele ou
o que nos rodeia faz parte da realidade histórica em que vivemos aqueles que propõem uma tese, aquele ou aqueles que
e que foi e é construída pelas pessoas em relação. Portanto, questionam essa tese propondo algo contrário a ela, mas, por
quando segregamos os outros, quando consideramos certas esse mesmo motivo, relacionado com ele: a antítese e um
categorias de pessoas superiores ou inferiores a outras, estamos terceiro elemento, a síntese que gera novos conhecimentos que
deixando de lado essa alteridade, que, por não ser definida se baseiam nos dois anteriores. Dussel mostra que é preciso
como igual e com os mesmos direitos, é excluída, definida como ampliar a dialética incluindo um quarto elemento, a alteridade,
diferente, inferior ou até mesmo é eliminado, por não ser como gerando assim a libertação do Outro, que não pode e não tem o
Um. que alguns consideram como o que deveria ser e ter, mas que
possui outros saberes, outra cultura., outras ideias.
O Outro tem sido visto como aquele que não é igual a um,
em que é parte ativa dela. A singularidade da pessoa reside na diferentes de Nós é o maior problema da humanidade. As
sua alteridade, o que a torna diferente, diversa, externa. guerras, a segregação, a opressão, a exclusão derivam de
diferenças raciais, religiosas, de género e ideológicas. O método
analítico começa com uma concepção de mundo que
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diz-nos que “o mundo é uma totalidade instrumental de significado”; não Métodos para a consciência; analética
um agregado de seres, mas a totalidade de todos aqueles que têm em ação
significado para cada pessoa. E é nessa proximidade que será gerada
a distância, que serve de justificativa para a exclusão da Alteridade, A práxis que aqui apresentarei refere-se a quatro
daqueles para quem não temos sentido. É por isso que a totalidade fenômenos que ocorrem no cotidiano e que, tanto na CP
inclusiva da dialética dusseliana supõe a passagem de um horizonte a quanto na LP como em outros ramos da psicologia (social,
outro maior, mais claro, que supõe um mundo em movimento, em clínica, ambiental, por exemplo), são objeto de análise e
mudança, que flui e se transforma com a inclusão. causa de frequentes problemas nesta vida. Refiro-me à
habituação, à naturalização, à ideologização e à alienação.
Sobre práxis
MONTEIRO
século XX serão úteis para nós.
isso não acontece apenas do lado daqueles que querem
libertar; Acontece também, inevitavelmente, quando esse
Outro nos recebe e entra em contacto connosco.
Portanto, no método analítico a participação é fundamental; Foi Marx quem atribuiu à alienação o significado
algo que, em sua versão participativa e libertadora, o PC que ainda persiste até hoje: um sistema de ideias e
144 latino-americano conhece. representações que domina o
espírito de uma pessoa ou de um grupo social, o que gera viver normal, habitual e natural, sem saber a origem dessa
consequências negativas. No caso da ideologia, Althusser forma, a quem beneficia e a quem prejudica, e porquê.
(1970) destacou que não existem ideologias específicas e
que ela corresponde a uma representação produzida na
relação que existe entre a pessoa e suas condições de
Sobre desideologização e desalienação
existência, pois é nelas que está a causa da ideologização.
influenciada por “aparatos” materiais e rituais da vida social
O oposto de ideologizar e alienar é desideologizar
cotidiana vivida pelas pessoas (Althusser, 1968/1980). Não
e desalienar. A deideologização é definida como a
vou voltar aos debates do século XX, mas quero citar uma
reconstrução ou construção de um
afirmação de Althusser que considero interessante para a
consciência integral não fracionada por meio da qual se
psicologia:
produz uma compreensão do mundo em que se vive e das
circunstâncias da vida, como um todo. Envolve um processo
de produção de conhecimento que leva ao estabelecimento
A relação vivida dos homens com seus
de causas e conexões, dissipando a ignorância necessária
mundo... não aparece como consciente, mas na para manter um determinado estado de coisas,
condição de ser inconsciente, da mesma forma, desenvolvendo uma consciência diferente (Montero, 2004).
da impressão de não ser simples, mas na condição
de ser complexo, de não ser uma relação simples,
A desalienação é o processo pelo qual se
mas uma relação de relações, uma relação relação
estabelece a relação entre a consciência e as condições
de segundo grau."
históricas e sociais de vida das pessoas, depois de
(Althusser, 1968/1980, p.20).
analisadas para conhecer e compreender a forma como
O que é interessante aqui é o jogo da consciência
suas relações foram estabelecidas.
e da inconsciência. E o que estamos gerando são métodos
Nessa vida, geram no sujeito não apenas a consciência de
para a consciência.
si mesmo, da situação e de suas causas, mas também
Dessa forma, no que diz respeito à ideologia e à induzem a produção de novas formas de vida e de ação; Ou
alienação, interessa-nos o fato de que, ao tratar de aspectos seja, utiliza a práxis para mobilizar a consciência.
sociais e políticos, estes afetam diretamente as pessoas ao
mesmo tempo em que são produzidos por elas mesmas na
Como você pode ver, qualquer um dos conceitos
sociedade. A ideologia e a alienação são construções
pode ser a base do outro. Da mesma forma, e à semelhança
humanas e, embora numa visão macrossocial nos sejam
dos outros dois conceitos que são objecto desta conferência
apresentadas como condições sociais que podem abranger
(habituação e naturalização), podem indicar a forma como
grandes massas e ter efeitos na estrutura social, também
apontando seus elementos. Bourdieu parte da noção de Certamente, se tivéssemos que pensar sobre
habitus, ou seja, hábito: um comportamento estruturado e muitas das nossas ações habituais, perderíamos um tempo
estruturante que não é discutido nem conscientemente considerável hesitando entre várias opções ou decidindo o
assumido, mas que produz padrões sistemáticos ajustados que fazer; mas, ao mesmo tempo, há momentos em que é
aos já existentes e que se adapta às regulações coletivas necessário tomar novas decisões, usar outras palavras,
de uma sociedade sem a necessidade de executar diferentes ações necessárias para a nossa vida e
a de outras pessoas. Se a nossa alienação for tão profunda
instruções específicas, razão pela qual constitui uma ou tão ampla que não nos permita ver a natureza duvidosa,
resposta social codificada e esperada, desprovida de perigosa, negativa ou injusta de certas ações e ideias,
intenções estratégicas, pois permite que as pessoas somos vítimas dessas circunstâncias alienantes. A alienação,
enfrentem diversas situações. O hábito antecipa as tal como a ideologia, quando se torna factos da vida
consequências dessas situações e tende a reproduzir as quotidiana, tem dois modos de habituação e naturalização
estruturas sociais existentes, mantendo-as (Tabela 1). que lhe permitem expandir ideias e ações negativas para
as pessoas e o seu ambiente.
tabela 1
Base de habituação
MONTEIRO
Ajustado à regulamentação colectiva, sem receber instruções específicas.
ou ao longo de nossas vidas. A naturalização leva à crença situações que levam as pessoas a reverem suas ações e
de que tais práticas e crenças são uma parte essencial da opiniões sobre acontecimentos habituais de suas vidas”
natureza da sociedade e do mundo em geral e, portanto, (situações e fatos), que são percebidos como “inevitáveis
são defendidas e podem ser difíceis de mudar. Este ou essenciais para o ser dessas coisas” (Montero, 2009,
processo mantém e também facilita a vida cotidiana, o que p.80). A problematização faz parte da construção de uma
por sua vez a fortalece. Da mesma forma, é responsável consciência crítica produzida simultaneamente pela ação e
pela aceitação de aspectos negativos por parte das pessoas, pela reflexão, razão pela qual necessita desnaturar e romper
o que pode tornar determinadas situações difíceis e até com as práticas habituais, conhecendo as suas origens e
insuportáveis para elas ou para grupos. efeitos alienantes. Por isso é necessário gerar uma práxis
que desabitue, desnaturalize, deideologize e desalienhe,
como submétodos do processo problematizador, que conduz
A desnaturação, o processo de garantir que algo
à tomada de consciência.
naturalizado seja compreendido em sua condição e origem,
é um exame crítico das crenças e procedimentos que
sustentam os modos de fazer e compreender a vida
Embora este último processo seja iterativo e abranja todos
cotidiana, de modo que o que foi naturalizado seja
os anteriores, cada um deles pode gerar práticas específicas
desprovido de sua “naturalidade” atribuída. ”, mostrando
dependendo das situações.
assim seu caráter construído. Começa por problematizar o
aspecto essencial e natural atribuído a determinados factos
e relações, revelando as suas contradições, bem como a
Um método analítico para obter uma
sua ligação com interesses sociais ou políticos (Montero,
práxis libertadora através da
2004), para o que é necessário recorrer a exemplos
transformação do sujeito
contrastantes que nos obrigam a pensar sobre contradições,
não por imposição de agentes externos, mas em um
Para trabalhar a habituação, a naturalização, a
processo que ocorrerá na mente da pessoa.
alienação e a ideologia precisamos ter consciência de sua
existência e de seus efeitos negativos nas pessoas – como
considerar que elas não são capazes de aprender ou
Mais uma vez vemos neste processo, complementar modificar um tipo de ação que seja perigosa, negativa ou
ao anterior, como a ideologia e a alienação podem fazer inútil para elas , ou bem que, por serem quem são, nunca
parte do que é habitual e naturalizado, ocorrendo a nível poderão mudar de posição ou modificar o seu mundo de
individual, uma vez que ocorrem em cada pessoa de acordo vida -, e que é um trabalho que deve ser realizado por
com as suas características pessoais. E vemos como isso quem está vivenciando a situação.
acontece no nível social, uma vez que se naturalizam
práticas que são aceitas, copiadas, induzidas e às vezes Nossa tarefa é facilitar essa transformação, que será
impostas, até que as vítimas se apropriem delas (ao mesmo executada por cada pessoa no seu ritmo e da sua maneira,
Geralmente, as pessoas se apegam ao que vida quotidiana. Exemplos próximos e suas soluções ou
conhecem como “o modo como as coisas são”, então a melhor dificuldades de resolução também são úteis, assim como a
forma de iniciar um diálogo que alcance uma abertura para análise de contrastes entre duas situações.
outra realidade não é a contradição, a zombaria ou a
degradação da opinião do outro. Como já disse outras vezes
Resumindo, as características desses métodos são
(Montero, 2007; 2009), o melhor método é a maiêutica
as seguintes:
(método socrático).
1. Quem vai trabalhar com analítica precisa conhecer
muito bem o ambiente e o(s) grupo(s) com os quais a práxis
Ou seja, questões que confrontam uma ideia estabelecida
será realizada.
com uma realidade diferente e que nos levam a pensar a
contradição a partir da própria posição da pessoa. 2. A condição básica é trabalhar com pessoas e não
com pessoas de fora do seu círculo.
Um segundo aspecto é que não devem esperar 3. Na sua condição maiêutica, é necessário estar
imediatamente uma resposta desalienada ou deideologizada; atento ao que se diz e como se diz, para criar, a partir do que
o hábito percebido como tal e a irracionalidade de sua se ouve e se vê, as questões e/ou situações que estimulem a
existência, ou a percepção de que certas práticas e ideias mobilização da consciência em relação com um fato, caso ou
não são nada naturais. As pessoas refletem e isso pode levar situação.
tempo, embora seja possível ajudá-las por meio de práticas
como as perguntas problematizadoras, que são aquelas em
4. O agente externo ajuda a gerar situações
que perguntam se algo está acontecendo, ou consideram
contrastantes, mas não as impõe. É necessária uma situação
seus efeitos como bons ou ruins ou justos ou injustos e, após
participativa e de confiança na qual os agentes internos e
ouvir as respostas – se são afirmativas e ao mesmo tempo
externos estejam interessados. A psicóloga faz sua pergunta
apresentam aspectos negativos; ou não se sabe por que algo
ou comentário com base no que é dito no grupo.
ocorre, ou deve fazer parte de suas vidas continuar
investigando até que não haja razão para que aquilo exista
É direcionado a quem disse algo, embora qualquer pessoa
ou deva ser observado, ou estar na vida das pessoas. -,
do grupo possa responder ou complementar o que está sendo
Quando há silêncio e não há mais explicações para o uso,
dito.
começam a surgir questionamentos e observações a partir
das mudanças em cada consciência. 5. Se para cada questão problemática existe uma
resposta defensiva, uma forma simples - que no entanto só
deve ser utilizada de acordo com as circunstâncias - é
perguntar “Porquê?”
Também é possível utilizar outros métodos auxiliares 6. O silêncio produzido pela ausência de razões que
como dramatização ou criação sustentem algum hábito, naturalização ou crença, deve ser
coletivo de uma história alusiva a uma situação problemática seguido de um convite a procurar novas evidências ou
e ao mesmo tempo considerada básica na vida das pessoas. exemplos diferentes e refletir sobre eles.
A dramatização é uma representação alegórica e a posterior
discussão e interpretação do que é dito ou representado. O
7. A contradição deve ser questionável
roteiro da peça deve ser trabalhado com muito cuidado e
(por quê?) mas não persecutório. É preciso deixar tempo para
deve partir de situações específicas de cada grupo, de forma
a consciência de cada pessoa.
que as pessoas possam reconhecer, na peça, o que está
M.
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acontecendo em suas vidas. A separação entre a cena e o 8. Você também pode apresentar perguntas a um
público permite um distanciamento em que é possível se grupo para que eles pensem e depois, em outra reunião, ou
reconhecer e ao mesmo tempo falar com o personagem, e os mais tarde, reflitam sobre elas como grupo. As perguntas
personagens podem mostrar o que não se vê na cena. devem dizer respeito ao que o grupo ou uma pessoa está
trabalhando ou dizendo.
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9. A tarefa dos agentes externos exige deles grande cidadãos. A consciência é o campo de batalha da libertação,
atenção, pois as suas questões ou exemplos a serem porque é ela que conduz à liberdade, ao conhecimento e ao
contrastados devem surgir no momento, de acordo com o autoconhecimento e é para ela, em cada pessoa e grupo,
clima do grupo e com base nos seus interesses. que a Psicologia deve trabalhar.
10. Em todos estes processos é sempre necessário Os agentes internos ou externos, seja no trabalho
fazer um resumo ao final da ação ou tarefa, indicando o que comunitário ou nas intervenções sociais, devem partir de
foi alcançado, o que foi bem feito ou pensado ao fazer aquela uma base ética, cuja expressão é o respeito pelos outros.
Nesse sentido, devem indicar por que, para quê, para quem
coisa. Este encerramento não tem necessariamente de ser
estão e compreender que as ações a serem realizadas
realizado pelo agente externo, mas sim como um
devem ser geradas a partir da participação e não da imposição.
encerramento do próprio grupo.
As circunstâncias ideologizantes e alienantes, bem Althusser, L. (1970). Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado.
Medellín: Edições PEPE.
como as habituais e todas as fórmulas que as representam,
Bourdieu, P. (1972). Esboço para uma teoria da prática. Ginebra:
bem como o que se considera óbvio e natural, não são
Droz.
abandonadas rapidamente. Portanto, os exemplos
Dussel, E. (1985). Filosofia da libertação. Eugênio: Wipf
apresentados deverão surgir nos grupos e ser relevantes. & Estoque.
com as pessoas com quem trabalham para influenciá-las com Montero, M. (2004). Introdução à psicologia comunitária. Buenos
Aires: Paidos.
base nas suas crenças. Isso poderia ajudar a manter o que
deveriam ajudar a superar. Montero, M. (2006). Fazer para transformar: o método em psicologia
comunitária. Buenos Aires: Paidos.
também nessa vida e na sua natureza político-social; No no contexto da globalização neoliberal (pp.216-229). San José:
Universidade da Costa Rica.
entanto, existem mais conceitos e situações deste tipo: por
exemplo a deshistoricização, que consiste na manipulação Montero, M. (2009). Método de libertação: consciência crítica em
dos factos históricos para os apresentar positiva ou ação. Em M. Montero & C. Sonn (Eds.), Psicologia da libertação
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M.
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