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História A
10º ano
Só ao rei competia a chefia militar na guerra contra os inimigos externos, fossem eles os
vizinhos cristãos dos outros reinos ibéricos, fossem eles os inimigos da Cristandade, a qual
procuravam defender e dilatar. Esta vasta competência militar, que muito contribuiu para o
fortalecimento do poder real, relacionou-se, sem dúvida, com as circunstâncias em que o reino
de Portugal nasceu e cresceu e que foram a luta pela independência contra Leão e Castela e a
Reconquista de territórios aos muçulmanos.
Com o poder recebido diretamente de Deus, o rei assumiu-se como responsável máximo pela
manutenção da paz e da justiça internas. Coube-lhe o controlo de todas as formas de abuso e
violência, o direito de julgar os nobres, a função de tribunal de apelação como juiz supremo e o
exercício da justiça maior, que lhe permitiu, em exclusivo, condenar à morte ou ao talhamento
de membros.
Desde 1211, reinava Afonso II, a monarquia portuguesa assumiu o exclusivo da legislação
suprema. Aplicadas em todo o reino e a todos os súbditos, as Leis Gerais pretendiam um poder
régio fortalecido, capaz de se sobrepor aos particularismos e poderes locais. Só com as Leis
Gerais o reino se assemelharia a um todo nacional.
- combater os privilégios senhoriais, como, por exemplo, o direito de vindicta dos nobres;
- recuperar o património e os poderes da Coroa (declarados inalienáveis e indivisíveis;
- regulamentar questões monetárias, já que só ao rei cabia o poder de cunhar moeda, bem
como a sua manipulação;
- Tabelar os preços, como a Lei da Almotaçaria do reinado de D. Afonso III;
- melhorar comportamentos de moral e bons costumes;
- Criar e cobrar impostos.
Em resumo, em finais do século XIV, a monarquia portuguesa evoluía, a passos largos, para a
centralização do poder, com o rei a assumir os papéis de chefe dos exércitos, de juiz supremo
e de legislador.
Apesar de Lisboa ser a capital desde o reinado de D. Afonso III, a corte régia portuguesa
sempre se deslocou pelo país, durante a Idade a Média, para melhor conhecer os problemas e
mais eficazmente exercer a governação. Quer permanecessem ou não em Lisboa, o rei e a
corte faziam-se acompanhar de funcionários e assembleias, que compunham a
administração central, ou seja, o governo do reino.
O funcionalismo
Desde o reinado de D. Afonso Henriques que os altos funcionários da corte eram o alferes-
mor, o mordomo-mor e o chanceler.
O alferes-mor ocupava o mais alto posto da hierarquia militar. Nas batalhas transportava o
pendão real e, na ausência do rei, ele próprio chefiava o exército.
Ao chanceler competia a redacção dos diplomas régios e a guarda do selo real. Distinguiam-se
dos restantes funcionários pelos seus conhecimentos superiores e pela sua cultura jurídica.
A centralização do poder régio, baseada no direito romano e impulsionada por D. Afonso III,
originou um aumento da produção documental e o reforço dos poderes da chancelaria régia. O
chanceler tornou-se uma personalidade indispensável na administração do reino, passando a
ter sob as suas ordens um conjunto de funcionários (ex. notários, escrivães).
A Cúria Régia
Era um órgão que exercia um papel de grande proximidade dos reis, aconselhando-os em
questões militares, económicas (lançamento de impostos, desvalorização da moeda) e judiciais
(julgamento de nobres, aplicação da pena capital e apelação para o rei). Era composta por
membros da corte régia, como fossem a rainha, o irmão e tios do rei, ricos-homens e prelados
que o seguiam permanentemente. A Cúria Régia contava também com a presença dos altos
funcionários, bem como do alcaide da cidade onde a corte se instalasse.
Quanto às Cortes, cuja primeira assembleia teve lugar em Leiria, em 1254, apresentavam-se
com maior número de representantes do que as anteriores Cúrias Régias extraordinárias.
Composição:
Elementos do clero - secular e regular;
ordens religioso-militares;
Ricos-homens e outros fidalgos
Procuradores dos concelhos das cidades e
vilas
Assim, os três estados (grupos) do reino (clero, nobreza e povo) estavam representados nas
Cortes, o que conferia a este órgão uma dimensão nacional. Deles o rei ouvia queixas, pedidos
e conselhos: acerca dos abusos dos senhores sobre os povos ou da falta de consideração do rei
para com os privilégios do clero; sobre os inconvenientes do lançamento de novos tributos ou
da desvalorização da moeda. E, com base em tais queixas, pedidos e conselhos, as decisões
régias eram, muitas vezes, tomadas.
3. A reestruturação da administração local
O controlo exercido sobre o poder local levou a realeza a combater os abusos do poder
senhorial. Desde D. Afonso II, rei de 1211 a 1223, os reis deixaram de tolerar o crescimento
desenfreado da propriedade nobre e eclesiástica. Especialmente os clérigos acumularam na
sua posse inúmeras propriedades territoriais que compravam, herdavam ou recebiam como
oferta de particulares preocupados em garantir a salvação da alma.
Neste contexto, não é de estranhar o caráter antissenhorial de muitas leis dos séculos XIII e
XIV. Chamaram-se Leis de Desamortização , Confirmações e Inquirições.
Obviamente que não foi fácil aos reis implementarem a legislação antissenhorial. Encontraram
poderosas resistências, tendo a luta adquirido contornos violentos. Os senhores prestavam
falsas declarações dizendo aos funcionários régios que as terras averiguadas sempre haviam
sido imunes. Caso eles não acreditassem e insistissem na cobrança dos direitos régios,
expulsavam-nos violentamente, chegando até a assassiná-los.
Os reis D, Afonso II e D. Dinis chegaram a ser excomungados e o reino de Portugal chegou a ser
considerado interdito pelo Papa. D. Afonso II e D. Afonso III ainda se arrependeram antes de
morrerem. Já D. Sancho II não levou a melhor sobre o clero: em julho de 1245, o monarca foi
deposto pelo Papa Inocêncio IV.
No seu combate à expansão senhorial, os monarcas contaram com o precioso apoio dos
concelhos. Desde 1254, aliás, a realeza fê-los entrar nas Cortes. O Porto dos séculos XIII e XIV
foi um exemplo de aliança entre o rei e os concelhos. Sempre em luta contra as prepotências
do bispo, senhor do burgo desde 1120, os vizinhos acolhiam de braços abertos o rei que, por
eles, tomava partido. Para a realeza era a oportunidade de cercear os privilégios do couto
episcopal, que tanto diminuíam o erário régio.
Num dos conflitos entre os prelados e os populares, D. Afonso IV conseguiu para o Porto o
estatuto de concelho perfeito, que permitia à cidade nomear os seus juízes e usufruir de
autonomia judicial. Estava-se perante a promoção política das elites urbanas, meio de os
monarcas premiarem os concelhos que os apoiavam na recuperação do poder real.
Os progressos da centralização régia que temos vindo a analisar atingiram um ponto alto no
longo reinado de D. Dinis (1279-1325).