Você está na página 1de 10

OBRAS PASTORAIS E DOUTRINÁRIAS

DO MUNDO IBÉRICO

BREVE E MUITO
PROVEITOSO TRATADO
CONTRA O MURMURAR
E FALAR MAL DO
OUTRO EM SUA
AUSÊNCIA

Susana Guijarro González


Universidad de Cantabria

O e n s i n o d a f é c r i s t ã
n a P e n í n s u l a I b é r i c a
( s é c s . X I V
, X V e X V I )

Obras Pastorais e doutrinárias do mundo


ibérico

Breve e muito proveitoso tratado contra o


murmurar e falar mal do outro em sua
ausência

Para citação e referência:

GUIJARRO GONZÁLEZ, Susana. “Breve e muito proveitoso tratado contra o murmurar e falar
mal do outro em sua ausência”. In: TEODORO, Leandro Alves (Org.). O ensino da fé cristã
na Península Ibérica (séculos XIV, XV e XVI). Banco de dados (Online). 2021. Disponível
em:
Consulta em: XX/XX/ XXXX.
Breve e muito proveitoso tratado contra o murmurar e falar mal do outro em
sua ausência

Hernando de Talavera (1428-1507)

Talavera sofreu na própria pele as consequências das difamações que nas últimas
décadas do século XV fizeram recrescer o antijudaísmo. Não é de surpreender que, ao longo de
sua vida, ele tenha se movido em mundos onde a murmuração e a maledicência eram moeda
corrente, da universidade ao convento, passando pela corte real e pelos círculos da alta
hierarquia eclesiástica. Atribui ao pecado da inveja o que desde o início do tratado qualifica
como vício universal, a murmuração, dificilmente restituível, pois, como pode a fama de uma
pessoa ser restituída diante de seus semelhantes? Pergunta-se o autor. Plenamente consciente
da transcendência da fama na sociedade medieval, um capital simbólico do qual os indivíduos
desfrutavam por seu comportamento, mas que, em última instância, derivava da opinião dos
demais1, ele não hesita em qualificar o ator da murmuração como praticante de pecado mortal.
A conversa pública criava a fama das pessoas, um conceito que os canonistas medievais
aceitavam como evidência nas práticas judiciais2. Apenas a ausência de má intenção, desde que
demonstrada, poderia tornar este pecado venial.
O pecado da murmuração e da maledicência não só prejudica o perpetrador e a vítima,
mas também corrompe quem o ouve, e transmite, por sua vez, a outras pessoas. Língua e
ouvidos, lembra Talavera, tornam-se instrumentos que o diabo usa. A Bíblia é uma fonte
constante de imagens para visualizar esses argumentos. Satanás é a serpente que simboliza a
primeira murmuração ao dizer a Eva que Deus os proibiu de comer o fruto da árvore para que
não pudessem alcançar a sabedoria do criador3.
Sempre atento, em seus tratados, à definição dos conceitos, Talavera distingue três
formas de murmurar: ocultando o bem do outro quando seria benéfico para a sua própria fama,
subestimando ou deturpando tal bem quando é comentado por outra pessoa e revelando os
defeitos do próximo na presença de quem não os conhecia. O autor está extremamente

1
MADERO, Marta. Manos violentas, palabras vedadas. La injuria en Castilla y León (siglos XIII-XV).
Madrid, Taurus, 1992, pp. 21-25.
2
PÉREZ MARTÍN, Antonio. La protección del honor y la fama en el derecho histórico español. Anales de
Derecho, nº 11 ,1991, pp. 117-125.
3
LADERO QUESADA, Miguel Ángel. “Susurratio. El tratado sobre el murmurar de Fray Hernando de Talavera
sobre murmuración y maledicencia.” In: MUTGÉ I VIVES, Josefina, SALICRÚ I LLUCH, Roser, VELA
AULESA, Carles (eds.). La Corona catalano-aragonesa, l´Islam i el món Mediterrani. Estudis d´història
medieval en homenatge a la doctora María Teresa Ferrer I Mallol. Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, Barcelona, 2013, pp. 421-422.
1
preocupado com a audiência dos murmúrios e em como evitar que o malfeito pela difamação
se estenda. Por isso, delimita cuidadosamente quando a atitude do receptor de uma murmuração
se torna inaceitável: deixar o murmurador falar livremente, sem interrompê-lo, por medo ou
vergonha; mostrar agrado com palavras ou gestos ante as palavras do murmurador, abençoando
assim sua má fala e atrevimento; pecando ao ouvir o murmurador e correspondendo aos seus
dizeres murmurando o mesmo, quer diretamente, quer fazendo-lhe perguntas indiscretas e
incitadoras. Este modo de induzir é especialmente perigoso e convém não perguntar aos
invejosos sobre o que é mau ou bom. Como regra geral, aconselha evitar ser muito curioso
fazendo perguntas sobre o que não é necessário saber4.
Contudo, se surgirem circunstâncias em que é impossível não ouvir o murmurador, o
ouvinte pode tentar tomar algumas precauções, que são descritas em detalhes, para amenizar o
pecado a que é arrastado: repreender o murmurador; afastar-se do lugar onde estão
murmurando; expressar gestos de desaprovação para que quem murmura desista de sua
empreitada (alguns muito curiosos são detalhados, como coçar a cabeça ou a barba, cortar as
unhas, rasgar o manto, suspirar ou olhar para o outro lado, etc.); não acreditar sem reflexão
crítica na veracidade do que está sendo dito; relembrar o que foi dito sobre nós sem que tivesse
veracidade; se acreditarmos que o que o murmurador difunde é verdade, examinemos nossos
pecados e nos arrependamos para que a língua do murmurador faça menos dano à nossa alma;
por fim, convém ter compadecimento daqueles sobre cujos supostos males se murmura e orar
para que eles sejam perdoados, de modo que saber de seus defeitos seja menos repreensível
para nós.
Embora o arrependimento seja a forma desejável para restaurar a fama do caluniado,
tanto para o murmurador quanto para aquele que dá credibilidade à sua fofoca, tal avidez pode
ferir a dignidade do caluniador e colocar em risco sua segurança, causando maiores danos.
Assim, inspirando-se na Bíblia, Talavera propõe reparações indiretas, como difundir a
retificação da mentira sem descobrir o caluniador; e caso forem verdadeiras, a indiscrição deve
ser compensada com a divulgação de palavras que servem para restaurar a fama. Porém, se a
pessoa difamada sabe quem foi o autor da murmuração, ela só pode pedir perdão e oferecer-lhe
uma reparação. Caso não conheça o difamador, é aconselhável pedir perdão por meio de um
intermediário, de preferência uma pessoa de boa fé. O zelo de Talavera em evitar a propagação
de boatos e de sua autoria é tal que ele contempla todos os cenários possíveis para que o maior
patrimônio social e moral dos homens e mulheres medievais, a fama, seja restaurado. Ao

4
LADERO QUESADA, op. cit., pp. 423-424.
2
mesmo tempo, a orientação eminentemente pedagógica e pastoral do Arcebispo de Granada
com dito zelo não cessa de contrastar com o direito canónico, numa sociedade em que o crime
de injúria era frequente e altamente perseguido5. Os canonistas medievais insistiam que o crime
ou a falta cometida por uma pessoa deveria ser conhecida por toda a comunidade para que o
acusado fosse irrogado por infâmia6. A declaração de infame separava o acusado da
comunidade e evitava o que se considerava o maior dos males, o escândalo.

Palavras-chave: literatura pastoral; pecado-murmuração; fama; Baixa Idade Média, Castela.

Susana Guijarro González


Universidad de Cantabria

5
GUIJARRO GONZÁLEZ, Susana. Justicia eclesiástica y control social en la Castilla bajomedieval: el castigo
de las faltas y delitos del clero burgalés. Anuario de Estudios Medievales. v. 46, nº12, 2016, pp. 792-794.
6
MANSFERRER DOMINGO, Aniceto. La pena de infamia en Cataluña y Castilla. Dykinson, Madrid, 2001,
pp. 96-101.
3
Breve e muy provechoso tractado contra el murmurar e decir mal de otro en
su absencia

Hernando de Talavera (1428-1507)

Talavera sufrió en sus propias carnes las consecuencias de las difamaciones que en los
últimos decenios del siglo XV habían hecho recrecer el antijudaismo. No en vano, a lo largo de
su vida se había movido en mundos donde la murmuración y la maledicencia era moneda
corriente, desde la universidad al convento pasando por la corte real y los círculos de la alta
jerarquía eclesiástica. Atribuye al pecado de la envidia lo que desde el principio del tratado
califica como un vicio universal, la murmuración, difícilmente restituible pues ¿cómo se puede
restituir la fama de una persona ante sus congéneres? se pregunta el autor. Plenamente
consciente de la trascendencia de la fama en la sociedad medieval, un capital simbólico del que
los individuos disfrutaban por su comportamiento pero que, en última instancia, derivaba de la
opinión de los demás7, no duda, en calificar el actor del murmurar de pecado mortal. La
conversación pública creaba la fama de las personas, un concepto que los canonistas medievales
aceptaron como prueba en las prácticas judiciales8. Solo la ausencia de mala intención, siempre
que se demostrara, podría convertir este pecado en venial.
El pecado de murmuración y la maledicencia no solo daña al causante y a la víctima,
sino que también corrompe a los que lo oyen y lo transmiten a su vez a otros. Lengua y oídos,
recuerda Talavera, se convierten en instrumentos de los que se sirve el diablo. La Biblia es una
fuente constante de imágenes para visualizar estos argumentos. Satanás está la serpiente que
simboliza la primera murmuración cuando le dice a Eva que Dios les ha prohibido comer del
fruto del árbol para que no pudiesen alcanzar la sabiduría del creador9.
Atento siempre en sus tratados a la definición de los conceptos, Talavera, distingue
tres formas de murmurar: ocultando el bien de otro cuando sería beneficioso para su fama,
minusvalorando o tergiversando dicho bien cuando es comentado por otra persona y
descubriendo las faltas de nuestro prójimo en presencia de aquellos que las desconocían.

7
MADERO, Marta. Manos violentas, palabras vedadas. La injuria en Castilla y León (siglos XIII-XV).
Madrid, Taurus, 1992, pp. 21-25.
8
PÉREZ MARTÍN, Antonio. La protección del honor y la fama en el derecho histórico español. Anales de
Derecho, nº 11 ,1991, pp. 117-125.
9
LADERO QUESADA, Miguel Ángel. “Susurratio. El tratado sobre el murmurar de Fray Hernando de Talavera
sobre murmuración y maledicencia.” In: MUTGÉ I VIVES, Josefina, SALICRÚ I LLUCH, Roser, VELA
AULESA, Carles (eds.). La Corona catalano-aragonesa, l´Islam i el món Mediterrani. Estudis d´història
medieval en homenatge a la doctora María Teresa Ferrer I Mallol. Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, Barcelona, 2013, pp. 421-422.
4
Preocupa sobremanera al autor la audiencia del murmurado y cómo se pude evitar que el mal
hecho por difamación se extienda. Por eso, delimita con minuciosidad cuando la actitud del
receptor de una murmuración se convierte en inaceptable: dejar hablar libremente al
murmurador sin interrumpirle, ya sea por miedo o por vergüenza; mostrar agrado con palabras
o gestos ante las palabras del murmurador, bendiciendo así su mal decir y atrevimiento; peca el
que oye al murmurador y corresponde a sus dichos murmurando él mismo, ya sea de modo
directo o haciéndole preguntas indiscretas e incitatorias. Este modo de inducir es especialmente
peligroso y conviene no preguntar de las cosas malas ni de las buenas a personas envidiosas.
Como norma general, aconseja evitar ser demasiado curioso haciendo preguntas sobre lo que
no nos es necesario saber10.
Ahora bien, si se producen circunstancias en las cuales es imposible no escuchar al
murmurador, el que oye puede tratar de tomar algunas precauciones que describe
detalladamente para aminorar el pecado al que es arrastrado: reprender al murmurador;
apartarse del lugar donde están murmurado; expresar gestos de desaprobación para que el
murmurador desista en su empeño (se detallan algunos muy curiosos, tales como rascarse la
cabeza o la barba, cortarse las uñas, rasgar el manto, suspirar o mirar para otro lado, etc.); no
creer sin reflexión crítica alguna en la veracidad de lo que se está diciendo; rememorar lo que
se haya dicho de nosotros sin ser cierto; si creemos que lo que difunde el murmurador es cierto
hagamos examen de nuestros pecados y arrepintámonos para que la lengua del murmurador
haga menos daño a nuestra alma; finalmente, conviene compadecer a aquellos sobre cuyos
supuestos males se murmura y rogar por ellos para que sean perdonados, de modo que saber de
sus defectos sea menos reprobable para nosotros.
Aunque el arrepentimiento es la vía deseable para restituir la fama del calumniado,
tanto para el murmurador como para el que otorga credibilidad a sus habladurías, tal afán puede
herir la dignidad del difamador y poner en peligro su seguridad, causando males mayores. De
ahí que, inspirándose en la Biblia, Talavera proponga reparaciones indirectas, tales como
difundir la rectificación a una mentira sin descubrir al calumniador; si resultasen ser verdades,
se debe compensar la indiscreción difundiendo palabras que sirvan para restituir la fama. No
obstante, si el difamado sabe quien fue el autor de la murmuración solo cabe pedirle perdón y
ofrecerle reparación. Si no conociera al difamador es aconsejable que el perdón se pida a través
de un intermediario, preferiblemente persona de buena fe. El celo de Talavera por evitar la
difusión de murmuraciones y su autoría es tal que contempla todos los escenarios posibles para

10
LADERO QUESADA, op. cit., pp. 423-424.
5
que sea restituido el mayor patrimonio social y moral de los hombre y mujeres medievales, la
fama. Al mismo tiempo, la orientación eminentemente pedagógica y pastoral del Arzobispo de
Granada con dicho celo no deja de contrastar con el derecho canónico en una sociedad donde
el delito de injuria fue frecuente y muy perseguido11. Los canonistas medievales insistieron en
que el delito o la falta cometidos por una persona debía ser conocido por toda la comunidad
para que el acusado fuese irrogado de infamia12. La declaración de infame apartaba al
encausado de la comunidad y evitaba lo que se consideraba el mal mayor, el escándalo.

Palabras clave: literatura pastoral; pecado-murmuración; fama; Baja Edad Media, Castilla.

Susana Guijarro González


Universidad de Cantabria

Bibliografia

GUIJARRO GONZÁLEZ, Susana. Justicia eclesiástica y control social en la Castilla


bajomedieval: el castigo de las faltas y delitos del clero burgalés. Anuario de Estudios
Medievales. v. 46, nº12, 2016, pp. 787-818.

LADERO QUESADA, Miguel Ángel. “Susurratio. El tratado sobre el murmurar de Fray


Hernando de Talavera sobre murmuración y maledicencia.” In: MUTGÉ I VIVES, Josefina,
SALICRÚ I LLUCH, Roser, VELA AULESA, Carles (eds.). La Corona catalano-aragonesa,
l´Islam i el món Mediterrani. Estudis d´història medieval en homenatge a la doctora
María Teresa Ferrer I Mallol. Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Barcelona,
2013, pp. 417-425.

MADERO, Marta. Manos violentas, palabras vedadas. La injuria en Castilla y León (siglos
XIII-XV). Madrid, Taurus, 1992.

MANSFERRER DOMINGO, Aniceto. La pena de infamia en Cataluña y Castilla.


Dykinson, Madrid, 2001.

MIR, Miguel, Escritores místicos españoles. Nueva Biblioteca de Autores españolea, 16,
Madrid, 1911, pp. 1-103 (Tratados de Hernando de Talavera). Breve y muy provechoso

11
GUIJARRO GONZÁLEZ, Susana. Justicia eclesiástica y control social en la Castilla bajomedieval: el castigo
de las faltas y delitos del clero burgalés. Anuario de Estudios Medievales. v. 46, nº12, 2016, pp. 792-794.
12
MANSFERRER DOMINGO, Aniceto. La pena de infamia en Cataluña y Castilla. Dykinson, Madrid, 2001,
pp. 96-101.
6
tractado contra el murmurar y decir mal de otro en su absencia que es muy gran pecado
e muy ysado, pp. 47-56.

PÉREZ MARTÍN, Antonio. La protección del honor y la fama en el derecho histórico español.
Anales de Derecho, nº 11 ,1991, pp. 117-156.

Trecho traduzido e modernizado

Sobre murmurar ou maldizer. Tratado muito proveitoso contra o comum e muito contínuo
pecado que é detrair ou murmurar e falar mal de alguém em sua ausência, composto pelo
licenciado Fernando de Talavera, primeiro arcebispo de Granada. Contém sete capítulos.
Primeiro capítulo: Mostra que o murmurar e o falar mal dos outros é grande pecado, e na Santa
Escritura por muitos modos e comparações isso é contestado.
Segundo capítulo: Mostra quando este pecado é mortal e quando é venial.
Terceiro capítulo: Mostra que em muitas maneiras erram em falar mal dos outros.
Quarto capítulo: Mostra que este maldito vício de maldizer nasce principalmente da inveja.
Quinto capítulo: Mostra que uma entre sete coisas deve fazer aquele que ouve a murmuração,
para que não peque ou para que não peque tanto.

Autor do documento: Hernando de Talavera


Título do documento: Breve e muy provechoso tractado contra el murmurar e decir mal de
otro en su absencia
Data de Composição: 1492-1507
Lugar de composição ou impressão: Granada
Imagem: Real Academia de la Historia - Sobre murmurar o mal decir p. 212 BRAH [1514]

7
8

Você também pode gostar