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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

LICENCIATURA EM FILOSOFIA

LUCAS JOAQUIM PRESTES

A FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO DE ENRIQUE DUSSEL

CAMPINAS-SP
2023
A FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO DE ENRIQUE DUSSEL
1. O que é a Filosofia da Libertação
Primeiramente, a filosofia da libertação é um tipo de filosofia presente na
América-Latina, alguns a colocam naquilo que chamam de filosofia periférica.
Segundo Enrique Dussel:
A Filosofia da Libertação pretende assumir tais posições...(marxismo; filosofias
periféricas; filosofias ontológicas como a fenomenologia e existencialismo; filosofia
analítica)... a partir de uma atitude superadora, mas não eclética. Pretende propor um
discurso novo que inclua organicamente os discursos enunciados, sem
desnaturealizá-los, mas ao contrário dando-lhes seu autêntico sentido. (Dussel, 1977,
p. 175-176)
Além disso, a Filosofia da Libertação, pretende superar toda a herança grega, teologia
medieval e a consciência moderna de filosofia. Criando assim, a libertação do oprimido.
(Dussel, 1977)
Nos anos de 1965, segundo Dussel, a filosofia aqui nos países latino-americanos
começou a ser questionada, deu-se início então a um estudo de metafilosofia amplamente
debatida por todo continente americano. Salazar Bondy, por exemplo, tinha a ideia de que não
é possível uma filosofia latino-americana autêntica, pois “uma cultura dominada é aquela
onde a ideologia do dominador foi adotado pelo dominado, pelo colonizado” (Dussel, 1977,
p. 176)
E todo esse debate, não era algo exclusivamente latino-americano, mas também
africano. Será que é possível uma filosofia nascer desses países subdesenvolvidos? Se, sim
como seria a filosofia desses continentes? Portanto, a filosofia da libertação surge dessas
problemáticas levantadas acerca da realidade que a cercava, um problema metafilosófico. E
foi então no “Cone-Sul da América-Latina, na Argentina, sob o título de “filosofia da
libertação, que esta hipótese foi lançada”, que dizia: “Parece que é possível filosofar na
periferia, em nações subdesenvolvidas e dependentes, em culturas dominadas e coloniais,
numa formação social periférica.”. E Dussel afirma, além do mais que:
Porém, o mais importante é pensar o nunca pensado: o próprio processo de
libertação das nações dependentes e periféricas. O tema é a própria práxis de
libertação: a opção por tal práxis é o começo de um protodiscurso filosófico. A
política introduz a ética, e esta introduz a filosofia. (Dussel, 1977, p. 177)

2. O que é transformar a filosofia em uma analética pedagógica da educação?


Exposto de forma sintetizada o que é essa Filosofia da Libertação, analisaremos essa
outra pergunta. De antemão, cabe saber o que significa analética. Esse conceito quer superar a
dialética e ontologia, indo por fora do governo, economia, história, ou seja, da totalidade: que
é tudo o que está organizado no sistema, e esta superação se dá onde está o outro – para
construir um pensamento que supere a falsidade. E este outro se encontra na exterioridade,
está fora do sistema e não pode ser reduzido ao sistema. Que de acordo com Y Paulo e Costa,
sd, “ a analética da filosofia da libertação orienta o olhar para o rosto pobre, do índio, do
mestiço, do povo latino-americano, em um pensar revelador da palavra do outro, na qual se
centrará a reflexão”. O latino-americano se encontra na exterioridade que para Dussel, “o
âmbito da exterioridade é real somente pela existência da liberdade humana” (Dussel, 1977, p.
163)
O método analético é muito mais complexo que isso, entretanto, seguindo para a
pergunta: O que é transformar a filosofia em uma analética pedagógica da educação? Em
alguns trechos do artigo: Uma Introdução Conceitual às Filosofia da Libertação de Euclides
André Mance, temos alguma resposta. Sabendo da fundamentação no pensamento de Lévinas
e Marx na filosofia de Dussel, tal qual demonstra Mance, é “instaurada a consciência ética,
frente as injustiças sofridas pelas alteridades que nos interpelam com sua palavra, o filósofo se
compromete com o processo de libertação destes seres negados” (Mance, 2000, p. 12)
Em suma, a libertação está ligada com a filosofia, mas não só isso, está ligada com a
pessoa do filósofo, essa analética pedagógica da educação é um processo revolucionário da
práxis da Filosofia da Libertação, que somente o filósofo pode transformá-la numa ética
libertadora, pois, por excelência, “o filósofo é um mestre que, movido pelo respeito ao outro,
se volta criticamente à totalidade a fim de esclarecer suas mediações... A tarefa inicial do
filósofo, segundo o autor, é desconstruir as filosofias preexistentes” (Mance, 2000, p.13) e
ainda, Mance, 2000 apud Dussel, 1977 “a filosofia é um magistério; é um pôr em crise que
ensina ao discípulo mesmo(o outro) não ser o que ele já é (porque ele é história nova), mas
sim lhe ensina criticamente o valor de seu gesto e permite teoricamente a abertura do
caminho”
É demonstrado também como seria essa prática analética pedagógica da libertação, ao
expor que: “a filosofia, portanto não é política, mas possui uma função política” (Mance,
2000, p. 13), nisso entra o gesto do filósofo que vai começar a criticar a totalidade, que é onde
acontece toda a política, e o filósofo se encontrará na rua, na exterioridade junto com o outro.
O político trabalha dentro da totalidade, assume o poder, organiza “a nova ordem política”
(Mance, 2000) E o filósofo analisa essa totalidade mediada pelo político, todavia, “terá que
voltar-se para lançar a crítica libertadora do sistema” (Mance, 2000) seria algo como uma
denúncia dos exageros de quem está articulando o poder sobre o outro, podemos incluir aqui
ditaduras; genocídios; abusos de poder e autoridade; a necropolítica e afins. O filósofo leva
toda a reflexão para a prática através do magistério que inclui o outro, ensina-o, o esclarece
acerca do que viu como critica filosófica libertadora. Por isso um processo revolucionário,
porque “ a função do filósofo pode ser libertadora, quando, voltando-se sobre a pólis critica as
ideologias sob as quais oculta-se a dominação, e critica também, se necessário, o político que,
no processo de libertação, foi seu companheiro de jornada.”. (Mance, 2000, p.13)
Finalizando, a analética, pois então, é “a práxis que visa responder à palavra
interpelante do outro que emerge no mundo do mesmo como um rosto” e este rosto
latino-americano tem uma significação antropológica, econômica, política que “é nossa tarefa
e nossa originalidade” (Mance, 2000, p.13), consequentemente, Dussel indica que existe, à
vista de tudo isso, uma originalidade latino-americana.
Referências

DUSSEL, Enrique D. Filosofia da Libertação. São Paulo: Loyola; Unimep, 1977.

MANCE, Euclides André. Uma introdução conceitual às filosofias de


libertação. Revista Libertação-Liberación, IFiL, v. 1, 2000.

Y PAULO, Lívia T. Moura Lobo UFPA; COSTA, Sérgio Weyl A. O avanço pelo
caminho de reconhecimento do outro nos direitos humanos: O método
Analético da Filosofia da Libertação de Enrique Dussel. sd

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