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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO” (UNESP)

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – câmpus


de Assis
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (LICENCIATURA)

Disciplina: História Medieval


Professor Responsável: Leandro Alves Teodoro

ALUNO: Thiago Pereira Camargo Comelli

ZAMORA, M. Carretero. Algunas Consideracioes sobre las Actas de las Cortes em el


Reinado de los Reyes Católicos. Actas de las Cortes de Madrid de 1510. Cuadernos de Historia
Moderna. Nº12. p.13-45 Edit. Univer. Complutense, Madrid, 1991.

1) LIMITAÇÃO DAS ATAS: GÊNESE E MEDIAÇÃO DOS CADERNOS DE


PETIÇÃO

 Assembleia representativa das Cortes de Castela no período dos reis católicos é


apresentada de maneira idealizada pela historiografia tradicional;
 Supostamente um foro de diálogo, acordo e enfrentamento de representantes populares
contra a Coroa. Aparência de diálogo direto e pessoal entre os procuradores da corte com
os monarcas;
 Formato petição/resposta, leituras acríticas que tomam atas como livres de artifícios e
premeditações;
 En teoría el cuaderno de petición general del reino debía sintetizar las propuestas
ciudadanas materilizadasen las instrucciones y cuadernos particulares que aportaban a
la reunión los procuradores pero aunque tales intrumentos, salvo excepción, no contenían
materias problemáticas para la monarquía, se encontraban con freecuencia mediatizados
en su origen por los corregidores que supervisaban la redacción de dichos memoriales, e
incluso obligaban a los concejos a introducir como propias opiniones dictadas por ellos
(ZAMORA, p.13-14, 1991);
 Raramente as cidades conseguiam passar para o caderno geral do reino suas petições
próprias, como no caso de Murcia (AGS, Patronato Real, leg.69, expte. 51, petición 1) na
qual a redação original, quando comparadas as petições e instruções da cidade com as
petições incluídas nas atas oficias, mostram claramente que o tom original das queixas foi
apagado da redação final;
 No melhor dos casos, as Cartas perdiam a carga de protesto original, silenciando as
queixas sobre excessos senhoriais. De modo que as petições gerais, ainda que refletindo
genericamente o espírito das instituições municipais, nunca foram projeção direta das
instruções que chegavam até a assembleia dos procuradores.
 Ademais, segundo Zamora muy pronto (a partir de la muerte de Isabel la Católica) la
finalidad primordial de los cuadernos particulares no fue la de servir de base para la
redacción de los cuadernos generales, sino para colmar el deseo de los concejos de
obtener de la Corona la satisfacción inmediata de intereses propios y específicos
frecuentemente desconectados de los generales del reino (ZAMORA, 1991, p.14);
 Redação definitiva das actas de Corte que provavelmente se realizava por meio de uma
comissão de vários procuradores habilitados por seus companheiros, resumindo
inquietações e problemas gerais expostos em reuniões prévias. Porém, não deve se excluir
a possibilidade de intervencionismo (direto ou indireto) do presidente ou burocratas das
Cortes, haja visto a reiteração de suas identidades nas proclamações e orientações da
assembleia representativa (período de Carlos I e Felipe II);
 No que diz respeito ao reinado católico (especialmente na leitura de textos entre 1476-
1515) é inexistente a presença de queixas e enfrentamentos na redação final dos cadernos,
refletindo uma realidade aleijada das preocupações gerais dos castelhanos, juntamente
com uma pressão da monarquia e burocracia das Cortes e anuência dos procuradores,
motivados por benefícios pessoais e privilégios;
 Uma vez redigidas pelos escrivães, as demandas não eram contestadas imediatamente ou
diretamente pela coroa, mas remitida para membros do Conselho de Castela (composta
por letrados), que, sem conexão direta com os procuradores, respondiam as petições da
monarquia (ZAMORA, p.15, 19991);
 Hay otros fenómenos documentados más significativos que prueban las enormes
limitaciones de los cuadernos de petición como proyección del sentir ciudadano. He
indicado que no existen pruebas para este período de 1476-15 15 con las que determinar
como las propuestas del reino se materializaban oficialmente a través de las Actas; pero
no ocurre lo mismo con el proceso de contestación y publicidad de las mismas por parte
de la monarquia. Una vez redactadas por los escribanos de Cortes las demandas no eran
contestadas inmediata y directamente por la Corona, sino que eran con frecuencia
remitidas a algunos miembros del Consejo de Castilla (los letrados de Cortes pertenecían
a esta institución consultiva) que, al parecer, sin conexión directa con los procuradores
respondían a las peticiones en nombre de la monarquía (ZAMORA, p.14, 1991)
 Na mesma toada, Debió ser frecuente este mecanismo en las contestaciones de las
peticiones, porque los procuradores asistentes a la reunión de Burgos de 1512, en la
petición vigésimoquinta, solicitaron que se contestase con celeridad a los cuadernos
generales y particulares «porque los procuradores no hagan aquí costas (Actas de las
Cortes de los reinos de León y de Castilla (em adelante, Actas), IV. Cortes de Burgos de
1512, p.243 in ZAMORA
 Representantes se queixavam sistematicamente que suas petições não eram diretamente
assistidas ou contestadas pelos monarcas, de modo que as condições de concessão de
serviço nunca apareciam incorporadas por extenso nos cadernos e Atas. No reinado
católico, o silêncio será absoluto;
 Para Zamora, não responder aos cadernos e petições foi uma prática generalizada desde o
início da monarquia moderna de Castela, ressaltando o caso das Cortes de Toledo (1480)
que careciam de atas no sentido tradicional, ainda que se saiba que os procuradores eram
portadores de memorias das cidades com votos. No caso das Cortes de Toledo (1498) e
Ocaña (1499) a situação foi a mesma (ZAMORA, p.16, 1991); No caso da Corte de
Madrid (1510), os procuradores apresentaram o caderno de súplicas e foram ignoradas
pela coroa;
 Las Cortes de Toledo de 1480 carecieron de Actas en el sentido tradicional, y por los
testimonios de esa reunión (el propio Ordenamiento de Cortes y el «razonamiento» del
presidente de las Cortes Gómez Manrique) sabemos que los procuradores eran
portadores de memoriales de las ciudades con voto. Las reuniones del período 1498-1502
carecieron asimismo de cuadernos de petición. Es casi seguro, en mi opinión, que en las
Cortes de Toledo (1498) y Ocaña (1499), convocadas apresuradamente para jurar y
acatar sucesores, no hubiera tiempo ni ocasión de presentar cuadernos; llama la
atención, por el contrario, que reuniones convocadas para solicitar servicios (Cortes de
Sevilla en 1500 y Toledo-Madrid en 1502/1503) fuesen disueltas sin que los procuradores
ejerciesen la facultad peticionaria tras otorgar a la monarquia cuantiosísimas sumas.
Otra ocasión en que faltó el cuaderno de peticiones fue en las Cortes de Madrid (1510);
en este caso se puede afirmar tajantemente que los procuradores sí presentaron el
correspondiente cuaderno de súplicas y que la monarquía obvió la respuesta (ZAMORA,
p.16, 1991);
 Otrosí, suplicamos a vuestra magestad sea servido de oir personalmente todos los
capítulos generales del reyno dan e dieren de aquí adelante..., y que esto se haga al
principio de las Cortes, y que vuestra magestad los oya en presencia de los procuradores
de Cortes que los hubiera fecho..., porque puedan informar de palabra de las dudas que
en ellos hubiere y vuestra magestad los provea con acuerdo de los del vuestro Concejo
como cumple a estos sus reinos (Actas, V. Cortes de Valladolid de 1542, petición 98, p.
256);
 Reclamações por parte dos procuradores de que as petições não eram diretamente
contestados pela monarquia, mas sim pelo Conselho de Castela: Outrossim, suplicamos a
vossa majestade que se ouçam pessoalmente todos os capítulos gerais do reino, no início
das Cortes e que Vossa Majestade os ouça na presença dos procuradores do Tribunal que
os tenha feito, para que possam sanar dúvidas existentes e que Vossa majestade possa
proporcionar o acordo do conselho, conforme cumpre aos seus reinos.

2) AS ATAS, TIPOLOGIA DOCUMENTAL


 Comumente (e erroneamente) se confundem as actas de Cortes com cadernos de petição
(cadiernos de petición). O termo atas de Cortes designa um conjunto documental
heterogêneo. No entanto, os cadernos gerais do reino ocupam um lugar importante, no
que pesem suas críticas e limitações. Dentro de actas de Cortes, podem-se incluir: 1)
cadernos de petição das Cortes; 2) Os ordenamentos promulgados nas Cortes; 3) Atas de
juramento e cumprimento de reis e sucessores; 4) Ratificação de acordos (especialmente
de relações internacionais); 5) Relatórios de fatos e direito das Cortes e procuradores
(ZAMORA, 1991, p.17);

 Por serem textos fundamentais das Cortes, possuem formalidades comuns: lugar de
redação, menções expressas e nominações gerais de assistentes da reunião (monarquia,
privilegiados, representantes das cidades, burocratas da assembleia, servidores da coroa,
embaixadores estrangeiros);

 Fora os cadernos de petição gerais do reino, os únicos textos que atingiram os


critérios de edição adotados pela Academia de la História no séc. XIX como actas de
Cortes, foram os Ordenamientosm, haja visto se enquadrarem nas perspectivas
buscadas pela historiografia do séc.XIX, de provar a capacidade legislativa plena das
mesmas, pensamento inexato;

 A vinculação dos Ordenamentos com a Cortes surgiu do desejo da monarquia em


aproveitar as reuniões das cidades para difundir a produção normativa, nexo que
robusteceria a obrigatoriedade no cumprimento da lei e evidenciar que a motivação do
monarca em legislar estava sintonizada com as demandas cidadãs (ZAMORA, 1991,
p.18);

 Embora possuindo caprichos legislativos, a monarquia de modo algum pretendia fazer


com que a atividade legislativa fosse reservada exclusivamente para si (coroa) ou para
suas instâncias autorizadas (conselho de Castela), fator que explicaria essa vinculação
entre Ordenamentos e tribunais;

 Cortes do reinado católico foram excepcionais em termos de transcendência e qualidade


de seus Ordenamentos, como no caso de Toledo (1480), que demonstra esforço notável de
recompilação dos ritos de direito público castelhano, bem como o de Toro (1505) no que
tange o direito privado;

 Zamora chama atenção para o erro dos editores em não publicarem nas Actas de Cortes de
León e Castilla os actos de juramento y acatamiento de los sucesores de la Corona, haja
visto que umas das funções básicas (e exclusivas entre 1476-1515) das assembleias
castelhanas foi o acatamento e juramento dos sucessores da Coroa. Ainda que pese a
rigidez e reiteração expositiva de seus conteúdos, oferecem material importante sobre as
mazelas institucionais da Coroa: lugar e cronologia das reuniões, os assistentes,
mecanismos e ritmos de celebração, intervenção e papel da burocracia, protocolos
observados;

 Fontes subvalorizadas e escassamente usadas pela historiografia, por não ter sido editada
juntamente com os Cadiernos de peticiones y Ordenamientos. Uma primeira aproximação
dessas fontes pode oferecer uma polarização temática, mas no que tange a reconstrução
das Cortes do período entre 1498-1502, constituem um corpo documental indispensável,
visto ser um período tido como “las cortes in Actas”, carentes de outros textos oficiais
que precisem o conteúdo das convocatórias (ZAMORA, 1991, p.19);

 De sua análise, se obterão conclusões distantes das versões transmitidas pelos cronistas.
Ainda que não tenham sido reunião protocolais como indicado, são pré-desenhados
acontecimentos fundamentais para se entender os meandros da política castelhana de 1497
à revolta comunal. Como exemplo, o acatamento nas Cortes de Ocaña de 1499 demonstra
expressamente o futuro papel político de Fernando, o Católico como governador de
Castela;

 Ademais, as Atas de juramento consistem em dados fundamentais para o conhecimento


das perspectivas sociais e institucionais, silenciadas nos cuadernos e ordenamientos:
número e condição da nobreza, alto clero convocado, as personalidades que ocuparam a
representação citadina entre 1498-1502, a progressiva incorporação de grupos
privilegiados da burocracia central e territorial, expansão da capacidade representativa de
Granada como cidade com voto, em 1498 (Cortes de Toledo), a reiteração dos debates
para prioridades citadinas;
 Estrutura expositiva precisa nas atas de juramento, citando primeiramente o lugar da
reunião, presença da família real e alta burocracia cortesã, motivo da convocatória;
depois, os assistentes (diferenciando privilegiados e citadinos), formas de acatamento e
juramentos, disposições específicas para a monarquia. Geralmente, finalizam com a
proclamação pública dos sucessores e protesto dos procuradores da cidade de Toledo por
terem sido desprezados pelos burgueses;

 No que toca as ratificações de acordo, podem ser tomadas como uma variação
documental das atas juramentais, seguindo o mesmo esquema de lugar, especificação dos
atos, presença da monarquia e burocracia superior do reino, nobreza e alto clero,
procuradores, bem como um conjunto de fórmulas para validação das matérias retificadas;

 Geralmente, relacionado com aspectos da política internacional castelhana. Dois


processos são destacados por ZAMORA: Madrigal (1476), confirmando o juramento de
procuradores reunidos em Segovia referente ao casamento dos reis católicos e Madrid
(1510) ratificando as cláusulas da Concordia de Blois sobre o governo de Castela e a
futura sucessão de Carlos de Gante (ZAMORA, 1991, p.20);

 Quanto as relações de direitos e fatos das Cortes e Procuradores, consistem na última


categoria de documentos com grau de Acta de Cortes. Segundo Zamora, diferentemente
de outros parlamentos e assembleias (com os Estados Gerais Franceses) as cortes de
Castela não deixaram descrições cotidianas e seu desenrolar, impedindo assim que se
conheça a interioridade das reuniões, impedindo assim de romper a visão demasiado
institucionalizada (e irreal) e penetrar nos pormenores cotidianos da instituição;

 Las Relaciones de los hechos de las Cortes y de losprocuradores constituye la última


categoría de documento con el rango de Acta de Cortes. A diferencia de otros
parlamentos y asambleas (los estados Generales de Francia, por citar un ejemplo), las
Cortes de Castilla no nos han legado descripciones —oficiales o particulares— de lo que
en realidad ocurría cotidianamente en su desarrollo; esta circunstancia ha impedido
conocer com detalle las interioridades de las reuniones: llegada y recepción de los
procuradores, existencia de varias sedes de las reuniones, control burocrático de los
procuradores y sus cartas de procuración, ritmo de la asamblea, papel de la burocracia
de Cortes, dirección de los debates... En definitiva, la posibilidad de romper una visión
demasiado «institucionalizada» (quizá irreal) y penetrar en los entresijos cotidianos de la
institución (ZAMORA, 1991, p.20);

 Zamora traz uma exceção, as Cortes de Madrid (1510), narração oficial que apresenta
interioridades dessa importante reunião. De modo que a relacion de hechos constitui
importante peça para reconstruir o processo organizativo das Cortes castelhanas:
procedimento de prorrogação das sessões, passos para habilitação dos procuradores,
nomeação do presidente das cortes, papel do secretário real e membros do conselho de
Castela. Ainda extremamente formais e protocolares, ajudam a compreender a totalidade
das cortes e quem a integrava;

 Ainda que não se ajustando a tipologia assinalada, algumas considerações efetuadas por
procuradores das Cortes de Toro (1505) servem como material atinado ao trazido por
Zamora. Consiste num texto breve e importante por conter a aceitação do testamento de
Isabel la Catolica pelas Cortes, bem como a evidencia de incapacidade e enfermidade de
Juana e o aceite de Fernando como governador de Castela (ZAMORA, 1991, p.21);

O SILÊNCIO DAS ATAS

 A questão trazida por Zamora quanto a releitura dos cadernos gerais de petição é se eles
realmente refletiam, ou em que medida, as demandas citadinas e os problemas estruturais
do reino. A questão leva a dois eixos fundamentais: a escassez de cadernos gerais (dos 11
chamamentos à Cortes, apenas em 4 os procuradores obtiveram contestação de seus
requerimentos, 1476, 1506, 1512, 1515);

 Em segundo lugar, ainda que numerosas matérias e demandas fossem trazidas pelos
cadernos, denota-se: Escassa polarização temática nas petições; dispersão dos objetos
demandados; desparecimento paulatino de certos aspectos conflitantes; insuficiente ou
nula presença de problemas substancias do reino;

 No que toca os silêncios mais notórios nas Actas (cadernos de petición del reino):

PRESSÃO FISCAL GERAL E SERVIÇOS DA CORTE EM PARTICULAR:


 Da leitura dos cadernos de petição geral, se extraem duas conclusões importantes para
Zamora: preocupação constante com as alcabalas (imposto sobre vendas de até 14%) e
absoluto silencio sobre a enorme pressão fiscal procedente dos serviços de Cortes. As
reclamações sobre as alcabalas insistiam nos vícios de arrecadação, ainda que seja fácil
perceber que o pretendido pelos procuradores foi congelar cabeçalhos e pagar menos;

 Procuradores com isenção tributária por direito, prerrogativa legal. Representantes dos
cidadãos, isentos e com rendimentos próprios, pouca voz tiveram nos numerosos e
retirados serviços concedidos e pleiteados. Silêncio marcante das Cortes entre 1500-1515;

 Subsídios concedidos desde 1500, alto volume fiscal concedido pelas Cortes, bem como
sua reiteração. Serviços dos reis católicos (especialmente entre 1503-1504) muito mais
onerosos para os representantes da população/procuradores que no reinado de Carlos I;

REGIME E APREENSÕES SENHORIAIS

 Significativa a tibieza com que as Cortes assumiam os problemas senhoriais. Se


carecessem de outras fontes documentais e apenas os testemunhos oficiais, em Castela, o
regime senhorial apareceria como realidade histórica inexistente ou simbólica. Não
significa mudez, pois os cadernos aludem a incentivos fiscais em terras senhoriais e
irregularidades de cavaleiros e caçadores (ZAMORA, 1991, p.24-25);

 Onde as cortes realizaram um ataque contra o regime senhorial fora na questão das
reivindicações territoriais feitas pela alta nobreza sobre patrimônios de vereadores. Nos
cadernos gerais de 1506, solicitava-se à Coroa que não alienasse as terras e jurisdições
reais. Para Zamora, tão diminuta queixa leva a questionar se reduziam a apenas esses
protestos a atividade das Cortes sobre excessos senhoriais;

 Para Zamora, é negativo, pois os cadernos gerais (diferente dos cadernos de petição
particular) são parcos pois a monarquia silenciou os protestos e os reduziu ao mínimo.
Nas petições particulares, expunham-se casos concretos de perdas de terra, vassalos e
jurisdições, fator que leva até a apelação de certas disposições testamentárias da rainha
católica para apressar devoluções de terra, ainda que Fernando barre o protesto por meio
da redação oficial das Actas de las Cortes de Burgos de 1512;

AS CORTES E OS PROCURADORES

 Paradoxalmente, no que diz respeito As Cortes e os procuradores, consistem num


silêncio significativo nas Actas. Nos três últimos cadernos de reino (1506, 1512 e
1515), se autocita em doze vezes, nove para confirmar e ampliar privilégios
exclusivos das cidades com voto e seus representantes;

 Nenhum dos males associados aos procuradores nas Actas oficiais, silêncio
compreensível pois não se espera que os beneficiados questionassem seus
privilégios;

 Segundo ZAMORA son aspectos reducidos e insuficientes para uma institución que
a los ojos de los castellanos era reducto de privilegios para ciertas oligarquias
concejiles, foco de corruptelas y que, en definitiva, poco o nada representaba el
reino (1991, p.25);

 Chama atenção os silêncios quase que absolutos no que tange a inexistência de


críticas à administração central, deficiência no tratamento de problemas econômicos,
tibieza que contempla a inquisição, bem como a ausência de problemas populares
(ZAMORA,1991, p.25);

CARTAS CONVOCATÓRIAS DE CORTES. CORRESPONDÊNCIA REAL

 Consideradas pela historiografia como fontes de pequena monta, usados nos melhores
casos como adorno de apêndices documentais em obras de história local. Zamora
discorda, pois:
 Por seus dados cronológicos, fechamento da convocação e local, facilitam a investigação
em arquivos municipais das cidades com direito a voto nas Cortes, facilitando o
conhecimento dos processos eleitorais e eleição de procuradores;

 Mostram os motivos de reunião das Cortes. Possibilidade de perceber se mantiveram os


pressupostos iniciais, as conjunturas de cada chamamento (motivos, situação interna e
externa da coroa, política internacional);

 No que toca as correspondências entre a monarquia, nobreza e delegados locais


(corregedores) é escassa, ainda que a qualidade compense: serve para demonstrar um dos
aspectos mais conflituosos para a atual historiografia castelhana, a independência (ou
submissão) da assembleia representativa quanto a coroa;

 De modo que com uma minguada, mas significativa correspondência, denotam-se (no
caso de Ocaña de 1499) as fricções entre monarquia e alguns membros da nobreza e alto
clero, que usavam os chamamentos à Cortes para descordar de certas abordagens da
monarquia;

MANUSCRITO 09/1784 DA ACADEMIA DE HISTÓRIA

 Foi prática habitual no medievo a recompilação de textos e ordenamentos considerados


como importantes. Antes dos reis católicos, os manuscritos conservados trazem poucas
novidades sobre as Cortes, pois praticamente reproduzem as Atas e Ordenamentos
oficiais, salvo algumas fontes secundárias;

 Situação muda no séc. XV-XVI, os reis católicos ordenaram a transcrição dos


Ordenamentos de Cortes mais importantes (Toledo 1480 e Toro 1505), bem como a
recompilação de toda a documentação, a partir do séc. XVI, de documentações
substancias produzidas pela assembleia castelhana desde a segunda metade do reinado de
Juan II;

 Finalidades de uso interno e burocracia própria das Cortes (revitalização do antigo cargo
de escrivão maior das Cortes). O caráter não oficial desses manuscritos se evidencia pelas
informações que nunca apareceriam em cadernos gerais de petição: salários de
procuradores, cartas para corregedores reais para unificação de poderes de procuração,
condições de concessão de serviços;

 Destacam-se as edições dirigidas por Manuel Colmeiro nas Actas de las Cortes de los
Antiguos reinos de León y de Castilla (1784);

 Já o manuscrito 9/1784, hoje depositado na Biblioteca de la Academia de História. Foi


remitido no séc.XIX, para ser publicado juntamente com Atas por ordem do congresso de
deputados e ignorado, por carecer de cadernos gerais e tido como irrelevante pela
historiografia da época, que apenas buscava editar os cadernos de petição e a natureza
política e jurídica das Cortes históricas;

 Manuscrito que recolhe documentação das Cortes desde o reinado de Juan II (Cortes de
1425) até Toledo (1502). Da época anterior aos reis católicos (entre Juan e a totalidade de
Enrique IV) a documentação se encontra polarizada em dois aspectos: Concessão de
serviços e condições impostos pelas Cortes e benefícios obtidos pelos procuradores;

 No que toca a época dos reis católicos, consiste como conteúdo rico e fundamental para
aspectos das Cortes e a gênese de fenômenos institucionais dos Habsburgo: Atos de
juramento a sucessores, documentação fiscal referida a serviços da Corte, salários de
procuração, documentação e correspondência sobre as Corte,

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