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RESUMO
Esse artigo possui como objetivo, ainda que essencialmente ensaístico, tem como
objetivo levantar ponderações a respeito de uma práxis de ensino histórico e historiográfico
salutar, norteada pelos conceitos nietzscheanos de Grande Saúde, bem como as três noções
trabalhadas na II Consideração Extemporânea (história monumental, antiquária e crítica)
como contraponto a uma hegemonia intelectual pálida e empoeirada.
ABSTRACT
Como grande saúde histórica, muito mais do que fazer mera tábula rasa de
esquecimento, é revisitar o acontecido com um olhar presente vigoroso e fogoso por
mudança. Aqui, seria impossível fugir do diálogo com Marc Bloch e a Nova Histórica num
contexto geral, visto que as demandas do tempo do historiador que o farão (objetiva ou
subjetivamente) perscrutar o passado e interpretá-lo. De modo que outro exercício se faz
necessário, que seria desenvolver uma moral rigorosa, que destrua ídolos ou metafísicas, que
seja deusa de si mesma.
Exercício duro, provavelmente para uma vida toda e ainda assim passível de
incompletude, mas necessário. Reside aí a Grande Saúde, nesse movimento cíclico de
angústias pós-modernas e realizações motivadoras. A cada queda e desilusão, uma
contracorrente de Boécio que nos lança novamente ao topo do potencial criador, que por sua
vez precisa de sua continuidade no outro, por gestos, palavras e inspiração. Um sacrifício,
quando defrontado por salas de aula difíceis, ideologias frágeis e alienação, tônicas de uma
hegemonia que ganha por manter o status quo, ganhando mais na dinâmica de vigiar e punir
aquilo que não pode (e não deseja, convenhamos) resolver.
Em suma, uma espiritualidade que não perca tempo com conjecturas do além ou
interpretações estanques de um passado. Utilizar o passado como exemplo, pelo potencial
demonstrativo. Depois, caminhar a linha tênue entre uma ótica anti-teleológica e tributária do
benefício da retrospectiva, que faça o duplo movimento de julgar o ocorrido pelas
mentalidades da época e depois decantá-las com a mentalidade contemporânea. Por fim, a
crítica e a criação, duas ações indissociáveis nas salas de aula da vida.
Contra a hegemonia intelectual contemporânea, teórica e fechada nos muros
acadêmicos, o profissional da história deve ser um monumento à destruição do status quo, a
contracorrente incansável, sempre atualizada, sedenta pela sabedoria e pela ação, saudável e
disciplinada. Seu Deus está morto, e sua espiritualidade é ser a ponte sob qual pés mais
lépidos e poderosos possam passar, pés que caminham em direção a um horizonte no qual o
capital e as recompensas de hoje sejam mero penduricalho e perfumaria. Intermediário, o
educador deve ser camelo, leão e depois criança. Primeiro carregando os pesos cotidianos,
demandas, aflições, receios e perspectivas. Depois, é preciso se fazer um leão do livre criar,
arquiteto de novos valores, valores saudáveis e sociais, inspirador e feroz na sua afirmação e
na sua negação, sincero até no seu ódio.
Por fim, se faz criança. Uma roda que gira sobre si, que tira de si a vontade e a
continuidade produtiva. Produção essencialmente anti-tecnicista, orgânica e verdadeira
punhalada no peito da ordem pálida e exploradora das instituições nas quais estamos
inseridos. E o mais importante, antidogmática na sua espiritualidade e suas mitologias. A
criança não precisa de Deus para criar ou para interpretar o mundo que lhe é oferecido em
frente aos olhos, mas é ensinada a fazê-lo. Portanto, é preciso desaprender aquilo que seja
contrário para a saúde do corpo social, uma tábula rasa que não seja esquecimento, mas
reconhecimento e ação energética, sabedoria saudável materializada em práxis. Finalizo esse
ensaio não com esperança ou idealismo, mas com a feliz leveza de poder ser a ponte para
outros mais fortes e mais inteligentes, caminho para um horizonte de expectativa dos algozes
da ordem vigente.