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Unidade Curricular de
História de Portugal Moderno (séculos XVII-
XVIII)
Docente:
Professor Jorge Miguel Pedreira
Discente:
Joana Clara Freire Ribeiro, n.º 2020118128
1
No ambiente político do Antigo Regime a assembleia das Cortes era o momento
em que estas várias partes que compunham a comunidade se reuniam com o rei, e em
que o «reino» se tornava momentaneamente visível enquanto enquadramento de
pertença comum a todos os diversificados membros que o integravam. 1 No decurso das
«reuniões dos três estados» eram invocados sentimentos de pertença a um corpo político
a que se dava o nome de «reino», falando-se em «bem comum do reino» e em direitos,
mas também em obrigações inerentes à condição de parte integrante da comunidade
reinícola.2 As Cortes eram encaradas como o encontro, por excelência, entre o rei e os
seus vassalos, e era precisamente essa proximidade física face ao monarca que fazia
com que a assembleia fosse tão valorizada pela sensibilidade coetânea. 3 É certo que o
encontro físico entre o monarca e os «estados» do reino só tinha lugar na sessão de
abertura solene e nas cerimónias de juramento que eventualmente tivessem lugar. De
qualquer modo, o costume mandava que o rei deveria permanecer na localidade onde
decorriam as Cortes até ao final dos trabalhos. A finalidade era “tornar presente” o reino
ao rei, a fim de renovar o compromisso entre a Coroa e o reino, assim como resolver
problemas governativos que estivessem pendentes.4 Por outro lado, as cortes são uma
representação política do reino através dos mais próximos do rei, existindo igualmente
representantes das cidades e vilas mais importantes. Em Portugal, apenas os reis as
podem convocar em função da sua agenda. Os braços sociais representados podem
responder àquilo que lhes é apresentado. Há corpos sociais que têm privilégios que o rei
deve respeitar. São uma instituição de representação política apresentando clero,
nobreza e povo. No entanto, na época moderna em particular a realidade era já mais
complexa.
1
CARDIM, Pedro, “Entre o centro e as periferias. A assembleia de Cortes e a dinâmica política da época
moderna”, pp. 171-174.
2
Ibidem.
3
Ibidem.
4
Ibidem.
2
cortes exigindo prestação de vassalagem. Tudo depende da relação de forças que o rei
tem. E por sua vez os representantes do povo têm muito pouco a ver com o povo. Há
representação sem proporcionalidade demográfica (sub-representação do Douro e
Minho e sobre-representação do Alentejo) sem igualdade de repartição. Há as cidades
de primeiro banco (Lisboa, Porto, Évora, Coimbra) que eram encarregadas de transmitir
as questões da corte ao rei, o que lhes dava uma importância desproporcionada porque a
posição das cidades de primeiro banco pesava muito.
6
Ibidem.
7
COSTA, Fernando Dores, “As forças sociais perante a guerra: as Cortes de 1645-46 e de 1653-54”, pp.
1150-1151.
8
Ibidem, pp. 1160-1161.
9
Ibidem, p. 1169.
10
Ibidem, p. 1174.
4
a oportunidade para imporem as contrapartidas do financiamento concedido. Quanto ao
outro conflito que se evidencia, o rei acaba por ceder aos argumentos do Conselho de
Guerra no que respeita ao tema das “entradas em Castela.”
A partir de 1385 as cortes puderam escolher o rei, e para legitimar o rei foi-se
buscar um documento apócrifo (o povo era intermediário entre Deus e o rei) que eram
as actas de umas putativas cortes de Lamego e que nelas se expressaria a escolha de D.
Afonso Henriques para rei de Portugal por parte do povo. A expressão “cortes de
Lamego” é uma expressão designativa de uma assembleia de cortes que se diz ter
ocorrido e ter sido essencial para a fundação de Portugal, e que teria originado
normativas jurídicas que viriam a marcar a história de Portugal. Esta reunião terá
ocorrido alegadamente entre o ano de 1139 e o de 1143, e terá reunido em sessão toda a
nobreza e clero do Condado Portucalense, bem como procuradores dos concelhos sob
convocatória de D. Afonso Henriques. Nessa reunião, os representantes do condado
terão eleito o jovem infante como seu rei e estabelecido leis para regular a sucessão
dinástica de Portugal. Entendia-se que essas cortes retiravam legitimidade à monarquia
de Habsburgo e que nelas se tinham estabelecido as regras de sucessão do rei podendo
as mulheres herdar o trono desde que casassem com nobres portugueses. Se não
houvesse nenhum filho ou filha, os irmãos poderiam herdar, mas não o fazem de forma
automática, ou seja, nesses casos torna-se necessário que as cortes confirmem a
sucessão. Assim, segundo esta perspectiva, as cortes tinham carácter electivo. Talvez
também devido a esta visão, tornou-se necessário posteriormente reduzir o poder das
cortes. A historiografia científica moderna, porém, não considera terem existido
realmente as ditas “cortes de Lamego”.
12
MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “A Monarquia Barroca (1668-1750)”, pp. 335-336.
13
MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “A Restauração (1640-1668)”, pp. 328-329.
14
MONTEIRO, Nuno Gonçalo, “A Monarquia Barroca (1668-1750)”, pp. 335-336.
15
SILVA, Francisco Ribeiro da, “O Porto nas Cortes do século XVII ou os Concelhos e o Poder Central
em tempos de Absolutismo”, pp. 116-117.
6
sempre possível adiar com elegância as questões mais inoportunas. 16 Depois, nem todos
os Concelhos eram iguais, entre muitos existiam rivalidades, pelo que era necessário
explicar bem por que se negava hoje a um aquilo que outrora se havia concedido a
outro. Por isso, além de incómodo, era um diálogo ambíguo: o poder central parece
reconhecer teoricamente a necessidade de ouvir os Concelhos.
Mas o poder absoluto não aceita de bom grado o protagonismo dos Concelhos e
raramente se põe do lado destes quando estão em causa competências e atribuições dos
agentes régios em conflito com esses mesmos concelhos. 17 E as sugestões dos povos,
expressas em capítulos, mesmo as que lograram resposta inicialmente favorável, por
vezes tiveram que esperar anos para se converterem em leis e alvarás régio. Finalmente,
era um diálogo caro para os Cofres concelhios. Parece importante sublinhar aqui que
uma das recomendações sempre presentes nas cartas convocatórias era que os
Concelhos gastassem o menos possível na deslocação dos seus Procuradores –
recomendação que terá sido responsável por algumas tensões entre os mesmos
Procuradores e as governanças concelhias.18 É certo que as despesas corriam pelas
receitas municipais e não pelo erário régio. De qualquer forma, quem pagava eram os
vassalos e uma deslocação a Cortes saía sempre muito dispendiosa para o erário régio,
porque muitos Procuradores cuidavam de obter mercês e benesses régias. Não seria para
manter um diálogo incómodo, ambíguo e dispendioso que os reis seiscentistas
convocaram as cortes. Elas eram um meio necessário para se obter o consentimento do
reino para o lançamento de impostos ou de contribuições, numa altura em que urgia
evitar as dissensões.19 Ultrapassada essa barreira “constitucional”, as Cortes, na
perspectiva do Monarca, perderam a sua razão de ser e por isso deixaram de ser
convocadas.20 Com isso, enfraqueceu a força reivindicativa e a capacidade
intervencionista dos Concelhos. De facto, a partir do final de Seiscentos, tornava-se
cada vez mais evidente que tanto a Coroa como os vários grupos sociais estavam a
desinvestir nas Cortes e a aristocracia cada vez menos viu na assembleia representativa
16
Ibidem.
17
Ibidem.
18
Ibidem.
19
Ibidem.
20
Ibidem.
7
o seu principal fórum de diálogo, enquanto corpo social, com a Coroa. 21 O afastamento
entre a aristocracia e as Cortes contribuiu para desviar dessa assembleia o debate sobre
uma série de matérias da alta política e em Portugal as Cortes foram perdendo
protagonismo, deixando de exercer uma função consultiva e sendo paulatinamente
substituídas, nessa função, pelo Conselho de Estado e pelos demais conselhos
palatinos.22
Bibliografia
CARDIM, Pedro, “Entre o centro e as periferias. A assembleia de Cortes e a
dinâmica política da época moderna” in: Os Municípios no Portugal Moderno,
1ª edição, Évora: edições Colibri, 2005.
21
CARDIM, Pedro, op. cit., pp. 218-219.
22
Ibidem.
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